O que é a teologia da
prosperidade?É um conceito religioso, no cenário evangélico mundial, que
defende a ideia de que Deus tem intenções definidas, para fazer com que as
pessoas fiquem ricas, em suas várias facetas materiais, físicas e emocionais.
No geral, pensa-se que Deus tem um compromisso, e assim uma obrigação consigo
mesmo, e com os Seus filhos, ou por quem fez algo para Deus, em sentido
material – uma oferta, dízimo, um sacrifício, uma campanha, etc – e esse
compromisso é de recompensa imediata.
As vertentes dessa
teologia ainda caminham em uma postura de “tomar posse da benção”, em um
suposto exercício da fé, para se apoderarem daquilo, que segundo creem, “já nos
foi dado”. Essa também é chamada de “confissão positiva”. Kenneth E. Hagin
escreveu um livreto chamado “Pensamento Certo ou Errado”, que nada mais é que
uma postura psicológica, com linguagem bíblica, que se assemelha bem ao
positivismo que o mundo defende quando falam em “dar sorte”. Não muito tempo
atrás, percebemos que um grande sucesso literário mundial foi O Segredo, onde
essa força positivista é levada às suas perspectivas de posse.
Morris Cerullo,
expoente da teologia da prosperidade, escreve:
“Cristo já conquistou
a vitória e dividiu os “despojos” conosco. A escravidão da doença foi anulada!
A escravidão das dívidas foi anulada! A escravidão da pobreza foi anulada. Para
tomar os “despojos” do Inimigo – os recursos financeiros que roubou de nós -,
precisamos receber uma revelação nova sobre a batalha que Cristo venceu, na
qual destruiu as obras do Diabo.”1
Quais as bases
bíblicas apresentadas pelos promotores dessa escola teológica?(1) as promessas
de Deus aos patriarcas, (2) as promessas de bênçãos ao povo de Israel, (3)
passagens bíblicas a respeito de dízimos e ofertas, e (4)algumas porções do
Novo Testamento, são apresentadas como indicativos de que Deus promete e tem
que fazer seus servos prosperarem materialmente. Faremos uma avaliação dessas
supostas bases bíblicas, examinando tais porções das Escrituras dentro do seu
contexto imediato e no progresso da revelação bíblica.
Onde nasceu a
teologia da prosperidade? Segundo alguns
“Foi durante os
avivamentos de cura (healing revivals) dos anos 1950 que a teologia da
prosperidade ganhou proeminência nos Estados Unidos, apesar de especialistas
terem ligado suas origens ao Movimento Novo Pensamento. Os ensinamentos da
teologia da prosperidade mais tarde ganharam proeminência no Movimento Palavra
de Fé e no televangelismo dos anos 1980. Nos anos 1990 e 2000, foi adotada por
líderes influentes do Movimento Carismático e promovida por missionários
cristãos em todo o mundo, levando à construção de megaigrejas. Líderes
proeminentes no desenvolvimento da teologia da prosperidade incluem E. W.
Kenyon, Oral Roberts, T. L. Osborn e Kenneth Hagin.”2
Outros como Benny
Hinn, Morris Cerulo e Mike Murdock também são os proponentes referenciais.
Quais igrejas são as
principais promotoras dessa teologia aqui no Brasil?Sabemos que as igrejas
neopentecostais2, como a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja
Internacional da Graça, Igreja Mundial do Poder de Deus, são as mais
conhecidas. Porém, em várias regiões do Brasil, apesar de não serem
expressivas, muitos ensinam tão veementemente essa doutrina, que podemos ver em
qualquer lugar igrejas seguindo essa teoria.
A teologia da prosperidade é vista apenas em
igrejas neopentecostais? Não, infelizmente não. Hoje, não é mais novidade dizer
que essa teologia está penetrando em igrejas tradicionais, pentecostais e
comunidades evangélicas independentes, e vestígios claros dessa teologia, são
também percebidos especialmente em movimentos evangélicos, cantores gospels,
pregadores de renomes, enfim. Não existe mais uma barreira que impeça o avanço
desta influência. E até mesmo pastores fieis, sem perceberem, acabam fazendo a
vez dessa teologia quando fazem uma má interpretação do texto de Malaquias
3.10.
Por que essa teoria é tão facilmente
aceita?Ela está ligada aos interesses materialistas do ser humano, e onde
houver pessoas, que sofrem pressão da mídia, e de suas necessidades, assim
entram nas igrejas que estimulam isso. Nossos desejos e necessidadesserão
sempre uma locomotiva psicológica para nos levar a aceitar essa oferta
teológica. Ainda mais, se ela for recebida como vindo de Deus, por meio de
nossos esforços, ‘ou melhor ainda’, como recompensa de nosso labor sacrificial.
Além do mais, é isso que queremos sempre – estar financeiramente melhores, pois
vemos nisso segurança.
Quais são os recursos mais usados pelos
pregadores da teologia da prosperidade e confissão positiva?Em primeiro lugar
percebemos, ao acompanhar programas de TV, que carnês (boletos bancários para
dar as ofertas estipuladas) são usados em muitas igrejas da prosperidade, e são
exibidos como que um troféu, ou uma garantia da benção divina. Geralmente a
multiplicação do que é doada, é exorbitante. Outro meio muito comum são os
objetos ungidos, uma versão neopentecostal da prática católica de benzer. Tais
objetos assim ‘ungidos’, são vistos como um detentor simbólico, visível, de um
poder específico para deixar a pessoa rica, ou livre de doenças, problemas e
demônios. E a criatividade vai desde uma rosa ungida, uma palmilha, tijolinhos,
fronhas, toalhinhas e até balas para crianças desobedientes.
O que a Bíblia diz
sobre a teologia da Prosperidade?
Veremos agora em três
partes assuntos pertinentes ao ensino da Bíblia:
Como os promotores da
prosperidade usam a Escritura?
O que a bíblia diz
nesses textos à luz de todo contexto bíblico?
O que a bíblia diz da
prosperidade, pobreza, saúde e doença?
O uso da Escritura
por parte dos pregadores da prosperidade:
As bênçãos
prometidas, e adquiridas, aos patriarcas, são nossas também?
Antes de responder,
uma breve perspectiva da história bíblica a respeito deles se faz necessária:
No livro bíblico de Gênesis, a história de Abraão, Isaque e Jacó, são exemplos
de como Deus pode fazer que pessoas que não tem nada, em peregrinações, em
grandes homens de negócio. Especialmente do capítulo 12 em diante do livro,
percebemos como receberam posses materiais, e vitórias sobre grandes problemas,
dos mais variados possíveis. Deus prometeu aos patriarcas, e aos seus
descendentes, bênçãos materiais que seriam adquiridas, em especial, na terra de
Canaã, onde manava leite e mel. Como era de interesse nacional, as guerras literais
eram um dos mecanismos usados para se apoderarem dessas bênçãos no período
especialmente posterior. A execução dos inimigos nacionais de Israel fazia
parte desse avanço de domínio material e territorial, prometido por Deus.
Com esse pano de
fundo histórico, retornemos à pergunta: As bênçãos prometidas, e adquiridas,
pelos patriarcas, são nossas também?Nossa resposta inicia-se com as seguintes
elucidações –
Como cristãos na
dispensação da Nova Aliança, não recebemos de Deus promessa para adquirir algum
território, terreno, especifico. Nem estamos em território estrangeiro, rumo à
outra terra física:
“Mas agora desejam
uma melhor, isto é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles,
de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade.” (Hb 11.16 [grifo
acrescentado]).
“Mas chegastes ao
monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos
milhares de anjos;” (Hb 12.22).
Perceba que o
argumento do autor dessa carta bíblica, no capítulo 11º, mostra a história de
todo povo de Deus que viveu pela fé no VT e alcançaram alguns feitos, porém,
não era a promessa final e essencial que estava por detrás de todas as coisas
que avistavam. Ele demonstra que a fé foi o instrumento que Deus usou para eles
adquirirem algumas amostras do que de fato era o alvo – a pátria, os bens,
celestiais! E ainda aponta que eles, como quem não havia alcançado. E no
primeiro texto a advertência foi que isso não mais deveria ser esperado! Ideia
repetida aqui:
“Mas a nossa cidade
está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo,” (Fl
3.20).
Não estamos
adquirindo essas bênçãos por meio de batalhas/guerras literais, em nossas
conquistas em nível de riquezas materiais:
“Porque, andando na
carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são
carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo
os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo;” (2 Coríntios
10:3-5).
“Mas eu vos digo que
muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e
Isaque, e Jacó, no reino dos céus; E os filhos do reino serão lançados nas
trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” (Mateus 8:11,12).
A as bênçãos da nação
de Israel, no período bíblico, são as mesmas da Igreja? Em Deuteronômio
capítulos 27, 28, 29 temos um compêndio de bênçãos e maldições físicas ao povo
de Deus na antiga aliança. Houve uma promessa divina de que os descendentesde
Abraão possuiriam a Terra da Promessa, mas para que tais bênçãos fossem
efetivadas no decorrer da história, na vida de cada geração subsequente, foram
apresentados os termos da aliança feita no Sinai. Eles receberam tais promessas
materiais, ao mesmo tempo que foram abundantemente abençoados com a Teocracia,
onde Deus governava por meio da Lei ‘mosaica’, ao se instalarem na Terra
Prometida, e na subsequente organização da nação em monarquia. Porém, esse povo
quebrou os termos da aliança, várias vezes, e foram amaldiçoados
consequentemente, deixaram de ser Israel de 12 tribos, foram deportados para
Babilônia, o Templo destruído, a arca da aliança desapareceu, e com o tempo,
até o ponto de não mais serem um Reino independente, no período de Jesus – e
para piorar, ainda rejeitaram a Jesus como o Messias (Jo 1.11).
As bênçãos que
recebemos agora em vida não são as mesmas. Elas são em um mesmo nível, mas em
uma maior intensidade, na vida espiritual, com uma percepção e profundidade que
o servos fieis de Deus não recebiam no período do Velho Testamento:
“Bendito o Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nos lugares celestiais em Cristo;” (Ef 1.3).
Que bênçãos são
essas?
– O Batismo com o
Espírito Santo: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido
do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e
ouvis.”(At 2.33).
– O testemunho do
perdão imediato por confessar: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” (I Jo
1.9)
– A consciência
intima da bendita reconciliação com Deus: “Porque se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida.”(Rm 5.10).
– A superlativa,
soberana e santa justificação:“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos
paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada
pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da
glória de Deus.”(Rm 5.1,2).
– A desejável adoção:
“O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Rm
8.16).
– A árdua e
necessária santificação: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor.”(Hb 12.14).
– A inegociável
presença e habitação de Deus produzindo Seu fruto em nós: “Mas o fruto do
Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,
temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram
a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos
também em Espírito.”(Gl 5.22-25).
– E promessa imutável
da glorificação: “Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o
seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as
coisas.” (Rm 8.30).
Prezado leitor, SE
tais bênçãos e promessas não encher o nosso coração de alegria, mui
provavelmente, precisamos de conversão genuína!
“Ora, o homem natural
não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não
pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é
espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.”(1 Coríntios
2:14,15).
Notas
Bíblia de Estudo –
Batalha Espiritual e Vitória Financeira(2000) – Editora Central Gospel, p.
1301.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_da_prosperidade
Esse termo “novos
pentecostais” – neopentecostais é usado pelas igrejas tradicionais protestantes
para fazer uma distinção entre as igrejas da confissão positiva e os antigos
pentecostais que surgiram entre os anos de 1910 e 1914. Na chamada primeira
onda.
Luciano Sena do Blog
http://mcapologetico.blogspot.com/
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