GRUPOS RELIGIOSOS DO TEMPO DE JESUS
1. Fariseus — O grupo maior e mais importante é o chamado os
fariseus. A palavra em si significa "separatistas", tendo sido,
provavelmente, aplicada como expressão de escárnio aos oponentes. Eles fizeram
seu primeiro aparecimento definido como um grupo com este nome durante a época
de João Hircano I. Alguns estudiosos dizem que o termo foi pela primeira vez
usado quando alguns judeus piedosos "se separaram" de Judas Macabeu,
depois de 165 a.C. É mais provável que eles foram os sucessores dos
"hasidins", que se haviam empenhado em "separar-se" do
pecado, e na "separação" (interpretação) das Escrituras, durante as
reformas de Esdras e Neemias.
Seja qual for sua origem, os fariseus foram o resultado
final do movimento que teve seus primórdios com Esdras, intensificado pelos
hasidins, sob os sírios e romanos. Eles representam aquela tendência, no
judaísmo, que sempre reagiu contra dominadores estrangeiros, mantendo o
exclusivismo judaico e a lealdade à tradição dos pais. Pouco se interessavam no
poder político, mas se tornaram os mentores políticos de Israel. Eles tinham
maior controle sobre o povo do que os saduceus, que eram mais abastados e
politicamente poderosos. Controlavam a sinagoga, e só eles sobreviveram à
Guerra Judaico-Romana de 66-70.
Devido à sua profunda reverência para com os ideais
nacionais e religiosos judaicos, e devoção aos mesmos, os fariseus se opuseram
à introdução das idéias gregas, e não deixou de ser natural que se tornassem o
partido reacionário. Para eles, as coisas velhas eram as únicas coisas boas.
Num desejo sincero de tornar a lei praticável dentro do mundo greco-romano em
mudança, os fariseus aderiram ao sistema da tradição dos pais. Começando com as
Escrituras, eram feitas interpretações para se ajustar uma situação existente
ou combater um erro em teologia. Nas tentativas de responder a problemas
levantados por religiões intrusas, muitas idéias dormentes no Velho Testamento
foram desenvolvidas e aumentadas. Entre essas doutrinas desenvolvidas durante
esses 400 anos estão a ressurreição dos mortos, os demônios, os anjos e a
esperança messiânica.
Para o fariseu, a tradição oral suplantou a lei. Este era o
principal ponto em que divergiam dos saduceus, que não viam nenhuma necessidade
de alterar-se a lei. Os fariseus diziam que as finas distinções das tradições
orais eram para facilitar o cumprimento da lei sob novas condições e tornar virtualmente
impossível pecar-se. Eles também colocavam uma forte ênfase sobre a providência
divina nos assuntos do homem.
2. Saduceus — Embora a origem da seita esteja perdida na
obscuridade, o nome pode ter-se derivado de um certo Zadoque, que sucedeu Abiatar
como sumo sacerdote durante os dias de Salomão. Pode ter vindo da palavra
hebraica "zoddikim", que significa "os justos". Os saduceus
gabavam-se de sua fidelidade à letra da lei mosaica, em contradistinção à
tradição oral. Este era o partido da aristocracia e dos sacerdotes abastados.
Eles controlavam o sinédrio e qualquer resquício de poder político que restava.
Eram os colaboracionistas, a tendência que favorecia o poder estrangeiro e que
se alinhava com ele pelo poder. Também controlavam o templo. O sumo sacerdote
era sempre o líder deste grupo. Era um grupo fechado e não procurava
prosélitos, como o faziam os fariseus.
Teologicamente conservadores (diziam),limitavam o cânon à
Torah ou Pentateuco. Rejeitavam as doutrinas da ressurreição, demônios, anjos,
espíritos, e advogavam a vontade livre, em lugar da providência divina. Este
grupo não sobreviveu à Guerra Judaico-Romana de 66-70.
3. Zelotes — Os zelotes representavam o desenvolvimento na
extrema esquerda entre os fariseus. Estavam interessados na independência da
nação e sua autonomia, ao ponto de negligenciarem toda outra preocupação.
Segundo Josefo, o fundador foi Judas de Gamala, que iniciou a revolta sobre o
censo da taxação, em 6 d.C. Seu alvo era sacudir o jugo romano e anunciar o
reino messiânico. Eles precipitaram a revolta em 66 d.C, que levou à destruição
de Jerusalém em 70. Simão, o zelote, foi um dos apóstolos.
4. Essênios — Estes representavam o desenvolvimento na
extrema direita entre os fariseus. Eram uma ordem distinta, na sociedade
judaica, mais que uma seita dentro dela. Sendo o elemento mais conservador dos
fariseus, eles enfatizavam a observação minuciosa da lei. Formavam uma
comunidade ascética ao redor do Mar Morto, e viviam uma vida rigidamente
devota. Eram a sobrevivência dos hasidins mais estritos, influenciados pela
filosofia grega. A partir dos documentos de Qumram, parece que eles aguardavam
um messias que iria combinar as linhagens real e sacerdotal, numa estrutura
escatológica. Este grupo não é mencionado em o Novo Testamento.
5. Herodianos — Os saduceus da extrema esquerda eram
conhecidos como os herodianos. Tirando o nome da família de Herodes, eles
baseavam suas esperanças nacionais nessa família e olhavam para ela com
respeito ao cumprimento das profecias acerca do Messias. Eles surgiram em 6
d.C, quando Arquelau, filho de Herodes, o Grande, foi deposto, e Augusto César
enviou um procurador, Copônico. Os judeus que favoreciam a dinastia herodiana
eram chamados "herodianos". Este grupo é mencionado em Mateus 22:16 e
Marcos 3:6; 12:13.
6. Zadoqueus — Na extrema direita dos saduceus estava o
grupo conhecido como os zadoqueus. Embora não mencionados em o Novo Testamento,
este grupo é importante, porque mostra outra tendência entre os saduceus,
talvez dando uma chave quanto à sua origem. Em 1896, um fragmento de um
documento foi encontrado numa sinagoga no Cairo. Publicado em 1910, com o
título Fragmentos de uma Obra Zadoquita, este termo entrou em todas as
discussões acerca do judaísmo sectário. A descoberta de outros documentos na
comunidade de Qumram, do Mar Morto, sugere alguma relação entre os zadoqueus,
os essênios e a comunidade de Qumram. Um movimento de reforma foi iniciado
entre os sacerdotes (filhos de Zadoque), entre os saduceus, durante o início do
segundo século a.C. Quando a reforma fracassou, eles foram para Damasco e
estabeleceram uma comunidade sob um novo conjunto de regulamentos, denominado
"o novo concerto". Alguns posteriormente voltaram como missionários
para sua terra natal e depararam com amarga oposição por parte dos fariseus e
saduceus. Alguns, então, encontraram seu caminho em direção às comunidades ao
redor do Mar Morto. Eram missionários fervorosos, em busca de um mestre de
justiça que chamasse Israel de volta ao arrependimento e apareceria no advento
do Messias. Eles aceitavam toda palavra escrita, mas rejeitavam a tradição
oral. Eram muito abnegados na vida pessoal e leais aos regulamentos da pureza
levítica. Deram grande ênfase à necessidade de arrependimento.
Fonte: HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo
Testamento. JUERP, 1983.