Pedobatismo - Uma Heresia Infantil
i“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como
menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as
coisas de menino.”(I Co 13:11)
Não são poucos os convertidos que passaram pelo batismo,
pelo discipulado cristão, mas que ainda permanecem meninos na fé e, permita-me
um adendo, meninos na doutrina. Quando se trata de batismo, encontramos no
cenário evangélico algumas posições doutrinárias que beiram o absurdo. Os
pedobatistas são todos aqueles que defendem ferrenhamente que a Igreja deve
batizar os infantes. Quando nós, batistas pregamos, ensinamos ou escrevemos
algo contrário a tal doutrina, não demora muito e as vozes replicantes começam
a ecoar com esse ou aquele argumento. A história dessa controvérsia é tão
grande que não cabe aqui sequer um resumo, mesmo porque não é o escopo desta
mensagem. O que se pode dizer, então, é que uma vez que, por toda a bíblia
lemos que a única maneira de um ser humano ser salvo é arrependendo-se e
crendo, por dedução concluímos que o batismo para o salvo é batismo para
adultos. Defender o pedobatismo é uma posição de meninos na doutrina. Fico
imaginando aqui a pregação dos pedobatistas. Afirmam que o exemplo de fé, abnegação, obediência e
padrão para todas as doutrinas é a pessoa de Cristo e Sua Palavra. Perfeito! É
isto que devemos crer e propagar. No entanto, surge uma questão que os
pedobatistas não podem responder. Não devemos celebrar o batismo da maneira em
que João Batista celebrou no Salvador? Afinal, Cristo não é o exemplo para
tudo? Por que desprezar essa verdade quando o assunto é batismo? O Senhor Jesus
Cristo foi batizado com idade adulta e hoje se batiza crianças? Com base em
quê? Em I Coríntios 10:1,2? Em I Pedro 3:20,21? Não existem textos de sobra no
Novo Testamento que direta e indiretamente expressam a necessidade de
arrependimento e fé para descer às águas batismais? Requisitos esses
pertencentes apenas a pessoas adultas? Por que não se pratica a Ceia como os
judeus praticavam, nesse caso a páscoa? Por que celebram a Ceia exatamente como
o Senhor fez e ensinou? Não deveriam fazer o mesmo com o batismo? Assim
defender batismo de criança é estar na mesma posição do batizando, pelo menos em
doutrina, Isto é, infante. A não ser que a criança tome a verdadeira decisão
como adulto, não há como aceitarmos o pedobatismo. Como disse Charles Spurgeon:
“Uma criança de cinco anos, se ensinada adequadamente, pode crer para a
salvação tanto quanto um adulto. Estou convencido de que os convertidos de
nossa igreja que se decidiram quando crianças são os melhores crentes. Julgo
que são mais numerosos e genuínos do que qualquer outro grupo, são mais
constante,e, ao longo da via, os mais firmes”.
Enoque de Lima Arruda é teólogo e pastor da Primeira Igreja
Batista em Rio das Pedras/SP. É formado em bacharel em teologia reconhecido
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Pós-graduado em Ciência das
Religiões pela FIJ/RJ. prenoque@yahoo.com.br
Evidências contra
pedobatismo
SETE
PREMISSAS BÍBLICAS DE QUE AS RESSURREIÇÕES [pessoas que voltaram à vida no mesmo
corpo, mas que voltaram a morrer]CONFIRMAM QUE AS CRIANÇAS [infantes,
meninos e meninas ainda sem maturidade e discernimento] NÃO MORREM
CONDENADAS [não vão para o inferno] MAS SALVAS.
Jesus,
porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir os meninos a mim, e
não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus. – (Marcos 10:14)
Mas
Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os
impeçais, porque dos tais é o reino de Deus. – (Lucas 18:16)
PREMISSA
PRIMEIRA
O livro
de Apocalipse demonstra que os que estão no inferno, só poderão sair de
lá para Juízo de Condenação e para serem lançados no Lago de Fogo
(Apocalipse 20:11-15). Isto quer dizer que ninguém que tenha
morrido e ido para o Inferno será ressuscitado por DEUS a não ser no Juízo
Final. Logo, nenhuma pessoa que foi ressuscitada como sinal milagroso, seja
no Velho quanto no Novo Testamento poderia ter estado lá!
PREMISSA
SEGUNDA
A Paulo,
apóstolo do Senhor Jesus Cristo, DEUS ressuscitou para que ele
pudesse completar seu ministério, porém não lhe foi permitido falar sobre
o que viu (2 Coríntios 12:1-4).
PREMISSA
TERCEIRA
Todos os
casos, tanto no Velho quanto no Novo Testamento, de pessoas que foram
ressuscitadas, em nenhum deles encontramos relatos do que eles viram. É
lícito pensar que DEUS aplicou a eles a mesma proibição que aplicou a Paulo.
Ou você consegue encontrar na Bíblia algum relato de alguém que, tendo sido
ressuscitado, relatou com detalhes o que viu?
PREMISSA
QUARTA
Devemos
considerar que nenhuma das pessoas ressuscitadas, tanto no Velho quanto no Novo
Testamento, estavam no Inferno, pois a elas DEUS não poderia dar
uma segunda chance (Heb. 9.27). Logo, podemos concluir que
os TODOS os que foram ressuscitados (no corpo carnal, ou seja,
não glorificado) morreram de fato e estiveram não no Inferno, mas na
Glória.
PREMISSA
QUINTA
Aqueles
que foram ressuscitaram na carne (para depois voltarem a morrer), voltaram
para serem sinais de DEUS, sem necessidade de relatar o que
viram, vivendo em obediência até morrerem de novo, pois ainda não ocorreu
ressurreição em corpo glorioso, a não ser o do Senhor Jesus Cristo (I
Coríntios 15.20). Isso é indicação que eram Eleitos de DEUS
para salvação.
PREMISSA
SEXTA
Há,
tanto no Velho quanto no Novo Testamento, casos de adultos, jovens, juvenis e
crianças sendo ressuscitadas. Se considerarmos as premissas anteriores:
- Todos morreram de fato (não houve aniquilação ou “sono da alma”);
- Eles estiveram na Glória e não no Inferno;
- Eles voltaram convictos da sua salvação;
- Eles eram todos Eleitos de DEUS e serviram a um ÚNICOpropósito específico, mesmo não tendo sido mencionados nem mesmo alguns de seus nomes, nem o que de fato vieram a contemplar;
- DEUS toma os Seus quando bem Lhe aprouver, e ninguém pode frustrar o “conselho de Sua Vontade”(Jó 4:42; Romanos 9:19; Efésios 1:5 e 11; Hebreus 2:3 e 4).
PREMISSA
SÉTIMA
Entre
estes estavam, de fato, crianças (infantes, ainda sem terem chegado à idade da
consciência). DEUS os havia tomado para Si e os devolveu à vida para
tornar a toma-los outra vez. Nenhuma delas poderia ter sido mandada ao
Inferno. (I Reis 17:21-23; II Reis 4:33-37; Mateus 9:23-25; Marcos
5:38-43; Marcos 9:25-27; Lucas 7:12-15; Lucas 8:49-56). Todas estas
crianças, meninos e meninas, haviam sido tomadas por DEUS e serviram de Sinal
de Sua Graça e Misericórdia.
CONCLUSÃO
De
fato, “dos tais é o reino de Deus”. Crianças não morrem
condenadas, mas salvas. Os sinais de Ressurreição demonstram que isso é
verdadeiro.
E, se
jamais tivéssemos ou aceitássemos estas premissas acima, somente a
declaração do Senhor deve ser suficiente para nos convencer que ao morrer uma
criança (infante, sem ainda ter chegado à idade da
consciência), DEUS a tomou para Si.
Logo, o
argumento de Agostinho (e de João Calvino) de que crianças, infantes,
bebês, meninos e meninas ainda sem maturidade ou discernimento, carecem do rito
perpetrado pela igreja romana e suas igrejas derivadas, ou seja, o
Pedobatismo por meio da aspersão, que é praticado por católicos,
episcopais, presbiterianos, etc…, irão para o Inferno se não forem submetidas
ao “Sacramento”, é falso!
- Isso é heresia!
- Isso é contrário às Sagradas Escrituras!
- Isso é pregação da Salvação por Obras, por meio de ritos humanos!
- Isso é, até mesmo, contra à lógica!
Não se
deixe enganar! E que DEUS nos guarde das heresias, nos faça cada dia mais fiéis
a Si mesmo, ao Seu Cristo, em orientação do Espírito Santo, em obediência à Sua
Palavra. Amém!
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* QUEM PRATICA O BATISMO INFANTIL?
O Batismo
infantil é praticado pela Igreja Católica Romana, pelos vários grupos que
representam a Igreja Ortodoxa Oriental, assim como por muitas denominações que
saíram de Roma durante a Reforma Protestante, incluindo as denominações
Luterana, Anglicana, Presbiteriana e Metodista.
IGREJA
CATÓLICA ROMANA: “Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados, o pecado
original e os pecados pessoais, assim como toda a punição pelo pecado…A Igreja
não conhece outros meios que não o Batismo para garantir a entrada na beatitude
eterna. Por isso, ela procura não negligenciar a missão que recebeu do Senhor
para garantir que todos que sejam batizados sejam ‘renascidos na água e no
Espírito.’ Deus ligou a salvação ao sacramento do Batismo… O Batismo não apenas
purifica de todos os pecados, mas também torna o neófito ‘uma nova criatura’,
um filho adotivo de Deus que se tornou ‘participante da natureza divina’, membro
de Cristo e co-herdeiro com Ele e um templo do Espírito Santo… Das fontes do
Batismo nasce o único Povo de Deus da Nova Aliança” (O Novo Catecismo
Católico, 1994,# 1263,1257,1265,1267).
IGREJA
ORTODOXA ORIENTAL: “Confessamos um batismo para a remissão dos pecados”. (Credo
Constantinopolitano [ou de Nicenas], 381). “Nossos sacramentos, no entanto,
não apenas contém graça, mas também a conferem àqueles que os recebem de
maneira válida… Através do batismo somos espiritualmente renascidos” (Conselho
de Florença, 1438-45). “Quando alguém afirma sua fé no Filho de Deus, o
Filho da Sempre Virgem Maria, a Mãe de Deus, ele aceita antes de tudo as
palavras da fé em seu coração, confessa-as oralmente, sinceramente se arrepende
dos seus pecados anteriores e os lava no sacramento do Batismo. Então Deus o
Verbo entra no batizado, como no útero da Virgem Bendita, e nele permanece como
uma semente” (O Jornal do Patriarcado de Moscou, Igreja Ortodoxa Russa, nº
4, 1980). “Os sacramentos…não são simples símbolos da graça divina, mas
verdadeiros agentes e meios de sua transmissão… [através do batismo se] torna
um membro da igreja de Cristo, ficando liberto do poder controlador do pecado,
e renascendo como nova criatura em Cristo” (Comissão Internacional do
Diálogo Teológico entre Ortodoxos Orientais e Católicos Tradicionais, 1985).
LUTERANOS:
“o Batismo realize o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e
garante a salvação eternal para todos os que crêem, como declara a Palavra e a
promessa de Deus…Não é a água que produz esses efeitos, mas a Palavra de Deus
ligada à água e nossa fé que confia na Palavra de Deus ligada à água”
(Pequeno Catecismo de Lutero, 1529, IV). “É ensinado entre nós que o Batismo
é necessário e que a graça é oferecida através dele. As crianças também
deveriam ser batizadas, pois no Batismo elas se comprometem com Deus e se
tornam aceitáveis para Ele. Considerando isso, os Anabatistas, os quais ensinam
que o Batismo infantil não é correto, são rejeitados” (A Confissão de
Augsburg, 1530, IX).“Sendo pecadores por natureza, as crianças, assim como
os adultos, precisam ser batizadas. Cada criança que é batizada é gerada
novamente pela água e pelo Espírito, é colocada em relação de aliança com Deus,
e se torna filha de Deus e herdeira de seu reino celestial” (Fórmula do
Batismo usada pelos pastores Luteranos ao batizarem crianças – The New
Analytical Bible and Dictionary of the Bible, Chicago: John A. Dickson
Publishing Co., 1973).
O edição
de agosto de 2001 de “The Berean Call” contém a seguinte advertência de
um leitor da publicação: “Em anexo meu Certificado de Batismo e o
Certificado de Batismo da minha filha, ambos [batismos tendo ocorrido] enquanto
[éramos] bebês, na Igreja Luterana. Como você pode ver, meu certificado foi
impresso pela Casa Editorial Concórdia do Sínodo de Missouri e se nele se lê: ‘No
Batismo a completa salvação lhe foi dada; Deus se tornou seu Pai e você se
tornou Seu filho’. No certificado de minha filha se lê: ‘Você é uma
filha de Deus porque Deus tornou-a filha d’Ele através deste ato [Nota de
Hélio: o ato de batismo]. Todas as promessas de Deus lhe pertencem enquanto
você viver submissa a Ele e Seu Reino.’ Você deve saber que o Catecismo
Luterano, usado em cada sínodo Luterano, declara, a respeito do ‘Sacramento
do Batismo‘, que ‘ele opera perdão dos pecados, livra da morte e do
diabo, e dá eterna salvação a todos que acreditam nisso, como declaram as
palavras e promessas de Deus.’ Também afirma a respeito do Sacramento do
Altar [Ceia do Senhor], que ‘no Sacramento, o perdão dos pecados, a vida e a
salvação, nos são dados através dessas palavras.”
ANGLICANOS:
“O Batismo é um sinal da Regeneração ou Novo-Nascimento, onde, por meio de
um instrumento [o batismo], aquelas pessoas que corretamente recebem o Batismo
são [por isso] enxertados dentro da Igreja; as promessas de perdão dos pecados
e de nossa adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo são visivelmente
assinadas e seladas; … por todos os modos, o batismo de bebezinhos tem que ser
mantido pela Igreja, como a mais agradável das instituições de Cristo” (Os
Trinta e Nove Artigos de Religião, XXV, XXVII).
METODISTAS:
“Sacramentos são… sinais da graça… pelos quais Ele opera invisivelmente em
nós e não só vivifica, mas também fortalece e confirma nossa fé n’Ele…Batismo…é
também um sinal de regeneração ou de novo nascimento. O batismo de criancinhas
deve ser mantido pela Igreja.” (Os Artigos de Religião, 1784, XVI, XVII).
REFORMADOS:
“Condenamos os Anabatistas que negam que crianças novas, nascidas de pais
crêem, devam ser batizadas… Portanto não somos Anabatistas, nem concordamos com
eles em quaisquer dos seus pontos” (A Segunda Confissão Helvética, 1566,
cap. XX).
PRESBITERIANOS:
“Batismo… é o sinal e selo da aliança da graça, de sua introdução a Cristo,
da regeneração, de remissão dos pecados… Mergulhar a pessoa em água não é
necessário, mas o batismo é diretamente ministrado aspergindo água sobre a
pessoa. Não apenas os que realmente professam a fé e obedecem a Cristo, mas
também as crianças de um ou ambos os pais crentes, devem ser batizadas… pelo
correto uso desta ordenança, a graça prometida não é apenas oferecida, mas
realmente exibida e conferida pelo Espírito Santo a ela (adultos ou crianças)
como a graça pertence a elas, conforme o conselho da própria vontade de Deus,
no seu tempo indicado” (A Confissão de Fé de Westminster, 1646, XXVIII).
CONCÍLIO
MUNDIAL DE IGREJAS: “através do Batismo, os cristãos são trazidos à união
com Cristo, entre si, e com a Igreja de cada tempo e lugar. Nosso batismo
comum, que nos une a Cristo na fé, é assim um elo básico de unidade”
(Batismo, Eucaristia e Ministério, 1982).
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* http://solascriptura-tt.org/EclesiologiaEBatistas/BatismoInfantil-DCloud.htm
Adaptado
do autor Pr Miguel Maciel. Artigo recebido por e-mail.
Por que
não advogo o batismo infantil, bastante comum em meios reformados?
Positivamente, porque creio que o ensino e os exemplos bíblicos implicam o
batismo de crentes, conforme demonstrei no artigo "Por que sou
credobatista?". Negativamente, porque depois de analisar os argumentos em
favor do batismo infantil concluo que são inconsistentes e incapazes de
demonstrar que a prática da igreja apostólica era a de batizar recém-nascidos,
e que trazem mais prolemas que respostas. No que segue, procuramos analisar os
argumentos mais comuns.
Diferentes
pedobatismos
O batismo
é o primeiro das duas ordenanças ou sacramentos revelados no Novo Testamento. É
um ritual comandado por Deus e consiste de um sinal visível da graça de Deus,
acompanhado de promessa divina. Há diferenças entre batismo de adultos e
batismo de crianças, e diferenças próprias nas concepções dos que adotam este
último. Para os católicos romanos e a igreja ortodoxa, o batismo oferece as
funções normais ou meios ordenados para a regeneração. Tanto para luteranos
como para reformados, o batismo é visto como sinal ou selo do pacto da graça,
mas os luteranos afirmam que as crianças não participam da aliança até que
sejam batizadas, já os reformados crêem que a aliança precede o batismo. Os
metodistas ensinam que todas as crianças foram redimidas por Cristo, e portanto
estão aptas ao batismo, apesar de John Wesley não hesitar em rebatizar os que
não haviam sido batizados na Igreja da Inglaterra.
Argumentos
bíblicos para o batismo infantil
É um
ponto pacífico que não há nenhuma referência bíblica direta ao batismo
infantil. Isto não é conclusivo, mas deveria provocar alguma reflexão por parte
dos irmãos que o defendem como norma para a igreja. Muitos enxergam indícios
bíblicos do batismo de infantes em algumas passagens e temos que levá-los em
consideração no estudo do tema.
O mais
utilizado certamente são as referências aos "batismos de casas", como
os de Lídia (At 16:15), do carcereiro filipense (At 16:33), de Estéfanas (1Co
1:16). Argumenta-se que é inconcebível que em todos esses lares, e outros
referidos, não houvesse nenhum bebê e, caso houvesse, a cultura grega e romana
demandariam que fossem batizadas junto com o chefe de família. Note-se, de
início, que este argumento baseia-se no silêncio. O fato da Bíblia não dizer alguma
coisa não prova essa coisa. Devemos considerar, também, que o conceito bíblico
de casa não é equivalente à família, pois era bem mais abrangente que pais e
filhos e incluía escravos, empregados, subordinados, agregados, etc. Se bebês
devem ser batizados porque casas inteiras o foram, então empregados e pessoas
sob ordens de crentes de hoje também
podem e devem ser batizados.
Outro
argumento bíblico apresentado é a passagem bíblica em que Jesus diz
"deixem vir a mim as crianças, não as impeçam" (Mc 10:13-16, cf Mt
18:3; 19:13-15; Lc 18:15-17). Argumentam que o batismo é imperativo para
crianças e que os credobatistas são culpados de impedir bebês de irem a Jesus.
Porém, a passagem nem de longe está tratando de batismo, e se elas oferecem
algum apoio através de paralelo é à prática batista de levar filhos para serem
apresentados na igreja. Jesus "impôs-lhes as mãos e as abençoou" (Mc
10:16), não aspergiu água nelas, não as batizou, nem os seus discípulos o
fizeram. Acrescente-se também que o termo traduzido criança em Marcos e Mateus
tanto pode se referir a bebês como a crianças maiores. É usada, por exemplo,
para se referir a uma criança de doze anos (Mc 5:40) e aos próprios apóstolos
(Jo 21:15) e embora o termo empregado por Lucas signifique literalmente bebê, o
"vinde a mim" parece implicar certa idade.
Ainda uma
outra passagem utilizada em apoio do batismo infantil é 1Co 7:14, que diz que o
"o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é
santificada pelo marido; doutra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas
agora são santos". Sendo os filhos de pais crentes santos, devem ser
batizados. Porém, essa visão também cria mais problemas que soluções. Pois
neste caso, como o marido descrente também é santificado pela mulher, deveria
ser batizado também.
Em resumo
dessa seção pode ser dito que enquanto que o batismo de crente é referido
diretamente, através de prescrições e exemplos, o pedobatismo carece de
qualquer base bíblica sólida, sobrevivendo às custas de referências indiretas
fora do contexto de batismo e de pressuposições inseridas onde a Bíblia
silencia.
Argumentos históricos
Meus irmãos pedobatistas apelam para a antiguidade da
prática em sua defesa. Citam Orígenes, que no século III afirma que "a
igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar até mesmo criança
pequenas". Outro a quem se recorre é Policarpo, que a caminho da arena
para o martírio em 156 d.C. disse que "por 86 anos tenho servido a ele, e
ele em nada me maltratou". Outro citado é Justino Mártir, que no século II
faz referência a "muitos homens e mulheres com sessenta e setenta anos que
haviam sido discípulos de Cristo desde a infância". Em resposta a isso é
preciso dizer, de início, que antigüidade não é prova de correção. O
gnosticismo prova isso, pois se introduziu na igreja no final da era apostólica
e traços dele se mantém até hoje, mas nem por isso deixa de ser uma heresia.
Outro detalhe é que excetuando-se o que Orígenes disse no século III, os dois
últimos testemunhos dependem de predisposição para serem aplicados ao batismo
infantil. "Servir a ele" e "ser discípulo" são tomados como
significando "ser batizado". Já as vozes contrárias ao batismo
infantil são mais fortes e mais claras nesse mesmo período da história da
Igreja.
Tertuliano, bem antes de Orígenes escreveu "nosso
Senhor em verdade diz "deixem vir a mim as crianças". Pois, assim,
deixem-nas vir, enquanto estiverem crescendo, aprendendo e sendo ensinadas
sobre o reino. Deixem que se tornem cristãs quando tiverem capacidade para conhecer
a Cristo (...) Permitam que primeiro aprendam a pedir por salvação, antes que
você seja visto lhes dando o que pedem". Para os que poderiam ver nisso
uma procrastinação da salvação em si, ele conclui que "a fé, deixada
incólume, não duvida de sua salvação".
Já vimos no artigo sobre o credobatismo que no Didaquê o
batismo é precedido de ensino e jejum. O que está de acordo com Justino Mártir,
morto em 163, que escreveu que o batismo é administrado "a todos que são
convencidos e crêem ser verdadeiras as doutrinas da igreja, esforçando-se por
ser capaz de viver de modo compatível". O batismo é precedido de oração e
jejum por parte dos candidatos e da congregação. Nos dias de Hipólito, que
escreveu a Tradição Apostólica, "o batismo é precedido de unção com óleo e
oração e seguido de perguntas sobre o credo apostólico, com nova unção com óleo
e imposição de mãos por parte dos bispos e orações". Através de Cirilo de
Jerusalém o batismo foi adornado com muitas outras práticas, mas ainda se dizia
"você que deseja ser batizado, ele está pronto para trazê-lo por meio do
Espírito Santo à presença do Pai". Cipriano de Cartago, na metade do
século III, foi o primeiro teólogo a afirmar, de forma clara e inequívoca a
regeneração batismal e a necessidade do batismo infantil para a salvação.
Embora Alister McGrath diga que devemos manter uma
"incerteza genuína com relação às razões históricas, quanto às causas
sociais e teológicas dessa prática", a verdade é que se o batismo infantil
foi praticado no início da história da igreja, o foi como exceção combatida e
não como regra estabelecida. O fato geralmente reconhecido é que nos primeiros
trezentos anos da história da Igreja o batismo de crentes era a regra. E mesmo
nos séculos IV e princípios do século V, quando o batismo infantil ganhava
terreno, havia um contramovimento pela postergação do batismo. O pedobatismo só
se impôs como regra na igreja romana a partir de Agostinho, favorecido por uma
visão sacramental do mesmo.
A prática do batismo infantil por parte dos
reformadores também nos é apresentada
como uma evidência de que o mesmo é correto. De fato, Lutero, Zwinglio e
Calvino continuaram pedobatistas. Mas com a possível exceção deste último, as
razões eram mais práticas que teológicas, como veremos a seguir.
O reformadores e o batismo infantil
Martinho Lutero, no auge da Reforma em 1523, escreveu
"no futuro, tenciono não permitir que qualquer pessoa tome a comunhão,
salvo aqueles que tiverem sido entrevistados e corretamente respondido acerca
de sua fé pessoal. O resto será excluído", o que não era outra coisa senão
o que os emergentes anabatistas pediam que ele fizesse. Uma igreja de crentes,
porém, pedia batismo de crentes. Por isso Lutero cedeu à advertência de seu
amigo Melâncton: "pense no rompimento se tivéssemos em nosso meio duas
categorias: os batizados e os não batizados. Se o batismo fosse suspenso,
veríamos o surgimento de uma forma de vida abertamente pagã para a maioria das
pessoas". Na época, parecia certo estabelecer igrejas por força de lei e o
batismo de crentes ameaçava isto. "Eles não permitem o batismo de
crianças. Dessa forma, põem um fim à autoridade secular", era a acusação
contra os anabatistas.
Zwinglio, por sua vez, chegou a confessar: "nada me
entristece mais que ter, no presente, que batizar crianças, pois sei que isto
não deve ser feito". Romper com o batismo infantil, porém, significava
rebelar-se contra as autoridades civis, pois implicava separação entre Igreja e
Estado. Por isso Zwinglio ponderava "se eu parasse de praticar o batismo
infantil, perderia o meu gabinete". Ele avaliava que ainda não era o
momento, pois "se fosse para batizar conforme as determinações de Cristo,
não batizaria antes da idade de discernimento, pois não vejo o batismo infantil
descrito ou praticado em parte alguma. Mas, hoje em dia, precisamos praticá-lo,
para não ofender nossos companheiros". Mais tarde, pressionado, disse que
se confundiu nessa questão, substituiu os argumentos bíblicos que usava em
favor do batismo de crentes por analogias
teológicas e como acusador de Félix Manz chegou a recomendar "deixe ele,
que fala em afundar na água, que afunde". Manz foi executado por
afogamento.
Foi Calvino quem apresentou a melhor defesa do batismo
infantil, fundamentando-a na prioridade da graça, argumentando que a graça
precede tanto o ato como o sinal do batismo. Para ele, o pedobatismo não coloca
o homem numa posição errada, mas coloca Deus na posição certa, a de soberano
doador da graça. Casado com a viúva de um ministro anabatista, Calvino
compreendia os seus argumentos e se dispôs não só a refutá-los mas a recuperar
os seus adeptos ao seus sistema eclesiástico. Defendeu a continuidade da
aliança, com a mudança do sinal externo da circuncisão para o batismo e assim
como bebês eram circuncidados, bebês deviam ser batizados. Também disse que a
mudança de vida sucede o batismo, e não o contrário. Em termos de resultados
práticos, Calvino foi muito bem sucedido, pois milhares de anabatistas adotaram
o pedobatismo na suíça.
Apesar disso, no ano em que Calvino publicou as suas
Institutas Meno Simons, ex-sacerdote católico, era batizado por Obbe Phillips.
Tudo começou quando Meno assistiu a execução de um anabatista, "decapitado
por renovar o seu batismo". Até então, jamais tinha pensado em
"rebatismo". Consultou o seu bispo, depois alguns luteranos e até o
próprio Martinho Lutero, e todos reconheciam a ausência do batismo infantil nas
Escrituras, mas apresentavam razões diferentes para praticá-lo. Finalmente,
Meno deixou-se batizar, registrando em sua autobiografia: "Fui iluminado
pelo Senhor; fui convertido. Escapei da Babilônia e cheguei a Jerusalém.
Rendendo meu corpo e alma ao Senhor, entreguei-me em suas graciosas mãos".
Com seu trabalho subsequente, do qual resultaram as igrejas menonitas e muitos
dos ensinos batistas, Meno Simons provou na prática, contra os temores de
Lutero e Zwinglio e a dúvida de Calvino, que uma "igreja espiritual"
pode ser expressa na prática e que o princípio unificador do batismo e da ceia,
refletindo o estado íntimo do crente, é uma alternativa melhor que uma igreja
estatal ou sacramental.
Apesar dos reformadores magisteriais serem pedobatistas,
isto não pode ser visto como prova de que o batismo infantil é a forma correta.
Primeiro porque a ênfase deles era a soteriologia, não eclesiologia. Segundo
que o batismo era ligado ao Estado mais que a igreja. Renunciar o batismo era
renunciar a cidadania e tanto Lutero como Zwinglio não achavam oportuno romper
com isso, pois a Reforma era apoiada pelas autoridades civis. Terceiro, embora
os expoentes máximos da Reforma mantivessem a prática do batismo como era na
igreja romana, havia antes e durante o tempo deles, os que discordavam disso e
praticavam o batismo de crentes. Quem sabe se o que passou para a história como
sendo a Reforma Radical não tenha sido a reforma necessária?
Argumentos teológicos
Com exceção da igreja romana e a grega, além de uma parte
dos anglicanos, os defensores do batismo
infantil não afirmam que ele produz a regeneração ou assegura a
salvação. Portanto, a discussão do batismo infantil passa ao largo da salvação
em si, pois se entre os batizados na infância há os que jamais irão crer,
também há entre os que se batizam mediante profissão de fé os que são meros
professos. Portanto, a menos que se defenda a regeneração batismal, o batismo
infantil não é, de forma alguma, necessário à salvação. Aliás, foi uma visão
equivocada de batismo e salvação que deu origem à prática generalizada do
batismo infantil.
Em minha avaliação pessoal, o mais persuasivo dos argumentos
pedobatistas é o da aliança da graça, do qual o batismo seria o sinal visível.
Uma fragilidade inicial desse argumento, contudo, é que o mesmo é relativamente
novo, tendo sua origem em Lutero e Zwinglio e seu desenvolvimento em Calvino e
Knox, não sendo encontrado antes deles, mesmo retrocedendo até os pais
apostólicos. O ponto principal desse argumento é a continuidade das duas
alianças, na verdade, a existência de uma única aliança da graça, com mudança
apenas dos sinais exteriores. O pedobatismo se fundamenta no fato de que as
crianças eram incluídas nas bênçãos da antiga aliança. Sendo a nova aliança a
mesma e única aliança da graça, os filhos dos crentes também estão incluídos na
mesma e portanto não há razões para não serem batizados.
Registre-se, porém, que rejeitar o pedobatismo baseado na
doutrina da aliança não significa rejeitar a doutrina da aliança em si. Assim
como nem todo pedobatista é aliancista, muitos credobatistas o são, inclusive
este que vos escreve. Cremos em uma única aliança da graça, aceita pela fé
tanto no Antigo como no Novo Testamento, mas discordamos do batismo infantil,
por ser um passo além do que a teologia permite ou exige.
Aliança de Deus com Abraão tinha dois elementos distintos, a
posse da terra numa unidade nacional ("À tua descendência darei esta
terra" Gn 12:7) e uma descendência espiritual ("em ti serão benditas
todas as famílias da terra" Gn 12:3). Vemos estes aspectos desdobrados nas
fases da aliança abraâmica. Na primeira, Deus lhe diz "olha agora para os
céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua
descendência" (Gn 15:5), apontando para os crentes de todas as nações.
Neste aspecto, a aliança é unilateral e nada é exigido de Abraão, que apenas
"creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça" (Gn 15:16). Já
no aspecto nacional da aliança, é introduzida a exigência de obediência
"anda em minha presença e sê perfeito" (Gn 17:1) seguida da promessa
"te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas
peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão" (Gn 17:8).
Aqui a aliança não é unilateral, pois diz "esta é a minha aliança, que
guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem
entre vós será circuncidado" (Gn 17:10) e a reação do patriarca foi
"e circuncidou a carne do seu prepúcio, naquele mesmo dia, como Deus
falara com ele" (Gn 17:23).
Portanto, a circuncisão não está associada à descendência
espiritual de Abraão, mas à descendência física, a nação de Israel a quem foi
dada a terra prometida. A circuncisão é o sinal da entrada na teocracia, e não
na descendência espiritual. Para estes, não há sinal visível, senão a fé, pois
Paulo diz "portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que
a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas
também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós" (Rm
4:16). Anteriormente Paulo já havia dito "Como lhe foi, pois, imputada?
Estando na circuncisão ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas na
incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé, quando
estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles
também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada"
(Rm 4:10-11).
Vinculado à teologia da aliança está o argumento do batismo
como sucedâneo da circuncisão. Baseiam-se no fato de que em ambos os
Testamentos existem sinais que acompanham as respectivas alianças. Embora
distintos, os sinais correspondem um ao outro, circuncisão e batismo. A base
bíblica para o argumento do batismo como sucedâneo da circuncisão é Cl 2:11-13,
que diz: "No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita
por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo;
sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de
Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. E, quando vós estáveis mortos nos
pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele,
perdoando-vos todas as ofensas". E como dois tipos de pessoas eram
circuncidadas no Antigo Testamento, adultos convertidos à fé de Israel e
meninos filhos de judeus, assim também adultos convertidos ao cristianismo e
filhos de pais crentes devem ser batizados.
É inegável que a passagem menciona circuncisão e batismo.
Porém, não é feita nenhuma relação entre eles, seja de contraste ou de
similaridade. Tampouco o texto sugere que um é sucedâneo de outro. Paulo fala
da circuncisão e fala do batismo, mas não estabelece nenhuma relação entre um e
outro. A comparação não é feita entre a circuncisão e o batismo, e sim entre
circuncisão da carne e circuncisão de Cristo e depois entre batismo e
sepultamente e ressurreição de Jesus. Paulo
está falando de duas circuncisões. A primeira é física, a segunda é espiritual,
"não feita por mão". Uma era exterior, a outra interior. Uma
limita-se a um pedaço do prepúcio, a outra tira fora a natureza pecaminosa,
expressa na frase "corpo do pecado da carne". Uma é de Abraão ou
Moisés, a outra é de Cristo. Pela comparação feita, fica claro que o
correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e sim a
regeneração, o que aliás é previsto ainda no Antigo Testamento e confirmado no
Novo Testamento.
Porque "todas as nações são incircuncisas, e toda a
casa de Israel é incircuncisa de coração" (Jr 9:26), Moisés e os profetas
já proclamavam "circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração" (Dt 10:16) e "circuncindai-vos ao Senhor,
e tirai os prepúcios do vosso coração" (Jr 4.4). Como a conversão é
demandada do homem, porém só possível pela operação divina, assim também a
circuncisão espiritual foi prometida, nas palavras "o SENHOR teu Deus
circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao
SENHOR teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas"
(Dt 30:6). O Novo Testamento entende a incircuncisão de coração como a natureza
pecaminosa do homem, pois os "homens de dura cerviz, e incircuncisos de
coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo" (At 7:51), assim
a circuncisão espiritual é a regeneração "circuncisão é a do coração, no
espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus"
(Rm 2:29). O correspondente neotestamentário da circuncisão não é o batismo, e
sim o novo nascimento. "A circuncisão somos nós, que servimos a Deus em
espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne" (Fp
3:3).
É assim, por exemplo, que os judeus messiânicos entenderam a
questão. O Jewish New Testament Commentary parafraseiam a passagem dizendo
"vocês gentios foram circuncidados espiritualmente, uma vez que esta é uma
circuncisão feita não por mãos humanas... mas pelo Messias" e interpretam
"não significa que o batismo substituiu a circuncisão, que os judeus
messiânicos podem batizar os seus filhos ao invés de circuncidá-los. Pelo
contrário, é que, espiritualmente, os três requisitos para iniciação do gentio
prosélito - circuncisão, batismo e sacrifício - agora são cumpridos quando se
confia e se une ao Messias". Matthew Henry diz que "em Cristo nós
somos circuncidados com a circuncisão feita sem mãos, pela obra da regeneração
em nós, isto é, a circuncisão espiritual ou cristã... é a lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito Santo". John Gill diz que a
regeneração é a "circuncisão interna, o antítipo e a perfeição da
circuncisão na carne". O Dicionário da Bíblia de Almeida declara que a
circuncisão "significa a circuncisão espiritual, que resulta numa nova
natureza, a qual é livre do poder das paixões carnais e obediente a Deus (Jr
4:4; Rm 2:29; Cl 2:11; Fp 3:3)", no que concorda com várias outras obras
de referência consultadas. Até mesmo Calvino, em sua defesa do batismo infantil
nas Institutas reconhece que "espiritualmente, já fostes circuncidados no
tocante à alma e ao corpo. Tendes, pois, a manifestação da realidade que é
muito superior à sombra" e explicando "qual é o verdadeiro sentido
desta circuncisão carnal" diz que os os anabatistas afirmam que a
"circuncisão foi uma figura da mortificação, não do batismo; o que,
certamente, de muito bom grado admito". Em outra parte ele diz "a
circuncisão, que denotava a regeneração...".
Mas e a referência a batismo no verso 12? Não implica que
ele é o equivalente à circuncisão na dispensação da graça? Penso que não. Já vimos
que Paulo não relaciona circuncisão e batismo na passagem, mas compara as duas
coisas com outras. A "circuncisão de Cristo" não é uma referência à
sua circuncisão aos oito dias de vida, mas à sua morte na cruz. Foi na cruz que
Cristo fez o "despojo do corpo dos pecados da carne". Então Paulo
relaciona a circuncisão com a morte de Cristo. Dando prosseguimento ao seu
raciocínio, faz referência ao batismo, relacionando-o não à morte de Cristo, e
sim ao sepultamento e ressurreição. O batismo não é uma representação da morte
de Jesus, a Ceia o é mais apropriadamente. Então, para afirmar que os gentios
já estavam completos (plenificados) pela morte, sepultamento e ressurreição de
Jesus, Paulo refere-se tanto à circuncisão quanto ao batismo, sendo que a primeira
aponta para a morte e o segundo ao sepultamento e ressurreição. Ele não coloca
circuncisão e batismo relacionados entre si, nem como equivalentes ou
sucedâneos.
Como eu disse acima, os argumentos da aliança e
consequentemente do batismo como substituto da circuncisão são os mais sólidos
na defesa do batismo de infantes. Porém, eles padecem de pouco apoio
escriturísticos, uma teologia bíblica desautoriza o grosso de suas conclusões.
Pois nem a teologia da aliança torna necessária o batismo infantil, nem a
circuncisão é o antecedente bíblico do batismo, se o tema for desenvolvido a
partir de uma teologia bíblica.
Além de depender de uma teologia desenvolvida com a
finalidade de justificar o que a Bíblia não prescreve, nem a história prova ter
sido a prática apostólica ou da igreja pós-apostólica, a teologia pedobatista
acaba por trazer vários problemas, como veremos a seguir.
Problemas do pedobatismo
Um problema do pedobatismo é que pessoas podem fazer parte
da igreja sem fé consciente. Por serem incluídas na igreja quando criança,
quando crescerem podem permanecer incrédulas e continuarem pertencendo à
igreja. O pedobatismo consistente terá que aceitar que uma pessoa batizada na
infância deve ser considerada cristã até que dê evidência em contrário. Ao invés
de se buscar frutos dignos de arrependimento, busca-se evidências de apostasia.
Porém, o que se espera com a pregação do evangelho é a conversão e não o desvio
dos ouvintes.
Uma segunda consideração, ligada à primeira, é que o
pedobatismo baseado na aliança requer duas maneiras de proclamar o evangelho:
aos não batizados para crerem e se juntarem ao povo da aliança e aos batizados
para se arrependerem porque já fazem parte da aliança. A implicação é que se
teria dois evangelhos, uma para batizados e outros para não batizados. Como
fica a unidade do evangelho, uma vez que o conteúdo da pregação deve ser sempre
o mesmo?
Um terceiro ponto é que, ao contrário do ensinou Calvino, o
batismo infantil desvaloriza a graça de Deus, por reduzir o cristianismo a um
fenômeno puramente social. Na prática, ocorre uma secularização do batismo,
onde pais descrentes "aprontam o bebê" para o batismo por mero
costume ou convenção social. Sem contar que em alguns países a pessoa se torna
cidadã por ser batizado numa igreja estatal. Ou seja, o batismo infantil pode
ser praticado sem referência alguma à graça de Deus.
A resposta à objeção acima nos leva ao quarto item da nossa
lista de problemas provocados pela prática do batismo infantil. Afirma-se que o
batismo infantil só é administrado a filhos de pais crentes. Isto significa que
o batismo de uma criança não se baseia no amor de Deus, nem no fato de que
Jesus abençoou as crianças e nem mesmo na certeza de que a graça precede a fé,
mas no fato de que tem determinados pais. E na prática, decidir quais pais são
cristãos é mais difícil do que avaliar quem pede o batismo alegando fé
consciente.
O quinto problema de nossa lista tem a ver com a
pedocomunhão. A maoria das igrejas que batizam os filhos de crentes por
considerar que o batismo é sucedâneo da circuncisão não recebem esses mesmos
filhos à mesa da comunhão. Ora, mais certo que o batismo substitui a
circuncisão é de que a ceia do Senhor substitui a páscoa. E a família inteira
comia da páscoa, o único requisito era que todos os homens tivessem sido
circuncidados. Portanto, por que não administrar a ceia a quem já recebeu a
"circuncisão cristã"?
Novamente, a resposta oferecida, que a ceia do Senhor requer
capacidade de discernimento, o que é definido a partir da cerimônia chamada de
confirmação, traz seus problemas a reboque. A prática tem fundamento bíblico
igual a zero e entrou no protestantismo da mesma forma que o batismo infantil:
via catolicismo romano. A origem da confirmação ou crisma vem do fato que o
batismo era essencial para a salvação e deveria ser realizado por um bispo, o
que nem sempre era possível. Então o batismo era administrado por outra pessoa
e quando o bispo visitasse a paróquia confirmava o mesmo, ocasião em que a
pessoa "recebia" o Espírito Santo. Os reformadores não compreenderam
ou não ligaram para essa origem torta da prática, mas a adotaram como um rito
de iniciação à mesa do Senhor.
Conclusão
Em conclusão artigo, reafirmo que por não estar fundamentado
em proposições bíblicas, por ter se estabelecido não antes do terceiro século
como prática da igreja e ainda assim amalgamadao com erros soteriológicos, por
ter sido questionado, embora mantido pelos reformadores magisteriais, por
depender de argumentos teológicos baseados em premissas que não levam necessariamente
à conclusão que o confirmem e por apresentar mais dificuldades que soluções é
que eu não adoto o batismo infantil.
Contudo, isto não significa que eu não aceito como irmão em
Cristo ou que defenda o rabatismo aqueles que foram batizados em uma igreja
evangélica quando crianças, muito pelo contrário. O batismo de adulto para mim
é uma prática bíblica, mas não um dogma de fé que deva separar irmão em Cristo.
Soli Deo Gloria