Os Dons Do Espírito - Cessaram Ou Não Cessaram ?
Rev. Leandro Lima
Paulo disse que os dons cessariam, mas agora precisamos
pensar em quando isso deve acontecer. Para muitos, todos os dons cessaram, e
hoje a igreja age pela pregação do Evangelho sem sinais extraordinários. Essa
posição diz que os dons não existem mais, mas não diz necessariamente que Deus
não realiza milagres. Essa posição pode ser chamada de cessacionista.
Outros defendem que todos os dons estão em plena atividade
no mundo, e os mesmos dons dos Apóstolos, inclusive o de ser um
"apóstolo", podem ser obtidos pelos crentes. Essa posição é
sustentada pelos carismáticos pentecostais e neo-pentecostais. Primeiramente
precisamos entender que Paulo disse que pelo menos alguns dons, somente seriam
removidos com a vinda de Cristo (1Co 13.10). Além disso, de acordo com a
Bíblia, a distribuição dos dons é uma atividade soberana do Espírito, pois
"um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as,
como lhe apraz, a cada um individualmente" (1Co 12.11). Portanto, não
devemos limitá-lo, nem dizendo que o Espírito não pode mais conceder dons aos
homens, nem dizendo que ele tem que conceder todos os dons aos homens.
Na linha de nossa argumentação neste trabalho, Deus serviu
dos dons para desempenhar funções específicas em épocas específicas. E só ele
sabe quais são as capacitações mais necessárias para sua igreja ao longo da
história. Como os dons foram dados para a edificação da igreja, não faz sentido
que Deus removesse antes de a igreja estar completamente edificada. Por outro
lado, Deus não é obrigado a agir sempre da mesma forma. Assim, entendemos que
alguns dons cessaram e outros não, mas é difícil dizer com certeza quais são
eles, exceto alguns que parecem bem evidentes. Também é preciso fazer alguma
distinção entre dom e ofício. Alguns dons foram oficializados na igreja
primitiva, como apóstolos, presbíteros e diáconos.O oficial necessariamente
tinha o dom, e nalguns casos, eram escolhidos diretamente por Deus (apóstolos);
enquanto que noutros, eram escolhidos pelos homens (presbíteros). Entendemos que
os ofícios que permanecem são aqueles que a igreja escolhe, como é o caso de
Presbíteros e Diáconos, e é natural pensar que, para que desempenhem esses
ofícios, precisam ter os dons correspondentes.
Dons Do Espírito - Milagres (1Co 12.10)
A Bíblia tem muitas coisas a falar sobre milagres.
Percebemos que eles aconteceram de forma mais concentrada durante três períodos
da história: nos dias de Moisés e Josué; Elias, Eliseu e os Profetas;Cristo e
os Apóstolos. O que essas três épocas têm em comum é o fato de que concentraram
as maiores porções da revelação divina. Deduzimos, a partir disso, que os
milagres foram dados para autenticar a mensagem em cada um dos períodos
mencionados acima. No tempo do Novo Testamento, os milagres aconteceram para
autenticar a mensagem apostólica e assim, consequentemente, apontar a
autoridade da Palavra de Deus. Alguns milagres foram execuções diretas do poder
de Deus sobre a vida das pessoas, como no caso do julgamento de Ananias e
Safira (At 5.9-11) e do julgamento de Elimas o mágico (At 13.8-11). Naqueles
dias algumas pessoas tinham o dom de milagres, ou seja, podiam realizar
milagres frequentemente. Devemos pensar que nos dias de hoje, ninguém mais
tenha esse dom, até porque, até onde tenho conhecimento, ninguém realizou as mesmas
façanhas que os apóstolos, porém, isso não significa que Deus não faça
milagres.
Dons Do Espírito -
Curas (1Co 12.9)
O Dom de curar é muto parecido com o Dom de Milagres,
porém, é mais específico. O dom de curar envolvia a
habilidade de uma pessoa para curar outras pessoas de qualquer doença. A partir
da atividade de Cristo e dos Apóstolos no início da pregação evangélica,
percebemos que as curas eram instantâneas (Mc 1.42); completas (Mt 14.36);
permanentes (Mt 14.36); incondicionais (Jo 9.25); e ilimitadas (Jo 11.44; At
9.40). Nos dias de hoje, apesar de muitas pessoas reivindicarem o dom de cura,
as características acima não são encontradas. Uma pessoa que tem o dom de curar
teoricamente poderia curar sempre. Não parece que esse dom esteja em operação
nos dias de hoje, pelo menos não dessa forma, porém, certamente Deus responde à
oração da igreja e cura os enfermos. Aparentemente o dom de curar esteve em
atividade por um período relativamente curto, no início da igreja. Naqueles
dias, Pedro e Paulo curavam e até ressuscitavam mortos (At 9.40) . Seu poder
era tanto, que a sombra de Pedro (At 5.15-16) e os aventais de Paulo eram
instrumentos de cura e libertação(At 19.12). Porém, anos mais tarde, parece que
essa operação especial do Espírito havia cessado, pois Paulo não curou Timóteo
das enfermidades do estômago, antes o mandou beber um pouco de vinho como
remédio (1 Tm 5.23); e até mesmo deixou um companheiro doente em Mileto (2Tm
4.20). Isso nos leva a pensar que o dom de curas esteve em atividade durante
algum tempo, mas que cessou depois. Deus agiu de forma extraordinária a fim de
implantar a igreja, principalmente no início, quando a necessidade era
premente. Com o passar do tempo, deixou as conversões a cargo da pregação,
esperando que as pessoas cressem mesmo sem ver sinais e maravilhas (Jo 20.29;
Hb 11.1).
Dons Do Espírito - Línguas (1Co12.28)
O livro de Atos estabelece que o Dom de Línguas consistia em
falar idiomas de outros povos (At 2.6,8,11). Quando judeus estrangeiros estavam
em Jerusalém no Pentecostes, eles ouviram os discípulos proclamando as
maravilhas de Deus em suas línguas nativas (Ver At 2.8-11). As línguas de Atos
e dos Corintios são necessariamente as mesmas, pois a Bíblia não dá qualquer
evidência de que o dom tenha mudado de Atos 2 para 1Corintios 12.14.O dom de
línguas é uma capacidade de falar idiomas das nações, e é um dom de menor
importância (1Co 12.28). Além disso, nem todos os crentes possuíam esse dom
(1Co 12.29-30). Logo, a exigência para que se fale em línguas a fim de
comprovar o batismo com o Espírito Santo, como se vê nos dias atuais, é
completamente sem sentido e anti-bíblica. Apesar de que, muitos dos batizados
com o Espírito no livro de Atos falaram em línguas, isso não aconteceu com
todos (Ver At 4.31; 8.17; 9.17-19). Como os dons de milagres, o dom de línguas
foi usado para autenticar a mensagem apostólica, e também para facilitar o
entendimento dos estrangeiros. No dia do Pentecostes os estrangeiros (judeus e
estrangeiros) ouviram os apóstolos falando sobre as grandezas de Deus e puderam
entender em suas próprias línguas nativa. Línguas foram usadas como um sinal
para os judeus incrédulos e, nesse sentido, foram usadas no evangelismo. Paulo
diz: "Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas
e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor.De sorte que
as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos; mas
a profecia, não é para os incrédulos, e sim para os que creem" (1Co
14.21-22). Quando um judeu incrédulo entrasse na igreja e ouvisse alguém
falando numa língua estrangeira, seria um sinal de que Deus estava fazendo uma
obra no meio deles (Is 28.11-12). Esse sinal poderia levar o judeu a crer no
Messias.
Alguns defendem que hoje existe um dom de línguas extáticas,
baseado em 1Coríntios 14.2 que diz: "Pois quem fala em outra língua não
fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala
mistérios". Porém, esse texto diz apenas que a pessoa que está falando em
línguas está dizendo algo misterioso para aquele que está ouvindo, porque
aquela pessoa não entende a língua. Não é um mistério para Deus pela simples
razão de que Deus entende todas as línguas. Por isso essa pessoa, as falar em
línguas, fala somente a Deus e não aos homens. O fato de 1Coríntios 14.4 dizer
que quem fala em línguas "edifica-se a si mesmo" levou muitos a
pensarem que esse dom foi dado para benefício próprio. Entretanto, claramente a
Bíblia diz que a edificação da igreja deve ser preferida e não a pessoal
(14.12; Ef 4.11-12), pois os dons não são para uso próprio.
Paulo diz que falar em línguas na igreja não traz qualquer
proveito (1Co 14.6), pois é como se alguém tocasse instrumentos sem saber tocar
(1Co 14.7-9). Ele diz ainda que quando alguém orava em outra língua, apenas seu
espírito estava participando, e isso não era desejável, pois a mente também
precisava ser edificada (1Co 14.14-17). Essa última colocação sugere que a
pessoa que falava em línguas não tinha o entendimento do que estava dizendo. Pensa-se
que isso não se encaixe com a descrição do Pentecostes, mas não há nada no
texto de Atos 2 que sugestione que os discípulos entendiam o que estavam
dizendo. Eram os estrangeiros que entendiam, pois ouviram os discípulos falando
em suas línguas maternas. Também deve ser dito que essa é a razão pela qual, em
Atos 2, não havia a necessidade de intérprete, como Paulo exige em 1Coríntios
14.27-28). Essa última ocasião era dentro da igreja, com pessoas da mesma
nacionalidade, enquanto que a primeira foi diante de estrangeiros que já
conheciam aquelas línguas (At 2.8). Por fim, Paulo diz que falava em muitos
idiomas, porém, preferia falar na igreja, em língua compreensível, cinco
palavras do que dez mil em língua incompreensível (1Co 14.18-19). A comparação
é bastante sugestiva.
O ataque mais frontal ao uso de línguas sem interpretação na
igreja é uma afirmação de que, falar em línguas denigre o Evangelho causando
escândalo entre os incrédulos (1Co 14.23). Porém, como o dom ainda estava em
operação naqueles dias, Paulo o regulamenta dizendo: "No caso de alguém
falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e
isto sucessivamente , e haja quem interprete. Mas, não havendo interprete,
fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus" (1Co 14.27-28).
Esta é uma ordem que não admite objeção. Em hipótese alguma mais do que três
pessoas poderiam falar em línguas no culto. Além disso, deveriam falar uma após
a outra, e nunca simultaneamente. E ainda um terceiro requisito era necessário,
a necessidade de tradução. Sem tradução, sem línguas.
Os Dons Do Espírito - Profeta (Rm12.6; Ef 4.11; 1Co 12.28)
Após a ascensão de Jesus, principalmente no período de Atos
dos Apóstolos, enquanto o Novo Testamento ainda não havia sido escrito. Deus se
revelou através de dois ministérios: O Ministérios dos Apóstolos e o Ministério
dos Profetas. Esses profetas devem ser considerados Profetas do Novo
Testamento, e nesse sentido, distintos dos Profetas do Antigo Testamento, até
porque não foram sucessores daqueles, pois essa tarefa coube aos Apóstolos. Os
Profetas do Novo Testamento foram um grupo especial que, aparentemente falava
sob a inspiração do Espírito Santo, e que receberam revelação divina a respeito
do Evangelho (Ef 3.5). Podemos citar Ágabo (At 11.27-28; 21.10-11), Judas,
Silas (At 15.32), e outros (At 13.1), Também não há mais Profetas hoje como não
há Apóstolos, pois esses dois ofícios foram usados por Deus na formação da
igreja. Foram o fundamento da igreja (Ef 2.20), num tempo quando a Bíblia ainda
não estava completa. Até a complementação do cânon, o dom de profecia foi
importante para a edificação da igreja, pois o profeta recebia revelação direta
de Deus e ensinava o povo, edificando, exortando e consolando (1Co 14.3).
Entretanto, mesmo naquele tempo essas profecias deveriam ser amplamente
analisadas e julgadas (1Co 14.29; 1Ts 5.20-21; 1Jo 4.1), porque sempre havia o
risco de falsos profetas aparecerem e falarem coisas de seu próprio coração,
para granjear o respeito, a admiração e outras vantagens pessoais. Portanto,
não é possível dizer, à luz do Novo Testamento, que esses profetas dispunham do
mesmo status dos Apóstolos. Parece que a função deles era interpretar o Antigo
Testamento, à luz dos acontecimentos mais recentes envolvendo a vida de Jesus,
e também trazer palavras de conforto e direcionamento para a igreja. Em alguns
casos, anunciavam eventos futuros (At 11.28; 21.10-11).
Uma vez que o Cânon se completou, não há mais necessidade de
revelação direta da parte de Deus e, portanto, não há mais necessidade de
profecia. Porém, pergunta-se, se não podemos falar em profecia nos dias de hoje
a partir da Palavra de Deus. Nesse ponto, devemos nos lembrar que a palavra de
Deus é a palavra profética. Ainda devemos nos lembrar que João disse que o
"testemunho de Jesus é o Espírito da Profecia" (Ap 19.10), ou seja, o
coração da profecia é anunciar a Jesus. Sempre que pregamos a Palavra e anunciamos
Jesus, estamos profetizando. A profecia divina continua em atuação no mundo
através da Palavra de Deus, e o Espírito Santo continua iluminando nossas
mentes e corações para que possamos discernir a vontade do Senhor.
(Nota do Roberto: Concordo em parte com o autor, ainda sim
os dons do Espirito Santo continuam operantes ate hoje e ate a volta de Cristo.
O profetizar, as revelações ainda podem acontecer, mais a prioridade é sempre a
palavra de Deus, a maior e infalível profecia, e tudo deve ser julgado a luz
dela)