ALGUNS TÓPICOS SOBRE A HISTÓRIA DA IGREJA (Da Igreja Apostólica a 313 A.D.)

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ALGUNS TÓPICOS SOBRE A
HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ

(Da Igreja Apostólica a 313 A.D.)







As crenças dos cristãos primitivos eram muito simples: Todos os seus pensamentos sobre a vida cristã tinham como centro a pessoa de Cristo: Criam em Deus, o Pai; em Jesus como Filho de Deus, Senhor e Salvador; criam no Espírito Santo; criam no perdão dos pecados e na eminente 2a vinda de Jesus.

Crer, entretanto, que a Igreja Primitiva era imaculada e sem defeitos é um romantismo que não encontra respaldo na História da Igreja e nem no Novo Testamento. Aliás, o próprio Novo Testamento foi escrito tendo em vista as necessidades surgidas no dia a dia da Igreja. As epístolas, na maioria das vezes, foram escritas para corrigir a postura doutrinária de uma determinada igreja local ou para combater uma heresia incipiente (Gálatas . Escrita para combater os judaizantes; I e II Coríntios . Escritas para combater a frouxidão moral dos cristãos coríntios, bem como disciplinar o uso dos dons espirituais; I e II Tessalonicenses . Escritas para corrigir distorções no que diz respeito ao que aqueles cristãos acreditavam acerca da 2a vinda de Jesus.) O Apocalipse foi escrito para alentar uma igreja perseguida, demonstrando o senhorio de Jesus na História. Os Evangelhos foram escritos cerca de 60 a.D., uma vez que a geração que convivera com Jesus estava morrendo e o testemunho escrito é mais duradouro e menos susceptível a distorções que o testemunho oral.

Como dissemos, a formulação das doutrinas foi gerada pelos desvios da fé. A fim de definir os que de fato poderiam ser chamados de cristãos, a igreja, frente ao desafio das heresias, passou a sistematizar pontos doutrinários que exprimiam a “fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos.”


As Perseguições

O primeiro grande desafio da Igreja foram as perseguições. A princípio o governo romano considerava a Igreja Cristã como uma das seitas do judaísmo, e como tal, uma religio licita. Posteriormente, com o crescimento do Cristianismo, passou a ver a igreja como distinta do judaísmo. À medida que crescia, o Cristianismo passou a sofrer cada vez mais oposição por parte da sociedade pagã e do próprio Estado. A primeira grande perseguição movida pelo Império deu-se sob Nero. A partir daí, outras perseguições ocorreram, mas elas nem foram de cunho universal, nem de duração contínua. Muitas vezes dependia do governo provincial. Após Nero, Domiciano (90-95) moveu curta, mas feroz perseguição aos cristãos. Já no segundo século, o imperador Trajano estabeleceu a política que norteou as perseguições ao cristianismo: o Estado não deveria gastar seus recursos caçando os cristãos, mas os que fossem denunciados deveriam ser levados ao tribunal e instados a negar a Cristo e adorar os deuses romanos. Quem não o fizesse deveria ser condenado à morte.

Dessa forma, a perseguição não tinha um caráter de política de Estado, mas estava sempre presente, posto que somente em 313 (séc IV) o cristianismo passou a ser considerada uma religio licita. Assim, vários foram os mártires cristãos nesse início da igreja: Simeão e Inácio, no período compreendido entre os reinados de Trajano e Antonino Pio; Policarpo e Justino, o Mártir, sob o reinado de Marco Aurélio; Leônidas, Perpétua e Felícitas, sob o reinado de Séptimo Severo; Cipriano e Sexto, durante a perseguição movida pelo imperador Valeriano. Perseguiram ainda a Igreja os imperadores Décio, Diocleciano e Galério

Basicamente havia duas linhas de oposição ao Cristianismo: popular e erudita. A oposição popular estava baseada em rumores e falsas interpretações dos ritos cristãos. Era voz corrente entre o povo que os cristãos participavam de festas onde havia orgias com incestos, inclusive, interpretando mal o fato de os cristãos se chamarem de irmãos e praticarem o “ágape”. Cria também o povo que os cristãos comiam a carne de recém-nascidos, isto devido ao que ouviam falar sobre a Ceia, na qual comiam a carne de Jesus, juntamente com os relatos do nascimento de Cristo.

Já os homens cultos da época faziam acusações a partir da própria crença dos cristãos, tais como, “Por um lado dizem que é onipotente, que é o ser supremo que se encontra acima de tudo. Mas por outro o descrevem como um ser curioso, que se imiscui com todos os assuntos humanos, que está em todas as casas vendo o que se diz e até o que se cozinha. Esse modo de conceber a divindade é uma irracionalidade. Ou se trata de um ser onipotente, por cima de todos os outros seres, e portanto, apartado deste mundo; ou se trata de um ser curioso e intrometido, para quem as pequenezas humanas são interessantes.” 

Ao povo em geral, a Igreja respondeu chamando-o a ver a conduta moral dos cristãos, muito superior à dos pagãos. Aos cultos e letrados, a igreja respondeu através dos Apologistas: Discurso a Diogneto, Aristides, Justino Mártir, Taciano (Discurso aos gregos), Atenágoras (Defesa dos Cristãos e Sobre a Ressurreição dos Mortos), Teófilo (Três livros a Autólico), Orígenes (Contra Celso), Tertuliano (Apologia), Minúcio Félix (Otávio).  


As Heresias

Ao lados das perseguições externas, o Cristianismo enfrentou um inimigo muito mais terrível, posto que interno, através de heresias, algumas delas propostas por líderes da própria igreja.

As primeiras heresias enfrentadas pela Igreja vieram dos judeus convertidos, problema já enfrentado por Paulo na igreja da Galácia. Os ebionitas, eram farisaicos em sua natureza. Não reconheciam o apostolado de Paulo e exigiam que os cristãos gentios se submetessem ao rito da circuncisão. No desejo de manterem o monoteísmo do Antigo Testamento, os ebionitas negavam a divindade de Cristo e seu nascimento virginal, afirmando que Ele só se distinguia dos outros homens por sua estrita observância da lei, tendo sido escolhido como Messias por causa de sua piedade legal.

Os elquesaítas, por sua vez, apresentavam um tipo de cristianismo judaico assinalado por especulações teosóficas e ascetismo estrito. Rejeitavam o nascimento virginal de Cristo, mas julgavam-no um espírito ou anjo superior. A circuncisão e o sábado eram grandemente honrados; havia repetidas lavagens, sendo-lhes atribuídos poderes mágicos de purificação e reconciliação; a mágica e a astrologia eram praticadas entre eles. Com toda probabilidade se referem a essas heresias a Epístola aos Colossenses e I Timóteo.

O ambiente gentílico também forneceu sua cota de heresias que atingiram a Igreja. O Gnosticismo, muito embora não possuísse uma liderança unificada e se apresentasse como um corpo doutrinário amorfo, foi terrível para a Igreja. Já vemos um gnosticismo incipiente no próprio período apostólico (Cl 2.18 ss; I Tm 1.3-7; 6.3ss; II Tm 2.14-18; Tt 1.10-16; II Pe 2.1-4; Jd 4,16; Ap 2.6,15,20ss). Nesse período, Celinto ensinava uma distinção entre o Jesus humano e o Cristo, que seria um espírito superior que descera sobre Jesus no momento do batismo e tê-lo-ia deixado antes da crucificação. Vemos João combatendo indiretamente essa heresia em João 1.14; 20.31; I João 2.22; 4.2,15; 5.1,5-6 e II João 7.

No segundo século, esses erros assumem uma forma mais desenvolvida, muito embora continuassem como um corpo amorfo. A bem da verdade poderíamos dizer que houve “gnosticismos”, mas há pensamentos comuns às várias correntes gnósticas. Gnosticismo vem do grego, “gnosis”, que significa “conhecimento”.  Para os gnósticos, a salvação era alcançada através do conhecimento esotérico de mistérios, os quais só eram revelados aos iniciados. Dividiam a humanidade em “pneumáticos”, “psíquicos” e “hílicos”. Os primeiros eram a elite da igreja, os que alcançavam o conhecimento que leva à salvação; os seguintes, eram os cristãos comuns, que poderiam alcançar a salvação através da fé e das boas obras; os últimos eram os gentios, irremediavelmente perdidos.

Na cosmovisão gnóstica, tudo que era material era essencialmente mau, e o que era espiritual era essencialmente bom. Logo, o Deus do Novo Testamento não poderia ser o deus do Antigo Testamento. O deus do AT era tido como Demiurgo, o criador do mundo visível. Ainda na visão gnóstica, entre o Deus bondoso que se revelou em Cristo e o mundo material havia vários intermediários, através dos quais o homem poderia achegar-se a Deus.

Sendo o corpo mau e o espírito bom, os gnósticos tendiam para dois extremos: alguns seguiam um ascetismo rigoroso, mortificando a carne, enquanto outros se lançavam na mais desregrada libertinagem.

Outra heresia que mereceu o combate da Igreja foi a heresia de Márcion, filho do bispo de Sinope, que parece ter tido duas grandes antipatias: Pelo Judaísmo e pelo mundo material. Ensinava Márcion, à semelhança dos gnósticos, que Iavé, o Deus do AT não era o Deus do NT, este, o Deus supremo. Iavé era um deus mau, ou pelo menos ignorante, vingativo, ciumento e arbitrário. O mundo material e suas criaturas eram criação de Iavé e não do Deus supremo. Este, entretanto, apiedou-se das criaturas de Iavé e enviou Jesus, que não nasceu de uma mulher, posto que isso faria com que passasse a ser criatura do deus inferior. Jesus surgiu como homem maduro no reinado de Tibério, na Galiléia.

Márcion rejeitou o Antigo Testamento, que até então eram as Escrituras aceitas na Igreja Cristã (o cânon do NT ainda não havia sido elaborado) por serem a palavra de Iavé, o deus inferior, e formulou um cânon para si e seus seguidores, que constava do evangelho de Lucas, expurgado do que ele considerava “judaísmo”, e das cartas de Paulo.

Também ensinava Márcion que não haverá juízo final, posto que o Deus amoroso a todos perdoará. Negava a criação, a encarnação e a ressurreição final.

Márcion chegou a formar uma igreja independente e seu ensino foi de um perigo terrível para a igreja, que na época não possuía um corpo doutrinário estabelecido e reconhecido por toda a cristandade.

Como se não bastasse essas heresias, houve também as heresias dos Montanistas e dos Monarquistas. Os montanismo surgiu na Frígia, por volta do ano 150. Montano afirmava que o último e mais elevado estágio da revelação já fora atingido. Chegara a era do Paracleto, que falava através de Montano, e que se caracterizava pelos dons espirituais, especialmente a profecia. Montano e seus colaboradores eram tidos como os últimos profetas, trazendo novas revelações. Eram ortodoxos no que diz respeito à regra de fé, mas afirmavam possuir revelações mais profundas que as contidas nas Escrituras. Faziam estritas exigências morais, tais como o celibato (quando muito, um único matrimônio), o jejum e uma rígida disciplina moral.

Já o monarquianismo estava interessado na manutenção do monoteísmo do AT. Seguiu duas vertentes: o monarquianismo dinâmico e o monarquianismo modalista. O primeiro estava interessado em manter a unidade de Deus, e estava alinhado com a heresia ebionita. Para eles, Jesus teria sido tomado de maneira especial pelo Logos de Deus, passando a merecer honras divinas, mas sendo inferior a Deus. O segundo, também chamado de sabelianismo, concebia as três Pessoas da Trindade como os três modos pelos quais Deus se manifestava aos homens.


Reação da Igreja

Face a essas ameaças, internas e externas, a igreja respondeu de várias formas. Vá vimos que os apologistas responderam às acusações assacadas pelos filósofos e pessoas cultas ao cristianismo. No plano interno, a igreja primeiro tratou de definir um Cânon, ou seja, uma lista dos livros considerados inspirados. Nesse período, havia inúmeros evangelhos, cartas, apocalipses circulando nas mais diversas igrejas. Alguns eram lidos em certas igrejas e não eram lidos em outras. Com o desafio de Márcion e também da perseguição sob Diocleciano, onde uma pessoa encontrada com livros cristãos era passível de morte, era importante saber se o livro pelo qual o cristão estava passível de morte era realmente inspirado. Não houve um concílio para definir quais os livros nem quantos formariam o NT. Tal escolha se deu por consenso, tendo alguns livros sido reconhecidos com mais facilidade que outros.

Definiu também a igreja regras de fé, sendo a mais antiga o chamado Credo Apostólico, o qual resumia aqueles pontos de fé que o cristão genuíno deveria subscrever, e era claramente trinitariano (Creio em Deus Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; no terceiro dia ressurgiu dos mortos, subiu ao céu, e está sentado à mão direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa igreja católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna).

Paralelamente, a igreja percebeu que precisava organizar-se estruturalmente. Definiu então a sucessão apostólica e o bispo monárquico para garantir a unidade da igreja, surgindo então o que é chamado de Igreja Católica Primitiva, significando o termo “católica” = universal.

Visto isso, podemos, até aqui, fazer um resumo gráfico do início atribulado da Igreja Cristã no império romano:  





Os Pais da Igreja

O Estado Romano e as heresias encontraram adversários à altura no seio da Igreja Cristã, seja através de mártires anônimos, que deram suas vidas mas não negaram a Jesus, seja nos homens que começaram a formular as doutrinas muitas das quais esposamos até hoje. Estes homens são chamados de Pais da Igreja,cujos ensinos passamos a resumir:

a)IRINEU:Nascido no Oriente e discípulo de Policarpo. Foi bispo de Lion. Escreveu Contra Heresias, no qual investe principalmente contra os gnósticos.

b)HIPÓLITO:Discípulo de Irineu; menos dotado que seu mestre; gostava mais das idéias filosóficas que Irineu. Provavelmente sofreu o martírio em Roma. Sua principal obra se chamaRefutação de Todas as Heresias,na qual ele contesta os ensinos gnósticos.

c)TERTULIANO:Homem de grande erudição, vívida imaginação e intensos sentimentos. De gênio explosivo, era naturalmente apaixonado na apresentação do cristianismo. Era advogado e introduziu termos e conceitos jurídicos na discussão teológica. Tendia a deduzir que todas as heresias provinham da filosofia grega, razão pela qual se tornou ardente opositor da filosofia. Seu fervor o levou a unir-se ao montanismo no final da vida.

 

DEUS E O HOMEM:

Consideravam que o erro fundamental dos gnósticos era a separação entre o verdadeiro Deus do Criador. Há um único Deus, Criador e Redentor. Deus deu a lei e revelou igualmente o evangelho. Esse Deus é treino, uma única essência que subsiste em três pessoas.

Tertuliano foi o primeiro a asseverar a tri personalidade de Deus e a usar o termo “Trindade”. Em oposição aos monarquianos ele enfatizava o fato de que as três Pessoas são uma só substância, susceptível de número sem divisão. Entretanto, não chegou à verdadeira declaração trinitariana, posto que concebia que uma Pessoa estaria subordinada às outras.

-O homem foi criado à imagem de Deus, sem imortalidade (sem perfeição), mas com a capacidade de recebê-la no caminho da obediência.

-O pecado é desobediência e produz a morte; a obediência produz a imortalidade.

-Em Adão, a raça humana inteira ficou sujeita à morte.

Tertuliano afirmava que o mal tornou-se um elemento natural do homem, presente desde o nascimento, e que essa condição passa de uma geração à outra. É o primeiro indício da doutrina do pecado original.


A PESSOA E A OBRA DE CRISTO:

a)IRINEU: O Logos existira desde toda a eternidade e mediante a Encarnação, o Logos se fez o Jesus histórico, e daí por diante foi verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A raça humana, em Cristo, como o segundo Adão,é novamente unificada a Deus. A morte de Cristo como nosso substituto é mencionada, mas não ressaltada. O elemento central da obra de Cristo teria sido sua obediência, com o que foi cancelada a desobediência de Adão.

b)TERTULIANO: O Logos é uma Pessoa independente, gerada por Deus, da mesma substância que o Pai, embora difira deste quanto ao modo de existir como uma Pessoa distinta Dele.Houve um tempo em que o Filho não existia. O Pai é a substância inteira, mas o Filho é apenas parte dela, por ter sido gerado. Tertuliano, portanto, não conseguiu desvencilhar-se da teoria da subordinação, porém sua formulação foi importante na vinculação dos conceitos de “substância” e “pessoa” dentro da teologia.

   No tocante ao Deus-homem e Suas duas naturezas, Tertuliano foi superior a todos os outros Pais, à exceção de Melito, ao fazer justiça para com a perfeita humanidade de Jesus e afirmar que cada uma de suas naturezas reteve os seus próprios atributos. Para Tertuliano não houve fusão, mas a conjunção das duas naturezas em Jesus. No tocante à morte de Cristo, embora enfático acerca de sua importância, não é muito claro, pois não ressalta a necessidade de satisfação penal, mas apenas a de arrependimento por parte do pecador. Seu ensino é permeado por certo legalismo. Ele fala da satisfação dos pecados cometidos após o batismo mediante arrependimento ou confissão. Por meio de jejuns e outras formas de mortificação, o pecador é capaz de escapar da punição eterna.

 

SALVAÇÃO, IGREJA E AS ÚLTIMAS COISAS

a) IRINEU:Não foi totalmente claro em sua soteriologia. A fé é um pré-requisito para o batismo,entendendo-se fé não apenas como concordância intelectual da verdade, mas incluiria a rendição da alma, resultando numa vida santa. O homem seria regenerado pelo batismo; seus pecados seriam lavados e uma nova vida começaria dentro dele.

b) TERTULIANO:O pecador, pelo arrependimento, obtém a salvação pelo batismo. Os pecados cometidos após o batismo requerem satisfação mediante penitência, ficando cancelada a punição após o seu cumprimento. Antevê-se a base do sacramento católico-romano da penitência.

Com relação à igreja, voltavam ao judaísmo, identificando a igreja(comunhão dos santos) com a igreja visível (organização), atribuindo a esta a qualidade de canal da graça divina, fazendo com que a participação nas bênçãos da salvação dependesse de ser membro da Igreja visível. Devido à influencia do Velho Testamento, também passou para primeiro plano a idéia de um especial sacerdócio medianeiro.

Em relação à doutrina da ressurreição da carne, os Pais citados foram seus campeões, baseados na ressurreição de Jesus.


Os Pais Alexandrinos

A Teologia  Alexandrina, ou Escola de Alexandria, foi uma forma de teologia que apelou para a interpretação alegórica da Bíblia, e foi formada pela combinação extravagante entre a erudição grega e as verdades do evangelho. A Escola de Alexandria chegou até a lançar mão de especulações gnósticas na formulação de suas interpretações escriturísticas. Seus principais expoentes foram Clemente de Alexandria e Orígenes.

            Clemente não era um cristão tão ortodoxo quanto Irineu ou Tertuliano, mas como os apologistas, buscava uma ponte entre a filosofia da época e a tradição cristã. Tinha como mananciais do conhecimento das coisas divinas tanto as Escrituras quanto a razão humana.

            Orígenes nasceu em lar cristão e foi discípulo de Clemente, a quem sucedeu como catequista de Alexandria. Era o mais erudito dos pensadores da Igreja Primitiva e seus ensinos eram de natureza assaz especulativa. No final da vida foi condenado por heresia. Formulou o primeiro compêndio de teologia sistemática, chamado De Principiis. Nessa formulação,combateu tanto os gnósticos quanto os monarquianos. Conquanto tenha desejado ser ortodoxo, seus escritos traziam sinais identificativos do neo-platonismo, sem falar na sua interpretação alegórica, que abriu caminho para todas as formas de especulação e interpretação arbitrárias.


DEUS E O HOMEM

Orígenes alude a Deus como o Ser incompreensível, inestimável e impassível,que de nada necessita. Rejeita a distinção gnóstica entre o Deus bom e o Demiurgo ou o Criador deste mundo. Deus é uno e o mesmo no Velho e no Novo Testamento. Orígenes ensinou a doutrina da criação eterna. Também ensinou Orígenes que o Deus único é primariamente o Pai, que Se revela e opera através do Logos, o qual é pessoal e co-eterno com Deus Pai, gerado por Ele por um ato eterno. Para Orígenes o Filho é gerado e não produto de uma emanação ou divisão do Pai. Apesar disso, usa termos que subentendem haver subordinação do Filho ao Pai. Na encarnação, o Logos uniu-se a uma alma humana, que em sua preexistência se mantivera pura. As naturezas de Cristo são conservadas distintas, mas é sustentado que o Logos, pela Sua ressurreição e ascensão, deificou a Sua natureza humana.

Quanto ao Espírito Santo, o ensino de Orígenes se distancia ainda mais da mensagem bíblica. Ele fala do Espírito Santo como a primeira criatura feita pelo Pai, por meio do Filho. Além disso, o Espírito não opera na criação como um todo, e sim somente nos santos. O Espírito possui bondade por natureza,renova e santifica aos pecadores, e é objeto de adoração divina.

Os ensinos de Orígenes sobre o homem são bastante incomuns. A preexistência do homem está envolvida em sua teoria da criação eterna, pois a criação original consistiu exclusivamente de espíritos racionais, co-iguais e co-eternos. A atual condição do homem pressupõe uma queda preexistente da santidade para o pecado, o que deu oportunidade à criação deste mundo material. Os espíritos caídos agora se tornam almas e são revestidos de corpos. A matéria veio à existência com o propósito precípuo de suprir uma habitação e ser meio de disciplina e expurgo desses espíritos caídos.

Já Clemente não foi claro na sua exposição do Logos. Em algumas ocasiões ressaltava a subsistência pessoal do Logos, Sua unidade com o Pai e Sua geração eterna, e em outras O representa como a razão divina, subordinada ao Pai.Distingue ele entre o Logos de Deus e o Logos-Filho, que Se manifestou em carne.Clemente não tenta explicar a relação entre o Espírito Santo e as demais Pessoas da Trindade.


A PESSOA E A OBRA DE CRISTO

Ambos ensinam que o Logos tomou a natureza humana em sua inteireza, corpo e alma, tendo-se tornado um homem real, o Deus-homem, embora Clemente não tenha conseguido evitar totalmente o docetismo. Dizia que Cristo comia, não porque precisasse de alimentos, mas para que Sua humanidade não fosse negada, além de ser incapaz das emoções de alegria e tristeza. Para Orígenes a alma de Cristo era preexistente, como todas as outras almas.

Acerca da obra de Cristo, Clemente alude à auto-rendição de Cristo como um resgate, mas não reforça a idéia que Ele foi a propiciação pelos pecados da humanidade. Sua ênfase foi de Cristo como Legislador e Mestre. A redenção não consistiria tanto em desfazer o passado, mas em elevar o homem a um estágio ainda mais alto do que o do homem antes da Queda.

Para Orígenes, Cristo foi um médico, um mestre, um legislador e um exemplo. Reconhecia também o fato de que a salvação dos crentes depende dos sofrimentos e da morte de Cristo. A morte de Cristo é apresentada como vicária,como uma oferta pelo pecado e como uma expiação necessária. Para Orígenes, a influência remidora do Logos se estenderia além desta vida, não somente osque tivessem vivido sobre a terra e morrido, porém, igualmente, todos os espíritos caídos, inclusive Satanás e seus anjos maus. Haverá uma restauração de todas as coisas.


DOUTRINA DA SALVAÇÃO, AS IGREJAS E AS ÚLTIMAS COISAS.

Os Pais alexandrinos ensinavam o livre-arbítrio do homem, capacitando-o a voltar-se para o bem e aceitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Deus oferece a salvação, e o homem tem a capacidade de aceitá-la. Apesar disso, Orígenes também alude à fé como graça divina. Seria um passo preliminar necessário à salvação. Mas isso representaria apenas uma aceitação inicial da revelação divina, precisando ser ainda elevado ao conhecimento e ao entendimento, daí prosseguindo para a prática de boas obras, que são o que realmente importam. Orígenes fala de dois modos de salvação, um mediante a fé (exotérico), e outro pelo conhecimento (esotérico). Certamente esses Pais não tinham a mesma concepção que o Apóstolo Paulo da fé e da justificação.

Orígenes considerava a Igreja como a congregação dos crentes, fora da qual não haveria salvação. Embora reconhecesse o sacerdócio universal dos cristãos, também dizia haver um sacerdócio separado e dotado de prerrogativas especiais. Orígenes e Clemente ensinavam que o batismo assinala o começo da nova vida na Igreja, bem como inclui o perdão dos pecados. Conforme ambos, o processo de purificação iniciado na vida do pecador na terra prossegue após a morte. O castigo seria o grande agente purificador e a cura para o pecado. Orígenes ensina que, por ocasião da morte, os bons entram no paraíso, ou num lugar onde recebem maior elucidação, enquanto os ímpios experimentam as chamas do juízo,o qual não se deve ter como punição permanente, porém como um meio de purificação. Clemente afirmava que os pagãos tinham oportunidade de arrepender-se no hades, e também que a provação deles só terminaria no dia do juízo; Orígenes dizia que a obra remidora de Deus não cessaria enquanto todas as coisas não viessem a ser restauradas à sua primitiva beleza. A restauração de todas as coisas haveria de incluir o próprio Satanás e seus demônios. Apenas poucas pessoas entram imediatamente na plena bem-aventurança da visão de Deus; a grande maioria precisa passar por um processo de purificação após a morte (Vemos aqui o embrião da doutrina do Purgatório). Orígenes mostrou tendência por espiritualizar a ressurreição. Parece que ele considerava como ideal o estado incorpóreo, apesar de crer numa ressurreição corporal.



(Antiga) Classe Nossa Identidade

Pb. Rubens Cartaxo

Igreja Presbiteriana do Natal
Em Deus Faremos Proezas: Uma Igreja em Cada Bairro

http://br.geocities.com/ipnatal

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