Ebionismo (do hebraico אביונים, Evyonim, "pobres") é uma das
ramificações do cristianismo primitivo,
que pregava que Jesus de Nazaré não
teria vindo abolir a Torá, e que considerava Paulo de Tarso um apóstata.[1] Desta forma, pregavam que tanto judeus como gentios convertidos
deveriam seguir os mandamentos da Torá, o que levou a um choque com outras
ramificações do cristianismo e do judaísmo.
As
informações sobre os ebionitas ficaram registradas nos escritos dos pais da igreja.
Pelas
informações que constam naqueles escritos, vemos que os ebionitas criam que é
necessário obedecer a todos os mandamentos da Lei de Moisés, inclusive ao mandamento de fazer a circuncisão; que os
gentios que se convertem a Deus devem fazer a circuncisão e devem obedecer a todos os
mandamentos da Lei; que Jesus Cristo é o Messias, mas não é Deus; que Ele não nasceu
de uma virgem, mas sim foi gerado por José; que Paulo de Tarso foi um apóstata da Lei
e não foi um verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo; que as Escrituras Sagradas
são somente o Antigo Testamento, e que eles usavam um
único evangelho (chamado de Evangelho dos
Ebionitas), que era considerado como sendo o Evangelho segundo
Mateus, escrito em hebraico, e era menor do que o Evangelho segundo Mateus em
grego e canônico, que é usado pelos cristãos.
Origens
As origens
do ebionismo ainda são obscuras. Acreditava-se como sendo apenas o cristianismo original, ou uma das
ramificações primitivas deste. Em oposição à doutrina paulina, acreditava-se que o
ebionismo deveria ter surgido entre os seguidores de Jesus e Tiago, o
Justo, que
buscavam conciliar a crença messiânica com o
cumprimento das leis da Torá. O choque entre os
dois grupos: judaizantes e
antijudaizantes já é aparente no livro de Atos dos Apóstolos,
onde a discussão entre os dois grupos obriga à convocação da assembleia dos
apóstolos (Atos 15), e em Atos
21:17-26, onde consta que havia na Terra de Israel dezenas de
milhares de judeus que criam em Jesus Cristo e eram zelosos observadores da Lei
(Atos
21:20), e que houve uma situação de confronto entre eles e Paulo,
considerado por eles como apóstata, pois haviam sido informados de que Paulo
pregava a desobediência aos mandamentos da Lei.
Embora os
judeus cristãos mencionados em Atos
15:1 e Atos 21:20 não fossem ainda chamados ebionitas, pois esta denominação somente
começou a ser usada mais tarde, eles eram em essência ebionitas, pois sua
crença e prática era igual à dos ebionitas.
O confronto
entre os judaizantes e os antijudaizantes aparece também em Gálatas
2:11-21, onde consta que Cefas (Pedro), seguindo orientação de
Tiago, obrigava os gentios a se judaizarem, e Paulo não concordava com isso.
O movimento
ebionita enfatizaria a natureza humana de Jesus,
como filho carnal de Maria e José, que se
teria tornado Filho de Deus quando
de seu batismo, e sendo descendente de David,
se tornaria o rei do povo de Israel e seu último grande profeta.
Desprezado
por cristãos e judeus, o ebionismo constituiu uma ramificação separada e organizou sua
própria literatura religiosa.
Literatura
ebionionitas
Ver artigos principais: Evangelho dos
Ebionitas e Evangelho dos Hebreus
Consta nos escritos
dos Pais da Igreja que
os ebionitas usavam somente um Evangelho,
escrito em hebraico, e
era considerado como sendo o "Evangelho de Mateus",
mas era menor do que o Evangelho de Mateus canônico
em grego, chamado
de "Evangelho dos
Hebreus" (Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, 3:27[2], e Epifânio de
Salamina[3].
No entanto,
é necessário distinguir entre o Evangelho dos Hebreus usado pelos ebionitas e o
Evangelho dos Hebreus usado pelos nazarenos, pois, embora ambos fossem
considerados como sendo o Evangelho de Mateus em hebraico, o evangelho
utilizado pelos nazarenos era
uma versão um pouco mais extensa, que continha todos os trechos encontrados no
Evangelho de Mateus em grego utilizado pelos cristãos, com alguns trechos a
mais, enquanto que o usado pelos ebionitas, ao contrário, era mais curto que a
versão canônica (Epifânio, Panarion,
30:13:2).
Segundo o
entendimento ebionita, o Evangelho de Mateus continha a sua doutrina,
principalmente em Mateus 5 (Mateus 5:17-19), onde consta que Jesus Cristo disse que não veio abolir
a Leinem os profetas, mas sim cumprir, e que a Lei
nunca será abolida; e também que devemos obedecer a todos os mandamentos da
Lei. Também em Mateus 7 (Mateus 7:21-23), onde consta que Jesus
Cristo disse que nem todos os que creem nele entrarão no Reino de Deus, mas sim somente aqueles que
fazem a vontade de Deus. Esse entendimento contrastava-se com a hermenêutica
ortodoxa do texto que aceita a ideia de Jesus Cristo ter vindo cumprir no
sentido de "encerrar" ou seja, de todas as normas e regras da lei
mosaica se cumprirem nele, o único em toda a história capaz de conseguir
cumprir todas as regras previstas na Lei mosaica. A partir daí, ele mesmo,
Jesus, viria estabelecer uma nova aliança, ou novo concerto, e isso está
perfeitamente claro e explicado na Carta aos Hebreus, claramente escrita na
época a fim de combater as ideias ebionitas. Já na questão de todos os
mandamentos de Jeová serem obedecidos, o próprio Jesus os aglutinou em apenas
2: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quem assim
fizesse com dedicação e de coração, automaticamente estaria obedecendo a todos
os demais mandamentos de forma natural. Já a crença exposta de Mt 7 21-23 é
ponto passivo, irrelevante para o confronto doutrinário.
As
duas seitas
Na época dos
pais da igreja, segundo relata Orígenes e Eusébio de Cesareia, existiam
dois grupos de ebionitas.[4] Estes dois grupos
diferenciavam-se um do outro devido a determinadas práticas e em função de sua
aparição. A palavra ebionitas significa literalmente
"pobres", do hebraico evion, e conforme já mencionado,
aparece pela primeira vez nos escritos dos pais da igreja. Conforme a
informação encontrada nos escritos destes, este nome designava ao grupo de
judeus que tinha reconhecimento de Jesus (Yeshua ha Netzaret) como a
figura messiânica do judaísmo, e que não acreditavam na divindade de Jesus.
Desta forma, os pais da igreja diziam que estes tinham pensamentos
"pobres" a respeito de Cristo, e possivelmente surgiu desta palavra
hebraica evion ("pobres"), que estes judeus passaram
a serem chamados de ebionitas.
No decorrer
dos tempos parte dos ebionitas criaram a seita dos
"ebionitas-gnósticos", que consistia em aderir ao ebionismo
ensinamentos dos elchasitas, discípulos de Elshai (Elchasai). Os elchasitas,
que possuíam ensinamentos vegetarianos, assim como os essênios, tinham a sua
religião como uma mistura de ensinamentos dos gentios, cristãos e de judeus.[5] O surgimento dos chamados
"ebionitas-gnósticos" era paralelo com a outra seita ebionita que não
aderia a estes ensinamentos. A seita dos ebionitas-gnósticos também poderia ser
chamada de "Ebionitas-Elchasitas" visto ter tido sua aparição sob
influência do já mencionado Elshai (Elchasai).[6]
Ebionismo
moderno
Há
atualmente diversos movimentos religiosos que em maior ou menor grau
compartilham a visão ebionita. Dentre eles, podemos mencionar o movimento
criado por Shemayah
Phillips, que em 1985 fundou o
movimento conhecido como a Ebionite
Jewish Community. Esta comunidade, estritamente monoteísta,
reconhece Jesus como um profeta justo, e defende
uma interpretação judaica do Tanakh e que tal
sirva como meio de união entre judeus e gentios para implantação de uma
sociedade justa.
Citações
Os trechos
dos livros dos Padres da Igreja que
falam sobre os ebionitas são os seguintes:
- 1:26:1-2
- 3:11:7
- 3:21:1
- 4:33:4
- 5:1:33. Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica 3:27
4. Tertuliano, Apêndice, Contra Todas as Heresias, capítulo III
5. Hipólito de Roma, Contra Heresias 7:22
6. Orígenes, Filocalia 1:24
7. Orígenes, Comentário sobre Mateus 11:12
8. Orígenes, Contra Celso:
- 5:61
- 5:69. Jerónimo de Estridão, Carta para Agostinho:
- 4:13
- 4:16
- 30:3:7
- 30:13:1,2
Referências
1.
Ir para
cima↑ "Ebionites"
na edição de 1913 da Enciclopédia
Católica (em inglês). Em domínio público. - "They denied the Divinity and the virginal birth of
Christ; they clung to the observance of the Jewish Law; they regarded St. Paul
as an apostate"
2.
Ir para
cima↑ Eusébio de Cesareia.
«27». História
Eclesiástica. The Heresy
of the Ebionites. (em inglês). III.
[S.l.: s.n.]
Ligações
externas
Geral