Moisés é um plágio de Sargão?
Segundo a lenda, o rei Sargão da Acádia foi colocado em uma cesta de junco e lançado no rio por sua mãe. Ele foi resgatado por Aqqi, que o adotou como seu próprio filho.
“Sargão, rei forte, rei de Akkad [Acádia], eu sou. A minha mãe era uma sacerdotisa, o meu pai, não sei. A minha família paterna habita a região da montanha. A minha cidade [de nascimento] é Azupiranu, que fica na margem do rio Eufrates. A minha mãe, uma sacerdotisa, concebeu-me, em segredo. Ela colocou-me numa cesta de junco, com betume ela calafetou a minha escotilha. Ela abandonou-me no rio do qual eu não podia escapar. O rio levou-me até Aqqi. Aqqi, o carregador de água ergeu-me quando mergulhou o seu balde. Aqqi, o carregador de água, criou-me como sendo seu filho adotivo. Aqqi, o carregador de água, colocou-me a trabalhar no seu jardim. Durante o meu trabalho no jardim, Ishtar amou-me de modo que durante 55 anos governei como um rei.” (Citação resumida de A lenda de Sargão, de Brain Lewis.)
Isso soa muito parecido com a narrativa sobre Moisés em Êxodo 2 e Sargão viveu cerca de 800 anos antes de Moisés ter nascido. Então a história de Moisés foi plagiada da história de Sargão, certo? Errado. A lenda da infância de Sargão, que diz ele foi colocado em uma cesta e enviado por um rio, vem de duas tabuletas cuneiformes do 7º século a.C., da biblioteca do rei assírio Assurbanipal, que reinou 668-627 a.C., encomendadas por Sargão II (721-705 a.C.), e escritas centenas de anos APÓS o livro de Êxodo (o livro de Êxodo foi escrito por volta de 1400 aC.). Portanto, se alguém quiser argumentar que uma narrativa copiou a outra, teria que ser o contrário: a lenda de Sargão parece ter copiado do Êxodo de Moisés.
Além disso, podemos lembrar que no mundo antigo os rios eram tidos como sagrados. Assim, colocar um bebê dentro de um cesto não seria considerado tão incomum como o é hoje. A história de Rômulo e Remo, de Roma, ainda que seja uma lenda, confirma isso. Poder-se-ia colocar um bebê em um rio como uma maneira de ofertar aos deuses. Da mesma forma, uma mãe que não tivesse condição de cuidar de seu filho, poderia “dá-lo aos deuses” ou deixá-lo no rio com o intuito de que alguém que estivesse nas margens visse o cesto e adotasse a criança.
A revista Biblical Archaelogy Review observa:
“Não devemos nos esquecer de que tanto a Babilônia quanto o Egito tinham culturas ribeirinhas. Colocar um bebê num cesto à prova d’água pode ser considerado uma maneira um pouquinho mais satisfatória de livrar-se duma criança do que jogá-la num aterro sanitário, o que era mais comum…”
Em seu livro Exploring Exodus (Explorando o Êxodo), Nahum M. Sarna observa que, embora haja semelhanças, a história do nascimento de Moisés é diferente de “A Lenda de Sargão” em “diversos aspectos significativos”. Portanto, alegar que o relato bíblico originou-se de uma lenda pagã carece de credibilidade.
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