BIBLIOLOGIA:
DOUTRINA DA BÍBLIA
I. REVELAÇÃO: É a
operação divina que comunica ao homem fatos que a razão humana é insuficiente
para conhecer. É portanto, a operação divina que comunica a verdade de Deus ao
homem (ICo.2:10).
A) Provas da
Revelação: O diabo
foi o primeiro ser a pôr em dúvida a existência da revelação: "É assim que
Deus disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a Palavra de Deus. Vejamos alguns
argumentos:
1) A Indestrutibilidade da Bíblia: Uma porcentagem muito pequena de
livros sobrevive além de um quarto de século, e uma porcentagem ainda menor
dura um século, e uma porção quase insignificante dura mil anos. A Bíblia,
porém, tem sobrevivido em circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o imperador
Dioclécio decretou que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. A Bíblia
é hoje encontrada em mais de mil línguas e ainda é o livro mais lido do mundo.
2) A Natureza da
Bíblia:
a) Ela é superior: Ela é superior a qualquer outro livro do mundo. O mundo, com sua sabedoria e
vasto acúmulo de conhecimento nunca foi capaz de produzir um livro que chegue
perto de se comparar a Bíblia.
b) É um livro honesto: Pois revela fatos sobre a corrupção
humana, fatos que a natureza humana teria interesse em acobertar.
c) É um livro
harmonioso: Pois
embora tenha sido escrito por uns quarenta autores diferentes, por um período
de 1.600 anos, ela revela ser um livro único que expressa um só sistema
doutrinário e um só padrão moral, coerentes e sem contradições.
3) A Influência da
Bíblia: O Alcorão,
o Livro dos Mórmons, o Zenda Avesta, os Clássicos de Confúncio, todos tiveram
influência no mundo. Estes, porém, conduziram a uma idéia apagada de Deus e do pecado, ao ponto de ignorá-los. A Bíblia,
porém, tem produzido altos resultados em todas as esferas da vida: na arte, na
arquitetura, na literatura, na música, na política, na ciência etc.
4) Argumento da
Analogia: Os
animais inferiores expressam com suas vozes seus diferentes sentimentos. Entre
os racionais existe uma presença correspondente, existe comunicação direta de
um para o outro, uma revelação de pensamentos e sentimentos. Consequentemente é
de se esperar que exista, por analogia da natureza, uma revelação direta de
Deus para com o homem. Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural supor que o
Criador sustente relação pessoal com Suas criaturas racionais.
5) Argumento da
Experiência: O
homen é incapaz por sua própria força descobrir que:
a) Precisa ser salvo.
b) Pode ser salvo.
c) Como pode ser salvo.
d) Se há salvação.
Somente
a revelação pode desvendar estes mistérios eternos. A experiência do homem tem
demonstrado que a tendência da natureza humana é degenerar-se e seu caminho
ascendente se sustêm unicamente quando é voltado para cima em comunicação
direta com a revelação de Deus.
6) Argumento da
Profecia Cumprida: Muitas
profecias a respeito de Cristo se cumpriram integralmente, sendo que a mais
próxima do primeiro advento, foi pronunciada 165 anos antes de seu cumprimento.
As profecias a respeito da dispersão de Israel também, se cumpriram (Dt.28;
Jr.15:4;l6:13; Os.3:4 etc); da conquista de Samaria e preservação de Judá
(Is.7:6-8; Os.1:6,7; IRs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém
(Is.39:6; Jr.25:9-12); sobre a destruição final de Samaria (Mq.1:6-9); sobre a
restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14), etc.
7) Reivindicações da
Própria Escritura: A
própria Bíblia expressa sua infalibilidade, reivindicando autoridade. Nenhum
outro livro ousa fazê-lo. Encontramos essa reivindicação na seguintes
expressões: "Disse o Senhor a Moisés" (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1;
Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) "O Senhor é quem fala"
(Is.1:2); "Disse o Senhor a Isaías" (Is.7:3); "Assim diz o
Senhor" (Is.43:1). Outras expressões semelhantes são encontradas:
"Palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor" (Jr.11:1); "Veio
expressamente a Palavra do Senhor a Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do
Senhor que foi dirigida a Oséias" (Os.1:1); "Palavra do Senhor que
foi dirigida a Joel" (Jl.1:1), etc. Expressões como estas são encontradas
mais de 3.800 vezes no Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma ser a revelação
de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13;
IJo.5:10; IIPe.3:2).
B) Natureza da
Revelação: Deus se
revelou de sete modos:
1) Através da
Natureza: (Sl.19:1-6;
Rm.l:19-23).
2) Através da
Providência: A
providência é a execução do programa de Deus das dispensações em todos os seus
detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2; Jr.30:11; Is.54:17).
3) Através da
Preservação: (Cl.1:17;
Hb.1:3; At.17:25,28).
4) Através de
Milagres:
(Ex.4:1-9).
5) Através da
Comunicação Direta: (Nm.12:8;
Dt.34:10).
6) Através da
Encarnação: (Hb.1:1;
Jo.8:26;15:15).
7) Através das
Escrituras: A
Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange importantes aspectos:
a) Ela é variada: Variada em seus
temas, pois abrange aquilo que é doutrinário , devocional, histórico, profético
e prático.
b) Ela é parcial: (Dt.29:29).
c) Ela é completa: Naquilo que já foi
revelado (Cl.2:9,10);
d) Ela é progressiva: (Mc.4:28).
e) Ela é definitiva: (Jd.3).
II. INSPIRAÇÃO: É a operação
divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a
mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de
cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e
infalível, garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a
linguagem humana inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A) Autoria Dual: Com este termo indicamos dois
fatos:
1) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a
Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua
mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é
divinamente inspirada" (theopneustos = soprada ou expirada por
Deus) . A referência aqui é ao escrito.
2) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram
escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la
para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens:
"Homens santos de Deus falaram movidos
pelo Espírito Santo" (pherô =
movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B) Inspiração ou
Expiração? A
palavra inspiração vem do latim, e
significa respirar para dentro. Ela
é usada pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T.
(IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto,
pela teologia, não é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha
soprado alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16
encontramos o vocábulo grego
theopneustos que significa soprado
por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada
como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio
Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado ainda,
pois a tradução da ARC. transmite a idéia de que os homens santos foram
inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é
inspirado, mas a Palavra de Deus é que é expirada (Compare
Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada),
porém, apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o
verbo mover em IIPe.1:21, como
tradução do vocábulo grego pherô, que
significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada
esta ressalva, não devemos pender para o extremo, excluindo a autoria humana da
compilação das Escrituras. Ela própria reconhece a autoria dual no registro
bíblico. Em Mt.15:4 está escrito que Deus
ordenou enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a
esta (Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com
Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25;
Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso usando e não anulando a
vontade humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno
uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo
modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1 com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas
não retira a responsabilidade do homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da
salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O Termo Logos: Este termo grego foi utilizado no
N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra
de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para
Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão,
portanto o Logos de Deus é a
expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com
Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra
Viva: Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão de
Deus.
2) A Bíblia é a
Palavra Escrita: A
Bíblia também é o Logos de Deus, e
assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas), divino e humano,
igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem unidos
sobrenaturalmente.
D) Provas da
Inspiração: Somos
acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia
pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo
parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a
veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A
veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a
sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas
dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem
ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T. afirma sua
Inspiração: (Dt.4:2,5;
IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1;
Mq.1:1).
2) O N.T. afirma sua
Inspiração: (Mt.10:19;
Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3;
IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T. afirma a
Inspiração do A.T.: (Lc.1:70;
At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia faz
declarações científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7;
Is.40:22).
E) Teorias da
Inspiração: Podemos
ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem
revelação, como quando os escritores registram o que viram com seus próprios
olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado
indica a conseqüência da inspiração.
Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica e a do
ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal
plenária indica o resultado.
1) Teoria da
Inspiração Dinâmica:
Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão
da verdade que os escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto
os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não
são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os
ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores
humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores
bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem uma
sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de modo
natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria
envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre
matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da
história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana,
que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à
fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley,
Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria do Ditado ou
Mecânica: Afirma
que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas personalidades foram preservadas. Se
Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção
e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens
(Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu plena liberdade de
ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e
vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição
como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus
tenha ditado qualquer mensagem a um homem além daquela que Moisés trasncreveu
no monte santo, pois Deus usa e não anula as suas vontades. Esta teoria,
portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina ao ponto de excluir a autoria
humana.
3) Teoria da
Inspiração Natural ou Intuição: Afirma
que a inspiração é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e
religiosa por parte do homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e
poetas excepcionais, que produziram obras de arte que nunca foram superadas,
também em relação as Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual
que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras.
Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto
de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e
unitarianos.
4) Teoria da
Inspiração Mística ou Iluminação: Afirma
que inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das percepções
religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas
alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer
cristão em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever
as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele
inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa,
diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos
intuitivos dos homens santos". Lutero, Neander, Tholuck, Cremer,
F.W.Robertson, J.F.Clarke e G.T.Ladd defendiam esta teoria, segundo Strong.
5) Inspiração dos
Conceitos e não das Palavras: Esta
teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria
transmitido idéias mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua
própria linguagem. Mas idéias não são transferíveis por nenhum outro modo além
das palavras. Esta teoria ignora a importância das palavras em qualquer
mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas para a
sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um
estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através
das palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito.
A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13;
Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus de
Inspiração: Afirma
que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência,
orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes
graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do
que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação
fantasiosa.
7) Inspiração Verbal
Plenária: É o poder
inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores das Sagradas
Escrituras, para orientá-los (conduzí-los) na transcrição do registro bíblico,
quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou verbais, ou através
de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as
palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a inerrância
das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a) Observação Pessoal: (IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal: (At.17:18; Tt.1:12;
Hb.1:1).
d) Revelação Divina Direta: (
Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens e,f,g,h,i: A inspiração verbal plenária
fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero
masculino, pois se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um
substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência
exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego,
no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial de Deus realizado no
passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a nossa vida,
abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9
trata do perdão do pecado doméstico
e não do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando
declarou que nem um til (a menor
letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei(Mt.5:18 e Lc.16:l7).
III. ILUMINAÇÃO: É a
influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos os que estão num
relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I Cor.2:12;
Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A
iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras
(revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (inspiração)
daquele que o Espirito Santo ensina.
A
iluminação é diferenciada da revelação e da inspiração no fato de ser prometida
a todos os crentes, pois não depende de escolha soberana, mas de ajustamento
pessoal ao Espirito Santo. Além disso a iluminação admite graus podendo
aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9).
A
iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as coisas
profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do crente
e, portanto, ele não houve uma voz falando de fora e em determinados momentos,
mas a mente e o coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16).
Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito
que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo
que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que
são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A
iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, porém podem
ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4);
inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12);
iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação
sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno
de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito Santo mencionados em
uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no
versículo 12 e a inspiração no versículo 13.
IV. AUTORIDADE:
Dizemos que a bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência,
prestígio e credibilidade (quanto a pureza na transcrição ou tradução), por
isso deve ser obedecida porque procede de fonte infalível e autorizada.
A
autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os
quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado,
determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado
livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas
informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou
científicas.
Entretanto,
nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro
trata de sua procedência, de sua
autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal
ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da
boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi registrado por
inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo
(Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma
dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem dEle (procedem
apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto também perde
sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um
significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto.
As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade.
V. CREDIBILIDADE OU
VERACIDADE: Um livro tem credibilidade se relatou veridicamente os assuntos
como aconteceram ou como eles são; e quando seu texto atual concorda com o
escrito original.
Nesse
caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo
do livro (original), e a pureza do texto atual (cópia ou tradução). Por
exemplo, as palavras de Satanás em Gn.3:4,5 são inspiradas, mas não possuem
autoridade, porque não é verdade, porém tem credibilidade ou veracidade (quanto
a sua transcrição) porque foram registradas exatamente como Satanás disse. A
veracidade das palavras de Satanás não se relacionam ao o que ele pronunciou, mas sim como
ele as pronunciou.
A) Credibilidade do
A.T.: Estabelecida
por três fatos:
1) Autenticado por
Jesus Cristo: Cristo
recebeu o A.T. como relato verídico. Ele endossou grande número de ensinamentos
do A.T., como, por exemplo: A criação do universo por Deus (Mc.3:19), a criação
do homem (Mt.19:4,5), a existência de Satanás (Jo.8:44), o dilúvio
(Lc.17:26,27), a destruição de Sodoma e Gomorra (Lc.17:28-30), a revelação de
Deus a Moisés na sarça (Mc.12:26), a dádiva do maná (Jo.6:32), a experiência de
Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40). Como Jesus era Deus manifesto em
carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar a idéias errôneas, e, ao
mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve, portanto, ser aceito como
verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre religioso.
2) Prova Arqueológica
e Histórica:
a) Arqueológica: Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada
em Gn.14 não pode mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do
Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis mencionados na
Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito
displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos
reais. Anrafel é identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis
foi tão recentemente descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O
Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As
tábuas Nuzi esclarecem a ação de
Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus maridos (Jack Finegan, Ligth from
the Ancient Past = Luz de um Passado Antigo).
Os
hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais de 1.000 anos
antes de Abraão (James Orr, The Problem of the Old Testament = O Problema do
Velho Testamento).
A
arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito, como escravo,
e ter sido liberto (Melvin G. Kyle, The Deciding Voice of the Monuments = A Voz
Decisória dos Monumentos).
Muitas
outras confirmações da veracidade dos relatos das Escrituras poderiam ser
apresentados, mas esses são suficientes e devem servir como aviso aos
descrentes com relação às coisas para as quais ainda não temos confirmação;
podemos encontrá-la a qualquer hora.
b) Histórica: A história fornece muitas provas da
exatidão das descrições bíblicas. Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de
Samaria, mas o rei da Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo
para a Síria (IIRs.17:3-6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C.
Ele é mencionado pelo nome apenas uma vez na Bíblia (Is.20:1). Nem Beltsazar
(Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais considerados como personagens
fictícios.
3) As Escrituras
possuem Integridade:
a) Integridade
Topográfica e Geográfica: As
descobertas arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares e os eventos
mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os
localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas
na Bíblia.
b) Integridade
Etnológica ou Racial: Todas
as afirmações bíblicas sobre raças tem sido demonstrada como corretas com os
fatos etnológicos revelados pela arqueologia.
c) Integridade
Cronológica: A
identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua
ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela
arqueologia.
d) Integridade
Histórica: O
registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os
registros seculares, conforme demonstrados por descobertas arqueológicas.
e) Integridade
Canônica: A
aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos nas Escrituras
que hoje possuímos, representa o endosso de sua integridade.
Exemplares
do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C., concordam com os exemplares
atuais. Portanto a Bíblia como a possuímos hoje, já existia há 400 anos
passados.
Quando
essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder mais de 2.000
manuscritos. Esse número é sem dúvida suficiente para estabelecer a genuinidade
e credibilidade do texto sagrado, e tem servido para restaurar ao texto sua pureza original, e fornecem proteção
contra corrupções futuras (Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto
a integridade canônica da Bíblia se baseia em mais de 2.000 manuscritos, os
escritos seculares, que geralmente são aceitos sem contestação, baseiam-se em
apenas uma ou duas dezenas de exemplares.
As
quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400 d.C.,
correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.
B) Credibilidade do
N.T.: Estabelecida
por cinco fatos:
1) Escritores
Competentes: Possuíam
as qualificações necessárias, receberam investidura do Espirito Santo e assim
escreveram não somente guiados pela memória, apresentações de testemunho oral e
escrito, e discernimento espiritual, mas como escritores qualificados pelo
Espirito Santo.
2) Escritores
Honestos: O tom
moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de
seus registros indicam que não eram enganadores intencionais mais sim homens
honestos. O seu testemunho pôs em perigo seus interesses materiais, posição
social, e suas próprias vidas. Por quê razão inventariam uma estória que
condena a hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas
próprias vidas?
3) Harmonia do N.T.: Os sinópticos não se contradizem mas
suplementam um ao outro. Os vinte e sete livros do N.T. apresentam um quadro
harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.
4) Prova Histórica e
Arqueológica:
a) Histórica: O recenseamento quando Quirino era
Governador da Síria (Lc.2:2), os atos de Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de
Herodes Antipas (Mt.14:1-12), de Agripa I (At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de
Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b) Arqueológica: As descobertas arqueológicas
confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2) foi Governador da Síria duas
vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que Lucas se refere ao segundo período.
Lisânias,
o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no local de Abilene na época a que
Lucas se refere.
Uma
inscrição em Listra registra a dedicação da estátua Zeus (Júpiter) e Hermes
(Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram colocados no mesmo nível, no
culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma
inscrição de Pafos faz referência ao Proconsul Paulo, identificado como Sergio
Paulo (At.13:7).
VI. INERRÂNCIA OU
INFALIBILIDADE: Inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras
que, entendidas no sentido em que foram empregadas, entendidas no sentido que
realmente se destinavam a ter, não expressam erro algum.
A
inspiração garante a inerrância da Bíblia. Inerrância não significa que os
escritores não tinham faltas na vida, mas que foram preservados de erros os
seus ensinos. Eles podem ter tido concepções errôneas acerca de muitas coisas,
mas não as ensinaram; por exemplo, quanto à terra, às estrelas, às leis
naturais, à geografia, à vida política e social etc.
Também
não significa que não se possa interpretar erroneamente o texto ou que ele não
possa ser mal compreendido.
A
inerrância não nega a flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É
muitas vezes difícil transmitir com exatidão um pensamento por causa desta
flexibilidade de linguagem ou por causa de possível variação no sentido das
palavras.
A
Bíblia vem de Deus. Será que Deus nos deu um livro de instrução religiosa
repleto de erros? Se ele possui erros sob a forma de uma pretensa revelação,
perpetua os erros e as trevas que professa remover. Pode-se admitir que um Deus
Santo adicione a sanção do seu nome a algo que não seja a expressão exata da
verdade?.
Diz-se
que a Bíblia é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é parcialmente
falsa, como se explica que Deus tenha posto o seu selo sobre toda ela? Se ela é
parcialmente verdadeira e parcialmente falsa, então a vida e a morte estão a
depender de um processo de separação entre o certo e o errado, que o homem não
pode realizar.
Cristo
declara que a incredulidade é ofensa digna de castigo. Isto implica na
veracidade daquilo que tem de ser crido, porque Deus não pode castigar o homem
por descrer no que não é verdadeiro (Sl.119:140,142; Mt.5:18; Jo.10:35;
Jo.17:17). Aqueles que negam a infalibilidade da Bíblia, geralmente estão
prontos a confiar na falibilidade de suas próprias opiniões. Como exemplo de
opinião falível encontramos aqueles que atribuem erro à passagem de IRs.7:23
onde lemos que o mar de fundição tinha dez côvados de diâmetro de uma borda até
a outra, ao passo que um cordão de trinta côvados o cingia em redor. Sendo
assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do Pi ser 3 em vez de 3,1416. Mas uma vez que não sabemos se
a linha em redor era na extremidade da borda ou debaixo da mesma, como parece
sugerir o versículo seguinte (v.24) não podemos chegar a uma conclusão
definitiva, e devemos ser cautelosos ao atribuir erro ao escritor.
Outro
exemplo utilizado para contrariar a inerrância da Bíblia, encontra-se em
ICo.10:8 onde lemos que 23.000 homens morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9
diz que morreram 24.000. Acontece que em Números nós temos o número total dos
mortos, ao passo que em I aos Coríntios nós temos o número parcial que somado
ao restante dos homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar
o total de 24.000.
A
inerrância não abrange as cópias dos manuscritos, mas atinge somente os
autógrafos, isto é, os originais. Desse modo encontramos os seguintes tipos de
erros nos manuscritos:
A) Erros
Involuntários: Cometidos
pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de
audição ou falhas mentais.
1) Falhas de Visão: Em Rm.6:5 muitos manuscritos (MSS)
tem ama (juntos), mas há alguns que
trazem alla (porém). Os dois lambdas juntos deram ao copista a idéia
de um mi. Em At.15:40 onde há eplexamenoc (tendo escolhido) aparece
no Códice Beza epdexamenoc (tendo
recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um delta maiúsculo.
Há
também confusão de sílabas, como é o caso de ITm.3:16 onde o manuscrito D traz homologoumen ôs (nós confessamos que) em vez de homologoumenôs (sem dúvida).
O
erro visual chamado parablopse (um olhar
ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton,
que é o final igual de duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou
pelo homoioarchon, que são duas
linhas com o mesmo início.
O
Códice Vaticano, em Jo.17:15, não contém as palavras entre parênteses:
"Não rogo que os tires do (mundo, mas que os guardes do) maligno".
Consultando o N.T. grego veremos que as duas linhas terminavam de maneira
idêntica, em autos ek tou, no
manuscrito que o escriba de B copiava.
Lc.18:39
não aparece nos manuscritos 33, 57, 103
e b, devido a um final de frase igual na sentença anterior no manuscrito do
qual eles se derivam.
O
Códice Laudiano tem um exemplo no versículo 4 do Capítulo 2 do livro de Atos: "Et repleti sunt et repleti sunt omnes
spiritu sancto", sendo este em caso de adição, chamado ditografia, que é a repetição de uma
letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas de Audição: Era costume muitos escribas se
reunirem numa sala enquanto um leitor lhes ditava o texto sagrado. Desse modo o
ouvido traía o escriba até mesmo quando o copista solitário ditava a si
próprio. Em Rm.5:1 encontramos um destes casos, onde as variantes echômen e echomen foram confundidas. IPe.2:3 também apresenta um caso
semelhante com as variantes cristos
(Cristo) e crestos (gentil), esta
última encontrada nos manuscritos K e
L.
No
grego coinê as vogais e ditongos
pronunciavam-se de modo igual dentro das respectivas classes. É o caso de
ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória),
foi confundido por neikos (conflito),
sendo que aparece em P46 e B como "tragada foi a morte no
conflito".
Em
Ap.15:6 onde se lê "vestidos de linho
puro" a palavra grega linon é
substituída por lithon nos
manuscritos A e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma só letra que o
ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa mudança de
sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas da Mente: Quando a mente do escriba o traía,
chegava a cometer erros que variavam desde a substituição de sinônimos, como o
caso da preposição ek por apo, até a transposição de letras
dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39, onde Jesus disse "porque
elas dão testemunho de mim" (ai
marturousai) e o escriba do manuscrito D
escreveu "porque elas pecam a respeito de mim" (hamartanousai).
B) Erros Intencionais:
Erros que não se
originaram de negligência ou distração dos escribas, mas antes de suspeita de
alteração, principalmente doutrinária.
1) Harmonização: Ao copiar os sinópticos, o escriba
era levado a harmonizar passagens paralelas. E’ o caso de Mt.12:13 onde se lê
"...estende a tua mão. E ele estendeu; e ela foi restaurada como a
outra". Em alguns manuscritos de Marcos o texto pára em
"restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as palavras
"como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro
tipo de harmonização ocorre quando os escribas faziam o texto do N.T.
conformar-se com o A.T. Por exemplo, em Mc.1:1 os escribas do W e Bizantinos mudaram "no profeta Isaias" para "nos
profetas" porque verificaram que a citação não é só de Isaias.
2) Correções
Doutrinárias: Certo
escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras "nem o Filho", pois o
escriba sabia que Jesus era onisciente, e deduziu que alguém havia cometido
erro (Alefe, W, Bizantino).
Os
manuscritos da Velha Latina e da Versão Gótica apresentam como acréscimo, em
Lc.1:3, a frase "e ao Espírito Santo" como "empréstimo" de
At.15:28.
3) Correções
Exegéticas: Passagens
de difícil interpretação eram alvo dos escribas que tentavam completar o seu
sentido através de interpolação e supressões.
Um
caso de interpolação encontra-se em Mt.26:15 onde as palavras "trinta
moedas de prata" foram alteradas para "trinta estateres" nos MSS
D, a e b, afim de definir o tipo de moeda mencionada. Mais tarde outros
escribas (dos manuscritos 1, 209 e h) que conheciam os dois textos,
juntaram-no produzindo a frase "trinta estateres de prata".
4) Acréscimos Naturais
ou de Notas Marginais: Determinado
leitor do Códice 1518 anotou nas
margens de Tg.1:5 a expressão êgeumatikês
kai ouk anthrôpines (espiritual e não humana). Quando este Códice foi
copiado, o escriba do manuscritos 603
incluiu esta expressão no texto: "Se alguém de vós tem falta de sabedoria
espiritual e não humana, peça-a a Deus...".
VII. AUTENTICIDADE OU
GENUINIDADE: Dizemos que um livro é genuíno ou autêntico quando ele é escrito
pela pessoa ou pessoas cujo nome ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou
pessoas a quem a tradição antiga o atribui, ou, se não for atribuído a algum
autor ou autores específicos, à época que a tradição lhe atribui.
O
Credo Apostólico não é genuíno
porque não foi composto pelos apóstolos. As
Viagens de Gulliver é genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora
seus relatos sejam fictícios. Atos de
Paulo não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote contemporâneo de
Tertuliano. Desse modo a autenticidade relaciona-se ao autor e à época do
livro, e todos os livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela
tradição histórica e pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
VIII. CANONICIDADE:
Por canonicidade das Escrituras queremos dizer que, de acordo com
"padrões" determinados e fixos, os livros incluídos nelas são
considerados partes integrantes de uma revelação completa e divina, a qual,
portanto, é autorizada e obrigatória em relação à fé e à prática.
A
palavra grega kanon derivou do
hebraico kaneh que significa junco ou vara de medir (Ap.21:15); daí
tomou o sentido de norma, padrão ou regra (Gl.6:16; Fp.3:16).
A) A fonte da
Canonização: A
Canonização de um livro da Bíblia não significa que a nação judaica ou a igreja
tenha dado a esse livro a sua
autoridade canônica; antes significa que sua autoridade, já tendo sido
estabelecida em outras bases
suficientes, foi consequentemente reconhecida
como pertencente ao cânon e assim declarado
pela nação judaica e pela igreja cristã.
B) O Critério Canônico
(do Novo Testamento): Adotam-se
5 critérios canônicos.
1) Apostolicidade: O livro deveria ter sido escrito
por um dos apóstolos ou por autor que tivesse relacionamento com um dos
apóstolos (imprimatur apostólico).
2) Universalidade: Quando era impossível demonstrar a
autenticidade apostólica, o critério de uso e circulação do livro na comunidade
cristã universal era considerado para sua aferição canônica. O livro deveria
ser aceito universalmente pela igreja para dela receber o seu imprimatur.
3) Conteúdo do Livro: O livro deveria possuir qualidades
espirituais, e qualquer ficção que nele fosse encontrada tornava o escrito
inaceitável.
4) Inspiração: O livro deveria possuir evidências
de inspiração.
5) Leitura em Público: Nenhum livro seria admitido para
leitura pública na igreja se não possuísse características próprias. Muitos
livros eram bons e agradáveis para leitura particular, mas não podiam ser lidos
e comentados publicamente, como se fazia com a lei e os profetas na sinagoga. É
a esta leitura que Paulo exorta Timóteo a praticar (ITm.4:13).
C) Conclusão da
Canonização (do Novo Testamento)
1) Concílio Damasino
de Roma em 382 d.C.
2) Concílio de Cartago
em 397 d.C.
IX. ANIMAÇÃO: É o
poder inerente à Palavra de Deus para transmitir vitalidade ou vida ao ser
humano.
O
Sl.19:7 diz que "a lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma..." e no versículo 8 diz que "os
preceitos do Senhor são retos, e alegram
o coração..."
Somente
algo que tem vida pode transmitir vida, e por isso mesmo somente a Bíblia, e
nenhum outro livro pode fazê-lo, pois a Bíblia sendo a Palavra de Deus é viva:
"A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas,
e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração"(Hb.4:12).
A) A Palavra de Deus é
Viva: O elemento da
vida que aqui se declara é mais do que aquilo que agora tem autoridade em
contraste com o que já se tornou letra morta; é mais do que alguma coisa que
fornece nutrição. Mas as Escrituras são vivas porque é o hálito (espírito) do Deus Vivo (Jo.6:63; Jó 33:4). Assim tanto a
Palavra Escrita (Logos) como a
Palavra Falada (rêma) são
possuidoras de vida. Não há diferença essencial entre elas, pois são apenas
duas formas diferentes dela existir.
O
trecho de Hb.4:12 diz que a Palavra de Deus é viva, e eficaz, é cortante, penetra e discerne.
Em
IPe.1:23 lemos que a Palavra de Deus vive
e permanece para sempre. Assim a Palavra de Deus possui vida eternamente
(Sl.19:9;119:160).
B) A Palavra de Deus é
Eficaz: A palavra
grega usada neste trecho é energês
de onde temos a palavra energia.
Trata-se da energia que a vida vital fornece. Por isso a Palavra de Deus é
comparada a uma poderosa espada de dois gumes com poder para cortar, penetrar e
discernir. Quando o Espirito Santo empunha a Sua espada(Ef.6:17) uma energia é
liberada dela para animar e realizar o seu propósito (Is.55:10,11). E’ com este
poder inerente à Palavra de Deus que o Espirito Santo convence os
contradizentes (Jo.16:8; ICo.2:4) porque a Palavra de Deus é como uma dinamite
com poder (dinamos, Rm.1:16) para
salvar e destruir (IICo.10:4,5;IICo.2:14,17; IJo.2:14; Jr.23:24).
A
Palavra de Deus é como um nutriente alimento que fornece forças (IPe.2:2;
Mt.4:4). Paulo escrevendo aos tessalonicenses, revela sua gratidão a Deus por
haverem eles recebido a Palavra de Deus a qual estava operando (energizando) eficazmente neles (ITs.2:13). Paulo conhecia
o poder da Palavra de Deus, por isso recomendou aos anciãos da igreja que a
observassem porque ela "tem poder para edificar e dar herança entre todos
os que são santificados" (At.20:32; Jo.5:39).
1) É eficaz na
regeneração: Comparada
com a "água" (Jo.3:5; Ef.5:26), a Palavra de Deus tem poder para
regenerar, pois ela coopera com o E.S. na realização do novo nascimento
(IPe.1:23; Tt.3:5; Jo.15:3; Ez.36:25-27; Jo.6:63; Tg.1:18,21; ICo.4:15;
Rm.1:16).
2) É eficaz na
santificação: A
Palavra de Deus tem poder para santificar (Jo.17:17; Ef.5:26; Ez.36:25,27;
IIPe.1:4; Sl.37:31;119:11). Com efeito, a santificação é pela fé (At.15:9 e
26:18) e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17).
3) É eficaz na
edificação: A
Palavra de Deus tem poder para edificar (IPe.2:2; At.20:32; IIPe.3:18).
X. PRESERVAÇÃO: É a
operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita, com base na
aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra Eterna (Sl.119:89,152; Mt.24:35;
IPe.1:23; Jo.10:35).
Os
céus e a terra passarão (Hb.12:26,27; IIPe.3:10) mas a Palavra de Deus
permanecerá (Mt.24:35; Hb.12:28; Is.40:8; IIPe.1:19).
A
preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação e formação
do cânon, não foi acidental, nem incidental, mas sim o cumprimento de uma
promessa divina. A Bíblia é eterna, ela permanece porque nenhuma Palavra que
Jeová tenha dito pode ser removida ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do
testemunho divino pode passar até que seja cumprido.
"Quando
pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável perseguição,
a maravilha da sua sobrevivência se transforma em milagre... Por dois mil anos,
o ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável e
assassino. Todo esforço possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração
e autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para
fazê-la desaparecer. Decretos imperiais têm sido passados ordenando que todas
as cópias existentes da Bíblia fossem destruídas, e quando essa medida não
conseguiu exterminar e aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que
qualquer pessoa que fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse
morta." (Arthur W. Pink. The Divine Inspiration of the Bible = A
Inspiração Divina da Bíblia).
A
Bíblia permanece até hoje porque o próprio Deus tem se empenhado em
preservá-la. Quando o rei Jeoiaquim queimou um rolo das Escrituras, Deus mesmo
determinou a Jeremias que rescrevesse as palavras que haviam sido queimadas
(Jr.36:27,28), e ainda determinou maldições sobre o rei, por haver tentado
destruir a Palavra de Deus (Jr.36:29,31). Ademais Deus acrescentou ao segundo rolo
outras palavras que não se encontravam no primeiro (Jr.36:32), pois a Palavra
de Deus sempre há de prevalecer sobre a palavra do homem (Jr.44:17,28;
At.19:19,20).
Deve
ficar esclarecido que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra inspirada,
aquilo que deve ser considerado como revelação de Deus, e por isso mesmo não
foi preservado e não faz parte do Cânon Sagrado (ICr.29:29;
IICr.9:29;12:15;13:22;20:34; IICr.24:27;26:22;33:19). Em IICo.7:8 Paulo faz
menção a uma segunda carta que não consta do Novo Testamento, sendo que a
segunda carta de Coríntios que temos na nossa Bíblia, provavelmente deveria ser
a terceira.
Hoje
a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele
não consegue destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e
corrompê-la com interpretações pervertidas da verdade (ITm.4:1,2; IITs.2:9-12).
A nós pois, como igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a
verdade (ITm.3:15) com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo
(Fp.1:7,16).
XI. INTERPRETAÇÃO: É a
elucidação ou explicação do sentido das palavras ou frases de um texto, para
torná-los compreensivos.
A
ciência da interpretação é designada hermenêutica, e, em razão de sua
abrangência, requer um estudo especial separado da Bibliologia.
Nenhum comentário
Postar um comentário