Jesus Cristo é um plágio de Osíris?
Segundo os céticos, Jesus é um plágio de Osíris, pois Osíris:
1. Teve mais de 200 nomes divinos, incluindo o Senhor dos Senhores, o Rei dos Reis, o Deus dos Deuses, a Ressurreição e a Vida, o Bom Pastor, Pai da Eternidade, o deus que “fez homens e mulheres nascerem de novo”;
2. Sua vinda foi anunciada por Três Homens Sábios: as três estrelas Mintaka, Anilam e Alnitak no cinturão de Orion apontam diretamente para a estrela de Osíris no leste, Sirius, indicando o seu nascimento;
3. Ele foi uma hóstia simbólica. Seu corpo foi comido numa cerimônia religiosa sob a forma de bolos de trigo, a “planta da Verdade”;
4. O Salmo 23 é uma cópia de um texto egípcio apelando a Osíris, o Bom Pastor, para conduzir os falecidos aos “pastos verdejantes” e às “águas tranquilas” da terra nefer-nefer, a fim de restaurar a alma e o corpo e dar proteção no vale da sombra da morte;
5. A oração do Pai Nosso foi prefigurada por um hino egípcio à Osíris-Amém, que começa assim: “Ó Amém, ó Amém, que estais no céu.” Amém também era invocado no final de cada oração.
6. Os ensinamentos de Osíris e Jesus são maravilhosamente semelhantes. Muitas passagens são idênticas, iguais, palavra por palavra.
7. Como o deus da videira, um grande mestre viajante que civilizou o mundo. Governante e juiz dos mortos.
8. Em sua paixão, Osíris foi alvo de uma conspiração e mais tarde assassinado por Seth e “os 72”;
9. A ressurreição de Osíris serviu para dar esperança a todos que também desejam a vida eterna.
Mas será que isso tudo é verdade? Vejamos.
1. Teve mais de 200 nomes divinos, incluindo o Senhor dos Senhores, o Rei dos Reis, o Deus dos Deuses, a Ressurreição e a Vida, o Bom Pastor, o Pai da Eternidade, o deus que “fez homens e mulheres nascerem de novo”;
Os títulos encontrados que são realmente atribuídos à Osíris são Senhor de Todos, o Bom Ser (o título mais comum), Senhor do Mundo dos Mortos, Senhor/Rei da Eternidade, Soberano dos Mortos [1], Senhor do Ocidente, O Majestoso [2], “aquele que se assenta”, o Progenitor, o Carneiro [3], “grande Palavra” (como em, “a palavra do que virá a ser e que não é ” – um reflexo da antiga noção do poder criativo da expressão de uma palavra, encontrada também no grego Logos), “Líder dos Espíritos” [4]; governante da eternidade [5], “deus vivo”, “Deus acima dos deuses” [6]. Todos estes ou são títulos gerais que poderiam ser atribuídos a qualquer divindade em posição de liderança, ou no mínimo estão relacionados ao domínio de Osíris sobre o mundo dos mortos. Nenhum dos títulos citados se aproxima ou é especificamente similar com os que foram atribuídos a Jesus.
2. Sua vinda foi anunciada por Três Homens Sábios: as três estrelas Mintaka, Anilam e Alnitak no cinturão de Orion apontam diretamente para a estrela de Osíris no leste, Sirius, indicando o seu nascimento;
Freke e Gandy repetem a última parte sobre a estrela. Porém, embora alguns estudiosos relacionem Osíris com Órion, eles, por sua vez, nada sabem sobre “reis sábios” ou uma “estrela no ocidente”.
3. Ele foi uma hóstia simbólica. Seu corpo foi comido numa cerimônia religiosa sob a forma de bolos de trigo, a “planta da Verdade”;
Não foi achado nada na literatura acadêmica que relatasse isso.
4. O Salmo 23 é uma cópia de um texto egípcio apelando a Osíris, o Bom Pastor, para conduzir os falecidos aos “pastos verdejantes” e às “águas tranquilas” da terra nefer-nefer, a fim de restaurar a alma e o corpo e dar proteção no vale da sombra da morte;
Se isto é verdade, nenhum comentarista da religião egípcia ou do Antigo Testamento sabe disso. Osíris possivelmente seria conhecido como um pastor e, de fato, tal imagem era comum no Antigo Testamento [7], mas esse termo não foi visto sendo aplicado a ele por ninguém, a não ser pelos defensores dos mitos.
5. A oração do Pai Nosso foi prefigurada por um hino egípcio à Osíris-Amém, que começa assim: “Ó Amém, ó Amém, que estais no céu.” Amém também era invocado no final de cada oração.
Não há registro desta oração no mito de Osíris, nenhum especialistas em religião egípcia sabe algo sobre isso. O hebraico “Amém” nunca é usado como uma saudação e significa “que assim seja”, o que significa que ele não é “invocado” como é uma divindade.
Além disso, vemos aqui uma ligação etimológica baseada nas línguas originais e, não na compatibilidade das letras em Inglês.
6. Os ensinamentos de Osíris e Jesus são maravilhosamente semelhantes. Muitas passagens são idênticas, iguais, palavra por palavra.
Os estudiosos das religiões egípcias não parecem estar cientes dessas palavras. Simplesmente não há fontes para essa alegação, e, assim, não é possível fazer uma comparação lado a lado.
7. Como o deus da videira, um grande mestre viajante que civilizou o mundo. Governante e juiz dos mortos.
Isso não é específico. Frazer relatou que Osíris ensinou a vinificação e a agricultura, deu as leis egípcias, ensinou como adorar corretamente, e viajou o mundo ensinando essas coisas [8].
Mas esta é a afirmação que foi feita sobre Dionísio também, e respondemos a esse ponto nesse artigo. Não que isso importe, pois parece que somente Frazer e mais tarde Freke e Gandy conceberam a ideia de que as duas divindades estão ligadas. Literaturas escritas por estudiosos da religião egípcia não os consideram as mesmas figuras, embora alguns correlacionem Osíris e Órion, e Budge tenha observado as viagens, mas não veja qualquer relação entre Osíris e Dionísio [9]. Em todo caso, em nenhum lugar Osíris é chamado de “deus da videira”.
Ele é governante e juiz dos mortos, mas isso não se assemelha a Jesus, que representa um Deus que “não é Deus de mortos, mas de vivos” (Lucas 20:38). No máximo, Osíris representa o que se poderia esperar de qualquer divindade suprema: governar e julgar.
8. Em sua paixão, Osíris foi alvo de uma conspiração e mais tarde assassinado por Seth e “os 72”;
De acordo com James P. Holding, esta é uma combinação de falsificação terminológica, meia-verdade, e irrelevância [10]. Não houve uma “paixão” – no referido incidente, Seth conspirou contra Osíris. Houve uma grande festa, para a qual Seth levou um caixão e obrigou a todos, incluindo os 72 participantes do complô e uma rainha da Etiópia, a deitarem-se nele para verificar as medidas. Finalmente, chegou a vez de Osíris, e ele foi convencido a deitar no caixão. Quando Osíris estava lá dentro, Seth fechou e pregou o caixão e o jogou no rio; Osíris morreu sufocado. Observe que os 72 aqui são inimigos de Osíris e não seus discípulos: apenas este número – um múltiplo de 12, um número que ainda valorizamos hoje quando compramos ovos ou bananas – é um ponto em comum (e isso somente em algumas passagens de Lucas 10; outros colocam o número em 70, possivelmente por representar o número de nações gentias, isto é, não-judias, de acordo com os judeus). E eles não fazem nada que possa ser considerado como o que os discípulos de Jesus fizeram. Conforme consta na narrativa, Ísis, a esposa de Osíris, passou a procurar o caixão. Ela o encontra na Síria, onde ele havia sido incorporado à coluna de uma casa. Ela pranteou tão alto que algumas crianças na casa morreram de susto. Mais tarde, ela o levou para fora, abriu a tampa, e então ficou procurando por Hórus.
Nesse meio tempo, Seth encontrou o caixão e dilacerou o corpo de Osíris em 14 pedaços, espalhando-os por todos os lugares. Como resultado, Ísis passou a buscar os pedaços e os enterrava a medida que achava um a um. Uma história alternativa mostra Ísis, Anúbis, e Rá unindo novamente as partes do corpo, envolvendo-o com faixas, e revivendo seu corpo.
9. A ressurreição de Osíris serviu para dar esperança a todos que também desejam a vida eterna.
A versão mais completa do mito da morte e ressurgimento de Osíris é encontrada em Plutarco, que escreveu no segundo século depois de Cristo. De acordo com a versão mais comum do mito, Osíris foi assassinado por seu irmão que o afundou em um caixão no rio Nilo. Ísis descobriu o corpo e o levou de volta ao Egito. Mas seu cunhado mais uma vez ganhou acesso ao corpo, dessa vez o desmembrando em catorze pedaços, os quais ele jogou longe. Depois de muita procura, Ísis recuperou cada pedaço do corpo. Algumas vezes aqueles que contam a história se contentam em dizer que Osíris voltou à vida, mesmo que isso passe longe daquilo que a linguagem utilizada pelo mito permite dizer. Alguns escritores ainda vão mais longe ao falar sobre a “ressurreição” de Osíris. Ísis restaura o corpo de Osíris e ele é colocado como um deus do mundo dos mortos. Roland de Vaux complementa dizendo:
“O que significa Osíris ter ‘levantado para a vida’? Simplesmente que, graças à ministração de Ísis, ele pode levar uma vida além da tumba que é quase uma perfeita réplica da existência terrestre. Mas ele nunca mais voltará a habitar entre os viventes e reinará apenas sobre os mortos… Este deus revivido é, na realidade, um deus ‘múmia.’” [11]
Em outras palavras, Osíris é uma deidade que morre, mas não que ressuscita. Ele é sempre retratado em forma mumificada. Além disso, de acordo com Wilbur Smith, uma das maiores autoridades em religiões antigas, “não há nada nos textos que justifiquem a presunção que Osíris sabia que iria levantar dos mortos, e que se tornaria governante e juiz dos mortos, ou que os egípcios acreditavam que Osíris morreu em seu favor e que retornou à vida para que eles pudessem levantar da morte também” [12].
A conhecida fórmula egípcia repetida “Levante-se, você não morreu”, quer seja aplicada à Osíris ou à um cidadão do Egito, sinalizava uma vida nova e permanente no reino dos mortos. Sobre isso, o autor Frankfort concorda:
“Na verdade, de modo algum Osíris foi um deus ‘agonizante’, e sim um deus ‘morto’. Ele nunca retornou entre os vivos; ele não foi libertado do mundo dos mortos, como foi Tammuz. Pelo contrário, no geral Osíris pertencia ao mundo dos mortos, era a partir de lá que ele concedia suas bênçãos sobre o Egito. Ele sempre foi retratado como uma múmia, um rei morto.” [13]
Conforme observa Yamauchi, “os homens comuns aspiravam a identificação com Osíris como aquele que triunfou sobre a morte.” Mas é um erro comparar a visão egípcia da vida após a morte com a doutrina bíblica da ressurreição. Para alcançar a imortalidade, o egípcio tinha que satisfazer três condições: Primeiro, seu corpo tinha de ser preservado por meio da mumificação. Segundo, a alimentação era fornecida pela própria oferta de pão e cerveja. Terceiro, feitiços mágicos eram sepultados com ele. Seu corpo não ressurgia dos mortos; em vez disso, elementos de sua personalidade – seu Ba e Ka – continuavam a “pairar sobre seu corpo.” [14]
Assim, como escreveram os autores Komoszewski, Sawyer e Wallace, no livro “Reinventing Jesus”, a “ressurreição” de Osíris está mais parecida com a história de Frankenstein do que com a de Jesus. Existem, de fato, muitas histórias de deuses egípcios tendo várias partes do corpo espalhadas perto uma da outra, para não prejudicar o conjunto, pois “pensava-se que corpos divinos eram imunes às substituições” [15/1]. Neste caso, o corpo morto de Osíris não apodreceu e nem se decompôs como se esperava, para que fosse montado completamente de novo. Foi assim com todos estes deuses egípcios: Seth e Hórus têm uma luta em que atiram excrementos um no outro e, em seguida, cada um rouba os órgãos genitais do outro [16]. O olho de Hórus é roubado por Seth; porém, Hórus o toma de volta e o entrega à Osíris, que o devora [17]. Hórus teve uma dor de cabeça, e outra divindade se ofereceu para emprestar a própria cabeça para ele até que sua aflição desaparecesse [15/2]. Osíris pagou um preço por ter morrido mutilado, já que ele foi limitado ao mundo dos mortos (e, de forma notória, alienado como consequência do que se passou “acima da superfície” [18]), mas isto somente porque na realidade ele havia morrido uma vez antes, quando seu pai o matou acidentalmente [19].
Portanto, Jesus evidentemente não é um plágio de Osíris, pois suas histórias são muito diferentes. É importante ressaltar, ainda, que Jesus é uma pessoa real, enquanto Osíris é apenas uma figura mitológica.
Notas de rodapé:
[1] FRAZER, J. G. Adonis, Attis, Osiris. 1961.
[2] GRIFFITH, J. Gwyn. The Origins of Osiris and His Cult. Brill: 1996.
[3] BUDGE, E. Wallis. 1961. p. 26.
[4] Ibid., p.79
[5] SHORTER, Alan. Egyptian Gods: A Handbook. 1937 p. 37.
[6] MEEKS, Dimitri. Daily Life of the Egyptian Gods. 1996. p. 31.
[8] FRAZER, J. G. Adonis, Attis, Osiris. 1961. vii, 7
[9] BUGDE, E. Wallis. 1961. p. 9.
[10] HOLDING, James Patrick. Was the story of Jesus stolen from that of the Egyptian deites Horus and Osiris? – Disponível em http://www.tektonics.org/copycat/osy.html, acessado em 29/03/2017.
[11] Roland de Vaux. The Bible and the Ancient Near East. Doubleday, 1971. p. 236.
[12] SMITH, Wilbur M. Therefore Stand. New Canaan, CT: Keats, 1981, p. 583.
[13] Frankfort, Kingship and the gods: a study of ancient Near Eastern religion as the integration of society & nature. UChicago:1978 edition, p. 289.
[14] The Resurrection of Jesus Christ: Myth, Hoax, or History?” David J. MacLeod, in The Emmaus Journal, V7 #2, Winter 98, p. 169.
[15] MEEKS, Dimitri. Daily Life of the Egyptian Gods. 1996. p. 57.
[16] BUDGE, E. Wallis. 1961. p. 64.
[17] Ibid., p.88.
[18] MEEKS, Dimitri. Daily Life of the Egyptian Gods. 1996, p. 88-89.
[19] Ibid., p. 80.
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