Geografia biblica parte 1

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Introdução
 
Sumário: I - O que é a Geografia? II - A Geografia através da História. III - A estruturação científica da Geografia. IV - A Geografia Bíblica e a sua importância.
 
A História situa o drama humano no tempo. Pelas asas da cronologia, leva-nos a acompanhar os passos de nossos ancestrais até os nossos dias. Possuímos, porém, uma exigente concepção espacial. Curiosos, de quando em quando, indagamos: "Onde, exatamente, deu-se tal fato?" A Historiografia, por ser documental e limitar-se às crônicas, não pode responder-nos tais questões com precisão.
Recorremos, então, à Geografia.
 
Situando-nos nos palcos da tragédia humana, dá-nos uma idéia mais ampla e mais clara do nosso passado. Através dessa ciência, trilhamos os caminhos de nossos pais e demarcamos os raios de ação de nossos filhos.
 
Mas, qual a afinidade entre a História e a Geografia?
 
Afrânio Peixoto responde: "A Geografia será assim a ciência do presente, explicada pelo passado; a História, a ciência do passado, que explica o presente. "
 
Conscientes dos reclamos temporais e espaciais do estudioso das Sagradas Escrituras, escrevemos esta obra. Unindo a História à Geografia, possibilitamos ao leitor localizar os fatos no tempo e no espaço, desde os primeiros representantes da raça humana até os apóstolos de Cristo.
 
Faremos uma fascinante viagem da Mesopotâmia à Europa. Percorreremos os caminhos antigos, para compreendermos por que a nossa fé é tão atual. A Bíblia fornecer-nos-á o roteiro. Ás informações geográficas contidas nas Sagradas Escrituras são exatas e reconstituem, com fidelidade e riqueza de detalhes, a topografia e as divisões políticas da antigüidade. O Estado de Israel, a propósito, com base em informações bíblicas, redescobriu várias minas exploradas pelo rei Salomão que, hoje, continuam a produzir divisas à essa jovem nação.
 
Entretanto, vejamos como se desenvolveu essa ciência chamada Geografia.
 
Comecemos por defini-la.
 
I - O QUE É A GEOGRAFIA?
 
Segundo a etimologia da palavra, "geo" terra; "graphein" descrever, a Geografia limitou-se, de fato, durante séculos, a descrever a Terra. Entretanto, a partir do Século XIX, assumiu um caráter científico. Não mais limitou-se à descrição; passou, também, a explicar os fatos.
 
No entanto, as definições variam de autor para autor.
 
Para o alemão Alfred Hettner, Geografia é o ramo de estudos da diferenciação regional da superfície da Terra e das causas dessa diferenciação.
 
Richard Hartshorne declara ser o objetivo da Geografia "proporcionar a descrição e a interpretação, de maneira precisa, ordenada e racional, do caráter variável da superfície da Terra".
 
Ambas as definições, porém, "carecem de consenso sobre o que se entende por superfície da Terra". A Enciclopédia Mirador Internacional pondera: "Tomar como tal apenas a face exterior da camada sólida e líquida, iluminada pela luz do Sol, eqüivale a suprimir do campo de interesse geográfico as minas e a atmosfera. Nesta ocorrem os fenômenos meteorológicos e se configuram os tipos climáticos de profunda influência na vida de todos os seres e, particularmente, na atividade humana.

II    - A GEOGRAFIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA
 
1.1  Na Antigüidade
Os conhecimentos geográficos dos egípcios limitavam-se ao Nordeste da África, à
 
Ásia Ocidental e à Assíria. Os fenícios e gregos foram mais longe. Estimulados por intensas transações comerciais, vasculharam o mar Mediterrâneo. Afoitos e aventureiros por natureza, fundaram Cartago, em 800 a.C, transpuseram o estreito de Gibraltar e chegaram às ilhas britânicas. Eles, afirmam alguns estudiosos, aportaram, inclusive, nas costas brasileiras, onde deixaram inscrições em vários monolitos.
 
Mais comedidos, os gregos limitaram-se à região do Mediterrâneo. Fundaram diversas cidades, entre as quais Massília (atual Marselha). Alexandre Magno foi quem alargou os conhecimentos geográficos dos helenos, em virtude de suas rápidas, fulminantes e dilatadas conquistas. Saindo da Macedônia, na Europa Oriental, ele alcançou a índia, no Extremo Oriente.
 
Renomados pensadores gregos dedicaram-se ao estudo da Geografia: Píteas, Heródoto, Hipócrates, Anaximandro, Tales, Eratóstenes e Aristóteles. Concebiam os ocea-nos unidos em uma só massa líquida e os continentes em uma só massa de terra. O primeiro conceito seria corroborado por navegadores europeus dos séculos XV e XVI.
 
1.2 - Em Roma
 
Pragmáticos, os romanos não se limitaram ao mundo conhecido pelos gregos. Foram além. Em virtude de suas vastíssimas conquistas, alargaram, sobremaneira, os co-nhecimentos geográficos de então. Seus generais, durante as guerras expansionistas, elaboraram minuciosos relatórios acerca das novas possessões romanas. Júlio César, por exemplo, escreveu "Comentários sobre a guerra contra os gauleses", obra riquíssima em informações geográficas.
 
Políbio e Estrabão deixaram importantes tratados geográficos. Os trabalhos de Estrabão, aliás, são tão abalizados que foi chamado o pai da Geografia. Sem os seus apontamentos, os geógrafos posteriores encontrariam enormes dificuldades para elaborar descrições mais acuradas da Terra.
1.3 - Na Idade Média
 
A Geografia não progrediu na Europa durante a Idade Média. Detentor do monopólio cultural, o clero só transmitia ao povo as informações que, segundo seu critério, estivessem de conformidade com os textos sagrados e com as tradições católicas. Apesar das Cruzadas à Terra Santa, não houve progresso sensível nas informações geográficas.
 
Muitos conceitos bíblicos foram deturpados nessa é-poca pela "Santa" Sé. Os padres ensinavam ser a Terra plana, em uma despropositada alusão à mesa do Taberná-culo. Afirmavam, também, ser o Sol o centro do Universo, ao interpretar, erroneamente, uma passagem do livro de Josué.
 
Censurados, os escritos de Marco Polo em nada contribuíram para o desenvolvimento da Geografia. Os povos pagãos, entretanto, livres dos tentáculos de Roma, apresentaram notáveis progressos nessa ciência, notadamente os víquingues.
 
Com o islamismo, os conhecimentos geográficos foram dilatados. Os árabes chegaram à China, embrenharam-se na Rússia e dominaram a África. Ibn Haw'qal deixou importante obra, contendo preciosas descrições das terras conquistadas pelos maometanos. A Geografia, para o Islã, é uma ciência agradável a Deus, por facilitar a peregrinação dos fiéis a Meca.
 
1.4 - Tempos Modernos
Com as descobertas de novos continentes, Portugal e Espanha deram inestimável

contribuição à Geografia. 0 capitalismo mercantilista do Século XV, XVI e XVII, levou ambos esses povos ibéricos às mais remotas regiões do Globo. O descobrimento do Novo Mundo marcou, de forma definitiva, o fim de uma era de obscurantismo. Finalmente, o homem redescobria uma verdade elementar dita no Século VIII a.C. pelo profeta Isaías: a Terra é esférica. Galileu. enfim, tinha razão.
 
A partir dos feitos de Colombo. Vasco da (lama e Cabral, começaram a ser produzidas, com mais regularidade, obras geográficas especializadas. 0 jovem alemão Varenius. notável pela sua genialidade, escreveu dois tratados: Geografia generalis e Geografia specialis. O segundo trabalho, aliás, não pôde ser completado, por causa da morte prematura do autor.
 
Kant empreendeu vários estudos geográficos, objetivando conhecer empiricamente o mundo.
 
III - A ESTRUTURAÇÃO CIENTÍFICA DA GEOGRAFIA
 
Deve-se a dois sábios alemães, a estruturação da Geografia como ciência. Ambos viveram na mesma época é. durante algumas décadas, em Berlim. Alexander von Humboldt (1769-1859) e Carl Kitter (1779-1859). Influenciados por Varenius e Kant, traçaram novos métodos e rumos para a Geografia.
 
Eles não objetivavam contrariar os postulados de seus antecessores. Apôs seus estudos, porém, tornou-se possível, por exemplo, fazer a correlação dos fenômenos carac-terísticos de uma região. A Geografia deixou de ser um mero acervo de dissertações e descrições á disposição de militares e administradores, para tornar-se uma ciência madura e dinâmica. Hoje. aliás, lançamos mão de seus métodos, inclusive, para confirmarmos a veracidade e a exatidão das informações bíblicas.
 
IV - A GEOGRAFIA BÍBLICA E A SUA IMPORTÂNCIA
 
Farte da Geografia Geral, a Geografia Bíblica tem por objetivo o conhecimento das diferentes áreas da Terra relacionadas com as Sagradas Escrituras. Descrevendo e de-limitando os relatos sagrados, dá-lhes mais consistência e autenticidade e auxilia-nos na interpretação e compreensão dos fatos bíblicos.
 
A Geografia Bíblica, definida por Mackee Adams como o "painel bíblico em que o Reino de Deus teve o seu início e onde experimentou seus triunfos". é indispensável a todos os estudiosos da Bíblia.

Primeira Parte
 
A cosmogonia hebraica
 
Sumário: Introdução. I - A matéria original. II - A esfericidade da Terra. III - Heliocentrismo ou geocentrismo? IV - O Supremo Comandante do Universo.
 
INTRODUÇÃO
 
Apesar de não ser um livro científico, a Bíblia não emite nenhum conceito errôneo acerca da formação do Universo. Sua doutrina cosmogônica tem sido corroborada por cientistas das mais diferentes especialidades.
 
Podemos confiar sem reservas nas Sagradas Escrituras.
 
Por causa das absurdas interpretações do catolicismo romano, a Bíblia sofreu impiedosas investidas de muitos "sábios segundo o mundo". Tacharam-na de retrógrada e alienígena. Iluministas e renascentistas, dando excessiva ênfase à razão, consideraram-na um livro anacrônico.
 
O Livro dos livros, entretanto, continua atual, mostrando, em todas as épocas, sua contemporaneidade, seus conceitos, imbatíveis, sua cosmogonia lógica e plausível.
 
I - A MATÉRIA ORIGINAL
 
Existiu, realmente, o que os gregos denominaram de matéria original? Caso tenha existido, como podemos identificá-la? Como a Bíblia se posiciona a respeito?
 
Vejamos, em primeiro lugar, como os helenos encaravam a questão da matéria original.
 
Anaximandro, pertencente à Escola Jônica, defende que o mundo teve origem a partir de uma substância indefinida: o "apeiron" em grego, sem fim.
 
Para Tales de Mileto, era a água o elemento do qual todos os demais são originários. Ele foi levado a posicionar-se, dessa forma, explica Aristóteles, depois de observar a presença da água em todas as coisas.
 
Anaxímenes de Mileto afirma ser o ar o princípio de tudo. Até o fogo, argumenta, depende do ar. O que dizer da água em estado gasoso? Tivéssemos, entretanto, oportunidade de questioná-lo, perguntar-lhe-íamos: "Qual a origem do ar?" Será que ele poderia responder-nos? Não basta asseverar ser este ou aquele elemento a matriz da ordem cósmica. Interessa-nos saber, acima de tudo, como surgiu o Universo.
 
Acreditava Heráclito estarem todas as coisas em constante devenir. Tudo corre, tudo flui, ensinava. Se o Cosmo transmuta-se sem parar, para onde caminhamos? Se a ordem física altera-se indefinidamente, em um futuro próximo seremos precipitados em um imensurável abismo. A teoria heraclitiana em vão tenta explicar-nos o surgimento do mundo.
 
Cria Empédocles serem quatro os elementos originais: ar, água, terra e fogo. Mais tarde, essa tese seria esposada por Aristóteles e, por mais de vinte séculos, foi tida como dogmática. Platão não a aceitava: Diz ele: "Os quatro elementos parecem contar um mito, cada um o seu, como faríamos às crianças".
 
Anaxágoras declara o seu credo. O Universo é formado por diminutas partículas. Para o pensador de Clazomena. elas podem estar em estado inanimado ou não. Aristóteles denominou-as de hemeomerias. A semelhança dos outros sábios gregos, deixou-nos na ignorância. 20
Leucipo, principal representante da Escola Atomística, aperfeiçoada por Demócrito,

apregoa serem todas as coisas, inclusive a alma, compostas por corpúsculos, invisíveis a olho nu. Esses corpúsculos são conhecidos como átomos.
 
Alguns pensadores gregos, todavia, aproximaram-se timidamente do criacionismo bíblico.
 
Pitágoras de Samos, em seu cego devotamento pela matemática, aponta Deus como a Cirande Unidade e o Número Perfeito. Dele, aduz, nasceram os mundos e o homem.
 
Fundador da Escola Eleática, Xenófanes mostra-se monoteísta. Não hesita em desprezar a mitologia helena, por crer que o Universo é obra de Deus, do único Deus.
O que diz a Bíblia acerca da matéria original?
 
O autor da Epístola aos Hebreus escreve: "Pela fé entendemos que foi o Universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem" (Hb 11.23).
 
Pela fé, apenas pela fé. Ousaria alguém fazer semelhante afirmação? É-nos impossível, por causa de nossas limitações, entender como Deus criou o Cosmo do nada. Os escritores sagrados descartam, radicalmente, a existência de uma matéria original. Para eles, todas as coisas foram criadas, simplesmente, pela palavra de Deus.
 
Não há explicação mais plausível e convincente!
 
No Areópago, Paulo mostra-se convicto ante os filósofos epicureus e estóicos: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe..." (At 17.24). Homem de fé, assevera aos exigentes helenos que, do nada, do não-ser, o Todo-poderoso fez os céus e a Terra.
 
Os gregos, durante séculos, receberam de seus sábios as mais desencontradas e absurdas idéias acerca do aparecimento do Universo. O apóstolo, contudo, rejeita-as e ex-põe-lhes as mais cristalinas verdades concernentes à gênese do Universo.
 
É   muito importante ao homem saber sua origem e a de seu habitai. Mostremos, pois, aos que jazem em trevas ser Deus o Criador do Universo. Mostremos, acima de tudo, ser Deus rico em misericórdia e que, não obstante seu imenso poder, está pronto a receber-nos por intermédio de -Jesus!
 
II - A ESFERICIDADE DA TERRA
 
Alguns sábios egípcios acreditavam estar a Terra suspensa sobre cinco colunas. Outros admitiam haver sido o nosso mundo chocado de um descomunal ovo cósmico. Os mais desvairados diziam estar a linda esfera azul librando-se no infinito com um magnífico par de asas.
 
Moisés, embora fosse educado em toda a ciência do Egito, jamais transportou para seus escritos quaisquer resquícios da mitologia e da cosmogonia egípcias. Inspirado pelo Espírito Santo, revela-nos a verdadeira gênese dos céus e da Terra.
 
Os gregos, não obstante seu espírito inquiridor e apego ao saber, só descobririam as verdades reveladas aos santos do Antigo Testamento concernentes à esfericidade e ao movimento da Terra, séculos mais tarde.
 
Cognominado de o "pai da ciência", Tales de Mileto, que viveu um século após Isaías, desconhecia a forma da Terra. Ele a imaginava com o formato de um pires.
 
Anaxágoras, contemporâneo de Tales, ensinava ter o nosso habitat forma cilíndrica e que se mantinha centrado no espaço, em virtude da pressão atmosférica.
 
Insuperável em seus conhecimentos, Pitágoras, depois da Bíblia, foi o primeiro a declarar ser a Terra uma esfera em constante movimento. Seus postulados só seriam ultra-passados por Copérnico, que nasceria quase dois milênios após sua morte.
 
Aproximando-se da moderna astronomia, Aristarco conclui, no Século III a.C, ser a Terra muito menor do que o Sol. Descobriu, também, estar o nosso planeta movendo-se em

redor do astro-rei.
 
A forma da Terra é, realmente, esférica?
 
Responde-nos a Bíblia, por intermédio do profeta Isaías: "Ele |Deus| é o que está assentado sobre o globo da Terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos: ele é o que estende os céus como tenda para neles habitar..." (Is 40.22.) Essa verdade foi dita no Século VIII a.C e continua atual. Não pode ser contestada!
 
III - HELIOCENTRISMO OU GEOCENTRISMO?
 
Ensinadas, principalmente por Ptolomeu, as teorias geocêntricas eram a base do ensino astronômico medieval. Todos (com raras exceções) criam ser a Terra o centro do Universo. Em torno dela, giravam os demais planetas e o próprio Sol. A Igreja Romana tinha o geocentrismo como dogma. Ai de quem ousasse pensar de outra maneira! Sofreria todos os rigores do "Santo" Ofício e da insana e bestial "Santa" Inquisição.
 
Nicolau Copérnico (1473-1583), entretanto, instigado pelos ares renascentistas da cultura greco-romana, volta-se às idéias de Pitágoras, Heráclites do Ponto e Aristarco de Samos. Inconformado com as complicações do geocentrismo, admite a hipótese heliocêntrica, segundo a qual é o Sol, e não a Terra, o centro do Universo.
 
Formado em Medicina, Matemática, Leis e Astronomia, afirma Copérnico, esse padre ilustre, em seu famoso tratado De Revolutiones Orbium: "Não me envergonho de sustentar que tudo que está debaixo da Lua, inclusive a própria Terra, descreve, com outros planetas, uma grande órbita em redor do Sol, que é o centro do mundo ... E sustento que é mais fácil admitir o que acabo de afirmar, do que deixar o espírito perturbado por uma quantidade quase infinita de círculos, coisa a que são forçados aqueles que retém a Terra fixa no centro do mundo."
 
A teoria do renomado polonês, confirmada pela ciência, foi uma das principais causas da crise científico-religiosa iniciada no Século XVI. A Igreja Romana opôs-se ferozmente ao posicionamento coperniano. A obra do in-signe cônego foi condenada pela Santa Sé e incluída no Index. Até mesmo o progressista Lutero, referindo-se ao grande astrônomo, teria afirmado: "O imbecil queria conturbar toda a ciência astronômica".
 
Caberia a Galileu (1564-1633), todavia, o desferimen-to de um contundente golpe nesssa crença da teologia tradicional. Em sua obra intitulada Dialoghi sopra idue Massa-ni Sistemi dei Mondo Tolomaico e Coperniano, que se tornou célebre rapidamente, execra, com energia, os ultrapassados conceitos astronômicos existentes até Copérnico.
 
Acusado de heresia pela fanática e reticente Igreja Romana, o grande físico, já com 70 anos, foi obrigado a comparecer ante o Tribunal da Inquisição, em Roma. Para salvar sua vida, teve de ajoelhar-se ante seus inimigos, admitir seus "erros" e renegar suas descobertas.
 
Galileu, no entanto, não cria em um conflito entre a ciência e a Bíblia. Diz ele: "A Santa Escritura não pode jamais mentir, desde que, todavia, penetre-se seu verdadeiro sentido, o qual - não creio possível negá-lo - está muitas vezes escondido e muito diferente do que parece indicar a simples significação das palavras".
 
Em conseqüência das absurdas posições da "Santa" Sé quanto à evolução científica, conforme já dissemos, iluministas e renascentistas voltam-se contra a Bíblia, considerando-a incompatível com a razão e o bom-senso. A Palavra de Deus, contudo, é inerrante, absolutamente inerrante. Nunca cometeu um disparate sequer.
 
A Bíblia, a propósito, jamais afirmou ser a Terra o centro do Universo. Os incréus, não obstante, apresentam o relato de -Josué como prova da falibilidade bíblica. Esquecem-se, porém, de que o autor sagrado, ao registrar o fato, fê-lo em linguagem comum, por desconhecer a nomenclatura cientifica. Era ele, afinal de contas, militar e não cientista.

Levemos em conta, também, as circunstâncias. O grande general hebreu encontrava-se em renhida batalha. Acossado pelos inimigos e tendo de agir depressa, não poderia perder tempo a escolher palavras, apenas para satisfazer os tolos que. sob quaisquer pretextos, tentam desprestigiar a Bíblia.
 
Consideremos que, ainda hoje, após três milênios da memorável batalha de -Josué, mesmo os cientistas não conseguem desvencilharem-se da linguagem comum e, natu-ralmente, dizem: "O Sol está nascendo" ou "O Sol está se pondo". Apesar de não ser exato, esse corriqueiro modo de falar não é errado por causa da aparência.
 
O grande astrônomo Kepler, ao fazer a apologia das palavras usadas para descrever o prodígio do sucessor de Moisés, afirmou: "Nós dizemos com o povo: os planetas param, voltam ... o Sol nasce e põe-se, sobe para o meio do céu, etc. Falamos com o povo e exprimimos o que parece passar-se diante dos nossos olhos, posto que nada de tudo. isso seja verdadeiro. Entretanto, todos os astrônomos estão nisso de acordo. Devemos tanto menos exigir da Escritura sobre este ponto, quanto é certo que ela, se abandonasse a linguagem ordinária para tomar a da ciência e falar em termos obscuros, que não seriam compreendidos por aqueles a quem ela quer instruir, confundiria os fiéis simples e não conseguiria o fim sublime a que se propõe".
 
Abraão de Almeida, em seu livro Deus, a Bíblia e o Universo, reafirma a inerrância das Sagradas Escrituras: "...a oração de Josué, segundo o sentido original, pode traduzir-se por 'Sol, cala-te', ou 'aquieta-te'. E os cientistas informam-nos que a luz é vocal, ou seja, o Sol, ao enviar suas irradiações sobre este mundo, provoca um som musical pelas rápidas vibrações das ondas do éter. Esta música, contudo, não pode ser ouvida pelos nossos ouvidos. Admite-se, também, que a ação do Sol sobre a Terra é a causa de sua evolução em torno do seu próprio eixo. Assim, as palavras de Josué demonstrariam uma tremenda exatidão científica, e a Terra teria diminuído a velocidade de seu movimento de rotação, em virtude de um temporário enfraquecimento da ação do Sol sobre ela. O grande Newton demonstrou quão rapidamente a velocidade da Terra poderia ser diminuída sem choque apreciável para seus habitantes".
 
IV - O SUPREMO COMANDANTE DO UNIVERSO
 
O Universo funciona com uma perfeição assustadora. Milênio após milênio, astros e estrelas descrevem suas órbitas com absoluta exatidão. Essa maravilha leva-nos a concluir: Há um Deus no Céu, a comandar e a preservar o Cosmo.
 
O grande físico inglês, sir Isaac Newton, escreve: "Esse Ser governa todas as coisas, não como a alma do mundo, mas como o Senhor de tudo; e, por causa de seu domínio, costuma-se chamá-lo de Senhor, Pantocrátor, ou Soberano Universal, pois Deus é uma palavra relativa e tem uma referência a servidores; e Deidade é o domínio de Deus, não sobre seu próprio corpo, como imaginam aqueles que supõem que Deus é a alma do mundo, mas sobre os serventes."
 
Os gregos, entretanto, acreditavam estar a soberania do Universo dividida entre vários deuses, sendo Zeus o principal deles. Como estavam errados! O apóstolo Paulo, todavia, ao visitar Atenas, afirmou-lhes: "...sendo [Deus| Senhor do céu e da terra ..." (At 17.24b). Em outras palavras, disse-lhes o grande campeão do Evangelho: "Há um só Deus que sobre todos domina, porque tudo dele provém".
 
João Calvino compreendeu perfeitamente o universal senhorio de Deus: "...que no solamente habiendo creado una vez el mundo, lo sustenta con su inmensa potência, lo rige con su sabiduria, lo conserva con su bondad, y sobre todo cuida de regir el gênero humano com justicia y equidad, lo suporta con misericórdia, lo defiende com su amparo..."

Quanto a nós, falíveis seres humanos, devemos dirigir-nos a Deus: "...teu é o reino, o poder e a glória, para sempre. Amém."

Segunda Parte
 
Os Impérios humanos e a supremacia divina
 
Desde a fundação do mundo, os impérios continuam a ascender e a cair. A supremacia divina, porém, continua indelével, imarcescivel. Frova-nos isso estar Deus no supremo comando da História. De acordo com a sua soberana vontade, vão os filhos dos homens escrevendo suas crônicas.
 
Depois de exaltar-se e desafiar os céus, confessa Nabucodonozor. poderoso rei de Babilônia: "Agora, pois, eu, Nabucodonozor, louvo, e exalço e glorifico ao rei do céu; porque todas as suas obras são verdades; e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que andam na soberba" (Dn 4.37).
 
Veremos, a seguir, como os grandes impérios da antigüidade e mencionados na Bíblia ascenderam e caíram. Tanto em sua ascensão, como em sua queda, não nos será difícil vislumbrar a potente mão de Deus. Rapidamente, portanto, acompanharemos o nascimento, o apogeu e a queda destes impérios: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, (irécia e Roma.
 
Logo após, na terceira parte desta obra, começaremos a caminhar sobre a Terra Santa, onde desenrolou-se a maravilhosa história da salvação.
 
 
 
Império Egípcio
 
Sumário: Introdução. I - História do Egito. II -Geografia do Egito. III - A grandeza do Egito. IV - O Egito e os filhos de Israel.
 
INTRODUÇÃO
 
O Egito representa uma das mais antigas civilizações humanas. Sua história é quase tão antiga como o próprio homem. Julgam alguns historiadores, por isso, ter sido o Vale do Nilo o berço da humanidade. Mas, por intermédio das Sagradas Escrituras, sabemos ser a Mesopotamia o primeiro lar de nossos mais remotos ancestrais.
 
Napoleão Bonaparte, em sua campanha pelo Oriente Médio, ficou extasiado com a antigüidade da civilização egípcia. Ao contemplar as colossais pirâmides, exclamou aos seus homens: "Soldados, do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam". A grandiosidade do Egito exerce um grande atrativo sobre o nosso espírito. Como não admirar as monumentais conquistas dos forja-dores da civilização egípcia?
 
A presença do Egito nas Escrituras Sagradas é muito forte. Por esse motivo, precisamos conhecer melhor a história e a geografia desse lendário e misterioso país. Tendo em vista o exíguo espaço de que dispomos, não poderemos tratar, com profundidade, da cultura egípcia. Cabe ao leitor, entretanto, aprofundar-se no assunto e buscar novas informações em uma bibliografia adequada. Basta-nos. por enquanto, alguns dados gerais sobre o outrora portentoso império do Nilo.
 
I - HISTÓRIA DO EGITO
 
Não podemos datar, com precisão, quando chegaram os primeiros colonizadores aos territórios egípcios. Quanto mais recuamos no tempo, mais a cronologia torna-se imprecisa. Sabemos, contudo, que os primeiros habitantes dessa região foram nômades. Após uma vida

de árduas e incômodas peregrinações, eles começaram a organizar-se em pequenos Estados. Essas diminutas e inexpressivas unidades políticas conhecidas como nomos, foram agrupando-se com o passar dos séculos, até formarem dois grandes reinos: o Alto Egito, no Sul; e, o Baixo Egito, no Norte. Ambos estavam localizados, respectivamente, no Vale do Nilo e no Delta do mesmo rio.
 
Entre ambas as regiões havia um forte contraste. Seus deuses eram diferentes, como diferentes eram, também, seus dialetos e costumes. Até mesmo a filosofia de vida desses povos eram marcadas por visíveis antagonismos. Declara o egiptólogo Wilson: "Em todo o curso da história, essas duas regiões se diferenciaram e tiveram consciência da sua diferenciação. Quer nos tempos antigos, como nos modernos, as duas regiões falam dialetos muito diferentes e vêem a vida com perspectivas também diferentes."
 
Sobre essa época, escreve Idel Becker: "Neste período pré-dinástico, o desenvolvimento da cultura egípcia foi, quase totalmente, autóctone e interno. Houve apenas, alguns elementos de evidente influência mesopotâmica: o selo cilíndrico, a arquitetura monumental, certos motivos artísticos e, talvez, a própria idéia da escrita. Há, nessa época, progressos básicos nas artes, ofícios e ciências. Trabalhou-se a pedra, o cobre e o ouro (instrumentos, armas, ornamentos, jóias). Havia olarias; vidragem; sistemas de irrigação. Foi-se formando o Direito, baseado nos usos e costumes tradicionais - leis consuetudinárias."
 
1 - A unificação do Egito
 
Em conseqüência de suas muitas diferenças, o Alto e o Baixo Egito travaram violentas e desgastantes guerras por um longo período. Essas constantes escaramuças enfra-queciam ambos os reinos, tornando-os vulneráveis a ataques externos. Consciente da inutilidade desses conflitos, Menés, rei do Alto Egito, conquista o Baixo Egito. Depois de algumas reformas administrativas, esse monarca (para alguns historiadores, uma figura lendária) unificou o país, estabeleceu a primeira dinastia e tornou Tínis, a capital de seu vasto império.
 
A unificação do Egito ocorreu, de acordo com cálculos aproximados, entre 3.000 a 2.780 a.C. Nesta mesma época, os egípcios começaram a fazer uso da escrita e de um ca-lendário de 365 dias.
 
Unificados, o Alto e Baixo Egito transformaram-se no mais florescente e poderoso império da antigüidade. Os reis iniciaram a construção das grandes pirâmides, que lhes serviu de tumba. Por causa desses arroubos arquitetônicos, receberam o apelido de "casa grande" - faraó. Então, a cultura egípcia alcançou proporções consideráveis.
 
No final do Antigo Império, que abrange o período de 2.780 a 2.400 a.C, o poder dos faraós começou a declinar. O fim dessa era de glórias é marcado por revoltas e desordens, ocasionadas pelos governadores dos nomos.
 
Uma febre de independência alastra-se por todo o pais. Cresce, cada vez mais, o poder da nobreza; a influência da realeza decai continuamente. Aproveitando-se desse caos generalizado, diversas tribos negróides e asiáticas invadem o país.
 
Graças, entretanto, a intervenção dos faraós tebanos, o Egito consegue reorganizar-se, pelo menos até a agressão hicsa.
 
2    - A invasão dos hicsos
 
Não obstante a segurança trazida pelos príncipes de Tebas (11* dinastia) e pelas conquistas político-sociais do povo, o Egito começa a sofrer incursões de um bando aguerrido de pastores asiáticos. Nem mesmo o prestígio internacional dos faraós seria

suficiente para tornar defensáveis as fronteiras egípcias.
 
Esses invasores, que dominariam o Egito por 200 anos, aproximadamente, são conhecidos como hicsos. Eles iniciam sua dominação em 1.785 e são expulsos por volta de 1580 a.C.
 
Idel Becker, com muito critério, fala-nos acerca desse conturbado período: "Esta é a época mais confusa e discutida da história do antigo Egito: um período de invasões e de caos interno. Os hicsos - conglomerado de povos semitas e arianos, invadiram o Egito (através do istmo que o ligava à península do Sinai), venceram os exércitos de faraó e dominaram grande parte do país. Possuíam cavalos e carros de guerra (com rodas); e armas de bronze (ou talvez, mesmo, de ferro), mais bem acabadas e mais fáceis de manejar do que as dos egípcios. Tudo isso explica a sua superioridade bélica e os seus triunfos militares. Os hicsos talvez estivessem fugindo da pressão dos invasores indo-europeus (hititas, cassitas e mitanianos), sobre o Crescente Fértil."
 
Com os hicsos, acrescenta Becker, devem ter entrado no Egito os hebreus.
 
3 - Novo Império
 
Com a expulsão dos hicsos, renasce o Império Egípcio com grande pujança. Com Ames I, os faraós tornaram-se imperialistas e belicosos. Tutmés III, por exemplo, con-quistou a Síria e obrigou os fenícios, cananitas e assírios a pagarem-lhe tributo.
 
A expansão egípcia, entretanto, esbarrou nos interesses dos poderosos hititas, senhores absolutos da Ásia Menor. Na ocasião, o célebre faraó, Ramsés II fez ingentes es-forços para vencê-los. Como não conseguiu o seu intento, assinou com o reino hitita um tratado de paz, que vigorou por muitos anos. 32
 
Foi durante o Novo Império (1580-1200 a.C), que os israelitas começaram a ser escravizados pelos faraós. 4 - Decadência
 
Após o Novo Império, o Egito começou a sofrer sucessivas intervenções: líbia, etíope, indo-européia, assíria, persa, grega e romana. Em linhas gerais, essa nação, cujo passado foi tão glorioso, pertenceu ao Império Romano, durante 400 anos; ao Império Bizantino, durante 300 anos. No Século VII d.C, fica sob a tutela dos muçulmanos. A partir de 1400, torna-se possessão turca. No Século XIX, fica sob a custódia franco-inglesa. No início deste Século, torna-se protetorado inglês.
 
Em 1922, todavia, conquista sua independência. Hoje, porém, não passa de um apagado reflexo de sua primeira glória.
 
II - GEOGRAFIA DO EGITO
 
Netta Kemp de Money descreve o antigo Egito: "O Egito da antigüidade se assemelhava em sua forma a uma flor de lótus (planta importante na literatura e na arte egípcia), no extremo de um talo sinuoso que tem à esquerda e um pouco abaixo da própria flor, um botão de flor. A flor é composta pelo Delta do Nilo, o talo sinuoso é a terra fértil que se estende ao longo do dito rio, e o botão é o lago de Faium que recebe o excedente das inundações anuais do Nilo".
 
O Egito atual tem o formato de um quadrado. Localizado no Nordeste da África, limita-se ao norte, com o mar Mediterrâneo; a leste, com Israel (e, também, com o mar Vermelho); ao sul, com o Sudão; a oeste, com a Líbia. De sua área, de quase um milhão de quilômetros quadrados, 96 por cento são compostos de terras áridas. Sua população, de 45 milhões de habitantes, é obrigada a viver com os 4 por cento de terras cultiváveis.
 
Localizava-se o Alto Egito no Sul do atual território egípcio. Essa região, chamada de Patros pelos hebreus (Jr 44.1,15), é constituída por um estreito vale ladeado por penedos

de formação calcária. O Baixo Egito, por seu turno, localizava-se no Norte e sua área mais fértil encontra-se no Delta.
 
O Egito, no entanto, não existiria sem o Nilo. Esse rio é o mais extenso do mundo, com um percurso de 6.400 km com suas vazantes, fertiliza vastas extensões de terra, tor-nando possível fartas semeaduras. Heródoto, com muita razão, disse ser o Egito um presente do Nilo.
 
Em seu livro Geografia das Terras Bíblicas, afirma o pastor Enéas Tognini: "Sem o Nilo, o Egito seria um Saara - terrível e inabitado. O Nilo proporcionou riquezas aos faraós que puderam viver nababescamente, construindo templos suntuosos, monumentos grandiosos, palácios de alto luxo, pirâmides gigantescas e a manutenção de exércitos bem armados que, não somente protegiam o Egito, mas tomavam, nas guerras novas regiões. Os egípcios não tinham necessidade de observar se as nuvens trariam chuvas ou não. O Nilo lhes garantia a irrigação e as suas águas lhes davam colheitas fartas e certas. É fato que uma seca poderia trazer pobreza à terra, como aconteceu no tempo de José. Se a cheia fosse além dos limites, as águas poderiam arrasar cidades, deixando o povo desabrigado e preju-dicariam as safras. Mas, tanto secas como enchentes eram raras. O Nilo era então, como é hoje, a vida do Egito e o principal fator de suas múltiplas organizações, simples algumas e sofisticadas e complexas outras".
 
III - A GRANDEZA DO EGITO
 
Os egípcios deixaram um marco de indelével grandeza na História. Desde as pirâmides às conquistas científicas e tecnológicas, foram magistrais. Haja vista, por exemplo, os arquitetos modernos que continuam a contemplar, com grande admiração, os monumentos piramidais construídos pelos faraós.
 
Desta forma Halley descreve a Grande Pirâmide de Queops: "O mais grandioso monumento dos séculos. Ocupava 526,5 acres, 253 metros quadrados (hoje 137), 159 m de altura (hoje. 148). Calcula-se que se empregaram nela 2.300.000 pedras de 1 metro de espessura média, e peso médio de 2,5 toneladas. Construída de camadas sucessivas de blocos de pedra calcária toscamente lavrada, a camada exterior alisada, de blocos de granito delicadamente esculpidos e ajustados. Estes blocos exteriores foram removidos e empregados no Cairo. No meio do lado norte há uma passagem, 1 m de largura por 130 de altura, que leva a uma câmara cavada em rocha sólida, 33 m abaixo do nível do solo, e exatamente 180m abaixo do vértice; há duas outras câmaras entre esta e o vértice, com pinturas e esculturas descritivas das proezas do rei".
 
Os antigos egípcios destacaram-se, ainda, na matemática e na astronomia. Há mais de quatro mil anos, quando a Europa revolvia-se em sua primitividade, os sábios dos faraós já lidavam com fórmulas para calcular as áreas do triângulo e do círculo e, também, do volume das esferas e dos cilindros.
 
Souto Maior fala-nos, com mais detalhes, acerca do avanço científico dos antigos egípcios: "Apesar de não conhecerem o zero, já resolviam nessa época equações algébricas. Os seus conhecimentos astronômicos permitiram-lhes a organização de um calendário baseado nos movimentos do Sol. A divisão do ano em doze meses de trinta dias é de origem egípcia; os romanos adotaram-na e ainda hoje é conservada com pequenas modificações. A medicina egípcia também era surpreendentemente adiantada. Chegaram a fazer pequenas operações e a tratar com habilidade as fraturas ósseas. Pressentiram a importância do cora-ção e, na observação das propriedades terapêuticas de certas drogas, adquiriram alguns conhecimentos de farmaco-dinâmica".

IV - O EGITO E OS FILHOS DE ISRAEL
 
O relacionamento de Israel com o Egito remonta à Era Patriarcal. Premidos pela fome e outras agruras, Abraão e Isaque desceram à terra dos faraós, onde sofreram sérios constrangimentos. O primeiro e maior patriarca hebreu, por exemplo, esteve prestes a perder a esposa, cuja beleza embeveceu o rei daquela nação. Não fosse a intervenção divina. Sara não seria contada entre as ilustres mães do povo israelita.
 
Em sua velhice, Abraão recebe esta sombria revelação do Senhor: "Saibas, de certo, que peregrina será a tua semente em terra que não é sua, e servi-los-ão; e afligi-los-ão quatrocentos anos; mas também eu julgarei a gente, a qual servirão, e depois sairão com grande fazenda. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. K a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia" (Gn 15.13-16).
 
1 - José, primeiro-ministro do Egito
 
Estêvão, sábio diácono da igreja primitiva, conta-nos como José chegou a primeiro-ministro do Faraó: "E os patriarcas, movidos de inveja, venderam a José para o Egito. mas, Deus era com ele. E livrou-o de todas as suas tributações, e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito. que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa. Sobreveio então a todo o país do Egito e de Canaã fome e grande tributação; e nossos pais não achavam alimentos. Mas, tendo ouvido Jacó que no Egito havia trigo, enviou ali nossos pais, a primeira vez. E, na segunda vez foi José conhecido por seus irmãos, e a sua linhagem foi manifesta a Faraó. E José mandou chamar a seu pai Jacó e a toda sua parentela, que era de setenta e cinco almas" (At 7.9-14).
 
Não obstante sua humilde condição de escravo, José tornou-se primeiro-ministro do Faraó. E, por seu intermédio, Deus salvou toda a descendência de Israel. Não fosse o providencial ministério exercido por esse intrépido hebreu, a progênie abraâmica ver-se-ia em grandes dificuldades. Sua história é uma das obras-primas da humanidade.
 
José chegou ao Egito no Século XX a.C. Nesse tempo, segundo os historiadores, os hicsos dominavam o país. Sendo, também, semitas, os novos senhores da terra não tiveram dificuldades em demonstrar sua magnanimidade aos hebreus. Mostrando-se liberais e generosos, ofereceram aos israelitas a região de Gósen, onde a linhagem abraâmica desenvolveu-se sobremaneira.
 
2 - Moisés
 
Continua Estêvão a contar a história dos israelitas no Egito:
 
Aproximando-se, porém, o tempo da promessa que Deus tinha feito a Abraão, o povo cresceu e se multiplicou no Egito; até que se levantou outro rei, que não conhecia a José. Esse, usando de astúcia contra a nossa linhagem, maltratou nossos pais, a ponto de os fazer enjeitar as suas crianças, para que não se multiplicassem. Nesse tempo, nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa de seu pai. E, sendo enjeitado, tomou-o a filha de Faraó, e o criou como seu filho. E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras.
 
"E, quando completou a idade de quarenta anos, veio-lhe ao coração ir visitar seus irmãos, os filhos de Israel. E, vendo maltratado um deles, o defendeu, e vingou o ofendido, matando o egípcio. E ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam. E no dia seguinte, pelejando eles, foi por eles visto, e quis levá-los à paz, dizendo: Varões, sois irmãos; por que vos agravais um ao outro? E o que ofendia o seu próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz

sobre nós? Queres tu matar-me, como ontem mataste o egípcio?
 
"E a esta palavra fugiu Moisés, e esteve como estrangeiro na terra de Midiã, onde gerou dois filhos. E, completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo do Senhor, no deserto do monte Sinai, numa chama de fogo de um sarçal. Então Moisés, quando viu isto, maravilhou-se da visão; e, aproximando-se para observar, foi-lhe dirigida a voz do Senhor: "Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés, todo trêmulo, não ousava olhar. E disse-lhe o Senhor: Tira as alparcas dos teus pés, porque o lugar em que estás é terra santa: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo que está no Egito, e ouvi os seus gemidos, e desci a livrá-los. Agora, pois, vem, e enviar-te-ei ao Egito.
 
"A este Moisés, ao qual haviam negado, dizendo: Quem te constituiu príncipe e juiz? a este enviou Deus como príncipe e libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera no sarçal. Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, e no mar Vermelho, e no deserto, por quarenta anos. Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: ü Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis" (At 7.17-37).
 
Israel deixou o Egito no Século XV a.C. Depois do Êxodo, israelitas e egípcios voltariam a se enfrentar no tempo dos reis e no chamado período inter-bíblico. Recente-mente, com a independência do moderno Estado de Israel, as forças judaicas defrontaram-se com as egípcias diversas vezes. O antagonismo entre ambos os povos é milenar. Entretanto, o futuro dessas nações será de paz e glória: "Naquele dia haverá estrada do Egito até a Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria: e os egípcios adorarão com os assírios ao Senhor. Naquele dia Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. Porque o Senhor dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança" (Is 19.23-25).
 
 
 
 
 
 
 
Assíria
 
Sumário: Introdução. I - A geografia assíria. II -A história assíria. III - As relações entre a Assíria e Israel.
 
INTRODUÇÃO
 
Os assírios jactavam-se de descender de Assur, filho de Sem e neto de Noé (Gn 10.11). Esse ilustre patriarca deixou a planície de Sinear para estabelecer-se em uma cidade localizada na orla oriental do Tigre, que passou a levar seu nome.
 
Durante muito tempo, os descendentes desse renomado semita tiveram uma tranqüila existência. Abstinham-se de conílitos abrangentes.
 
I - A GEOGRAFIA ASSÍRIA
 
O território assírio, no princípio, era inexpressivo. Perdia-se entre as grandes possessões dos países circundantes. Com o passar dos séculos, foi se estendendo e abarcando muitas nações vizinhas, transformando-se em um grande império. As fronteiras assírias, porém, nunca foram definidas. Variavam de conformidade com as vitórias ou derrotas dos soberanos de Assur.

No ápice de sua glória, a Assíria ocupava uma área que ia do Norte da atual Bagdá até as imediações dos lagos Van e Urmia. Na linha leste-oeste, ia dos montes Zagros até o vale do rio Habur. Tendo em vista a sua privilegiada posição geográfica, era alvo de constantes invasões dos nômades e nativos do Norte e do Nordeste.
 
II - A HISTÓRIA ASSÍRIA
 
Durante muitos séculos, Nínive manteve-se inexpressiva no cenário assírio. Em 2.350 a.C, contudo, Sargão transformou-a na capital dos filhos de Assur. A partir de então, a cidade tornou-se participante das glórias e derrotas da Assíria.
 
Nínive é a própria história do Império Assírio.
 
No Século XII a.C, os assírios começam a demonstrar suas intenções hegemônicas. Sob a poderosa influência do rei Tiglete-Pileser, encetam várias campanhas militares, visando à expansão de seu território. Nessa época, subjugaram facilmente os sidônios.
 
Os assírios, entretanto, não possuíam guarnições suficientes para manter suas conquistas. Enquanto marchavam em direção ao Ocidente, os vassalos orientais rebelavam-se. A Assíria, em conseqüência desses insucessos militares, sofre clamorosas perdas territoriais.
O enfraquecimento do império assírio favoreceu a consolidação do reino davídico.
 
Duzentos anos mais tarde, a Assíria fez novas tentativas para dominar o mundo. Salmaneser II, primeiro soberano assírio a ser mencionado nas crônicas hebraicas, derrotou, na batalha de ('arcar, na Síria, uma coligação militar formada por sírios, fenícios e israelitas.
 
Passados doze anos, ele volta a enfrentar a aliança palestínica. E, à semelhança da primeira vez, vence-a. Rumores do Oriente, entretanto, fazem-no voltar à Assíria. Frustrado, abandona suas conquistas.
 
No Século VIII a.C, a Assíria começa a estabelecer-se, de fato, no Ocidente. Tiglete-Peliser II estende as fronteiras de seu império até Israel. Mostrando quão
ilimitada era a sua autoridade, obriga o rei israelita, Manaén, a pagar-lhe tributos.
 
Mais tarde, ajuda Acaz, rei de Judá, a livrar-se das investidas do reino de Israel. Oportunista, toma dez cidades israelitas e translada sua população à Assíria. Como se isso não bastasse, desaloja as tribos de Rubem, Gade e Manasses das possessões que elas receberam de Josué, sucessor de Moisés.
 
A Assíria teve o seu apogeu entre 705 a 626 a.C. Período que abrange os reinados de Senaqueribe, Esar-Hadom e Assurbanipal. Esse clímax de prosperidade e brilho é de-masiado efêmero. Aliás, o poder humano, por mais invencível que se mostre, não passa de vaidade, de tolas vaidades.
 
O império assírio desmorona-se!
 
Em 616 a.C, Nabopolassar, governador de Babilônia, subleva-se e declara a independência dos territórios sob sua jurisdição. Decidido a arrasar com o já minado poderio assírio, alia-se ao rei medo Ciaxares. Este, em 614 a.C, conquista e destrói totalmente Nínive, para onde Jonas fora enviado a proclamar os juízos do Eterno contra os reticentes filhos de Assur.
 
Com a queda de Nínive, desaparece a glória da Assíria.
 
III - AS RELAÇÕES ENTRE A ASSÍRIA E ISRAEL
 
Visando atingir a hegemonia absoluta do Médio Oriente, a Assíria desencadeou várias crises com seus vizinhos ocidentais: sírios, fenícios e hebreus. Esses povos se-paravam Assur de seu terrível e ambicioso rival - o Egito.
 
Enquanto Nínive não se impõe no Ocidente, Davi solidifica seus domínios, alargados

e engrandecidos por Salomão.
 
Os filhos de Abraão estavam protegidos do imperialismo assírio por seus vizinhos setentrionais, cujos territórios formavam uma área defensável às suas possessões. Com a queda da Síria e da Fenícia, porém, os reinos de Israel e Judá tornaram-se mais vulneráveis, não bastassem o sectarismo e a rivalidade entre ambos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 723 a.C. a Assíria destrói Israel e deporta as dez tribos que o compunham. Desaparece o Reino do Norte, fundado por Jeroboão, depois de uma atribulada existência de dois séculos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro da deportação das 12 tribos á Assíria
 
Deportar para outras terras os povos subjugados e arrefecer-lhes o ardor nacionalista.

Esta era a política assíria; visava do extermínio moral das nações conquistadas. Povo cruel, os assírios esfolavam vivos seus prisioneiros: cortavam-lhes as mãos, os pés, o nariz e as orelhas; vazavam-lhes os olhos; arrancavam-lhes as línguas. Funéreos artistas, faziam montes de crânios humanos.
 
As hordas assírias tentaram apoderar-se, também, de Judá. Foram os assírios obrigados a se concentrarem nos levantes da ('aldeia, onde exalariam seu último suspiro como império.
 
 
 
 
 
 
 
 
Babilônia
 
Sumário: Introdução. I - História de Babilônia. II - Geografia de Babilônia. III - A grandeza de Babilônia. IV - Babilônia e o povo de Judá. V - O fim de Babilônia.
 
INTRODUÇÃO
 
Babilônia, nas Sagradas Escrituras, é sinônimo de poder e glória. A história desse império, simbolizado pelo ouro, é antiquíssima. Trata-se de uma das primeiras civilizações da Terra. As crônicas babilônicas estão intimamente associadas com as da Mesopotâmia - berço da raça humana.
 
Como não associar, também, a história babilônica à hebraica? Séculos de convívio, nem sempre belicosos, ligam ambos os povos. Babilônios e hebreus, segundo alguns estudiosos, são oriundos de uma mesma família semita. O patriarca Abraão, a propósito, é originário de Ur dos Caldeus.
 
Conhecer Babilônia é, acima de tudo, vislumbrar as funestas conseqüências da soberba humana.
 
I - HISTÓRIA DE BABILÔNIA
 
Como já dissemos, Babilônia é uma cidade antiquíssima. A data de sua fundação é incerta. No entanto, sua conexão com Acad e Calnesh (Gn 10.10), leva-nos a supor tenha sido ela estabelecida por volta de 3.000 a.C! A história da mais importante metrópole do Fértil Crescente não passa de uma longa série de sangrentas lutas. Ambiciosos soberanos encetaram as mais renhidas guerras para expandirem Babilônia e preservarem seu território.
 
Babilônia foi sitiada vezes sem conta. É difícil calcular, também, quantas vezes seus muros e templos foram arrasados. Ávidos inimigos despojavam-na, com freqüência, de seus fabulosos tesouros. Seus orgulhosos habitantes sofreram os mais inumanos ataques. Essa opulentíssima cidade, todavia, levantava-se com mais brilho e pujança até tornar-se, no tempo de Nabucodonozor, em uma das maravilhas do mundo.
 
Durante séculos, Babilônia permaneceu sob a tutela assíria. O governador da Caldéia, Nabopolassar, levanta-se, porém, contra a hegemonia de Nínive. Auxiliado pelos medos, sacode de si o jugo assírio. Em 622 a.C, ele é proclamado rei, em Babilônia. Tem início, dessa forma, uma nova dinastia na Mesopotâmia. O intrépido monarca combate, sem tréguas, o exército assírio. Com a tomada de Nínive, consolida, definitivamente, a sua soberania nessa região.
 
O novo império, entretanto, teria de se defrontar com a ambição egípcia. Neco, rei do

Egito, aproveitando-se dos insucessos da Assíria, enceta uma grande campanha contra o poder emergente de Babilônia. Chega a apoderar-se, inclusive, da metade do Fértil Crescente. Seu triunfo, porém, não é duradouro.
 
Nabucodonozor dirige-se contra o faraó e o vence em Carquemis, no ano 606 a.C. (Quando celebrava a vitória, o príncipe herdeiro de Babilônia recebe a triste notícia da morte de seu pai. Regressa, então, imediatamente à capital do novel império onde, no ano seguinte, é coroado rei.
 
Empreendedor, dá início a gigantescas construções que fariam de seu reino, em tempo recorde, uma das maiores maravilhas do mundo.
 
II - GEOGRAFIA DE BABILÔNIA
 
Babilônia abrange os territórios da Mesopotâmia que vai de Hit e Samaria, no Norte de Bagdá, até o Golfo Pérsico. As possessões babilônicas ocupavam, por conseguinte, os antigos territórios de Sumer e Acad.
 
Babilônia foi plantada em uma fértil região, onde as chuvas eram constantes, possibilitando o surgimento, no local, de grandes civilizações, desde os primórdios da hu-manidade. Foi justamente nessa abençoadíssima área que floresceu o império de Nabucodonozor. Até os dias de hoje, Babilônia lembra opulência e prosperidade.
 
Essa notória cidade vem despertando crescente interesse de judiciosos pesquisadores. Em 1956 e 1957, arqueólogos norte-americanos constataram a existência de uma vasta rede de canais entre Bagdá e Nippur. Esse sistema de irrigação, super-avançado na época, fez de Babilônia uma potência agrícola.Enquanto outros povos passavam ingentes necessidades, os babilônios desfrutavam de fartura. A escassez de alimentos era algo ignorado pelos cal-deus.
 
Nessa região, as pedras eram bastante raras. Em compensação, havia abundância de cerâmica. Por isso as construções babilônicas consistiam, basicamente, de tijolos.
 
Além da cidade de Babilônia, propriamente dita, havia, também, a Grande Babilônia formada pelas seguintes cidades-satélites: Sippar, Kuta, Kis, Borsippa, Nippur, Uruk, Ur, Eridu. Babilônia ficava sobre o Eufrates. Dizem os estudiosos que poucas cidades foram tão privilegiadas pela natureza como essa. Com sobeja razão, pois, é considerada a metrópole dourada.
 
III - A GRANDEZA DE BABILÔNIA
 
A primeira tarefa de Nabucodonozor foi reconstruir Babilônia, destruída por Senaqueribe, em virtude de suas muitas rebeliões. Para conseguir o seu intento, o monarca caldeu desfechou diversas campanhas, objetivando levar para a cidade milhares de cativos para reconstruí-la.
 
Entre outras coisas, construiu um muro em redor de Babilônia. Dizem os entendidos que se tratava, realmente, de uma formidável muralha. Visava Nabucodonozor tornar inexpugnável a capital de seu império. Humanamente falando, nenhuma potência estrangeira poderia tomá-la. Tão largos eram esses muros, que duas carruagens poderiam trafegar sobre eles tranqüilamente.
 
O maior mérito desse empafioso soberano, entretanto, foi reedificar Babilônia. Historiadores antigos, como Heródoto, maravilharam-se ante a imponência e a grandiosida-de dessa cidade. Para alguns mais exaltados, só os deuses seriam capazes de erguer tal monumento, à soberba humana, é claro.
 
Babilônia estava edificada sobre ambas as margens do rio Eufrates. Protegia-a uma dupla muralha. De acordo com os cálculos fornecidos por Heródoto, esses muros, com 56

milhas de circunferência, encerravam um espaço de 200 milhas quadradas. Buckland, em seu Dicionário Bíblico Universal, dá-nos mais alguns detalhes acerca das grandezas babilônicas: "Nove décimas partes dessas 200 milhas quadradas estavam ocupadas com jardins, parques e campos, ao passo que o povo vivia em casas de dois, três e quatro andares. Duzentas e cinqüenta torres estavam edificadas por intervalos nos muros, que em cem lugares estavam abertos e defendidos com portões de cobre. Outros muros havia ao longo das margens do Eufrates e juntos aos seus cais. Navios de transporte atravessavam o rio entre as portas de um e de outro lado, e havia uma ponte levadiça de 30 pés de largura, ligando as duas partes da cidade. O grande palácio de Nabucodonozor estava situado numa das extremidades desta ponte, do lado oriental. Outro palácio, a admiração da humanidade, que tinha sido começado por Nabopolassar, e concluído por Nabucodonozor, ficava na parte ocidental e protegia o grande reservatório. Dentro dos muros deste palácio elevavam-se, a uma altura de 75 pés, os célebres jardins suspensos, que se achavam edificados na forma de um quadrado, com 400 pés de cada lado, estando levantados sobre arcos."
 
Ao construir Babilônia, símbolo de sua opulência, Na-bucodonozor não se esqueceu de reverenciar os falsos deuses. O Templo de Bel é um exemplo desse exagero idolátri-co. Esse monumento, com quatro faces, constituía-se em uma pirâmide de oito plataformas, sendo a mais baixa de 400 pés de cada lado. Quem nos descreve essa irreverência da engenhosidade humana é o já citado Buckland: "Sobre o altar estava posta uma imagem de Bel, toda de ouro, e com 40 pés de altura, sendo também do mesmo precioso metal uma grande mesa e muitos outros objetos colossais que pertenciam àquele lugar sagrado. As esquinas deste templo, como todos os outros templos caldaicos, correspondiam aos quatro pontos cardeais da esfera. Os materiais, empregados na grandiosa construção, constavam de tijolos feitos do limo, extraído do fosso, que cercava toda a cidade."
 
A grandiosidade de Babilônia levou Nabucodonozor a esquecer-se de sua condição humana e a julgar-se o próprio Deus. Em conseqüência disso, ele foi punido pelo Todo-poderoso. Só reconheceu a sua exigüidade, depois de passar sete anos com as bestas feras.
 
IV - BABILÔNIA E O POVO DE JUDÁ
 
Deus, sem dúvida alguma, permitiu a ascensão de Babilônia para punir a impenitência das nações do Médio Oriente. Nem mesmo Judá escaparia da ação judicial do Eterno. A tribo do rei Davi, que se convertera no Reino do Sul, em virtude do cisma israelita ocorrido em 931 a.C, perverteu a aliança mosaica. A maioria dos soberanos judeus adorou e permitiu a adoração de falsos deuses, induzindo o povo à apostasia.
 
Não obstante a candente advertência dos santos profetas, os judeus continuaram reticentes. O Senhor Deus, por isso, resolveu puni-los. Quem seria o instrumento de sua justiça? Respondem os profetas: Babilônia. Conforme já dissemos, tão logo Nabopolassar vence os últimos redutos da resistência assíria, volta-se para a Palestina, disposto a conquistá-la e aumentar o seu império. - O que poderia fazer Judá para conter a avalanche babilônica? - Nada; absolutamente nada. Para Jeremias, por exemplo, o fim do Reino de Judá viria inexoravelmente. O profeta, por isso mesmo, recomendou ao monarca judaíta que se submetesse ao soberano babilônico.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nabopolassar, todavia, não pôde dar consecução aos seus planos de expansão territorial, em virtude de sua morte inesperada. Caberia, por conseguinte, ao seu filho e su-cessor natural, Nabucodonozor. assegurar a hegemonia babilônica no Médio Oriente. Após ser coroado, o jovem monarca volta a sua atenção à terra de Judá.
 
Depois de vencer as forças judaicas, Nabucodonozor faz de Jeoaquim seu vassalo. O representante da dinastia davídica obriga-se a enviar a Babilônia, regularmente, vultosos impostos. Em 603 a.C, porém, o rei de -Judá resolve não mais cumprir os compromissos assumidos com o regime babilônico.
 
Irado, Nabucodonozor dirige-se a Judá e a sitia. Chega ao fim o Reino do Sul, fundado por Roboão. O monarca babilônico, ainda insatisfeito, prende o rei Joaquim, juntamente com a nobreza judaica, e o deporta para a Babilônia. Entre os exilados, encontram-se, Daniel, Sadraque, Mesaque e Abednego. Como despojo, o destemido conquistador leva consigo os vasos sagrados da Casa do Senhor.

No ano seguinte, Zedequias assume o trono de Judá. Títere, seria obrigado a pagar, fielmente, tributos a Nabucodonozor. Durante oito anos, o sucessor de Joaquim mantém-se fiel a Babilônia. Em 597, porém, subleva-se, causando a destruição de Jerusalém e a deportação dos restantes filhos de Judá. Na terra desolada, ficaram apenas os pobres.
 
O castigo de Jerusalém foi indescritível. Os exércitos de Nabucodonozor caíram como gafanhotos sobre a cidade do Grande Rei. Destruíram seus palácios, derribaram seus muros e deitaram por terra o Santo Templo. O lugar mais santo e mais reverenciado pelos hebreus não mais existia. O mais suntuoso monumento do Médio Oriente não passava, agora, de um monturo. Os judeus, doravante, andariam errante, por 70 anos em uma terra estrangeira e idolatra. O exílio, contudo, seria assaz benéfico à progênie de Abraão, que não mais curvar-se-ia ante os falsos deuses.
 
V - O FIM DE BABILÔNIA
 
O Império Babilônico, fundado por Nabopolassar, não teve uma vida bastante longa. Em menos de um século, já emitia sinais de fraqueza e degenerescência. Enquanto isso, a coligação medo-persa fortalecia-se continuamente e se preparava para conquistar a dourada prostitura do Fértil Crescente - Babilônia.
 
Em 538 a.C, quando Belsazar participava, juntamente com seus altos oficiais e suas prostitutas, de uma desenfreada orgia, os exércitos medo-persas tomaram Babilônia, transformando-a em uma possessão ariana. Naquela mesma noite, a propósito, o Todo-poderoso revelara, por intermédio de Daniel, quão funesto seria o fim do domínio babi-lônico.
 
Dario, um dos mais destemidos e proeminentes generais de Ciro II, tomou Babilônia e matou o libertino Belsazar. Tinha início, assim, o Império Medo-persa.
 
 
 
 
 
 
 
O Império Persa
 
Sumário: Introdução. I - História do Império Persa. II - Geografia do Império Persa. III - O Império Persa e os judeus. IV - Fim do Império Persa.
 
INTRODUÇÃO
 
Com a destruição do Império Babilônico surge uma nova superpotência no Médio Oriente. A coligação medo-persa transforma-se, rapidamente, em um vastíssimo reino. No tempo de Assuero, por exemplo, a Pérsia dominava sobre 127 províncias, da índia à Etiópia. Jamais surgira reino de tão dilatadas possessões!
 
Durante o Império Persa, os judeus foram tratados com longanimidade e condescendência. Permitiam-lhes os soberanos persas, por exemplo, as manifestações de sua religiosidade e tradições nacionais. Nesse período, obtêm os dispersos de Judá permissão para voltar à amada e inesquecível Terra de Israel e reconstruir o santo Templo e suas casas.
 
Como todo o poderio humano é efêmero, o Império Persa não deixaria de exalar o último suspiro. Em seu lugar, outro reino emergiria. A História vai sendo escrita com a ascensão e queda dos impérios. A soberana vontade do Todo-poderoso, entretanto, permanece incólume e absoluta.

I - HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA
 
O capítulo dez de Gênesis é conhecido como a genealogia das nações. Nele, estão registrados os nomes dos principais patriarcas da raça humana. Não encontramos, porém, nessa importante porção das Sagradas Escrituras, o cadastro da ancestralidade persa. Julga-se, por isso, ter a Pérsia começado a formar-se séculos após a dispersão da Torre de Babel.
 
A nação persa é o resultado da fusão de povos oriundos do Planalto Iraniano: cassitas, elamitas, gutitas e lulubitas. A mais antiga comunidade persa é a de Sialk. Por muitos séculos, esse povo esteve envolvido em completo anonimato. Suas alianças políticas variavam de acordo com as tendências da época. Ao aproximar-se da Média, contudo, começa a descobrir o valor de sua nacionalidade e as suas reais potencialidades.
 
A Pérsia, durante o Império Babilônico, não passava de um Estado vassalo da Média. Ambas as nações, porém, mantinham, até certo ponto, uma convivência pacífica, em virtude de possuírem algumas heranças comuns: eram indu-européias e dedicavam-se à criação de gado cavalar. Com o passar dos tempos, todavia, os persas aumentam o seu poderio e começam a desvencilhar-se dos tentáculos medos.
 
Ciro II consegue, em 555 a.C, reunificar as várias tribos persas. Sentindo-se fortalecido, lança-se sobre a Média. Depois de três anos de renhidas batalhas, derrota-a. A vitória desse monarca é tão retumbante, que causa espécie em toda a região. Temerosos, os reinos vizinhos reúnem-se com o objetivo de formar uma aliança para frustrar as intenções hegemônicas do novo reino.
 
Perspicaz e oportunista, Ciro II move uma guerra generalizada contra essa coligação, abatendo-a em seu nascedouro. Em uma bem sucedida série de ataques relâmpagos, derrota a Lídia e a Babilônia. Espantadas com o ímpeto bélico desse monarca, Esparta e Atenas firmam um acordo de paz com a Pérsia.
 
Dario encarrega-se da conquista de Babilônia. Na noite de 538 a.C. esse importante general de Ciro II, aproveitando-se da embriaguez de Belsazar e de seus nobres, conquista a mais bela e suntuosa cidade daquela época. O príncipe babilônico, conforme previra o profeta Daniel, é deposto e morto. O Todo-poderoso servira-se dos persas para contar, pesar e dividir o império fundado por Nabopolassar.
 
Condescendente, Dario resolve poupar a vida do pai de Belsazar. Na fatídica noite da queda de seu reino, Nabonido encontrava-se em viagem, realizando (quem sabe?) escavações arqueológicas, pois deliciava-se com o estudo das coisas antigas. Desterrado para a Carcâmia, seria nomeado, posteriormente, um dos governadores regionais do novo soberano.
 
Inicialmente, Dario foi designado, por Ciro II, para governar Babilônia. Enquanto isso, consolidava os alicerces do poderio medo-persa. É bom esclarecermos que a Média, apesar de derrotada pela Pérsia, uniu-se a esta, imediatamente, para conseguir a hegemonia do mundo de então.
 
Ciro II, conforme já dissemos, mostrava-se tolerante com os vencidos. Procurava tratá-los com dignidade e consideração. Souto Maior traça o perfil desse controvertido persa: "Ciro foi, é verdade, um conquistador, porém não teve o aspecto primário dos monarcas guerreiros de sua época. Sua dominação se fazia opressiva pelas obrigações econômicas exigidas, o que aliás explica as constantes revoltas. Contudo, seu imperialismo era sem dúvida superior ao primitivismo cruel dos conquistadores assírios."
 
Quando de sua morte, em 529 a.C, o Império Persa já abarcava infindáveis possessões.

II - GEOGRAFIA DO IMPÉRIO PERSA
 
Documentos desenterrados nas últimas décadas revelam-nos existirem duas Pérsias. A Grande Pérsia, localizada no Sudeste do Elã, e que correspondia à área ocupada atualmente pelo Irã. Por seu turno, a Pequena Pérsia limitava-se, ao Norte, pela Magna Média.
 
Em um sentido amplo, o território persa compreendia o planalto do Irã, toda a região confinada pelo Golfo Pérsico, os vales do Tigre e do Ciro, o mar Cáspio e os rios Oxus, Jaxartes e Indo. No tempo de Assuero, marido de Ester, as possessões persas estendiam-se da índia à Grécia, do Danúbio ao Mar Negro, e do Monte Cáucaso ao Mar Cáspio ao Norte e atingia, ainda, o deserto da Arábia e Núbia.
 
III - O IMPÉRIO PERSA E OS JUDEUS
 
Durante a dominação babilônica, os judeus não gozavam de muitas prerrogativas. Com muito custo e, enfrentando grandes dificuldades, conseguiram manter sua religião e suas tradições nacionais. Em seus 70 anos de exílio, os filhos de Abraão foram provados, aliás, dura e inumanamente. Reconheceram, entretanto, quão amargos frutos colhiam em conseqüência de sua idolatria e que não existe outro Deus, além do Santo de Israel.
 
Com a ascensão do Império Persa, descortinam-se-lhes novos e promissores horizontes. O Senhor usa o rei Ciro para autorizar-lhes o regresso a Sião. No primeiro ano de reinado desse ilustre soberano, os filhos de Judá são liberados a retornar à terra de seus antepassados. A frente dos repatriados, ia o governador Zorobabel que, nos anos subseqüentes, seria o principal baluarte da reconstrução do nosso Estado Judaico.
 
Não fosse a liberalidade de Ciro, tratado por Deus como "meu servo", os judeus não teriam condições de se dedicarem a cumprir tão formidável tarefa. Sob a vista dos sucessores do fundador do Império Persa, os muros e o Templo de -Jerusalém foram reconstruídos em tempo recorde. O diligente Zorobabel, o destemido Neemias, o erudita Esdras e o judicioso sumo sacerdote Josué, contaram com o respaldo da monarquia persa, no santo cumprimento de seus deveres.
 
Ciro mostrou-se tão liberal que, inclusive, devolveu aos líderes judaicos parte dos tesouros do Templo levados a Babilônia por Nabucodonosor. Atrás da generosidade persa, contudo, estava a potente mão de Deus!
 
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No tempo da rainha Ester, mulher do poderoso Assue-ro, vemos, uma vez mais, o Senhor usar o poderio persa em favor de seu povo. Não obstante as maquinações de Hamà. o Deus de Abraão, Isaque e Jacó forçou o soberano persa a ver com simpatia a causa dos exilados judeus. For intermédio da belíssima prima de Mardoqueu, o Todo-poderoso intervém em favor da nação judaica e concede-lhe grande livramento.
 
O ministério de Ester é tão glorioso que, ao interceder, junto ao seu esposo, pela vida de seu povo, estava preservando, indiretamente, a existência do Salvador. Fossem os judeus aniquilados pelo diabólico Hamã e toda a ancestralidade de Cristo extinguir-se-ia nos limites do Império Persa.
 
IV - FIM DO IMPÉRIO PERSA
 
O Império Persa resplandecia no Oriente. No Ocidente, enquanto isso, a Grécia começa a desenvolver-se e a tornar mais marcante a sua presença no concerto das nações.

Delineava-se, dessa maneira, o fim do imperialismo persa. Quão exatas mostravam-se as profecias de Daniel! Segundo ele predissera, a Grécia substituiria a Pérsia no comando político daquela época. E, caberia a um intrépido macedônio a glória de pôr término à expansão medo-persa.
 
 
 
 
 
 
 
O Império Grego
 
 
Sumário: Introdução. I - História da Grécia. II -Alexandre Magno. III - Geografia da Grécia. IV - Os gregos e os judeus. V - Fim do Império Grego.
 
INTRODUÇÃO
 
A Grécia é o berço da civilização ocidental. Dos gregos, herdamos a democracia, a concepção clássica das artes e, principalmente, a filosofia. Não obstante a exigüidade de suas possessões geográficas, a antiga Grécia continua a nos influenciar. Não fossem os helenos não haveria a tradicional divisão do mundo entre Ocidente e Oriente.
 
Amantes da liberdade e acostumados às discussões ao ar livre, os gregos legaram-nos um inestimável tesouro - as bases de nossa civilização. Eles, ao contrário dos indianos, chineses e outros povos orientais, discutiam racionalmente todos os assuntos pertinentes à "polis", - cidade, em grego. Acariciados pelos ventos elísios, deleitavam-se em perquirir e filosofar. Tornarem-se amigos da sabedoria - eis a sua maior ambição.
 
Sob essa atmosfera, tão propícia ao desenvolvimento do espírito, surgiram grandes gênios: Tales, Empédocles, Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros. Visando ao desenvolvimento integral do ser humano, os gregos não se preocupavam apenas com a mente. Voltavam-se, com o mesmo afinco, ao aprimoramento físico. É comum, pois, vislumbrarmos nas esculturas áticas verdadeiros Adônis e Vênus.
 
Sob o comando de Alexandre Magno, esse ilustre povo conquistou o mundo influente de então e espalhou sua cultura por todas as terras. Foi esse soberano macedônio quem destruiu o Império Persa. As façanhas desse jovem e audaz monarca tornaram-se proverbiais.
 
I - HISTÓRIA DA GRÉCIA
 
A       Grécia antiga estava dividida em cidades-estados. Sem coesão político-administrativa, esses pequenos e até diminutos países estavam em constantes alterações. Haja vista as repetidas escaramuças entre Esparta e Atenas. Os gregos eram unidos somente por laços culturais e religiosos. Quando o perigo os ameaçava, firmavam, porém, alianças provisórias.
 
O Século V a.C, marca o auge da Grécia. Nessa longínqua época, Péricles assume o comando político de Atenas e começa a apoiar, maciçamente, os empreendimentos culturais. Brilhante orador e possuidor de invulgar gênio administrativo, transforma a capital da Ática na mais importante cidade do mundo.
 
Em meio a tão viçosa democracia, despontam os filósofos, escultores, pintores, dramaturgos, poetas, arquitetos, médicos, etc. Essa importantíssima Era da história grega passa a ser conhecida como o Século de Péricles. Jamais os helenos voltariam a presenciar

tanto desenvolvimento e tamanha glória.
 
No século seguinte, os gregos tornam-se alvo das intenções hegemônicas de Felipe II da Macedônia.
 
II - ALEXANDRE MAGNO
 
Limitando-se ao sul com a Grécia, a Macedônia estava destinada a dominá-la e a encabeçar o domínio heleno do mundo. Seus habitantes, à semelhança dos gregos, eram de origem indo-européia. A cultura macedônia, contudo, é considerada bem inferior à grega. Nesse país, cuja área é ocupada hoje pela Iugoslávia, nasceu Felipe II.
 
Capturado por um bando de gregos, em meados do Século Quarto a.C, esse irrequieto macedônio é levado a Tebas, onde domina as artes bélicas da Grécia. Em seu exílio, elabora audaciosos planos: modernizar os exércitos da Macedônia e unir todos os helenos sob o seu comando. Eis sua grande obsessão: subjugar o Império Persa. De volta à sua terra, dá largas às suas pretensões hegemônicas. Em pouco tempo, transforma as forças armadas macedônias em uma eficaz e formidável máquina de guerra. Com ímpeto, domina as cidades-estados gregas.
 
Entretanto, quando se preparava para atingir o auge de suas realizações militares, é assassinado. Deu-se o desenlace durante as núpcias de sua filha e às vésperas de invadir a Ásia Menor. Prematuramente tolhido por tão bárbara fatalidade, desaparece sem dar consecução aos seus ambiciosos planos.
 
Caberia ao seu filho concretizar-lhe os ideais.
 
"Um dos maiores gênios militares de todos os tempos". Assim é descrito Alexandre Magno. Nascido em 356 a.C, teve uma primorosa educação. Seu preceptor foi, nada mais nada menos, que Aristóteles. Aos pés do mais exato dos filósofos gregos, o príncipe macedônio universaliza-se. Com o alargamento de sua visão do mundo, passa a contemplar a humanidade como uma só família.
 
Como, porém, concretizar esse ideal?
 
Conquistador inato e guerreiro audaz, declara sua intenção: conquistar a Terra. Não obstante seus 20 anos, reafirma sua autoridade sobre os gregos e, à testa de um exército de 40 mil homens, marcha em direção aos persas. Com fúria sobre-humana, derrota Dario Codomano, que possuía uma descomunal guarnição de mais de 800 mil homens.
 
Após destruir o poderio persa, Alexandre Magno prossegue, conquistando terras e mais terras no Oriente. Ao chegar ao rio Indu, na índia, seus homens convencem-no a voltar
 
à   terra natal. Cansados e com saudades, eles almejavam rever a Grécia e voltar ao convívio familiar.
 
Percebendo estar o moral de seu exército um pouco baixo para novas conquistas, o soberano macedônio resolve regressar. Foi-lhes a volta sobremodo penosa. Suportaram, por longos meses, alucinante sede e infindáveis caminhadas sobre desérticas regiões. Muitos tombaram sob o causticante calor do deserto.
 
Alexandre Magno, ao chegar a Babilônia, é recebido como um ente celestial. Tributam-lhe divinas honrarias. Para os pobres mortais, não havia ser tão glorioso como o príncipe macedônio. Os dias vindouros, contudo, revelam a verdade: o filho de Filipe II não passava de um homem de carne e osso, sujeito aos caprichos da natureza e limitado pelos absolutos desígnios de Deus.
 
Em 323 a.C., morreu repentinamente. Com ele, morreram também os seus sonhos de ecumenizar a humanidade. Na cidade, palco de tantos acontecimentos importantíssimos para a História, cai o bravo príncipe macedônio. O império desse jovem monarca não resiste à sua morte. Conforme profetizara Daniel, as possessões alexandrinas são repartidas entre os

mais ilustres militares gregos.
 
Coube a Lísimaco a Trácia e uma parte da Ásia Menor. A Cassandro, a Macedônia e a Grécia. A Seleuco, a Síria e o Oriente. E, a Ptolomeu, o Egito. De conformidade com as palavras do Senhor, o Império Grego foi dividido. Desfazia-se, assim, o sonho pan-helenístico de um grande visionário.
 
Uma das maiores realizações de Alexandre Magno foi a difusão universal da cultura grega. Esse magnífico empreendimento cultural facilitaria, mais tarde, a propagação global do Evangelho. O apóstolo Paulo, por exemplo, em suas viagens missionárias, não encontrou quaisquer dificuldades em se comunicar com os gentios, em virtude da internacionalização do koinê - grego vulgar. O historiador
 
Robert Nichols Hasting afirma que os helenos deram substancial contribuição ao plano salvífico de Deus.
 
III - GEOGRAFIA DA GRÉCIA
 
A Grécia constitui-se, praticamente, de uma península localizada no Sudeste da Europa. Esse maravilhoso país é banhado por três mares: a leste, pelo Egeu; ao sul, pelo Mediterrâneo; e a oeste pelo Jônico. A Macedônia ficava ao norte. Nos primórdios, o território grego era conhecido como Acaia e limitava-se, ao sul da península. A região ocupada por Atenas, nessa mesma época, era denominada de Ática.
 
Toda recortada pelo mar, a Grécia é cercada por muitas ilhas e ilhotas. A natureza prodigalizou a Hélade com numerosas montanhas e abruptos declives. Negou-lhe, entretanto, caudalosos rios e extensas planícies. A hidrografia grega é paupérrima. Por causa disso, os helenos só cultivam sementes que resistam aos longos estios e às altas temperaturas.
 
Em virtude da inclemência do clima e do solo de sua terra, os gregos começaram a dar asas à sua imaginação. Sonharam com outras terras e vislumbraram novos horizontes. Embevecidos de sonhos e esperanças, provocaram a sua diáspora, que durou do Século XII ao Século VI a.C. Eles fundaram colônias nas ilhas do mar Egeu, do mar Mediterrâneo e do mar Negro. Instalaram-se, ainda, na Ásia Menor, no Sul da Itália, no Norte da África e até em Massília, território ocupado, hoje, pela França.
 
A partir do Século IV a.C. a história da Grécia entrelaça-se à da Macedônia. É bom conhecermos, por conseguinte, algumas particularidades geográficas desse país que, sob a roupagem helena, quase conquistou a Terra.
 
A Macedônia limitava-se, ao sul com a Grécia; ao leste, com o mar Egeu e com a Trácia; ao norte, com os montes balcânicos; e, a oeste, com a Trácia e o Ilíaco. Hodiernamente, o território macedônio é ocupado pela Grécia, Iugoslávia, Bulgária, Albânia e a parte européia da Turquia. O país de Alexandre Magno era uma vastíssima planície fértil, cercada de altas montanhas.
 
Na Macedônia, ficava a cidade de Filipos, onde o Evangelho, através de Paulo, foi pregado, pela primeira vez, em território europeu. Dessa região estratégica, a Palavra de Deus estendeu-se por toda a Europa, alcançando milhões de almas. O território macedônio, portanto, serviu de importantíssima base missionária para o apóstolo dos gentios coroar de êxitos a sua carreira cristã.
 
Alexandre Magno, lançou-se da Macedônia para conquistar o mundo. Do mesmo lugar, o apóstolo Paulo lançou-se à Europa para ganhar o mundo, mas, para Cristo. As glórias do príncipe macedônio, entretanto, feneceram. - E, as glórias do Evangelho? - Continuam a brilhar!

IV - OS GREGOS E OS JUDEUS
 
De acordo com alguns historiadores, o contato de Alexandre Magno com os judeus foi rápido e emocionante. O cronista hebreu Flávio Josefo narra-nos este encontro: "Dario, tendo sabido da vitória obtida por Alexandre sobre seus generais, reuniu todas as forças, para marchar contra ele, antes que se tornasse Senhor de toda a Ásia; depois de ter passado o Eufrates e o monte Tauro, que está na Cilícia, resolveu dar-lhe combate. Quando Sanabaleth viu que ele se aproximava de Jerusalém, disse a Manasses que cumpriria sua promessa logo que Dario tivesse vencido Alexandre, pois ele, e todos os povos da Ásia estavam convictos de que os macedônios, sendo em tão pequeno número, não ousariam combater contra o formidável exército dos persas. Mas os fatos mostraram o contrário. A batalha travou-se: Dario foi vencido com graves perdas; sua mãe, sua mulher e seus filhos ficaram prisioneiros e ele foi obrigado a fugir para a Pérsia. Alexandre, depois da vitória, chegou à Síria, tomou Damasco, apoderou-se de Sidom e sitiou Tiro. Durante o tempo em que ele esteve empenhado nessa empresa, escreveu a Jaddo, Grão-Sacrificador dos judeus, pedindo-lhe três coisas: auxílio, comércio livre com seu exército e o mesmo auxílio, que ele dava a Dario, garantindo-lhe que se o fizesse, não teria de que se arrepender, por ter preferido sua amizade à dele. O Grão-Sacrificador respondeu-lhe que os judeus tinham prometido a Dario, com juramento, jamais tomar as armas contra ele e por isso não podiam fazê-lo, enquanto ele vivesse. Alexandre ficou tão irritado com esta resposta, que mandou dizer-lhes que logo que tivesse tomado Tiro, marcharia contra ele, com todo o seu exército, para ensinar-lhe, e a todos, a quem é que se devia guardar um juramento. Atacou Tiro com tanta força, que dela logo se apoderou; depois de ter regularizado todas as coisas, foi sitiar Gaza onde Bahémes governava em nome do Rei da Pérsia.
 
"Voltemos, porém, a Sanabaleth. Enquanto Alexandre ainda estava ocupado do cerco de Tiro, ele julgou que o tempo era próprio para realizar seu intento. Assim, abandonou o partido de Dario e levou oito mil homens a Alexandre. O grande príncipe recebeu-o muito bem; disse-lhe então ele que tinha um genro de nome Manasses, irmão do Grão-Sacrificador dos judeus, que vários daquela nação se tinham juntado a ele pelo afeto que ele lhes tinha e que ele desejava construir um templo perto de Samaria; que S. Majestade disso poderia tirar grande vantagem, porque assim dividiria as forças dos judeus e impediria que aquela nação pudesse se revoltar por inteiro e causar-lhe dificuldades, como seus antepassados tinham dado aos reis da Síria. Alexandre consentiu no seu pedido; mandou que se trabalhasse com incrível diligência na construção do templo e constituiu Manasses Grão-Sacrificador; Sanabaleth sentiu grande alegria por ter granjeado tão grande honra aos filhos que ele teria de sua filha. Morreu, depois de ter passado sete meses junto de Alexandre no cerco de Tiro e dois no de Gaza. Quando este ilustre conquistador tomou esta última cidade, avançou para Jerusalém e o Grão-Sacrificador Jaddo, que bem conhecia a sua cólera contra ele, vendo-se com todo o povo em tão grave perigo, recorreu a Deus, ordenou orações públicas para implorar o seu auxílio e ofereceu-lhe sacrifícios. Deus apareceu-lhe em sonhos na noite seguinte e disse-lhe para espalhar flores pela cidade, mandar abrir todas as portas e ir revestido de seus hábitos pontificais, com todos os sacrificadores, também assim revestidos e todos os demais, vestidos de branco, ao encontro de Alexandre, sem nada temer do soberano, por que ele os protegeria.
 
"Jaddo comunicou com grande alegria a todo o povo a revelação que tivera e todos se preparam para esperar a vinda do rei. Quando se soube que ele já estava perto, o Grão-Sacrificador, acompanhado pelos outros sacrificadores e por todo o povo, foi ao seu encontro, com essa pompa tão santa e tão diferente da das outras nações, até o lugar denominado Sapha, que, em grego, significa mirante, porque de lá se podem ver a cidade de

Jerusalém e o templo. Os fenícios e os caldeus, que estavam no exército de Alexandre, não duvidaram de que na cólera em que ele se achava contra os judeus ele lhes permitiria saquear Jerusalém e dai ia um castigo exemplar ao Grão-Sacrificador. Mas aconteceu justamente o contrário, pois o soberano apenas viu aquela grande multidão de homens vestidos de branco, os sacrificadores revestidos com seus paramentos de Unho e o Grão-Sacrificador, com seu éfode, de cor azul, adornado de ouro, e a tiara sobre a cabeça, com uma lâmina de ouro sobre a qual estava escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou aquele augusto nome e saudou o Grão-Sacrificador, ao qual ninguém ainda havia saudado. Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram a voz, para desejar-lhe toda sorte de felicidade e de prosperidade. Mas os reis da Síria e os outros grandes, que o acompanhavam, ficaram surpresos, de tal espanto que julgaram que ele tinha perdido o juízo. Parmênio, que gozava de grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em todo o mundo, adorava o Grão-Sacrificador dos judeus. Não é a ele, respondeu Alexandre, ao Grão-Sacrificador, que eu adoro, mas é a Deus de quem ele é ministro. Pois quando eu ainda estava na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, ele me apareceu em sonhos com esses mesmos hábitos e me exortou a nada temer; disse-me que passasse corajosamente o estreito do Helesponto e garantiu-me que ele estaria à frente de meu exército e me faria conquistar o império dos persas. Eis por que, jamais tendo visto antes a ninguém revestido de trajes semelhantes aos com que ele me apareceu em sonho, não posso duvidar de que foi por ordem de Deus que empreendi esta guerra e assim vencerei
 
a    Dario, destruirei o império dos persas e todas as coisas suceder-me-ão segundo meus desejos.
 
"Alexandre, depois de ter assim respondido a Parmênio, abraçou o Grão-Sacrificador e os outros sacrificadores, caminhou depois no meio deles até Jerusalém, subiu ao templo, ofereceu sacrifícios a Deus da maneira como o Grão-Sacrificador lhe dissera que devia fazer. O soberano Pontífice mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel no qual estava escrito que um príncipe grego destruiria o império dos persas e disse-lhe que não duvidava de que era ele de quem a profecia fazia menção.
 
"Alexandre ficou muito contente; no dia seguinte, mandou reunir o povo e ordenou-lhe que dissesse que favores desejava receber dele. O Grão-Sacrificador respondeu-lhe que eles lhe suplicavam permitir-lhes viver segundo suas leis, e as leis de seus antepassados e isentá-los no sétimo ano, do tributo que lhe pagariam durante os outros. Ele concedeu-lho. Tendo-lhe, porém, eles pedido que os judeus que moravam na Babilônia e na Média, gozassem dos mesmos favores, ele o prometeu com grande bondade e disse que se alguém desejasse servir em seus exércitos ele o permitiria viver segundo sua religião e observar todos os seus costumes. Vários então alistaram-se."
Após a morte de Alexandre Magno, como já dissemos,
 
O Império Grego foi dividido entre quatro generais: Lísimaco, Cassandro, Ptolomeu e Seleuco. Ambiciosos, auto-coroaram-se e trataram de solidificar seus reinos. Seus inte-resses entrechocaram-se muitas vezes, ocasionando violentas escaramuças. Esses potentados subsistiram até a ascensão do Império Romano.
 
Deter-nos-emos, entretanto, apenas nas crônicas ptolomaicas e selêucidas, por causa de seu relacionamento com os filhos de Israel.
 
1 - Os Ptolomeus
 
Sob a égide dos Ptolomeus, experimenta o Egito um grande progresso. Em virtude de sua formidável e ágil frota, torna-se o mais poderoso reino grego. Não obstante as guerras e a política agressiva da Síria, consegue manter sua supremacia até o Século II a.C. Quando

da ascensão da dinastia ptolomaica, havia, na mais florescente cidade egípcia - Alexandria - uma grande colônia judaica.
 
Complacentes e liberais, os ptolomeus permitiram aos dispersos de Judá o cultivo de suas tradições e a adoração de Jeová. Tão magnânimos eram esses soberanos que, inclusive, incentivavam os judeus a continuar a praticar os ritos mosaicos. Ptolomeu Filadelfo, por exemplo, encomendou aos eruditos hebreus a tradução do Antigo Testamento em língua grega. Essa versão, composta em primoroso e escorreito grego, é conhecida como a Septuaginta. Em Alexandria, ainda, os dispersos filhos de Abraão foram autorizados a construir um templo para perpetuar o nome do Santo de Israel.
 
Ventos de destruição e morte, entretanto, acabariam com a bonança da progressista comunidade judaica egípcia. Tudo aconteceu com a ascensão de Ptolomeu IV. Esse soberano, conhecido também como Filopator, encetou uma campanha militar de grande envergadura contra Antíoco, o Grande, com o objetivo de reconquistar a Palestina.
 
Depois de derrotar os sírios e entrar triunfalmente em Jerusalém, começou a urdir perigoso e sacrílego plano: entrar no Santo Templo. Descobrindo-lhe o intento, os judeus puseram-se à porta da Casa do Senhor e, com incontido fervor, começaram a gritar e a protestar contra essa ignominiosa intenção.
 
Severamente pressionado, Filopator contém-se e não entra no santuário-maior do povo israelita. Todavia, a partir daquele momento, devota-lhe incontrolável ódio. De volta ao Egito, começa a perseguir os judeus e, conseqüentemente, a perder o importante respaldo político da comunidade israelita plantada em solo egípcio.
 
Dessa época em diante, o reino ptolomaico começa a perder a sua importância. O cenário político do Oriente Médio, doravante, seria dominado pela Síria.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 - Os Selêucidas
 
A Síria experimentou grande progresso sob o reinado dos selêucidas. Com o seu poderoso exército, fez aguerrida oposição às intenções hegemônicas dos ptolomeus. No período inter-testamental, influiu, grandemente, na política do Oriente Médio. E, por causa

de suas intenções de helenizar a região, principalmente a Judéia, tornou-se grande opositora da nação de Israel.
 
O império selêucida recebe o nome de seu primeiro soberano. Após a morte de Alexandre Magno, o audaz e ambicioso Seleuco estabelece poderoso reino na Síria. Os três primeiros monarcas selêucidas mantiveram trato amigável com os judeus. Antíoco III, por exemplo, não obstante suas intenções de anexar a Palestina, é aclamado como libertador pelos filhos de Israel. Seus ímpetos expansionistas são refreados, todavia, por Roma.
 
Antíoco III é substituído pelo seu filho, Antíoco Epífanes. Movido por incontrolável ódio, perseguiu violentamente os judeus. - Qual o motivo de sua inexplicável ira? -Segundo Flávio Josefo, ele foi levado a agir de forma tão insana ao ver frustrado o seu plano de helenizar a Judéia.
 
Encarnando o próprio Diabo, esse contumaz e demente soberano entrou em Jerusalém e profanou o santo Templo. No lugar santíssimo, sacrificou uma porca. Os judeus, entretanto, não se conformam. Sob a liderança dos Macabeus, rebelaram-se e humilharam o agressor. A revolta macabéia é uma das mais belas páginas da nação judaica.
 
V - FIM DO IMPÉRIO GREGO
 
Esfacelado e arruinado por disputas intestinas, chegou ao fim o glorioso Império Grego. Em seu lugar, levanta-se o terrível e assombroso animal, visto por Daniel séculos antes. O Império Romano, de acordo com a visão do santo profeta, seria diferente de todos os outros - conquistaria, esmagaria. Qual desamparada virgem, a nação de Israel sentiria, também, quão férreas e afiadas são as garras de Roma.
 
 
 
 
 
 
 
O Império Romano
 
 
Sumário: Introdução. I - História do Império Romano. II - Geografia do Império Romano. III - O legado do Império Romano. IV - O Império Romano e os judeus. V - O Império Romano e os cristãos. VI - Fim do Império Romano.
 
INTRODUÇÃO
 
Simbolizado pelo ferro, o Império Romano conquistou e subjugou muitos povos. Do Ocidente ao Oriente, o peso de seus punhos era conhecido e proverbial. Jamais houvera reino tão poderoso! A simples menção de seu nome era mais do que suficiente para amedrontar povos, derrubar reis e dilatar fronteiras.
 
Eis como Daniel viu esse férreo império: "Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível,, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres" (Dn 7.7).
 
As histórias de Roma e Israel estreitam-se em Jerusalém e na Eternidade. Em Jerusalém, porque foram os romanos que destruíram a amada e idolatrada capital do ju-daísmo. Na eternidade, porque foram os romanos, também, quem assinaram a sentença de morte de Cristo, o Filho do Deus Vivo!

O Império Romano, portanto, será tratado com severidade no Dia do Senhor!
 
I - HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO
 
Enquanto Alexandre Magno conquistava o Oriente e esmagava o até então invencível poderio persa, um outro império começava a despertar e a incomodar o mundo. Fundada por Rômulo e Remo, provavelmente, e de início humilde e até desprezível, Roma vai ampliando com vagar seus raios de influência. No Século III a.C, já é senhora de toda a península itálica.
 
Roma, habitada por indo-europeus, que, em levas sucessivas, fixaram-se em seu território miscigenando-se aos etruscos, gregos e gauleses, ela não pára de expandir-se. Durante a Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), os romanos venceram os cartagineses e apossaram-se das ilhas sicilianas. Sentindo-se fortalecidos, eles anexam a Córsega e a Sardenha e derrotam os gauleses no Vale do Pó.
 
Nas duas últimas guerras púnicas, Roma derrota o brilhante general cartaginês, Aníbal, e põe término a grandeza incômoda de Cartago. Netta Kemp de Money explica as conseqüências desses primeiros sucessos romanos: "Estas guerras lançaram as sementes da conquista da bacia oriental, posto que Filipe V da Macedônia havia ajudado a Aníbal; e Antíoco, o Grande, da Síria, lhe havia concedido asilo depois de sua derrota. Filipe foi vencido e os esforços de seu filho Perseu, para vingar a derrota, fracassaram. Diante desta demonstração de poder de Roma, quase todos os príncipes do Oriente optaram por reconhecer sua supremacia e aliar-se com a potência superior. Antíoco, o Grande, havia sonhado com a conquista da Grécia, porém, foi vencido pelos romanos na batalha de Magnésia, e a seu neto, Antíoco Epífanes, que se havia proposto agregar o Egito e seus domínios, bastou uma repressão de Roma para que desistisse. Houve uma ou outra escaramuça depois dos meados do século segundo antes de Cristo, porém, desde aquela época, todo o mundo teve de reconhecer a supremacia da república romana."
 
II - GEOGRAFIA DO IMPÉRIO ROMANO
 
É    difícil traçar os limites do Império Romano. Dilatadíssimo, mantinha incontáveis províncias na Europa, Ásia e África. Foi o mais poderoso reino da Terra. Sua presença era sentida em todas as partes do Globo.
 
Nos tempos de sua maior extensão, informa John Davis, o Império Romano media 3.000 milhas de este a oeste, e 2.000 de norte a sul, com uma população de 120.000.000.
 
III - O LEGADO DO IMPÉRIO ROMANO
 
Os gregos legaram-nos a base da sociedade ocidental. Os romanos, sua estrutura. Pragmáticos e administradores por excelência, deixaram-nos colossal monumento jurídico esculpido em sua experiência privada e pública.
 
Souto Maior, em sua História Universal, diz-nos como os romanos fizeram suas leis: "O direito romano foi um dos legados mais importantes deixados por Roma às civilizações que lhe sucederam. O antigo direito consuetudinário, isto é, baseado no uso e nos costumes, passou a ser direito escrito com a Lei das 12 Tábuas, que é considerada a mais antiga lei romana.
 
"O sistema jurídico dos romanos resultou não somente da necessidade de governar os diferentes povos dos países conquistados mas, também, da natural substituição de antigos costumes por certos princípios gerais que se foram condensando através dos editos dos pretores.
"Os pretores eram magistrados encarregados da administração da justiça. No começo

de sua gestão, o pretor comumente promulgava um edito, estabelecendo os princípios que iriam orientar os seus julgamentos: embora geralmente os pretores apenas repetissem o que já estava estabelecido por seus predecessores, de vez em quando surgiam novas regras, modificando a estrutura jurídica precedente.
 
"Antes do III século a.C. existia apenas o 'praetor urbanus', isto é, o juiz da cidade. Depois, estabeleceu-se o cargo de 'praetor peregrinus' que deveria julgar os casos entre cidadãos romanos e estrangeiros.
 
"Aplicando e interpretando a lei, os pretores criaram duas espécies de direito: o que se aplicava aos cidadãos romanos, chamado 'jus civile', e o que dizia respeito a todos os povos de maneira geral, denominado 'jus gentium'. Era o 'jus gentium' que autorizava a existência da escravidão e da propriedade privada, sendo, portanto, um complemento do 'jus civile.'
 
"No século II a.C, foi elaborado, por Sálvio Juliano, sob o governo de Adriano, o Edito Perpétuo, que codificava os editos dos pretores e também os dos imperadores.
 
"Admitiram também os romanos a existência de um 'jus naturale', que não era propriamente um conjunto de leis e sim a idéia de que, acima do Estado e das instituições, existe um princípio de justiça válido universalmente, ou, como afirmou Cícero, 'uma razão justa, consoante à natureza, comum a todos os homens, constante, eterna'.
 
"O 'jus civile' romano estabeleceu uma perfeita distinção entre pessoa e pessoas ao mesmo tempo. Os escravos não eram considerados pessoas e, assim, destituídos de quaisquer direitos."
 
Eis mais alguns importantes legados romanos: tirocí-nio administrativo; engenharia diversificada e prática; política exterior fundada no pragmatismo; disciplina e agilidade nas forças armadas, e, urbanização eficaz.
 
IV - O IMPÉRIO ROMANO E OS JUDEUS
 
Ao tomar Jerusalém, em 63 a.C, o general romano Pompeu depara-se com a nação judaica bastante enfraquecida, em conseqüência de renhidas disputas internas. Depois de um começo brilhante e glorioso, a família macabéia passa a fazer escusas manobras para manter-se no poder. Conhecida, também, como dinastia hasmoneana, acabou por cair nas garras de uma ambiciosa e pertinaz família iduméia, de onde viria um monstro voraz e impiedoso -Herodes, o Grande.
 
Pompeu estava no Oriente Médio para conter o ex-pancionismo de Mitrídates, rei do
Ponto. Sonhando construir ura grande império, esse monarca intentava conquistar a Ásia
 
Menor e a Palestina e, assim, minar a posição romana nessa tão estratégica área.
 
Preocupada, Roma envia à região um bravo e nobre general.
 
Grande estrategista, Pompeu vence o rei Mitrídates, que se refugia na Armênia. Mesmo vencido, o ambicioso soberano reorganiza-se e tenta tomar a Síria. O general ro-mano, entretanto, intervém uma vez mais e o derrota definitivamente.
 
O governo de Roma, satisfeito com o desempenho de seu brilhante militar, designa-o governador das províncias da Ásia. Foi nessa qualidade, que Pompeu recebeu Aristó-bulo e Alexandre. Disputando ferrenhamente o trono da Judéia, ambos submetem-se à sua arbitragem. O povo, contudo, não deseja ser governado por nenhum dos dois.
Que decisão tomar?
 
Prático, o general romano desejava colocar sobre os judeus um rei títere. Entre os contendores, opta pelo mais manobrável e influenciável. A escolha recai sobre Hircano, cujo caráter era débil. A decisão de Pompeu desagrada, profundamente, a Aristóbulo, que começa a arquitetar planos de vingança e revolta.

Hircano, respaldado por Roma, assume o poder e introduz, em Jerusalém, o exército romano. Revoltado, Aristóbulo encerra-se no Santo Templo com 12 mil partidários. Pompeu, ao examinar detidamente a questão, decide tomar o santuário.
 
A luta é grande. O espetáculo, dantesco. Aristóbulo consegue fugir. Seus homens, contudo, são aniquilados. Sentindo-se senhor da situação, Pompeu penetra no lugar mais sagrado do Templo - o santíssimo. Esperava, quem sabe, deparar-se com segredos etéreos e mistérios celestiais. Contempla, no entanto, um singelo altar, cuja glória residia no nome do Santo de Israel. Dessa maneira, deixa a Casa do Senhor.
 
Depois dessa intervenção, a Judéia torna-se província romana.-Nessa qualidade, fica sujeita aos mais absurdos caprichos dos poderosos senhores de Roma. Durante o primeiro triunvirato, Crasso, para mostrar seus méritos militares, declara guerra aos partos. Mas, como financiar tão arrojada campanha? Lembra-se dos lendários tesouros do Templo e o saqueia. Com dez mil talentos de ouro, tenta conseguir seu intento. Embora impetuoso e feroz, não é bem sucedido: perde a guerra, o dinheiro e a vida.
 
De manobra em manobra, Herodes, o Grande, consegue dos romanos o governo e o trono da Judéia. Sua carreira política teve início, quando ele tinha 15 anos. Desde cedo mostrou-se cruel e sanguinário. Não tolerava quaisquer arranhões em sua autoridade. Sedento de poder, prendia, desterrava e matava.
 
Tão maquiavélico era Herodes que, fácil e rapidamente, ganhou a confiança dos mandatários romanos. Nas situações mais adversas, mostrava quão habilidoso político era. Ele não suportava a menor ameaça ao seu trono. Não hesitou, por exemplo, em assassinar seus filhos Aristóbulo e Alexandre. Carcomido de ciúmes, executou também sua belíssima esposa Mariana, descendente dos macabeus.
 
Em 37 a.C, finalmente, o monstruoso Herodes liquidou a brava e heróica dinastia hasmoneana. Enfim, o trono da Judéia era todo seu! Um de seus últimos desatinos foi a matança dos inocentes de Belém. Sua real intenção era destruir a vida do infante Jesus. Depois de todas essas sandices, o perverso idumeu desapareceu entre atrozes dores e com suas entranhas consumidas por vermes. Uma de suas grandes obras foi a ampliação e embelezamento do Templo. Mesmo assim, os judeus não se esqueceram de seus bárbaros e selvagens crimes.
 
Das personalidades romanas enviadas à Judéia, destacaremos, a seguir, apenas duas. Uma, responsável pela morte de Jesus, e a outra, pela destruição de Jerusalém. Referimo-nos a Pôncio Pilatos e ao general Tito.
 
1 - Pilatos
 
Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia no ano 26 d.C. Nomeado por Tibério, sua administração foi tumultuada e cheia de agitações. O historiador e filósofo hebreu, Filo, escreve sobre o quinto governador romano da terra de Judá, taxando-o de rígido, teimosamente severo, de disposição pronta a despeitar os outros; era excessivamente iracundo. O mesmo cronista fala, ainda, dos subornos, atos de orguho e violência, ultrajes, brutalidades e assassinatos cometidos por essa autoridade romana.
 
Pertencente à ordem eqüestre ou à classe média superior romana, Pilatos dispunha de amplos poderes na Judéia. Tendo à sua disposição formidável aparato militar, tinha autoridade para prender, executar e suspender qualquer pena capital. Sob a sua custódia, ficavam as vestes sacerdotais. Ele só as entregava ao sumo sacerdote, por ocasião dos festivais judaicos.
 
Inescrupuloso, provocou a ira dos judeus, certa ocasião, ao trazer a Jerusalém, pendões com a figura do imperador romano. Os israelitas, não suportando tamanha idolatria,

começaram a gritar e a protestar, até que as imagens foram retiradas. Mostrando-se lerdo para aprender os costumes judaicos, de outra feita, confiscou dinheiro do templo para construir um aqueduto em Jerusalém. Os protestos gerados por esse arbítrio foram também violentos, contribuindo para desequilibrar sua administração.
 
Sua perversidade, contudo, escondia um caráter fraco e uma vontade débil. Ele estava mais interessado em agradar ao imperador, do que a lutar por princípios justos e ideais verdadeiros. Haja vista, por exemplo, quão ambíguo foi seu comportamento quando do julgamento de Jesus Cristo. Procurando adular seu soberano e os líderes judaicos, consentiu, judicialmente, a morte do Salvador da humanidade.
 
Depois de muitas desventuras, Pilatos foi forçado a suicidar-se pelo imperador Gaio. No inferno, segundo uma lenda, está a lavar suas mãos continuamente, mas, não consegue livrar-se das manchas carmesins do sangue do Cordeiro de Deus.
 
2 - Tito
 
Ao rejeitar o seu Cristo, os judeus disseram: "Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos!" (Mt 27.25.) Essas duras e irresponsáveis palavras foram pronunciadas ante Pôncio Pilatos que pretendia indultar alguém por ocasião da Páscoa. Ao pedir que escolhessem entre Jesus e
 
Barrabás. eles não titubearam. Com os seus corações cheios de ódio, optaram por um salteador e entregaram o bondoso -Jesus à morte.
 
Com essa insana escolha, os filhos de Abraão começavam a escrever um dos mais tristes e funestos capítulos de sua atribulada história. O sangue do Nazareno começaria a cair-lhes sobre a cabeça a partir do ano 70 d.C, com a destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos.
 
Nessa época, o Cristianismo já havia alcançado os mais longínquos rincões do Império Romano. A religião do Nazareno, inclusive, já havia conquistado considerável terreno na luxuriante e orgulhosa Roma.
 
Na Judéia, enquanto isso, os israelitas foram obrigados a suportar toda a sorte de arbitrariedade das autoridades romanas. O governador Gesius Florus, por exemplo, assumiu o poder com o espírito eivado de preconceitos contra os judeus. O carrasco, como era conhecido, quebrantou as leis mosaicas e desrespeitou, acintosa e publicamente, as mais caras tradições do povo de Israel. Para esse procurador, os hebreus não passavam de um bando de fanáticos e desequilibrados.
 
Em Cesaréia, os gregos, vendo a forma como Florus tratava os judeus, começou a persegui-los com redobrado fervor. A vida da comunidade judaica, nessa cidade, trans-formou-se num inferno. Os israelitas nem mesmo podiam adorar a Deus. Em frente às sinagogas, os helenos promoviam grandes tumultos, impedindo a realização dos ofícios religiosos.
 
Uma delegação judaica foi enviada a Gesius Florus para pedir-lhe proteção. O governador romano, no entanto, ordenou a matança dos representantes judeus.
 
A notícia da aflição dos israelitas de Cesaréia chegou a Jerusalém e causou profunda comoção. Os zelotes entraram em ação e iniciaram uma guerra de guerrilhas contra as forças romanas. Deteriorou-se a situação quando Florus exigiu 17 talentos de ouro que se encontravam no Templo.
 
A partir daí, alastrou-se o conflito romano-judaico.
 
O governador da Síria, Céstius Gallus, viajou a Jerusalém para investigar as causas do levante. Sua presença, no entanto, provocou profundo mal-estar, por incorporar a 80 imagem da opressora Roma. Embora estivesse acolitado por poderoso exército, foi ele

obrigado a deixar a cidade. Após sofrer vergonhosa e fragorosa derrota, refugiou-se no território sírio.
 
Os nacionalistas judeus, entusiasmados com essa vitória, preparam-se para novos combates. Inicialmente, apenas os pobres compunham os quadros da resistência. Com os primeiros sucessos, porém, os ricos e nobres passaram, com o mesmo ímpeto, a atacar os exércitos romanos. O historiador Flávio Josefo, de origem aristocrática, encontrava-se entre os combatentes judeus.
 
Nero foi notificado do levante na Judéia, quando se encontrava na Grécia assistindo aos jogos olímpicos e participando de alegres festas. Para sufocar a rebelião, enviou à Palestina um de seus mais competentes militares. Estrategista de primeira grandeza, o general Vespasiano começa a tomar cidade após cidade dos revoltosos. Quando preparava-se para sitiar Jerusalém, foi chamado às pressas à capital do império. Com a morte do desvairado Nero, foi ele aclamado imperador.
 
A tarefa de sitiar e tomar a Cidade Santa é entregue, então, ao filho de Vespasiano.
 
Com a mesma determinação do pai, o general Tito lança-se sobre Jerusalém, no ano 70 d.C.
 
O historiador israelita, Simon Dubnow, narra-nos, com vivas cores, como a mais amada das cidades judaicas foi destruída:
 
"...a fome se alastrava cada vez mais por Jerusalém; os cereais armazenados já se haviam esgotado há muito tempo; os ricos entregavam suas propriedades e os pobres seus últimos pertences em troca de um pedaço de pão. Histórias terríveis se gravaram na memória do povo a respeito dos acontecimentos daqueles dias. Martha, a abastada viúva do sumo sacerdote Jesus Ben Gamaliel, em cuja passagem, quando se dirigia ao Templo, se estendiam, outrora, preciosos tapetes, se via agora na contingência de aliviar sua fome com restos recolhidos nas ruas; outra mulher rica, levada pela fome, degolou o próprio filhinho para comê-lo. As ruas estavam repletas de cadáveres e de gente desfalecida, e não havia tempo para enterrar os mortos. Os cadáveres espalhados por toda a parte empestavam o ar. A fome, a epidemia e as setas do inimigo provocaram a ruína nas fileiras dos defensores; mas os que ainda resistiam não perdiam as esperanças. Este heroísmo e pertinácia do povo assombrou até os heróicos romanos. Finalmente, eles dirigiram suas máquinas de assédio contra as fortificações do Templo. Quando os romanos tomaram a Torre Antônia, descobriram repentinamente espessas muralhas que circundavam o Templo, e, como fosse impossível derrubá-las, Tito ordenou que se incendiassem os portões exteriores, dos quais partia uma série de colunas que chegavam até o próprio Templo; os guerreiros judeus lutaram como leões, e cada passo para o Templo custava ao inimigo rios de sangue.
 
"De repente, um soldado romano agarrou um lenho ardente e lançou-o ao interior do Templo, através de uma janela. As portas de madeira das salas do Templo se inflamaram e logo todo o Templo se achava envolto em chamas. Tito, que se dirigiu imediatamente para o lugar atingido, proferiu aos soldados, em altas vozes, a ordem de sufocar o incêndio e salvar o esplêndido edifício. Mas devido ao estrépido ensurdecedor das construções que caíam, aos gritos desesperados dos sitiados e ao ruído das armas, tornou-se impossível perceber a voz do chefe. Os enfurecidos romanos lançaram-se sobre as câmaras não afetadas ainda pelo fogo, com o fim de roubar os tesouros ali acumulados, mas somente puderam penetrar pisando os cadáveres dos guerreiros judeus, que lhes opunham uma grande resistência no meio das labaredas. Então, os vencedores deram livre expansão à sua cólera. Velhos, mulheres e crianças foram assassinados sem compaixão; muitos hebreus encontraram a morte nas chamas, às quais se precipitaram valentemente. O Templo, orgulho da Judéia, transformou-se em um monte de escombros, sendo destruído na mesma data (nove e dez de Aw) em que fora destroçado antigamente o primeiro templo por Nabucodonosor. Dos

objetos contidos no Templo, só permaneceram intatos o candelabro, a mesa sagrada e um rolo da Tora. Tito ordenou levá-los e conservá-los como lembrança de seu triunfo. "Com a ruína de Jerusalém, desmembrou-se por completo o Estado Judeu. Esta luta tão singular na história, luta entre um Estado minúsculo e o Império mais poderoso do mundo, absorveu uma infinidade de vítimas e cerca de um milhão de judeus pereceu na guerra com os romanos (66-70) e uns cem mil foram feitos prisioneiros. Desses cativos, alguns foram mortos, outros enviados a trabalhos forçados ou vendidos como escravos nos mercados da Ásia e África; mas os mais fortes e belos ficaram para lutar com feras nos circos romanos e acompanhar Tito em sua solene entrada em Roma. Sempre que Tito celebrava o aniversário de seu pai e de seu irmão, organizava jogos militares e lutas de gladiadores, nos quais se arrojavam muitos judeus às feras do circo, para que os destroçassem, divertindo o público."
 
Para comemorar a sua vitória, o imperador Vespasiano ordenou a cunhagem de moedas especiais que traziam uma mulher acorrentada e a seguinte expressão: "Judéia cativa, Judéia vencida."
 
Poucos anos após a queda de Jerusalém, judeus e romanos voltariam a enfrentar-se. O renhido combate foi travado em Massada. Mostrando mais uma vez sua audácia e coragem, a resistência judaica preferiu autodestruir-se, a entregar-se ao opressor romano. A partir de então, toda a Judéia passou a pertencer aos imperadores romanos, que passaram a doar seus lotes ou vendê-los.
 
V - O IMPÉRIO ROMANO E OS CRISTÃOS
 
O judaísmo era tolerado no Império Romano, por não possuir caráter proselitista. A religião judaica limitava-se aos judeus. Raros eram os prosélitos. Os rabinos não tinham espírito apostólico. Ás autoridades de Roma, por isso mesmo, permitiam o funcionamento de sinagogas e escolas hebraicas. A situação, contudo, foi substancialmente alterada com a guerra na Judéia em 70 d.C.
 
Em conseqüência de seu espírito missionário, o Cristianismo, desde o seu nascedouro, foi duramente perseguido. As autoridades romanas viam-no como uma perigosíssima ameaça. E, de fato, a religião do Nazareno visava e visa a conquista espiritual do mundo. Antes de sua ascensão, ordenara Jesus aos seus apóstolos: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28.18-20).
 
E, nos momentos que antecederam sua subida aos céus, o Ressuscitado fez esta recomendação aos seus apóstolos: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra" (At 1.8). A partir desse momento, desse glorioso e memorável momento, tem início uma luta mortal entre o Reino de Deus (a Igreja) e o principado das trevas (o Império Romano).
 
Os imperadores movem cruentas e impiedosas perseguições contra os cristãos. Nada, porém, consegue barrar o magistral progresso da Igreja. O número de servos de Deus aumenta dia após dia. Esse avanço, contudo, custa um alto preço: o sangue dos santos.
 
Hegesipo, escritor do Século II, narra-nos como o perverso e anormal Nero tratou os cristãos, acusados, por ele, de terem incendiado Roma: "Alguns foram vestidos com peles de animais ferozes, e perseguidos pelos cães até serem mortos, outros foram crucificados; outros envolvidos em panos alcatroados, e depois incendiados ao pôr-do-sol, para que pudessem servir de luzes para iluminar a cidade durante a noite. Nero cedia os seus próprios

jardins para essas execuções e apresentava, ao mesmo tempo, alguns jogos de circo, presenciando toda a cena vestido de carreiro, indo umas vezes a pé no meio da multidão, outras vendo o espetáculo do seu carro".
 
Sob o governo de Nero, que mandou incendiar a capital de seu império e, covardemente, culpou os cristãos, pereceram, ainda, os apóstolos Pedro e Paulo. Os seguidores de Cristo foram perseguidos pelo Império Romano por quase 300 anos. A situação só se amainou com a ascensão de Constantino, o (Irande. Não falaremos mais detalhadamente acerca dos sofrimentos desses heróicos homens, mulheres e crianças, por absoluta falta de espaço. O sangue desses santos, entretanto, continua a clamar no tempo e clamará na eternidade.
 
VI - O FIM DO IMPÉRIO ROMANO
 
Depois de séculos de sanguinolência e devassidão, permissividade e térrea tirania, chega ao fim o "inexpugnável" Império Romano. A imoralidade e a inebriante luxaria tiraram do povo romano sua fibra e coragem. Enquanto isso, os inimigos de Roma fortaleciam-se e preparavam-se para deitá-la por terra.
 
Em 476 d.C, os bárbaros invadiram Roma. Desapareceu, assim, o mais extenso e poderoso reino humano! No entanto, segundo profetizou Daniel, esse império ressurgirá com grande poder. Sua duração, porém, será curta. 0 Rei dos reis e Senhor dos senhores encarregar-se-á de destruí-lo.

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