O Dilúvio de Gênesis é um plágio da Epopeia de Gilgamesh?
Em 1853, o
arqueólogo Austen Henry Layard e sua equipe escavaram a livraria
palaciana da antiga capital assíria, Nínive. Eles encontraram uma série
de 12 tabletes de um grande épico (Epopeia de Gilgamesh). Os tabletes
datavam de cerca de 650 a.C., mas o poema era mais antigo, sendo antes
transmitido oralmente (tradição oral).
Céticos
acusam a Bíblia de ter plagiado a narrativa sobre o dilúvio da Epopeia
de Gilgamesh (antiga versão suméria do dilúvio). Eles se baseiam no fato
de que a história suméria é mais antiga que o livro de Gênesis (o livro
de Gênesis foi escrito por volta d 1400 a.C.). Todavia, Eles não
dispõem de qualquer argumento bem embasado para validar esta acusação.
Ora, várias pessoas podem escrever sobre um mesmo evento real sem que
isso seja considerado “plágio”.
Comparação de Gênesis e Gilgamesh——————————— | Gênesis | Gilgamesh |
Extensão do Dilúvio | Global | Global |
Causa | Maldade dos homens | Pecados dos homens |
Quem era o Alvo? | Toda a humanidade | Uma cidade e toda a humanidade |
Quem o enviou? | Yahweh | Assembleia dos “deuses” |
Nome do herói | Noé | Utnapishtim |
Caráter do herói | Justo | Justo |
Meios de anunciação | Diretamente de Deus | Em um sonho |
Foi ordenado a construir um barco? | Sim | Sim |
O herói se queixou? | Não | Sim |
Tamanho do barco | Três andares | Sete andares |
Tinha compartimentos internos? | Muitos | Muitos |
Portas | Uma | Uma |
Janelas | Pelo menos uma | Pelo menos uma |
Revestimento externo | Piche | Piche |
Forma do barco | Caixa oblonga | Cubo |
Passageiros humanos | Somente os membros da família | Família e alguns outros |
Outros passageiros | Todos os tipos de animais terrestres | Todos os tipos de animais terrestres |
Meios do Dilúvio | Águas subterrâneas e chuva forte | Chuva forte |
Duração do Dilúvio | Longo (40 dias e noites) | Curto (6 dias e noites) |
Teste para encontrar terra | Envio de pássaros | Envio de pássaros |
Tipos de pássaros | Corvo e três pombas | Pomba, andorinha e corvo |
Lugar de repouso da Arca | Montanhas – de Ararat | Montanhas – de Nisir |
Houve sacrifício após o Dilúvio? | Sim, por Noé | Sim, por Utnapishtim |
O herói foi abençoado após o Dilúvio? | Sim | Sim |
(Adaptado de Lorey, F., The Flood of Noah and the Flood of Gilgamesh, ICR Impact 285, Março 1997.)
A existência
de histórias sobre o dilúvio, algumas bastante paralelas ao relato
bíblico, é impressionante. A Epopeia de Gilgamesh é apenas um entre
quase 300 relatos do dilúvio espalhados pelo mundo (até agora, os
antropologistas já reuniram mais de 270 histórias acerca do dilúvio). Há
relatos do dilúvio em contextos culturais tão diferentes como
mexicanos, algonquinos, havaianos, sumerianos, guatemaltecos, Babilônia,
Pérsia, Síria, Turquia, Grécia, Roma, Rússia, China, Índia, Ilhas Fiji,
os Aborígines na Austrália, algumas civilizações das Américas do Norte,
Centro e Sul, e muitos outros povos. Em 1963, o arqueólogo americano
Howard F. Wos publicou o livro “Gênesis e Arqueologia”, onde ele
descreve com detalhes estes registros. Portanto, não se pode dizer que o
dilúvio foi um mito, enquanto temos o testemunho de tantos povos
dizendo que não foi. Isto seria ignorar as evidências.
Esses
relatos, entretanto, sofreram certa influência das culturas locais, e
por isso o nome de Deus muitas vezes foi substituído pelo nome de uma
divindade local, assim como o nome do próprio Noé. Contudo, a história
central continua sendo a mesma em praticamente todos os relatos.
Henry
Morris, fundador da Creation Research Society (Instituto de Investigação
para a Criação), dedicou grande parte de sua vida a estudar e comparar
esses relatos sobre o dilúvio. Segundo ele, 95% das narrativas dizem que
o dilúvio foi global e não local; 95% dos relatos afirmam que o dilúvio
não foi apenas uma chuva, mas um conjunto de grandes catástrofes; 88%
dos relatos afirmam que houve uma família que se salvou dessa inundação;
70% dizem que essa família se salvou num tipo de embarcação; 66% dizem
que eles foram avisados; 66% afirma que o dilúvio foi enviado devido à
abominação do homem; 67% dos relatos dizem que os animais também foram
salvos; 35% dizem que as aves foram soltas para ver se a superfície
estava seca; 13% dizem que os sobreviventes ofereceram sacrifícios após
saírem da embarcação; e, em cerca de 9%, exatas oito pessoas foram
salvas.
Por causa
dessas similaridades, alguns historiadores têm sugerido que o relato
bíblico não passa de um plágio de documentos mais antigos. Entretanto,
como destaca Rodrigo Pereira da Silva, doutor em Teologia do Novo
Testamento pela Pontifícia Faculdade Católica de Teologia N. S.
Assunção, em São Paulo, e especializado em Arqueologia pela Universidade
Hebraica de Jerusalém, “as diferenças (que são muito mais
significativas que as similaridades) fazem supor não uma cópia de
material, mas antes uma referência múltipla aos mesmos eventos.” (Por
Que Creio, Michelson Borges, CPB, 2003.)
Esses
relatos apontam para um acontecimento real, ocorrido em tempos
remotíssimos. Se o dilúvio realmente teve as proporções que a Bíblia lhe
atribui, era de se esperar que a humanidade jamais o esquecesse. E isso
certamente justifica o fato de a história ter sido passada entre os
povos das nações e culturas que foram surgindo e se espalhando sobre a
terra depois do dilúvio.
Kenneth A. Kitchen, professor emérito de Egiptologia, em sua obra Ancient Orient and Old Testament, diz que:
“A suposição comum de que este relato [bíblico] é simplesmente uma versão simplificada de lendas babilônicas é um sofisma em suas bases metodológicas. No antigo Oriente Próximo, a regra é que relatos e tradições podem surgir (por acréscimo ou embelezamento) na elaboração de lendas, mas não o contrário. No antigo Oriente, as lendas não eram simplificadas para se tornar pseudo-história, como tem sido sugerido para o Gênesis.”
Ou seja, a
Bíblia é uma correção e não um plágio dos mitos antigos. Uma prova disso
é o fato de que a arca de Gilgamesh possuía medidas iguais, ou seja,
ela formaria um cubo perfeito e, assim, com toda certeza naufragaria. Já
a arca de Noé era perfeita para flutuar, sendo longa e retangular.
Neste caso, é evidente que o relato bíblico é mais consistente. Além
disso, a Bíblia é a única que mantém o monoteísmo clássico, enquanto o
épico sumério é politeísta. Os
tabletes de Ebla, datados de cerca de 2580-2450 (Giovanne Pettinato,
Paolo Matthiae, 2400-2250 a.C.), são os mais antigos relatos escritos, e
narram a criação a partir do nada por um Deus único, o que está de
acordo com a narrativa bíblica.
Portanto,
dizer que a bíblia plagiou a Epopeia de Gilgamesh é contradizer as
regras culturais na elaboração de lendas. Na verdade, ambas as histórias
poderiam provir de uma mesma fonte comum: Os filhos de Noé. A origem
dos sumérios é explicada na Bíblia. Após o dilúvio, alguns descendentes
de Noé encontraram um vale na terra de Sinar e resolveram habitar ali
(Gênesis 11:2). Sinar é o nome que o Antigo Testamento dá ao território
da antiga Suméria, que posteriormente viria a se chamar Babilônia ou
Mesopotâmia (atual Iraque).
Além disso,
nosso Senhor Jesus Cristo, falando sobre Sua Segunda Vinda, disse: “Como
foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois
nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo,
casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca;
e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos.
Assim acontecerá na vinda do Filho do homem.” (Mateus 24:37-39; cf.
Lucas 17:26-27). Aqui Jesus se refere a Noé como uma pessoa real, ao
dilúvio como um evento real e à arca também como uma embarcação real.
Seu Apóstolo Pedro também mencionou o dilúvio de Noé, dizendo: “E pela
água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra
os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo,
guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios.” (2 Pedro
3:6-7). Então, se cremos no Senhor Jesus e no santo apostolado de Pedro,
não temos motivo para duvidar da veracidade do relato bíblico acerca do
dilúvio.
Referências:
López, R.E., The antediluvian patriarchs and the Sumerian king list, Journal of Creation 12(3):347-357, 1998.
Heidel, A., The Gilgamesh Epic and Old Testament Parallels, University of Chicago Press, p. 3, 1949.The Epic of Gilgamesh, Tablete XI,<www.ancienttexts.org/library/mesopotamian/gilgamesh/tab11.htm>, 12 Março 2004.
De Monty White.
The flood narrative from the Gilgamesh Epic, <www.piney.com/Gilgamesh.html>, 12 Março 2004.
Grigg, R., Did Moses really write Genesis? Creation 20(4): 43–46, 1998.
Schmidt, W., The Origin and Growth of Religion, Cooper Square, New York, 1971.
Barnett, A., For want of a word, New Scientist 181(2432):44–47, 31 Janeiro 2004.
Collins, D.H., Was Noah’s Ark stable? Creation Research Society quarterly 14(2):83–87, Setembro 1977.
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