Você
poderia pensar que já temos mais informação sobre nós mesmos do que
sobre qualquer outra coisa. Afinal de contas, estamos sempre junto de
nós. Somos totalmente conscientes dos nossos atos. Instantaneamente
sabemos tudo o que acontece conosco, e tudo o que fazemos.
Mas,
em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro
sobre nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa. Portanto,
devemos investigar diligentemente no segredo do nosso coração e examinar
cuidadosamente todos os nossos caminhos e condutas. Aqui estão algumas
diretrizes para ajudar neste processo:
Sempre
una a auto-reflexão com a leitura e o ouvir da Palavra de Deus. Quando
você ler a Bíblia ou ouvir sermões, reflita e compare os seus caminhos
com o que você leu ou ouviu. Pondere que harmonia ou desarmonia existe
entre a Palavra e os seus caminhos. A Bíblia testifica contra todo tipo
de pecado e tem direções para qualquer responsabilidade espiritual, como
escreveu Paulo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a
fim de que o homem seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra" (2Tm 3.16,17; ênfase acrescentada). Portanto, quando ler os
mandamentos dados por Cristo e seus apóstolos, pergunte-se: Vivo de
acordo com essas regras? Ou vivo de maneira contrária a elas?
Quando
ler histórias da Bíblia sobre os pecados e sobre os culpados, faça uma
auto-reflexão enquanto avança na leitura. Pergunte a si mesmo se é
culpado de pecados semelhantes. Quando ler como Deus reprovou o pecado
de outros e executou julgamentos por seus pecados, questione se você
merece punição semelhante. Quando ler os exemplos de Cristo e dos
santos, questione se você vive de maneira contrária aos seus exemplos.
Quando ler sobre como Deus louvou e recompensou seu povo pelas suas
virtudes e boas obras, pergunte se você merece a mesma bênção. Faça uso
da Palavra como um espelho pelo qual você examina cuidadosamente a si
mesmo — e seja um praticante da palavra (Tg 1.23-25).
Poucos
são aqueles que fazem como deveriam! Enquanto o ministro testifica
contra o pecado, a maioria está ocupada pensando em como os outros
falham em estar à altura. Podem ouvir centenas de coisas em sermões que
se aplicam adequadamente a eles; mas nunca pensam que o que pregador
está falando lhes diz respeito. A mente deles está fixa em outras
pessoas para quem a mensagem parece se encaixar, mas eles nunca julgam
necessitar dessa pregação.
Se
você faz coisa que geralmente são evitadas por pessoas perspicazes e
maduras, tenha um cuidado especial em questionar-se se tais atos
poderiam ser pecaminosos. Talvez você tenha argumentado consigo mesmo
que tal ou tal prática é lícita; você não vê mal algum nela. Porém, se a
coisa é geralmente condenada por pessoas piedosas, com certeza isso
parece suspeito. Será prudente de sua parte considerar conscientemente
se isso desagrada a Deus. Se uma prática não é aprovada por aqueles que
em tais casos, em geral, provavelmente são mais corretos, você deveria
considerar, com o maior cuidado, se a coisa em questão é lícita ou
ilícita.
Pergunte
a si mesmo se no seu leito de morte terá lembranças agra¬dáveis em
relação à maneira que viveu. Pessoas saudáveis freqüentemente aceitam o
que não se aventurariam a fazer se pensassem que logo estariam perante o
Senhor. Pensam na morte como algo distante, e assim acham muito mais
fácil tranqüilizar a consciência sobre o que estão fazendo no presente.
Porém, se pensassem que poderiam morrer logo, não achariam tão
confortável contemplar o Senhor com tais atos. A consciência não é
facilmente cegada e silenciada quando o fim da vida parece iminente.
Solenemente
pergunte a si mesmo e veja se está fazendo algo agora que pode trazer
problemas quando você estiver no leito de morte. Pense nos seus caminhos
e examine-se a si mesmo com a expectativa sensata de logo partir deste
mundo para a eternidade. Empenhe-se com sinceridade para julgar
imparcialmente as coisas com as quais você terá prazer no seu leito de
morte — bem como as que você vai desaprovar e desejar deixar.
Considere
o que outros podem dizer sobre você. Embora as pessoas estejam cegas
quando às suas próprias faltas, facilmente descobrem os erros dos outros
— e consideram-se aptas o suficientes para falar deles. Algumas vezes,
as pessoas vivem de maneiras que absolutamente não são adequadas, porém
estão cegas para si mesmas. Não vêem seus próprios fracassos, embora os
erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas
mesmos não vêem suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os
olhos ou evitar ver em que falharam.
Alguns,
por exemplo, são inconscientemente muito orgulhosos. Mas o problema
aparece notório aos outros. Alguns são muito mundanos ainda que não
sejam conscientes disso. Alguns são maliciosos e invejosos. Os outros
vêem isso, e para eles lhes parecem verdadeiramente dignos de ódio.
Porém, aqueles que têm esses problemas não refletem sobre eles. Não há
verdade no seu coração e nem nos seus olhos em tais casos. Assim devemos
ouvir o que os outros dizem de nós, observar sobre o que eles nos
acusam, atentar para que erro encontram em nós, e com diligência
verificar se há algum fundamento nisso.
Se
outros nos acusam de orgulhosos, mundanos, maus ou maliciosos — ou nos
acusam de qualquer outra condição ou prática maldosa — deveríamos
honestamente nos questionar se isso é verdade. A acusação pode nos
parecer completamente infundada, e podemos pensar que os motivos ou o
espírito do acusador está errado. Porém, a pessoa perspicaz verá isso
como uma ocasião para um auto-exame.
Deveríamos
especialmente ouvir o que os nossos amigos dizem para nós e sobre nós. É
imprudente, bem como não-cristão, tomar isso como ofensae se ressentir
quando os outros apontam nossas falhas. "Leais são as feridas feitas
pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos" (Pv 27.6).
Deveríamos nos alegrar que nossas máculas foram identificadas.
Mas,
também deveríamos atentar para as coisas sobre as quais os nossos
inimigos nos acusam. Se eles nos difamam e nos insultam descaradamente —
até mesmo com uma atitude incorreta — deveríamos considerar isso como
um motivo para uma reflexão no íntimo, e nos perguntar se há alguma
verdade no que está sendo dito. Mesmo se o que for dito é revelado de
modo reprovável e injurioso, ainda pode ser que haja alguma verdade
nisso. Quando as pessoas criticam outras, mesmo se seus motivos forem
errados, provavelmente têm como alvo verdadeiros erros. Na verdade,
nossos inimigos provavelmente nos atacam onde somos mais fracos e mais
defeituosos; e onde demos mais abertura para a crítica. Tendem a nos
atacar onde menos podemos nos defender. Aqueles que nos insultam —
embora o façam com um espírito e modos não-cristãos — geralmente
identificarão as genuínas áreas onde mais podemos ser achados culpados.
Assim,
quando ouvirmos outros falando de nós nas nossas costas, não importa o
espírito de crítica, a resposta certa é a auto-reflexão e uma avaliação
quanto à verdade da culpa em relação aos erros de que nos acusam. Com
certeza essa resposta é mais piedosa do que ficar furioso, revidar ou
desprezá-los por terem falado maldosamente. Desse modo talvez tiremos o
bem do mal, e esta é a maneira mais certa de derrotar o plano dos nossos
inimigos, que nos injuriam e caluniam. Eles fazem isso com motivação
errada, querendo nos injuriar. Mas, dessa maneira converteremos isso em
nosso próprio favor.