CRISTO REVELADO NO LIVRO DE ECLESIASTES

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CRISTO REVELADO NO LIVRO DE ECLESIASTES

Embora o Livro do Eclesiades não contenha profecias diretas ou tipológicas de Jesus Cristo, ele antecipa uma porção de ensinamentos daquele que foi o cumprimento da Lei e dos Profetas (Mt 5.17). Se Jesus fala pouco a respeito da sabedoria, Paulo teve muito a dizer sobre a sabedoria dada por Deus (Rm 11.33), contrastando-a com a sabedoria deste mundo e as suas limitações humanas (1Co 1.17; 3.19; 2Co 1.12).

Em Mt 6.19-21, Jesus adverte contra a busca de riquezas nesta vida, enfatizando que o tesouro deve ser buscado ser buscado na próxima vida, uma perspectiva que reproduz a acusação do Pregador sobre o materialismo em 2.1-11, 18-26; 4.4-6; 5.8-14. A ênfase que Jesus põe no céu reflete, de igual forma, o desespero do Pregador em achar valor verdadeiro “debaixo do sol” (nesta vida). O Pregador chega à conclusão de que o valor verdadeiro está na reverência e na obediência a Deus   (12.13), e isso reflete o ensinamento de Jesus de que os valores de alguém devem ser determinados, primeiramente, por uma atitude apropriada em relação a Deus (Mt 22.37, citando Dt 6.5), e, então, por uma atitude apropriada para com os seres humanos, seus semelhantes (Mt 22.39, citando Lv 19.18).

Todo pregador tem que abrir as Escrituras e explicar o trajeto que fazemos quando partimos com “no princípio, Deus” (as palavras de abertura da Bíblia) e chegamos à “Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja sobre todos vocês” (suas palavras de encerramento).

Se não fazemos isso, somos como aquelas pessoas que leram o título do livro “Os Três Mosqueteiros” e mergulharam de cabeça no meio da história. O fato de que “Os Três Mosqueteiros” conta uma história sobre quatro mosqueteiros nos confundirá, a menos que voltemos, leiamos do começo e fiquemos atentos até o fim.

Seis sugestões

O livro de Eclesiastes nos situa bem à depois do início e muito antes do fim da história. Visto em si mesmo, ele pode parecer um livro estranho. Então, como podemos pregá-lo?

Espero que essas seis sugestões possam auxiliá-lo.

1. Eclesiastes descreve a vida após o Éden e antes do céu.

É como se um homem fugisse de casa antes de uma invasão e, anos depois, retornasse às suas ruínas, seu clamor chega a nós. Ele sabe o que era o Éden e agora o vê e como ele está – a decadência da sua antiga glória.

O livro de Eclesiastes brilha como um farol voltando às águas do Antigo Testamento de patriarcas com falhas e reis pecaminosos. Ele pulsa indo para o mundo do primeiro século que crucifica criminosos publicamente e à vista de todos. A “vida debaixo do sol” nos lembra de onde caímos e por que um Salvador é necessário.

2. Eclesiastes revela Deus para nós.

Muitos querem remodelar esse livro e nossos sermões sobre ele para que se assemelhem a Isaías ou a Paulo, para que se alinhem com a linguagem da Teologia Sistemática e para que nos coloquem apresentáveis diante de outras pessoas. Mas Eclesiastes não permitirá isso. Torça-o para a sua zona de conforto e você perderá o que esse texto inspirado por Deus revela sobre Ele.

Há mais a respeito de Deus do que apenas Isaías e Paulo podem mostrar.

3. Eclesiastes exalta a alegria das coisas comuns.

Não perca de vista a alegria. Muitas vezes Eclesiastes nos diz: “Não há nada melhor debaixo do sol” do que experimentar o prazer pretendido por Deus no trabalho, na comida, nos relacionamentos e no sono. Se usarmos os dons de Deus como mini deuses, somos como aquelas pessoas que tentam jogar futebol com uma melancia. A melancia não foi projetada para suportar nossos chutes e se desintegrará. Mas, se desfrutamos dos generosos dons de Deus da maneira que Ele pretendia, não como mini deuses, mas como gentilezas, então nos tornamos sábios em encontrar a grande alegria que persevera debaixo do sol.

4. Eclesiastes oferece as exceções às regras.

Quando qualquer um de nós aprende um idioma, ficamos entusiasmados por um momento, vibrando com o progresso satisfatório que obtivemos. Então vem o dia em que o professor nos informa que há exceções às regras que memorizamos. No inglês, “I” vem antes de “E” – exceto depois de “C” e, às vezes, de “Y” e com palavras que se parecem com “neighbor” (vizinho) e “weigh” (peso). Provérbios nos dizem, essencialmente, que “faça o bem e coisas boas se seguirão, faça o mal e coisas más sobrevirão”. Então Eclesiastes surge (como Jó) e diz que coisas ruins acontecem com aqueles que fazem o bem e coisas boas acontecem com aqueles que fazem o mal. Deus nos deu o livro de Eclesiastes por precaução, caso desejássemos usar o livro de Provérbios para transformar o discipulado em uma fórmula.

5. Reconheça o valor de Eclesiastes para o evangelismo e para a apologética em nossa geração.

Pessoas que frequentam a igreja podem relutar com o fato de Eclesiastes soar tão estranho quando comparado a Jeremias ou Paulo. Mas o não cristão atencioso muitas vezes fica chocado e atraído por esta maneira de falar sobre a vida e Deus. Um pregador que tem a honestidade de dizer: “A vida não tem sentido” ou “Eu odeio a vida”, permite que o ouvinte se sinta reconhecido e ouvido por aqueles que falam em nome de Deus. O pregador dá voz ao modo como as coisas são ao invés de como desejamos que elas sejam. A esperança oferecida tem valor. O Deus que fala não soa como um homem velho que precisa de ajuda para usar um iPad. Ele soa como o Deus que criou tudo isso e vê a ruína, sente a perda, a experimenta conosco e nos leva para casa.

6. Expanda sua capacidade de contemplar a Jesus, não apenas como profeta, sacerdote e rei, mas também como cumprimento do sábio do Antigo Testamento.

Jesus nos fala a respeito de si mesmo: “Aquele que é maior que Salomão está aqui” (Mt 12:42). Paulo retoma o que Jesus ensinou e passa para nós. Jesus, ele diz, é a sabedoria de Deus (1Co 1:18-31). Todos os tesouros da sabedoria e conhecimento estão ocultos em Cristo (Cl 2:3). Ver Jesus como nossa sabedoria não o convida a procurar por ele com se ele estivesse escondido em códigos dentro de cada texto em Eclesiastes. O sábio que escreveu o livro não pretendia isso. Nossa tarefa não consiste em encontrar indícios divinos de Jesus onde não há nenhum escondido. Mas reconhecer Jesus como aquele que é maior que Salomão significa que não podemos ler, interpretar e pregar corretamente Eclesiastes como se a sabedoria que ele apresenta encontrasse sua fonte e propósito em algum lugar fora de Jesus – como se o Pai e o Espírito nos dessem sabedoria sem referência ao Filho.

Três Sugestões

Então, como proclamamos Jesus em Eclesiastes? Aqui estão três sugestões:

1. Conecte a linguagem de Eclesiastes com a linguagem de Jesus.

Você pode dizer: “Agora, enquanto caminhamos através de Eclesiastes 10, os provérbios podem desorientar alguns de nós. Isso pode nos ajudar a lembrar que Jesus frequentemente revelou Deus a nós da seguinte maneira. Jesus diria: “Se um cego conduzir outro cego, ambos cairão no buraco” ou “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. Então, quando ouvimos o sábio dizer: “As moscas mortas fazem com que o óleo do perfumista se corrompa e produza mau cheiro”, reconhecemos o tipo de linguagem que Jesus usava frequentemente”.

2. Conecte os ensinos de Eclesiastes aos ensinos de Jesus.

Eclesiastes nos ensina sobre dinheiro, sexo, poder, ambição e assim por diante. Explique o texto em Eclesiastes e diga algo como: “Jesus também aborda esse tema, não é?”, ou talvez, “Lembremo-nos que séculos depois, aqueles que seguiram a Jesus falaram sobre essa mesma questão”. Em seguida, cite ou faça uma breve referência sobre como o que Jesus ou os seus apóstolos ensinaram sobre esse tema informa ou corrobora com Eclesiastes.

3. Conecte Eclesiastes com a pessoa e a obra de Jesus.

Aludir à pessoa de Cristo pode soar assim: “Eclesiastes 10:10 nos diz que o trabalho duro requer um descanso estratégico. Anos depois, aquele que é maior que Salomão sentou-se próximo a um poço, ao meio dia, para descansar. Cansado do dia, dormiu num barco e guardou o dia de descanso no Sábado.

Em última instância, declarar a obra de Cristo se assemelha a dizer: “Este texto expõe como a insensatez nos destrói. Ele prenuncia por que o Deus que deu esse livro e ensinou a Israel essa sabedoria finalmente enviou o Seu Filho, o cumprimento de toda a sabedoria, para pagar pela loucura e nos regatar dela”, ou talvez, “Eclesiastes nos mostra que mesmo a sabedoria não pode nos salvar nem mudar as condições da vida debaixo do sol. Aquele que é maior que Salomão é necessário”.

Não negligencie esse livro estranho. Ele é cheio da sabedoria que tanto a igreja quanto o mundo precisam desesperadamente ouvir. Acima de tudo, ele nos conecta com a sabedoria encarnada, o Senhor Jesus Cristo.

Traduzido por Tiago Silva e revisado por Jonathan Silveira.

Texto original: Preacher’s Toolkit: How Should I Preach Ecclesiastes?. The Gospel Coalition. Publicado com permissão.

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