Expiação limitada ou universal, nesse ponto estou com os arminianos sem pestenejar.

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Calvinismo, Arminianismo e a Teologia da Salvação
 
Existem variedades tanto dentro do Calvinismo como do Arminianismo. O Arminianismo que eu tenho apresentado em Grace, Faith, Free Will[1] (Graça, Fé, Livre-Arbítrio) é o que eu chamo de “Arminianismo da Reforma”, que significa as opiniões do próprio Armínio e dos seus primeiros partidários (os “remonstrantes”). A teologia de Armínio foi claramente um produto da Reforma e manifestou a insistência da Reforma na salvação pela graça somente, pela fé somente, por Cristo somente.
O capítulo de abertura do meu livro traça o percurso histórico de desentendimentos de Armínio com o Calvinismo de sua época. O restante do livro é dividido em quatro partes: (1) Predestinação e Eleição; (2) Expiação; (3) Salvação pela Fé e (4) Perseverança. Em cada parte existem três capítulos; os dois primeiros capítulos fornecem um tratamento de “teologia sistemática” do assunto, tanto do Calvinismo como do Arminianismo, respectivamente, e o terceiro capítulo apresenta a “teologia bíblica” em apoio ao Arminianismo da Reforma.
Nesta palestra vou lidar com parte do que é tratado na Segunda Parte do livro: a teologia da expiação, e especialmente a extensão da expiação. A pergunta é: Por quem Cristo morreu? Somente pelos eleitos ou por todos?
 
A Natureza da Expiação
Antes de abordar o assunto, devo referir-me brevemente à natureza da expiação. Como a maioria dos calvinistas, os arminianos reformados creem na “visão da satisfação penal” da expiação. Esta é uma expiação verdadeiramente “vicária” – substitutiva. Jesus verdadeiramente sofreu na cruz a penalidade pelos nossos pecados. Ele suportou a ira de Deus em nosso lugar. 2Co 5.21 diz, “Ele o fez pecado por nós”. Ele foi punido na cruz pelos nossos pecados, embora ele não tenha cometido nenhum pecado.
Digo isto porque existe uma corrente histórica do Arminianismo que ensina, na verdade, o que é chamado de “visão governamental” da expiação, desenvolvida por um dos seguidores posteriores de Armínio chamado Hugo Grotius. Grotius dizia que Jesus morreu para sustentar o governo justo de Deus do mundo. Nesta perspectiva, a expiação é um testemunho de que o pecado exige perdão, não punição; Jesus morreu pelos nossos pecados, mas não para suportar a pena dos nossos pecados. Eu recomendo um capítulo no livro do Sr. Forlines, The Quest for Truth[2] (A Busca pela Verdade), sobre este assunto.
 
Razões para Crer na Expiação Universal
O Arminianismo insiste que Jesus morreu por cada pessoa na história do mundo: que Deus tanto amou o mundo, e não apenas os eleitos, que deu o seu único Filho pelos pecados do mundo. Isso às vezes é chamado de expiação ilimitada, expiação universal ou expiação geral. (Os batistas calvinistas costumavam ser chamados de “batistas particulares”, enquanto todos os batistas arminianos costumavam ser chamados de “batistas gerais”.)
  1. A expiação universal se encaixa nas declarações bíblicas de que Deus quer a salvação de todos, especialmente 2Pe 3.9 e 1Tm 2.4. Seria estranho, na verdade, se Deus realmente quisesse ou desejasse a salvação de todos, mas enviasse o seu Filho para morrer somente pelos eleitos! Faz muito mais sentido que Deus tenha providenciado uma oportunidade para todos, visto que Ele deseja a salvação de todos.
  1. A expiação universal é logicamente exigida pelas passagens que fazem referência à condenação de pessoas por quem Cristo morreu, especialmente 1Co 8.11 e Rm 14.15. Esses dois textos lidam com o mesmo problema: por um comportamento descuidado pode-se ameaçar o bem-estar espiritual de um irmão ou irmã em Cristo. E isso aumenta o perigo de que alguém por quem Jesus morreu possa finalmente perecer. Nesse caso, é claro que ele não morreu apenas pelos eleitos.
A propósito, isto está relacionado com a teologia da apostasia. Se uma pessoa regenerada realmente pode apostatar e se perder, então alguém por quem Cristo morreu pode perder-se. Se Jesus não morreu pelo apóstata, ele nunca poderia ter sido salvo em primeiro lugar!
  1. A expiação universal se encaixa no fato que a Bíblia oferece salvação a todos e nos obriga a pregar o evangelho a todos.
Que a Bíblia apresenta a oferta como universal é evidente em todas as passagens que dizem “quem quiser”, como Ap 22.17 e Jo 3.14, 15; compare Jo 12.32: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim”.
Que a Bíblia nos ordena a pregar o evangelho – apresentar esta oferta – a todos é igualmente claro em passagens como Mc 16.15. Rm 1.14-16 mostra que Paulo plenamente percebia isto como sua obrigação, visto que “o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”.
Os calvinistas não negam que a Bíblia oferece a salvação a todos e que somos responsáveis por pregar a oferta do evangelho a todos. Porém, eu acho que eles não conseguem ser logicamente consistentes aqui: a salvação não pode ser verdadeiramente oferecida a alguém por quem Cristo não morreu. Suponha que eu diga a uma criança paralítica, “Se você apenas estender a sua mão para pegar, darei este doce a você”. Isso me soa mais como zombaria do que uma “oferta”!
  1. A expiação universal se encaixa melhor no fato que os incrédulos são culpados, na Bíblia, não apenas por seus pecados mas pela sua rejeição de Cristo e da salvação oferecida nele pelo evangelho. Considere Jo 3.18 ou 1Jo 5.10, 11, como exemplos. Nesta última referência, o ponto é que aquele que não crê, rejeitou, na verdade, o testemunho do próprio Deus, tornando-o um mentiroso. E qual é esse testemunho? Que ele nos deu a vida eterna em seu Filho. Mas se Jesus não morreu por aqueles que finalmente não creem nele, então Deus não deu testemunho de que ele proporcionou a vida eterna a eles e eles não rejeitaram o testemunho de Deus!
A Bíblia claramente culpa os pecadores por rejeitar o evangelho. Isso deve significar que a oferta é genuína, que Jesus realmente morreu por eles.
  1. A expiação universal explica melhor aquelas escrituras que falam da provisão de Deus como correspondendo às necessidades humanas. A melhor passagem aqui é Rm 3.22-25, onde Paulo fala da justiça que está disponível, pela fé em Jesus Cristo, a todos e sobre todos os que creem. Ele corrobora esta afirmação com rigorosa lógica dizendo:
– Porque não existe diferença
– Porque todos pecaram e estão afastados da glória de Deus
– Sendo justificados gratuitamente pela sua graça através da redenção que está em Cristo Jesus.
A frase “sendo justificados gratuitamente pela sua graça através da redenção que está em Cristo Jesus” modifica o mesmo “todos” que Paulo diz “todos pecaram”. Todos pecaram; todos têm acesso à justificação com base na obra redentora de Cristo. A provisão corresponde à necessidade.
  1. Finalmente (no livro eu cito nove argumentos), a Bíblia claramente ensina que Jesus morreu por todos e não apenas por um número escolhido. Considere 1Jo 2.2; 1Tm 2.6; Hb 2.9; Jo 3.16-18, 2Co 5.14, 19; Rm 5.18, Tt 2.11. Como o Dr. Vernon Grounds ironicamente disse: “É preciso talento exegético… para esvaziar estes versículos de seu significado óbvio”.
 
Argumentos Calvinistas
Você precisa conhecer algumas coisas que os calvinistas dizem em oposição.
  1. Os calvinistas apontam para os versículos que dizem que Jesus morreu pelo seu povo ou pela igreja e os interpretam como significando que ele morreu somente pelo povo escolhido de Deus. Estes incluem Mt 1.21; Jo 15.13; Jo 10.15, Ef 5.23-26; At 20.28; Tt 2.14; e outros.
Nós cremos em ambos os grupos de versículos: ele morreu por nós e ele morreu por todos. Se ele morreu por todos, isso nos inclui.
Considere Gl 2.20: Paulo diz que Jesus “me amou e se entregou por mim”. Obviamente, isso não significa que Jesus não se entregou por ninguém mais. Da mesma forma, os versículos que falam de Jesus morrendo por nós, pela igreja, pelo povo de Deus, não significam que ele não morreu por ninguém mais.
  1. Os calvinistas geralmente alegam que “todos” – nas passagens que dizem que Jesus morreu por todos – não significa realmente cada uma ou todas as pessoas na história do mundo. Ao invés disso, elas querem dizer que Deus quer a salvação dos eleitos entre todos os povos, classes e grupos étnicos na sociedade: Deus ama e salva os eleitos, sejam eles judeus ou gentios, de uma nação ou de outra, ricos ou pobres, jovens ou velhos.
Eu penso que essas tentativas deixam de lidar de forma séria com esses versículos, e para concluir quero enfatizar 1Jo 2.2.
1Jo 2.2
Este versículo é um bom exemplo da última razão, acima, para a expiação universal: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro”.
O que João quer dizer com “mundo”? Ele usa esta palavra 23 vezes nesta breve carta, indicando consistentemente o próprio oposto do povo de Deus. Considere 2.15-17; 3.1, 13; 4.1-5; 5.4, 5, 19. O povo de Deus e “o mundo” são dois povos diferentes, hostis entre si. Certamente João usa “mundo” em 2.2 da mesma maneira e não como uma referência ao restante dos eleitos no mundo.
As outras passagens nesta carta onde “nós” ou “nos” se encontra em comparação com “o mundo”, como aqui em 2.2, também torna isso claro. Há quatro dessas passagens: 3.1; 4.5, 6; 5.4, 5 e 5.19: “Nós somos de Deus, e o mundo inteiro jaz no maligno”. Isto estabelece o ponto acima de qualquer argumentação. “Nós” e “o mundo” são dois reinos diferentes. Mas não devemos ter orgulho: Jesus morreu não somente por nós, mas por aqueles que nos odeiam; não somente por nós, mas por aqueles que estão nas garras do maligno. Não somente por nós, mas pelo mundo ímpio que o rejeitou.
E é, portanto, nossa responsabilidade dizer a esse mundo que ele morreu por eles.
[1] Nota do Tradutor: Robert E. Picirilli. Grace, Faith, Free Will, Contrasting Views of Salvation: Calvinism and Arminianism (Graça, Fé e Livre-Arbítrio, Contrastando Visões da Salvação: Calvinismo e Arminianismo) (Nashville: Randall House, 2002).
[2] Nota do Tradutor: F. Leroy Forlines. The Quest for Truth: Answering Life’s Inescapable Questions (A Busca pela Verdade: Respondendo as Questões Inevitáveis da Vida) (Nashville: Randall House, 2001).
Extraído do site arminianismo.com/ em 26/12/2014
Fonte: http://www.cacp.org.br/calvinismo-arminianismo-e-a-teologia-da-salvacao/

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