Jonathan Edwards – Uma Mente apaixonada por Deus.



Jonathan Edwards pode nos ajudar. E a primeira coisa que ele nos diria seria: Cuidem para que, até mesmo na descrição do problema, seu diagnóstico não seja vitimado pelos termos do pragmatismo que constitui o problema. Em outras palavras, não lamentem a condição do evangelicalismo por este se encontrar oco e frágil - como se o verdadeiro objetivo fosse a proeminência permanente, e não temporária. Antes, lamentem a situação do evangelicalismo, pois ela contradiz a verdade de Deus e desdoura a sua excelência.
A que ele estaria se referindo? A algo que está implícito no título deste capítulo - "Jonathan Edwards, uma mente apaixonada por Deus". Temos, aqui, dois termos voltados para Deus: mente o paixão. Essas duas palavras correspondem a uma das lições mais profundas que Jonathan Edwards ensinou. A mente (ou entendimento) e a paixão (ou sentimento) correspondem a dois atos importantes de Deus e a duas maneiras de os seres humanos, feitos à sua imagem, refletirem a glória de Deus. Edwards se expressa da seguinte maneira nos seus cadernos - chamados de Miscelâneas -, muitos dos quais formaram a base para O fim para o qual Deus criou o mundo

Deus é glorificado em si mesmo destas duas maneiras: 
1. Ao revelar-se ... em seu entendimento perfeito [de si mesmo], ou no seu Filho, que é o resplendor da sua glória. 
2. Ao desfrutar a si mesmo e deleitar-se em si mesmo, fluindo em amor infinito e deleite para consigo mesmo, ou no seu Espírito Santo ... Assim, Deus glorifica a si mesmo em relação às suas criaturas também de duas maneiras: 
1. Ao revelar-se ... ao entendimento delas. 
2. Ao comunicar-se ao coração delas, no regozijo e no prazer delas nas manifestações divinas que lhes são concedidas pelo próprio Deus ... Deus é glorificado não apenas no fato de sua glória ser vista, mas no fato de essa glória ser objeto de deleite. Quando aqueles que a vêem se deleitam nela, Deus é mais glorificado do que quando eles apenas a vêem. Sua glória é, então, recebida por toda alma, tanto pelo intelecto quanto pelo coração. Deus fez o mundo a fim de poder transmitir a sua glória, e fez as criaturas a fim de poderem receber essa glória, não apenas na mente, mas também no coração. Aquele que demonstra ter uma idéia da glória de Deus [não] glorifica a Deus tanto quanto aquele que demonstra de que aprova e se deleita nessa glória.
Glorificar a Deus ao desfrutá-lo para sempre
Trata-se da mesma visão de Deus que apresentamos no Capítulo Um. E, como eu disse naquela ocasião, é praticamente impossível exagerar o que a sua teologia e a sua pregação significam para a minha vida. Quase tudo o que escrevi é uma tentativa de explicar e ilustrar essa verdade. No Capítulo Um, parafraseei Edwards com as palavras: "Deus é plenamente glorificado em nós quando nos satisfazemos inteiramente nele". Aqui, a minha paráfrase é: "O fim maior do ser humano é glorificar a Deus ao desfrutá-lo para sempre". Essa é a essência daquilo que chamo de "hedonismo cristão".3 Em última análise, não há conflito entre a paixão de Deus por ser glorificado e a paixão do homem por ser saciado. Eis outro modo de Edwards expor essa idéia:
Assim, pelo fato de prezar infinitamente a própria glória, que consiste do conhecimento de si mesmo, do amor por si mesmo e da complacência4 [isto é, satisfação, deleite] e alegria em si mesmo, ele prezou a imagem, a transmissão ou a participação dessas coisas na criatura. E é pelo fato de prezar-se que ele se deleita no conhecimento, no amor e na alegria das criaturas, uma vez que ele próprio é o objeto desse conhecimento, amor e complacência [isto é, satisfação, deleite] ... [Assim] A deferência de Deus pelo bem da criatura [isto é, a nossa paixão por sermos saciados] e sua deferência por si mesmo [isto ê, a sua paixão por ser glorificado] não é dividida, mas sim unida, uma vez que o seu objetivo - a felicidade da criatura - é a felicidade da união da criatura com ele.

Nossa paixão pela alegria nunca é excessiva

Segue-se de tudo isso que é impossível alguém buscar a alegria ou satisfação com paixão, intensidade ou zelo excessivos. Nas palavras de Edwards: "Suponho que não seja possível dizer de qualquer pessoa que o seu amor por sua alegria ... pode ser de um grau demasiadamente elevado".6 Talvez essa paixão esteja voltada para as coisas erradas, mas nunca é intensa demais. É o mesmo que C. S. Lewis disse na passagem profética que começou a virar o meu mundo de cabeça para baixo em 1968:
Se considerarmos as promessas ousadas de recompensas e a natureza surpreendente das recompensas prometidas nos evangelhos, pode nos parecer que o Senhor não considera os nossos desejos demasiadamente intensos, mas sim demasiadamente fracos. Somos criaturas sem ardor, que brincamos com a bebida, o sexo e a ambição enquanto a alegria infinita nos é oferecida; somos como uma criança ignorante que quer continuar brincando na lama numa favela, pois não sabe a que se refere a oferta de passar as férias à beira-mar. Somos fáceis demais de agradar.7
O pecado é o abandono suicida da alegria

Em outras palavras, a busca pela satisfação da nossa alma - da nossa alegria, do nosso deleite e da nossa felicidade - não é pecado. O pecado consiste justamente no contrário: buscar a alegria onde não se pode encontrar qualquer alegria duradoura. "Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas" (Jr 2.13). Pecar é tentar saciar a sede insaciável de nossa alma com qualquer coisa além de Deus. Ou, mais sutilmente, pecar é buscar a satisfação na direção certa, mas com uma disposição morna e titubeante (Ap 3.16). 

John Piper