A divindade de Jesus
Cristo
[Nota do redator:
Esta é a primeira de duas partes de um estudo sobre a divindade de Jesus. Por
envolver pesquisas detalhadas e argumentos técnicos, todas as obras citadas,
mesmo as de outras línguas, aparecerão na bibliografia no final da segunda
parte, que será publicada na próxima edição desta revista.]
A questão da
divindade de Jesus Cristo, há muito tempo, tem sido um assunto debatido. Desde
o tempo em que Jesus viveu na terra, as pessoas têm tido vários pontos de vista
a respeito dele. Alguns o chamaram de embusteiro (Mateus 27:63). Alguns
disseram que ele desencaminhava as multidões; outros disseram que ele era um
bom homem (João 7:12). Alguns declaravam que ele era um dos profetas, como
Elias ou Jeremias (Mateus 16:14). Seus discípulos confessaram sua fé em que ele
era o Cristo, o Filho de Deus (Mateus 16:16). Depois do primeiro século houve
continuados debates sobre a natureza e a identidade de Jesus. “As controvérsias
cristológicas do fim do segundo século e do início do terceiro foram assim uma
parte da dialética interna da fé cristã” (Ferguson 18). Para evitar os extremos
do adopcionismo (Jesus era um bom homem a quem Deus adotou como seu Filho) e do
modalismo (Jesus era a mesma pessoa que o Pai, que se manifestava em diferentes
modos), “a solução ortodoxa foi afirmar ao mesmo tempo a unidade de Deus, a
divindade de Cristo, e a distinção entre o Filho e o Pai” (Ferguson 18). Devido
aos esforços para tentar explicar tudo isto, as controvérsias “trinitárias” do
quarto século nasceram. Ainda que sempre tenha havido dissidentes, a posição
ortodoxa definida por diversos concílios que se conveniaram durante os próximos
poucos séculos foi que Jesus era verdadeiramente Deus, e que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são personalidades distintas. Aqueles que negavam isto foram
considerados “anátemas” (Hardy 379). Em tempos modernos, o debate não diminuiu.
A teologia liberal do último par de séculos tem questionado o ponto de vista
“ortodoxo”, e tem tentado redescobrir o histórico Jesus. O resultado tem sido uma
negação da divindade de Jesus nesta era moderna de ceticismo.
O propósito deste
estudo é considerar o que a Bíblia ensina sobre a identidade de Jesus. A Bíblia
contém a verdade histórica sobre Jesus, e estamos buscando entender as muitas
passagens bíblicas relativas à questão de sua identidade. Mesmo dentro de
modernos círculos religiosos, entre aqueles que declaram aceitar a Bíblia como
verdadeira, tem havido desacordo muito espalhado quanto a se Jesus era Deus ou
não. Há também a questão bíblica a respeito do que Jesus renunciou quando veio
à terra. Alguns ensinam que Jesus era Deus enquanto estava no céu mas, quando
veio à terra, despiu sua divindade e se tornou nada mais do que um humano.
Estas questões teológicas têm grandes implicações práticas. Se Jesus realmente
era Deus, então ele merece pleno compromisso e submissão. Se não era quem
declarava ser, então era uma fraude e merece ser relegado ao status de
charlatão ou louco.
Nesta dissertação, o
foco será sobre o que a própria Bíblia diz a respeito de Jesus Cristo. Será
feita menção às modernas tendências que se afastam da aceitação de Jesus como
Deus, mas será dada especial atenção aos textos bíblicos. A intenção é mostrar
que a Bíblia de fato ensina a divindade de Jesus Cristo. Atenção especial será
dada aos versículos específicos que ensinam sobre Jesus.
A moderna tendência
de rejeitar a divindade de Jesus
Alguém que escreveu
sobre esta questão fez a seguinte observação:
“Hoje em dia, pode-se
encontrar evidência virtualmente em toda parte – em todos os continentes, tanto
nos círculos católicos romanos como nos protestantes – que o que está
teologicamente “na moda” é contender por um Jesus que era somente um homem por
natureza e por uma Bíblia que virtualmente silencia a respeito da clássica
cristologia da encarnação de um Cristo de dupla natureza – verdadeiro Deus e
verdadeiro homem na única pessoa de Jesus Cristo. Está muito em voga acreditar
que a melhor solução pode ser entender Jesus como somente um homem – um homem
muito incomum, naturalmente, com uma missão especial de Deus – e explicar as
atribuições bíblicas a ele de qualidades divinas em outros termos não
ontológicos” (Reymond 2-3).
Esta citação descreve
com precisão o pensamento religioso moderno daqueles que são crentes professos
em Deus. Tanto estudiosos protestantes como católicos romanos estão ensinando
que Jesus não era realmente Deus. Eles estão dizendo que ele nem mesmo declarou
ser Deus, mas discípulos mais tarde atribuíram divindade a ele. Parte da razão
por que a tendência moderna tem estado afastada da crença na divindade de Jesus
é devida à questão da confiabilidade das narrações do evangelho. A questão
geral tem sido levantada sobre se os evangelhos, como os temos, são ou não
verdadeiras representações da vida e das declarações de Jesus Cristo.
Rudolph Bultmann era
um importante estudante liberal que questionou a crença na veracidade histórica
das narrações do evangelho. A teologia de Bultmann estava baseada no conceito
de que se precisa “desmitologizar” as narrações. Isto significa que é preciso
ficar por trás do que é dito para tentar achar o que a verdade real é, o que
pode estar escondido em algum lugar nas profundezas do ensinamento mítico. Bultmann
questionou a idéia de que Jesus tivesse uma consciência messiânica (Bultmann
26). Ele apoiou o conceito que diz que pontos de vista como estes sobre Jesus
foram sobrepostos sobre Jesus por discípulos posteriores. Esta abordagem básica
é agora adotada por um grande número de estudiosos. Ele assumiu que os relatos
do evangelho são informação de segunda mão e que eles contêm tradições humanas
sobre Jesus. A “forma de crítica” de Bultmann tomou o mundo teológico como uma
tempestade no vigésimo século (Praamsma 61).
Talvez o mais
significativo desenvolvimento na era moderna do entendimento bíblico seja a
popularização de um “novo” Jesus histórico pelo “Seminário de Jesus”. Este
seminário, realizado primeiramente em 1985 sob a liderança de Robert Funk, reuniu-se
em várias ocasiões para chegar a conclusões a respeito de quem Jesus realmente
foi e quais, dos relatos do evangelho, são suas palavras e declarações reais.
“Poderia a fé ter feito com que os escritores de todos os quatro Evangelhos
embelezassem o fato real? Teriam as políticas da igreja primitiva feito com que
eles alterassem ou acrescentassem à história de Jesus? Quais partes do Novo
Testamento poderiam ser relatos puros e não mitificações piedosas?” (Ostling e
Towle 54-55). Eles decidiram, através de um processo de votação com contas
coloridas, que menos do que um quinto dos tradicionais ditos de Jesus são
autênticos. Suas conclusões estão publicadas numa obra chamada The Five Gospels
(significa “Os Cinco Evangelhos”). Suas conclusões têm recebido muita atenção
dos meios de publicação, e a popularização de suas idéias parece que terá um
forte impacto sobre a opinião pública nos anos vindouros. Ainda que não esteja
dentro do objetivo desta dissertação comentar o Seminário de Jesus, precisa-se
questionar o processo de votação sobre as palavras de Jesus por pessoas que
estão perto de dois mil anos afastadas dos eventos. O ponto é que há um
continuado esforço para redefinir o Jesus dos relatos evangélicos. Tudo isto
parece realçado por uma tendência anti-sobrenatural e a recusa a considerar os
relatos do evangelho como documentos históricos por causa do tipo de material
que ele contém. Eles assumem que ele não pode conter material contemporâneo, e
que qualquer registro de eventos notáveis ou declarações são automaticamente
não confiáveis. “E eles então chegam a conclusões baseadas na fé,
freqüentemente de sua própria criação” (Woodward 2).
Um escritor
conservador, que tem devotado trabalho à crítica do revisionismo moderno,
mostra que ainda há boas razões para se aceitarem os relatos históricos do
evangelho. Depois de criticar a evidência da confiabilidade do evangelho de
Marcos, ele observa o seguinte:
“O Jesus sobrenatural
do Evangelho de Marcos, naturalmente, é difícil de ser aceito por muitas pessoas
do vigésimo século. Não é o tipo de retrato que se pudesse esperar que um
moderno aceitasse, se boa evidência não houvesse aí em seu favor. Mas a
evidência aí está. E, antes que ajustar a evidência para fazer Jesus mais
palatável às sensibilidades do século vinte, parece mais razoável deixá-la
intacta e simplesmente permitir que o enigma deste judeu do primeiro século
confronte nossas sensibilidades do século vinte. Pode mesmo ser que a história,
afinal, não seja um continuum, fechado!” (Boyd 243).
Como é o caso em
muitos campos, a tendência é freqüentemente o fator determinante de a pessoa
aceitar ou não Jesus como os relatos do evangelho o apresentam. Há sempre um
outro lado das histórias que é popularizado nos meios de comunicação. Em
qualquer caso, a fé é envolvida no processo de aceitação. “Assim, se a pessoa
mantém que Jesus era o Filho de Deus e foi levantado dos mortos, ou se a pessoa
acredita que Jesus era um filósofo cínico cujo corpo foi finalmente devorado
pelas bestas selvagens, a fé é necessariamente envolvida” (Boyd 293). Há muita
especulação e pouca evidência objetiva que existe por parte de muitos
revisionistas. Em vez disso, “a narrativa dos Evangelhos é descartada e pedaços
da Escritura são embaralhados para revelar o ‘Jesus histórico’ do próprio
estudioso” (Woodward 65). Parece mais razoável considerar os evangelhos à sua
luz histórica. Eles declaram ter sido escritos e confirmados por testemunhas
oculares (1 João 1:1-3; Lucas 1:1-4; 2 Pedro 1:16). Jesus foi visto, ouvido e
seguido. Somente demonstrando que estes escritores eram mentirosos, iludidos,
ou de algum outro modo os desacreditando, poderemos assumir que os relatos do
evangelho não são designados a serem entendidos historicamente.
A questão se Jesus
era ou não o Filho de Deus parece ser mais um assunto filosófico nesta era
moderna. Muitos não crêem nele simplesmente porque pensam que é tolice aceitar
que um homem que viveu dois mil anos atrás possa ser um salvador numa era
moderna. Alguns não aceitarão o conceito de ressurreição sem se importar com
quanta evidência é mostrada para isso. A própria Bíblia antecipa que muitos
pensariam deste modo (1 Coríntios 1:18 e segs.). Não obstante, houve milhares
de cristãos que deram suas vidas pela sua fé na ressurreição, inclusive aqueles
que andaram com Jesus. Há “pouca dúvida de que o levantamento de Jesus por Deus
para uma nova vida foi uma convicção cristã primitiva” (Woodward 66). Eles
podem ter sido “tolos,” mas estavam convencidos e convictos. E mais, poderia
parecer lógico que estas pessoas que viveram com Jesus, e durante um tão curto
tempo depois de Jesus, soubessem mais sobre a vida, os cenários e os tempos de
Jesus do que qualquer pessoa moderna saberia. Eles não podem ser desacreditados
porque aceitaram Jesus como o Filho de Deus: seus atos baseados em suas
convicções deverão dar-lhes credibilidade. Naturalmente, eles também tinham uma
tendência, como todos têm; mas pode ser que sua tendência realmente fosse
fundada em terreno sólido.
O que a Bíblia diz
sobre Jesus?
A partir deste ponto,
o foco mudará para os textos escriturais e perguntará: a Bíblia, de fato,
ensina que Jesus era Deus? Há muitos que professam que a Bíblia é
historicamente verdadeira, mas que não crêem que Jesus fosse Deus. É este
problema que será enfrentado.
O que significa
“divindade”?
Divindade é,
geralmente, uma referência a um ser que está no estado de ser Deus. Ao dizer
que um ser é “divino”, está-se dizendo que este ser possui a natureza de Deus,
ou está no estado de ser Deus. Na Bíblia, Theos, Deus, refere-se “ao ser
supremo sobrenatural como criador e mantenedor do universo: Deus” (Louw e Nida
137). A Bíblia se refere a Deus como aquele que “fez o mundo e tudo o que nele
existe” (Atos 17:24). Palavras derivadas de theos, como theotes, se referem à
“natureza ou estado de ser Deus” (Louw e Nida 140). Esta é a idéia como é
encontrada em Colossenses 2:9, que afirma com referência a Jesus, “nele habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade”. Ao afirmar que Jesus é divino,
está-se dizendo que Jesus possui certas características divinas. Antes, está-se
dizendo que ele é propriamente Deus, o ser supremo sobrenatural que criou e
sustenta o universo.
Pode ser mostrado
pela Bíblia que Jesus possui a natureza de Deus, então será mostrado que a
Bíblia ensina que ele é Deus. A “natureza” se refere aos atributos,
características e qualidades que fazem de alguma coisa o que ela é. São os
traços essenciais que pertencem a alguma coisa. Se alguém é desprovido destes
traços essenciais de divindade,essa pessoa não é Deus. Gálatas 4:8 se refere
“àqueles que por natureza não são deuses”. Essas pessoas tinham adorado alguma
coisa que não era Deus; esses ídolos não continham a essência da divindade.
Conquanto seja impossível definir todos os atributos essenciais de Deus, e isso
não esteja dentro do alcance deste estudo, algumas das características
específicas que se ajustariam dentro desta categoria incluem a onipotência e a
eternidade. Somente Deus é “Todo-Poderoso” e eterno, no sentido em que ele não
teve princípio e não tem fim. Qualquer ser que possuísse esta característica
seria certamente considerado divino. A questão é: são tais atributos atribuídos
a Jesus Cristo na Bíblia? Este estudo responde afirmativamente, e procurará
mostrar algumas das várias provas bíblicas da divindade de Jesus. Evidências de
ambos, do Velho como do Novo Testamento, serão consideradas.
O Velho Testamento
Para mostrar que
Jesus é o Messias, é comum ir ao Velho Testamento para considerar as muitas
profecias e alusões (mais de 300) a respeito do Messias. Depois, deve mostrar
no Novo Testamento como Jesus cumpriu estas profecias. Algumas destas profecias
incluem referências ao Messias como sendo divindade.
Isaías 9:6 se refere
ao Messias como “Deus Poderoso” (El Gibbor). Em Jeremias 32:18, o nome de “Deus
Poderoso” é identificado como “SENHOR (Yahweh) dos exércitos”. Alguns têm
argumentado que “Deus Poderoso” não é o mesmo que “Deus Todo-Poderoso” e, portanto,
Jesus não era realmente Yahweh. Jeremias responde essa questão. O “Deus
Poderoso” é “Yahweh dos exércitos.”
“Yahweh” (Jeová ou
Javé) é usado 6.800 vezes no Velho Testamento. É o nome mais precioso para
Deus. “Jesus,” como abreviação de Jehoshua, significa “Jeová, o Salvador”. Para
seus pais terrestres, foi dada a mensagem que seu filho se chamaria “Jesus”
(Mateus 1:21). Isto não foi acidental. A Bíblia de fato ensina que Jesus era
Yahweh feito carne (João 1:1,14). Considere as seguintes ligações bíblicas:
1. Isaías 8:13-14 se
refere a Yahweh como aquele que se tornaria uma pedra de tropeço e uma rocha de
ofensa. O Novo Testamento aplica isto a Jesus em 1 Pedro 2:8.
2. Isaías 40:3 fala daquele que viria diante
de “Yahweh” no deserto. Isto é aplicado a João Batista quando preparava o
caminho para Jesus, o Cristo (Mateus 3:3; Lucas 1:76; João 3:28).
3. Em Isaías 42:8,
Yahweh fala da glória que pertence somente a ele, e que ela não seria dada a
outro. Jesus pregou sobre a glória que ele partilhava com o Pai antes que
houvesse mundo (João 17:5). Em Isaías 6 é relatada uma visão na qual Isaías viu
Yahweh sentado em seu trono. João 12:36-41 registra que afirmações feitas por
Isaías foram pronunciadas “porque ele viu sua glória, e falou dele”. No contexto,
isto é claramente uma referência a Jesus. Isaías viu “sua” glória e falou
“dele”, de Jesus. Isto liga Jesus a Yahweh.
4. Isaías 44:6 faz
uma afirmação clara a respeito de Yahweh: “Eu sou o primeiro e eu sou o último,
e além de mim não há Deus”. Seria lógico que alguém que declarasse isto teria
que ser Deus, ou teria que ser um mentiroso. O Novo Testamento atribui esta
mesma frase, “o primeiro e o último”, a Jesus (Apocalipse 1:17-18; 2:8:
22:13-16). Estas referências ensinam que Jesus é Yahweh.
5. Salmo 102 começa uma oração a Yahweh. Uma
parte desta mesma oração é aplicada a Jesus em Hebreus 1:10-12. Seria difícil
conciliar como uma oração (ou mesmo uma parte de uma) feita a Yahweh pudesse
ser assim aplicada a alguém que não é Deus.
Estas e outras
referências tomadas juntamente provêem um apoio muito forte para a divindade de
Cristo sendo ensinada pelo Velho Testamento. Não parece ser por acidente que
tais ligações fossem feitas entre os Testamentos. Jesus não estava vindo a esta
terra para ser só qualquer outro homem; ele estava vindo para ser o salvador do
mundo. Definitivamente, somente o próprio Deus poderia preencher este papel.
O que os relatos do
Evangelho ensinam?
Os relatos do
Evangelho não fornecem biografias completas da vida de Jesus. Eles, contudo,
dão eventos relevantes, atos, declarações ensinamentos de Jesus enquanto ele
vivia nesta terra. Portanto, é apropriado considerar o testemunho destes
registros. Ensinam eles que Jesus é divindade? Nem todos os registros dão o
mesmo destaque aos atos e ensinamentos que outros. Cada evangelho foi escrito
por propósito pretendido e para uma audiência especial. Diferentes ângulos são
considerados nos ensinamentos de Jesus, e diferentes fatos são enfatizados.
1. As declarações de
Jesus. Conquanto Jesus não tenha feito nenhuma declaração explícita de que era
Deus, ele de fato fez declarações que definitivamente o identificavam como
Deus. Tomadas em conjunto, elas apóiam uma questão para o entendimento de
Jesus, que ele é Deus.
a. Ele declarou ter
uma relação inigualável com o Pai. Ele não declarou apenas crer ou amar a Deus;
ele declarou que ele e o Pai eram um (João 10:30). Ele não se referiu a si
mesmo como um filho de Deus, mas o Filho de Deus. João 5:17-18 registra uma ocasião
quando Jesus tinha feito um milagre justamente no sábado. Ele disse aos judeus:
“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Isto enfureceu os judeus,
por isso “ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado,
mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus”. Eles
entenderam que Jesus estava alegando ter uma relação com o Pai num sentido
incomparável, e creram que isto era blasfêmia, pois ele estava “fazendo-se
igual a Deus”.
b. Ele declarava ter
autoridade para perdoar pecados. Marcos 2 registra quando Jesus, confrontado
com um homem paralítico, simplesmente disse: “Filho, teus pecados são
perdoados”. Os judeus pensaram que isto era errado, pois ninguém “pode perdoar
pecados a não ser Deus somente”. De modo a provar que ele tinha autoridade para
perdoar, Jesus curou o homem. O direito a perdoar pecados é um direito divino.
c. Ele se declarou
sem pecado (João 8:29,46; 18:23). Outras passagens bíblicas apóiam esta
declaração (Hebreus 4:15), que põe Jesus em nítido contraste com todos os
outros, pois pecaram (Romanos 3:23).
d. Ele declarou ter
autoridade para julgar o mundo (João 5:25-27). Ele disse que suas palavras
haveriam de julgar no último dia (João 12:48). Ou ele se entendia como Deus, ou
era o homem mais convencido e arrogante que jamais viveu.
e. Ele declarou falar
as próprias palavras de Deus. Ele disse: “Minhas palavras não passarão” (Mateus
24:35). Ele colocou suas próprias palavras em igualdade com as palavras de
Deus.
f. Ele declarou ser o
único caminho para a salvação. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a
vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). Não se pode ficar neutro
diante de uma declaração como esta. Ela é estreita e exclusiva. Mais tarde, os
apóstolos testemunharam que não há outro nome dado pelo qual podemos ser salvos
(Atos 4:12). Se não, a Bíblia está afirmando salvação através de alguém que não
tem direito a declarar ser o único caminho até Deus.
g. Ele declarou ser o
Autor e Doador da vida. “O Filho do homem dá vida a quem ele quer” (João 5:21).
Ele se chamou o “pão da vida” (João 6:48), e a “ressurreição e a vida” (João
11:25).
h. Jesus exigiu a
mais alta lealdade da humanidade. Ele disse que seus seguidores têm que negar a
si mesmos e segui-lo (Lucas 9:23). Ele disse a seus seguidores que eles têm que
amá-lo acima de tudo o mais, incluindo membros da família (Lucas 14:26; Mateus
10:34-39). Se Jesus não pensasse que ele era Deus, o que mais poderia ele estar
pensando?
i. Ele declarou
cumprir todas as profecias do Velho Testamento a respeito do Messias. (Lucas
24:44). Considerando quantas profecias há sobre o Messias, esta é uma admirável
declaração. Uma vez que, conforme já foi demonstrado, o Velho Testamento liga o
Messias a Yahweh, então a declaração de Jesus de ser o Messias é também uma
declaração de divindade.
j. Jesus declarou ser
Deus. Ao falar aos judeus sobre Abraão, Jesus disse: “Antes que Abraão fosse,
eu sou” (João 8:58). Isto levaria os judeus de volta ao tempo quando Yahweh
falou a Moisés no arbusto ardente, declarando ser “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo
3:14). Por causa desta declaração os judeus pegaram pedras para atirar em
Jesus, pois eles sabiam as suas implicações. Nesta afirmação, Jesus estava
declarando existência eterna e auto-suficiência. Se ele não fosse Deus, então
isto realmente seria blasfêmia.
Estas declarações
demonstram o ensinamento bíblico que Jesus tinha uma consciência messiânica e
divina. Rejeitar todas elas como sendo sobrepostas a Jesus por discípulos
ulteriores não é consistente com a evidência, e retrata os discípulos
ulteriores como sendo tão espertos e fraudulentos que se torna difícil
imaginar. Estas declarações são sutis, ainda que fortes. Tomadas em conjunto,
elas argumentam que Jesus declarou ser Deus.
2. As obras de Jesus.
Não era suficiente para Jesus fazer declarações espetaculares. Ele precisava
apoiar o que dizia. Este era o propósito das obras dele. Em João 5, Jesus
afirmou que seu próprio testemunho, por si só, não seria válido. Ele
defendeu-se apelando para outros testemunhos. Um destes testemunhos são as
obras que ele realizava: “as obras que o Pai me confiou para que eu as
realizasse, essas que eu faço, testemunham a meu respeito, de que o Pai me
enviou” (João 5:36). Nicodemos tinha vindo antes a Jesus e disse: “Rabi,
sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes
sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João 3:2). Mais tarde, Jesus
disse aos judeus: “Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis; mas, se
faço, e não me credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender
que o Pai está em mim, e eu estou no Pai” (João 10:37-38). João 20:30-31 afirma
que as obras que Jesus fez tinham a intenção de acender a fé naqueles que
sabiam delas. Pedro disse a alguns judeus no Pentecostes que Jesus era “varão
aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o
próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis”
(Atos 2:22). É impossível separar Jesus de suas atividades. Os milagres e as
obras que Jesus fez são inseparavelmente ligados com sua vida na terra; e não
podem ser rejeitados simplesmente por serem milagrosos.
Jesus fez diferentes
tipos de milagres, mas podem todos ser classificados em três categorias:
milagres sobre a natureza (p. ex., acalmando a tempestade), milagres de curas
físicas (p. ex., curando o homem paralítico), e milagres de ressurreição (p.
ex., Lázaro). Houve muitas testemunhas da maioria destes milagres. Mesmo os
inimigos de Jesus os admitiam. O ponto aqui é que a Bíblia ensina que Jesus
operou milagres de modo a apoiar suas declarações. Portanto, o que quer que
seja que Jesus declarou, de acordo com a Bíblia, foi provado por suas obras.
Desde que suas declarações implicam, direta ou indiretamente, que ele é Deus,
então as obras que ele fez verificam isto e a proposição deste estudo é
verdadeira: a Bíblia ensina a divindade de Jesus Cristo.
3. A aceitação de
adoração. Outra importante prova bíblica da divindade de Jesus é sua aceitação
de adoração. A Bíblia ensina que o único que deve ser adorado é Deus. O próprio
Jesus reconheceu isto (Mateus 4:10). Conquanto seja possível para alguém que
não é Deus aceitar adoração, a aceitação de adoração por Jesus mostra, pelo
menos, que ele pensava ser divino. Muitos exemplos disto são dados nos relatos
do evangelho (cf. Mateus 8:2; 9:18; 14:33; 28:9,17). Merecem observação
especial três passagens do Novo Testamento ligadas com isto:
a. João 5:23. Jesus
afirmou que todos deverão honrar o Filho (Jesus) exatamente assim como ele
honrava o Pai. Se ele não pensasse que era Deus, então ele era culpado de
blasfêmia. Esta afirmação sozinha demonstra o ensinamento bíblico da divindade
de Jesus. Para que alguém declare que merece a mesma honra que o Pai, teria que
ser Deus, ou teria que ser um mentiroso.
b. João 20:28. Depois
da ressurreição, Jesus apareceu aos seus discípulos. Tomé não estava presente
no primeiro aparecimento, e duvidou que Jesus tivesse realmente sido visto.
Quando Jesus apareceu novamente, Tomé viu e fez a seguinte afirmação a Jesus:
“Meu Senhor e meu Deus”. Não há indicação de que Jesus tentasse corrigir isto.
Jesus aceitou esta adoração, tanto como a referência a sua divindade. De fato,
ele respondeu a Tomé: “Porque tu me viste, acreditaste?” (20:29).
c. Hebreus 1:6.
Referindo-se a Jesus, o texto diz: “Que todos os anjos de Deus o adorem”. Esta
instrução é dada pelo Pai. A Bíblia mostra que os anjos sabiam que o único que
poderiam adorar corretamente era Deus. (Apocalipse 19:10). Se lhes é dito por
Deus para adorarem Jesus, então esta é uma clara implicação do ensinamento de
que Jesus é Deus.
4. A ressurreição. Se há um evento no qual todo
o ensinamento bíblico repousa, é a ressurreição. Pela ressurreição, Jesus foi
“designado Filho de Deus com poder” (Romanos 1:4). Este é o único milagre na
Bíblia que, se historicamente verdadeiro, valida a possibilidade de todos os
outros milagres, e a história como registrada na Bíblia. Por esta razão, é uma
das questões mais acaloradamente debatidas. Os revisionistas têm buscado várias
explicações para o corpo de Cristo desaparecido do túmulo. “A ressurreição é
excluída a priori do tribunal porque ela transcende tempo e espaço. Os
historiadores têm então que arranjar outra razão para explicar as origens do
cristianismo” (Woodward 65). Um estudioso do Novo Testamento argumentou que a
ressurreição é uma “fórmula vazia” que precisa ser rejeitada por alguém que
tenha um “ponto de vista científico” (Woodward 62). Assim, alguns, como Crossan,
argumentam que o corpo de Jesus foi devorado por cães selvagens.
Outros dizem que ele
apenas pareceu estar morto. Outros argumentam que seu corpo apodreceu no
túmulo, e que os discípulos foram à sepultura errada. Então alguns argumentam
que os aparecimentos de Jesus foram somente experiências psicológicas, “um
êxtase de massa”. É interessante que, na busca pelo Jesus “histórico,”
estudiosos especulem sobre estas coisas para as quais eles não têm evidência
histórica concreta, objetiva. Ainda assim, esperam que esqueçamos a evidência
bíblica e aceitemos as especulações.
Contudo, como muitos
outros argumentam, há forte evidência histórica para a declaração de Jesus de
ser o Messias, e para sua ressurreição corporal (cf. Ostling e Towle 58). Para
descartar definitivamente a evidência bíblica por causa da suposição de que milagres
como a ressurreição não poderiam ter ocorrido reflete falta de investigação
honesta de matérias históricas. Testemunhas oculares declaram ter visto Jesus
vivo depois que ele tinha morrido. O corpo tinha sumido do túmulo depois do
sepultamento, e “nenhuma explicação natural convincente é disponível para
responder por este fato” (Craig 280). Na verdade, qualquer outra explicação
envolverá necessariamente especulação, pois não há nenhuma evidência
contemporânea primitiva crível que responda pelos fatos de outra maneira. Se
alguém está indo buscar o Jesus histórico, então os registros do evangelho têm
que ser trazidos para testemunho, pois não tem havido “nenhum dado novo sobre a
pessoa de Jesus desde que os Evangelhos foram escritos” (Woodward 70).
A evidência histórica
é suficientemente maciça para convencer o investigador de mente aberta. Por
analogia com qualquer outro evento histórico, a ressurreição tem evidência
eminentemente crível por trás dela. Para desacreditar, precisa-se
deliberadamente fazer exceção às regras que se usam em toda parte na história.
Agora, porque alguém haveria de querer fazer isso? (Kreeft e Tacelli 197).
A ressurreição atesta
a identidade de Jesus. Ela declara, com poder, que Jesus foi o Filho de Deus
(Romanos 1:4). A Bíblia usa a ressurreição para reforçar a crença em Jesus como
o Filho de Deus. Os discípulos que ficaram grandemente desalentados com a morte
de Jesus, ficaram convencidos de que Jesus se levantou e se mostraram,
subseqüentemente, dispostos a morrer para pregar isso. De todos os milagres e
notáveis eventos registrados na Bíblia, a ressurreição é o mais significativo.
Se ela não aconteceu, então aqueles que dedicam suas vidas a Jesus fazem-no em
vão (1 Coríntios 15:12-19). Se ela, de fato, aconteceu, “valida sua declaração
de ser divino e não meramente humano, pois a ressurreição da morte está além do
poder humano; e sua divindade convalida a verdade de tudo o mais que ele disse,
pois Deus não pode mentir” (Kreeft e Tacelli 176).
Títulos atribuídos a
Jesus
Jesus se refere a si
mesmo por vários títulos, e outros escritores do Novo Testamento se referem a
ele por vários descrições. Estas referências a Jesus demonstram uma alta
Cristologia na Bíblia. Elas mostram tanto a concepção que Jesus faz de si mesmo
como os pontos de vista de outros sobre ele. Esta parte discutirá quatro dos
importantes e debatidos títulos, bem como descrições que foram usadas para
Jesus, tanto nos relatos do Evangelho como nas epístolas.
1. Filho de Deus. A
Bíblia se refere freqüentemente a Jesus como o Filho de Deus. Ainda que Jesus
não usasse isto para referir a si mesmo, ele de fato falou de tal modo que
apoiaria seu entendimento de que ele era o Filho de Deus (João 5:17-19). Alguns
tomaram a frase “Filho de Deus” para significar que Jesus era o “descendente”
de Deus. Ela é usada, então, para dizer que a Bíblia ensina que Jesus foi um
ser criado. Contudo, a frase “filho de” é aberta para diferentes significados
na Bíblia. Ela pode significar “descendente”, porém não necessariamente em todo
contexto. Ela pode também ter o significado de identidade, aquele que
compartilha da mesma natureza ou exibe as mesmas características que outro. Por
exemplo, Jesus se referiu a Tiago e João como “filhos do trovão” (Marcos 3:17).
Ele falou de “um filho de paz” (Lucas 10:6). Judas foi mencionado como o “filho
da perdição” (João 17:12). Portanto, “filho de” nem sempre traz uma idéia
física, literal, de “descendente.”
Com respeito a Jesus,
Filho de Deus significa “aquele que tem as características essenciais e a
natureza de Deus” (Louw e Nida 141). Quando Jesus declarou ser o Filho de Deus,
ele estava declarando ter uma relação inigualável com o Pai. Os judeus
entenderam que Jesus quis dizer que ele era “igual a Deus” (João 5:17-18;
10:30-38). Assim, ao afirmar que Jesus é o Filho de Deus, está-se afirmando que
Jesus compartilhou da mesma natureza que o Pai. Ele é, em essência, “Deus o
Filho.” Jesus é o Filho de Deus naquele muito inigualável sentido que ele é uno
com o Pai. Isso nada tem a ver com sua origem.
2. Filho do Homem. Jesus referiu a si mesmo
freqüentemente como o “Filho do Homem”. Isso é usado cerca de 82 vezes nos
Evangelhos. A primeira impressão que se tem do uso deste título é que ele
identifica Jesus com a humanidade. A Bíblia ensina que Jesus era um humano
real. “Filho do Homem” pode certamente implicar que Jesus compartilhava da
natureza e caráter da humanidade. Parece, contudo, que isto não explica
adequadamente a frase. Jesus nunca teve que provar que ele era humano, era
óbvio ao se olhar para ele. Este uso do termo era uma auto-designação, mas
parece haver aí mais do que isso. A evidência indicaria que a frase “Filho do
Homem” também era messiânica por natureza. O melhor apoio para isto pode ser
dado pelas afirmações messiânicas em Daniel 7:13-14, onde o Messias é retratado
como um “Filho do Homem”, ou figura de aparência humana, a quem é dado
“domínio, glória e um reino”. Isto prepara o ambiente para o uso do título por
Jesus.
Jesus usou a frase
“Filho do Homem” em diferentes situações. Primeiro, ele usou-a para falar de si
mesmo quando cumpria seu ministério na terra (p. ex., Mateus 8:20; 11:19).
Segundo, ele usou a frase para falar de si mesmo como sofredor nas mãos dos
homens, que o maltrataram e o executaram (p. ex., Marcos 9:12, 31; Lucas 24:7).
Terceiro, ele usou-a para se referir ao seu aparecimento em glória, como juiz
supremo (p. ex., Mateus 16:27; 25:31; João 5:27). Jesus é tanto o “servo
sofredor” como o juiz de toda a terra. Reymond observou:
“Não pode haver
dúvida, então, que todos os quatro evangelistas, quando interpretados
corretamente, pretenderam que seus leitores entendessem que Jesus é o Salvador
do homem nos papéis de servo sofredor, que veio tanto para ‘buscar e salvar o
perdido’ (Lucas 19:10), como ‘não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida em resgate por muitos’ (Marcos 10:45; Mateus 20:28), bem como vinha
como juiz e Rei escatológico” (Reymond 57).
3. Primogênito. A Bíblia se refere a Jesus como
“primogênito” (Colossenses 1:15-18; Romanos 8:29). Este termo também é aberto a
um par de significados. Ele poderia significar primogênito em tempo (Gênesis
27:19; Êxodo 11:5; Lucas 2:7). Neste sentido ele se refere ao primeiro filho
nascido numa família. Alguns têm tomado este significado e concluído que o uso
da palavra “primogênito”, com referência a Jesus, significa que ele foi o
primeiro ser criado. Contudo, isto não se mantém. O termo “primogênito” também
é usado para representar posição superior. Por exemplo, a Bíblia fala de
“primogênito de morte”, significando a doença mais fatal e mortal (Jó 18:13).
Isaías 14:30 fala de “primogênito dos desamparados”, significando aqueles que
mais precisam de auxílio. Outras passagens usam o termo deste modo (Êxodo 4:22;
Jeremias 31:9; Salmo 89:27). Nestes casos ele significa “preeminente”.
A respeito de Jesus,
“primogênito” significa aquele que é primeiro e preeminente sobre todos. Jesus
existia antes da criação, e é superior à criação (Louw e Nida 117). Ele é
chamado “primogênito entre muitos irmãos”, o que se refere a posição e não a
tempo (Romanos 8:29). Ele é chamado o “Primogênito dos mortos”, significando
que ele foi o primeiro a ser levantado para nunca mais morrer (Apocalipse 1:5).
Colossenses 1:15 deverá ser entendido como significando que Jesus é preeminente
sobre toda a criação porque ele mesmo é o Criador. “A palavra enfatiza a
preexistência e incomparabilidade de Cristo com sua superioridade sobre a
criação. O termo não indica que Cristo foi uma criação ou um ser criado”
(Reinecker 567). Portanto o título “Primogênito” mostra uma alta Cristologia;
Jesus é superior a tudo. Isto demonstra ainda mais o ensinamento bíblico que o
próprio Jesus é Deus.
4. Unigênito. A expressão “unigênito”
(monogenes) aparece cinco vezes com referência a Jesus (João 1:14,18; 3:16,18;
1 João 4:9). Novamente, isto nada tem a ver com a decisão sobre se Jesus é ou
não um ser criado. É uma outra afirmação da posição ímpar mantida por Jesus. Em
cada caso, ela significa “único” ou “só”: “pertencente ao que é único no
sentido de ser o único da mesma qualidade ou classe” (Louw e Nida 591). Por
esta razão, a Nova Versão Internacional explica, numa nota sobre João 3:16, que
“unigênito” indica “único”. O mesmo termo é usado para Isaque, como o “único”
filho (Hebreus 11:17). Isto lança luz sobre o significado do termo. Isaque não
era o “unigênito” de Abraão em sentido estrito, literal. Nem Isaque era o filho
primogênito em tempo. Contudo, Isaque ocupou uma posição singular e superior
como o “único” filho da promessa de Abraão. Por esta razão, Isaque foi o único
filho de seu tipo, e o termo pode ser usado adequadamente para ele. Isto é o
que o termo significa com referência a Jesus. Ele foi o Filho único de Deus, o
único de sua qualidade. É um título de posição, e não de origem.
Há outros termos
aplicados a Jesus que são significantes. Por exemplo, Jesus é chamado “o
resplendor da glória” de Deus e “a expressão exata de seu ser” (Hebreus 1:3).
Jesus não era apenas um reflexo de Deus; a glória de Deus resplandecia através
dele de tal modo que quando se via Jesus, via-se Deus (cf. João l4:9-11). Estes
termos não poderiam ser corretamente aplicados a alguém que fosse um homem
comum. Se eles forem aplicados adequadamente, eles implicarão que o próprio
Jesus é Deus. Todos esses termos tomados conjuntamente demonstram a alta
Cristologia da Escritura. O ensinamento uniforme é que Jesus foi Deus
manifestado em carne.
A divindade de Jesus
Cristo
[Nota do redator:
Esta é a segunda de duas partes de um estudo sobre a divindade de Jesus. Por
envolver pesquisas detalhadas e argumentos técnicos, todas as obras citadas,
mesmo as em outras línguas, nas duas partes aparecem na bibliografia no final
desta segunda parte. A primeira parte foi publicada na edição anterior desta
revista.]
Testemunho do Novo
Testamento
Até este ponto, têm
sido considerados os textos que têm tremendas implicações. Agora nos voltamos
para alguns textos mais específicos que se referem a Jesus como Deus e afirmam
que ele é, de fato, o Criador. Se puder ser demonstrado que Jesus é o Criador e
o mantenedor do mundo, de acordo com a Bíblia, então teremos demonstrado que a
Bíblia ensina que Jesus é divino. Mais ainda, se há passagens específicas que
se referem a Jesus em termos especiais identificando-o como Deus, então o
ensinamento bíblico sobre Jesus ficará claro.
Jesus é o Criador e
Mantenedor?
Alguns acreditam que
a Bíblia ensina que Jesus é um ser criado. Alguma consideração já tem sido dada
a isto. Outras passagens verificam que Jesus não foi criado. Por exemplo,
Miquéias 5:2 fala do Messias como sendo “dos dias de eternidade,” ou “de eternidade
a eternidade.” Isaías 9:6 fala do Messias como o “Pai eterno.” Isto não
identifica Jesus com sendo a mesma pessoa que o Pai; identifica-o como o
Criador, o originador. Ele é chamado “eterno.” Ainda que o Messias tenha
nascido neste mundo no “tempo,” sua existência como um ser não teve um início.
Esta foi pelo menos uma parte da declaração que Jesus fez quando disse aos
judeus: “Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8:58). As Escrituras se
referem a Jesus como o Criador. Colossenses 1:15-16 fala de Jesus como o
“primogênito de toda a criação”, o que, como foi antes considerado, significa
que Jesus é preeminente sobre a criação. Por quê? Porque “nele foram criadas
todas as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado
por meio dele e para ele”. É evidente que, se Jesus criou “todas as coisas,” é
porque ele fica fora da classe dos seres criados. João 1:3 diz: “Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se
fez”. Se esta afirmação é verdadeira, então Jesus é o Criador, não a criatura.
Portanto, Jesus é o Deus Criador, de acordo com a Bíblia.
As Escrituras também
ensinam que Jesus é o mantenedor de todas as coisas. Voltando ao contexto de
Jesus como o Criador, a Bíblia afirma que “ele é antes de todas as coisas. Nele
tudo subsiste” (Colossenses 1:17). A expressão “subsiste” (sunesteken) aqui
indica “juntar ou manter junto algo em seu lugar próprio ou apropriado ou relação
apropriada” (Louw e Nida 614). “Todas as coisas são dependentes do Filho para
sua continuação em existência” (Reymond 248). Isto ensina que Jesus é o
sustentador do que ele criou. Hebreus 1:3 afirma que Jesus “sustenta todas as
coisas pela palavra de seu poder”. Aqui Jesus é descrito como aquele que faz
todas as coisas continuarem. Assim, estas passagens ensinam que Jesus é aquele
que preserva e sustenta todas as coisas. Elas implicam que Jesus é Deus,
atribuindo a ele qualidades divinas.
Jesus é chamado
“Deus”
Outras Escrituras são
ainda mais explícitas em sua afirmação da divindade de Jesus. Ele é referido
como “Deus” em diversos versículos específicos. Nesta parte, algumas dessas
passagens serão brevemente citadas.
1. João 1:1-18. João 1:1 diz: “No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Há três pontos
afirmados neste versículo. Primeiro, o “Verbo” já estava em existência quando o
tempo e a criação começaram; segundo, o Verbo estava sempre em comunicação com
o Pai, e terceiro, o Verbo sempre participou da divindade. “O Verbo era Deus” é
uma declaração que afirma a natureza divina do Logos. Theos, que aqui é
anarthrous [substantivo usado sem o artigo], descreve a natureza do Logos, em
vez de identificar sua pessoa. Jesus como o Logos é pessoalmente indistinto do
Pai (vers. 1b), contudo é uno com o Pai em natureza (vers. 1c) (Harris 93).
Neste versículo, então, o Novo Testamento está ensinando a respeito da
divindade de Jesus. “Aqui, então, João identifica o Verbo como Deus (totus
deus) e assim fazendo atribuir a ele a natureza ou essência da divindade”
(Reymond 304). Isto não significa que deveria ser traduzido como “o Verbo era
divino,” como alguns têm feito. Que “o Verbo” é uma referência a Jesus é
facilmente visto no contexto. O versículo 14 diz: “E o Verbo se fez carne e
habitou entre nós”. O contexto identifica mais adiante o “Verbo” como Jesus
(vers. 15-17).
João 1:18 tem alguma
dificuldade ligada a ele. A segunda parte do versículo, “o Deus unigênito, que
está no seio do Pai,” tem algumas variantes nos manuscritos gregos. A
alternativa mais notável é “o Filho unigênito.” Como foi explicado antes,
“unigênito” se refere a unicidade (uno e único). A maioria dos críticos,
contudo, “concorda que monogenes theos era o escrito original” (Harris 93).
Reymond indica: “O respeitável crítico textual precisa admitir que a evidência
aponta muito decisivamente em favor de um theos original” (306). Parece que
haja uma pequena dúvida, em termos da evidência dos manuscritos, sobre o uso
aqui da expressão que significa “uno e único Deus”. Se for o sentido original,
seria então outra instância de ensinamento a respeito da divindade de Jesus.
Contudo, uma vez que esta passagem tem em si alguma ambigüidade, seria difícil
repousar um caso inteiro nela. Em ambos os casos, ela não contradiz o resto do
testemunho do Novo Testamento da divindade de Jesus.
2. João 20:28. A Bíblia registra que, depois que
Jesus se levantou dentre os mortos e apareceu aos seus discípulos pela primeira
vez, Tomé não estava presente. Quando ouviu que Jesus fora visto, Tomé duvidou,
e disse que teria que vê-lo por si mesmo para que cresse nisso. Jesus apareceu
a eles novamente, e quando Tomé ficou convencido, respondeu a Jesus: “Meu
Senhor e meu Deus”. Alguns têm tomado esta como uma exclamação de louvor a Deus
(não a Jesus). Contudo, o texto afirma que Tomé disse isto “a ele.” Ele estava
se dirigindo a Jesus como Senhor e Deus. Outros têm dito que esta foi uma
exclamação num momento de excitação. Contudo, não há registro de uma repreensão
de Jesus. Ele aceitou esta saudação e levou-a um passo adiante”: “Porque me
viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (vers. 29). Isto se
torna a base para a declaração de João do motivo porque ele escreveu o livro
(vers. 30-31). Não pode haver dúvida de que Jesus dê evidência aqui, por sua
aceitação expressa da apreciação dele por Tomé, que ele era em seu próprio
entendimento seu Senhor para ser servido e seu Deus para ser adorado” (Reymond
213). “Em nenhum outro lugar no Novo Testamento Jesus é identificado mais
claramente como Deus” (Erickson 461). Esta declaração de Tomé, como está, é por
si mesma um tremendo testemunho do ensinamento do Novo Testamento da divindade
de Jesus.
3. Romanos 9:5. Paulo escreveu a respeito dos
israelitas: “... deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo,
segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre.” A NVI
traduz como “Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre”. Ainda que
alguns tenham tentado fazer “Deus bendito para sempre” separado do contexto
como uma doxologia dirigida ao Pai, “é muito mais natural considerar as
palavras finais do versículo como uma descrição ou doxologia do Messias, Jesus
Cristo” (Harris 95). Esta passagem, na sua leitura mais natural do texto grego,
atribui plena divindade a Jesus Cristo. Ele permanece como o Senhor e dominador
do universo, e merece pleno louvor. O argumento de Paulo neste contexto é que
ainda que muitos companheiros israelitas tivessem rejeitado Jesus como Messias,
Jesus é, realmente, supremo sobre o universo e, como Deus, merece ser servido e
louvado. Nenhuma Cristologia mais alta pode ser encontrada.
4. Tito 2:13 e 2 Pedro 1:1. Estas duas passagens
podem ser consideradas juntas por causa de sua frase idêntica: “Deus e
Salvador” (theou kai soteros). Em ambas as passagens, “Jesus Cristo” é o objeto
da frase. Alguns argumentam que “Salvador” se aplica a Jesus, mas “Deus” é uma
referência ao Pai: “Deus (o Pai) e Salvador Jesus Cristo.” Contudo, isto não é
apoiado pela construção grega. Esta frase é aplicada a uma pessoa: Jesus
Cristo. Primeiro, esta é a leitura mais natural do texto. Segundo, os dois
nomes ficam sob um artigo, que precede “Deus.” Isto indica que eles têm que ser
construídos juntos, não separadamente. E mais, esta frase foi uma fórmula comum
e sempre denotou uma divindade, não duas pessoas separadas. Quando ambos Paulo
e Pedro usaram a frase, então, “seus leitores sempre a entenderiam como uma
referência a uma só pessoa, Jesus Cristo. Simplesmente não ocorreria a eles que
‘Deus’ pudesse significar o Pai, com Jesus Cristo como o ‘Salvador’” (Harris
96-97). O que isto tudo significa é que Pedro e Paulo entenderam que Jesus era
ambos, “Deus e Salvador”.
5. Hebreus 1:8. Em Hebreus 1 há um contraste
entre o Filho e os seres angelicais. Isto mostra a superioridade do Filho sobre
os anjos. Para defender este ponto, é feito o argumento que Jesus é o único
Filho (vers. 5). Ele tem de ser adorado, até mesmo pelos anjos (vers. 6).
Então, no versículo 8 o próprio Pai chama Jesus Deus: “do Filho ele diz, teu
trono, ó Deus, é para todo o sempre”. Ainda que haja alguma controvérsia
envolvendo se “ó Deus” é ou não para ser construído vocativamente (como na
maioria das traduções) ou como um nominativo (“Deus é teu trono”) ou como
predicado nominativo (“teu trono é Deus”), a avassaladora maioria dos gramáticos,
comentaristas, autores de estudos gerais e traduções para o inglês dão força a
este vocativo (Reymond 296). Na passagem da qual isto é tirado (Salmo 45:6), o
vocativo é visível. Os versículos 10 e 11 são ligados aos versículos 8 e 9 pela
conjunção kay, que indica que estes versículos caem sob a mesma introdução que
os versículos 8-9. No versículo 10, Jesus é saudado como “Senhor”, o que também
liga-o com Yahweh (Salmo 102). Isto fortalece a decisão para “ó Deus” ser
entendida vocativamente no versículo 8. Isto significa que o Filho é saudado
como “Deus” nestes versículos, num sentido ontológico.
A consideração das
passagens precedentes mostra que o Novo Testamento atribui consistentemente
divindade a Jesus Cristo. Pelo menos quatro escritores – João, Paulo, Pedro e o
autor de Hebreus – usam o título “Deus” com referência a Jesus. O uso deste
título foi primitivo, começando pouco tempo depois da ressurreição (Tomé) e
continuando até o final do primeiro século. Os escritos, dirigidos a várias
pessoas, foram espalhados através de várias regiões, incluindo a Grécia, a
Judéia e Roma. Entre o título de Deus aplicado a Jesus, as declarações de Jesus
e o resto das Escrituras que implicam sua divindade, o Novo Testamento está
repleto de ensinamento sobre Jesus sendo Deus. Se a pessoa deseja ou não
aceitar isto, é outro assunto. Se a pessoa aceita a Bíblia como verdade, então
ela precisa também aceitar que Jesus é Deus.
Há duas passagens que
ainda não foram consideradas, ambas as quais têm ponto de vista significante
sobre o ensinamento do Novo Testamento a respeito da divindade de Jesus. São
Colossenses 2:9 e Filienses 2:1-11. Elas merecem consideração especial.
Colossenses 2:9
“...porquanto nele
habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Este único versículo,
“além de todos os outros no Novo Testamento, afirma que cada atributo divino é
encontrado em Jesus” (Harris 66). Ele não diz que “muita” ou “alguma” divindade
mora nele, mas a “plenitude da divindade”. Todo elemento que existe como
divindade está em Cristo, de acordo com este versículo.
Neste contexto, Paulo
fala de “filosofia e vãs sutilezas, de acordo com a tradição dos homens” e
“conforme os rudimentos do mundo” como sendo contrários a Cristo (vers. 8). A
afirmação no versículo 9, “... porquanto nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade”, foi feita para se contrapor a estas vãs filosofias e
dar uma fundação sobre a qual se pode ser completo em Cristo. Uma das
filosofias contra as quais os escritores do Novo Testamento falaram foi a
doutrina gnóstica, que negava que Deus poderia realmente vir na carne. Os
gnósticos acreditavam que a matéria era inerentemente má, e a partir disto
raciocinavam que Deus não poderia morar num corpo carnal. João abordou este
mesmo problema (1 João 4:2; 2 João 7). Os gnósticos ofereceram uma filosofia
adicional. Paulo responde que Cristo é suficiente para fazer alguém completo
porque nele está a plenitude da divindade, e ele está acima de tudo porque ele
criou tudo. Assim, Colossenses 2:9 afirma que a plenitude da divindade
realmente estava em Cristo, não importa o que os filósofos gnósticos, ou quem
quer que seja, ensinasse. Nada mais era necessário. Esta, por sua vez, era a
base sobre a qual os cristãos deveriam agir. “Por que seus leitores têm que
‘andar’ em Cristo para ‘ficar em guarda’ de modo que ninguém os faça cativos
por meio da busca de conhecimento que procede da filosofia humana e da
tradição?” (Reymond 249-250). A resposta está no versículo 9.
O termo “plenitude”
(pleroma) significa “quantidade total, com ênfase na totalidade” (Louwn e Nida
597). “Mora” (katoikei) indica o assentamento em um lugar fixo. É “estar em
casa”. Vincent aponta que o tempo presente de “mora” denota “uma característica
eterna e essencial do ser de Cristo. A moradia da plenitude divina nele é
característica dele como Cristo, desde todas as eras até todas as eras” (487).
O que está permanentemente “em casa” em Cristo é a “totalidade” da divindade. A
palavra “deidade” (theotes) é o mesmo que “divindade” em várias traduções. O
termo significa “a natureza ou estado de ser Deus” (Louw e Nida 140). É isso
que é Deus, o estado de divindade. Esta afirmação não está simplesmente dizendo
que Jesus é Deus em sua pessoa, mas que ele é tudo o que é Deus. A natureza
divina completa está em casa em Cristo.
Há dois significados
compulsivos alternativos no termo “corporal” (somatikos) neste contexto. O
primeiro é que ele significa “corporalmente,” uma referência ao corpo físico,
humano, de Cristo. “A palavra refere-se ao corpo humano de Cristo” (Reinecker
573). Tomada neste sentido, aqui está uma afirmação do conceito que Jesus era
plenamente Deus mesmo quando humano. A plenitude da divindade se tornou
encarnada. Ao vir a este mundo, não houve nenhuma mudança em sua divina
natureza. Tudo o que ele é como Deus continuou a morar em sua forma corpórea. O
segundo significado possível de “corporal” é “incorporado” ou concentrado numa
forma visível, tangível. Neste sentido, a idéia é que à plenitude da divindade
foi dada expressão completa através de Jesus. Ele era “completamente” e
“substancialmente” Deus e, portanto, plenamente incorporou a natureza divina.
Isto ainda incluiria o tempo que Jesus passou na terra, como a palavra “mora”
indica. Eu prefiro tomar o termo pelo que aparenta ser para referir à
encarnação de Jesus. Em qualquer caso, contudo, este versículo mostra uma alta
Cristologia. A passagem ensina que Jesus é divino.
Filipenses 2
Uma das passagens
mais controversas da Bíblia é Filipenses 2:5-8. Tem havido muitas explicações
para a passagem; e as diferenças de interpretação são significativas. O modo
como se interpreta a passagem afeta seu ponto de vista de Jesus Cristo. Foi ele
sempre Deus? Se ele era Deus anteriormente à encarnação, ele reteve sua
natureza divina quando veio à terra? Se ele reteve sua divindade ao vir à
terra, o que significa quando se diz que ele “esvaziou-se”? Ele deixou sua
divindade para ser exatamente um homem comum? Todas as questões como estas têm
tremendas implicações. É preciso ser cuidadoso ao considerar uma passagem como
esta, evitando uma interpretação que não se ajuste bem com o resto do
testemunho do Novo Testamento a respeito de Jesus.
É provável que
Filipenses 2:6-11 contenha, pelo menos em parte, um hino primitivo (Reymond
251). Há desacordo sobre se este hino foi composição do próprio Paulo, ou se
ele foi escrito antes de Paulo, que simplesmente usou o hino para servir aos
seus propósitos nesta epístola. Em qualquer caso, é difícil negar que ele foi
um hino primitivo. Neste texto estão as características estilísticas e
hinárias, tais como paralelismo de pensamento, inversões, vocabulário incomum e
estilo elevado (Reymond 252). Baseado em estudos anteriores de Lohmeyer, agora
é geralmente aceito que “o que aqui [vemos] é uma confissão cristã primitiva
que pertence à literatura de liturgia antes que prosa epistolar” (Martin 106).
Se isto é verdade, então este é um forte argumento por uma alta Cristologia
primitiva entre os cristãos do primeiro século. Mesmo que não fosse um hino, é
ainda evidência que os cristãos primitivos tinham uma forte fé na divindade de
Jesus.
Este é um texto no
qual as palavras são muito cuidadosamente escolhidas. Cada palavra parece
significante. Portanto, numa interpretação deste texto, as palavras precisam
ser definidas e entendidas. Primeiro, contudo, uma consideração do texto
completo está em ordem. Sem considerações contextuais, o texto pode facilmente
ser mal entendido e mal aplicado. Parece que isto tem sido uma parte do
problema que tem levado a algumas das controvérsias.
Não parece provável
que alguém entenda os versículos 5-8 sem primeiro entender os versículos 1-4.
No todo, a carta de Paulo aos filipenses é muito positiva. O único perigo que
ameaçava a igreja, contudo, era a divisão. Estes versículos são escritos para
tentar salvaguardar contra a desunião os cristãos dali. No versículo 1 Paulo
apela para o encorajamento em Cristo, o poder do amor, o fato da camaradagem, e
a necessidade de compaixão e afeição. Se um cristão entende e se empenha com
estas coisas, então a unidade prevalecerá. Ele então apela para sua necessidade
de ser “de um mesmo pensamento” e “tendo um mesmo sentimento” (vs. 2). Como
isto pode ser feito? Ele responde nos versículos 3-4. Nestes versículos há três
causas dadas para a desunião (Barclay 31): ambição egoísta, prestígio pessoal,
e a concentração em si mesmo. Para os propósitos de explicar os versículos 6-7,
deve-se notar especialmente estes versículos, pois eles servem de fundamento
para o argumento de Paulo a respeito de Jesus. Barclay observa:
“Paulo está
pleiteando com os filipenses para viverem em harmonia, porem de lado suas
discórdias, deixarem suas ambições pessoais e seu orgulho e seu desejo de
proeminência e prestígio, e terem em seus corações aquele desejo humilde e
desprendido de servir, que foi a essência da vida de Cristo. Seu apelo final e
irretorquível foi apontar para o exemplo de Jesus Cristo” (34-35).
Com os pensamentos
precedentes em mente, Paulo apela para Jesus Cristo como o exemplo definitivo
de alguém que nada fez por egoísmo ou vã presunção. “Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus” (vs. 5). Este é o arremate final
dos pontos de Paulo nos versículos 1-4: “aprendam a pensar exatamente como
Jesus”. Isto também serve para introduzir o que Paulo está para dizer a
respeito de Jesus. “Pensem como Jesus”, Paulo disse. O que Jesus pensou? O que
ele fez para demonstrar sua despretensiosa atitude? Ele responde nos versículos
seguintes.
O versículo 6 ensina
que Jesus “existiu na forma de Deus” O termo “existiu” (sendo, huparchon) não é
o termo usual para sendo (hon). Como um particípio presente, ele denota
continuação de uma condição antecedente. Em outras palavras, Jesus é e sempre
tem sido “em forma de Deus”. “Isso descreve aquilo que um homem é em sua
própria essência e que não pode ser mudado. Isso descreve aquela parte de um
homem que, em quaisquer circunstâncias, permanece o mesmo” (Barclay 35). Paulo
começa afirmando que Jesus é inalteravelmente Deus. Seja o que for que Jesus
esvaziou, não foi sua essência divina. Portanto, qualquer posição que ensine
que Jesus deixou sua divindade não está sendo fiel a este texto.
O significado de
“forma de Deus” tem sido acaloradamente debatido. Martin (96) dá dois
significados alternativos para o termo “forma” (morphe). O primeiro é o
entendimento mais tradicional e filosófico que “forma de Deus” significa
atributos essenciais de Deus. Um segundo ponto de vista, mais recente, é que a
frase tem uma forte ligação com a “glória” (doxa) de Deus; e assim Jesus deixou
a glória da divindade, não necessariamente a essência da divindade, quando veio
para a terra. Esta posição, contudo, parece carecer de prova. Outros consideram
a “forma de Deus” como uma referência à aparência visível como Deus. Esta é
outra posição insatisfatória, pois ela dificilmente pode significar a mesma
coisa com referência à “forma de um servo”. Parece mais provável, contudo, que
a “forma de Deus” seja uma referência à divina natureza, que inclui os
atributos e características que fazem de Deus o que ele é, “que é inseparável
de sua pessoa e que o ser divino se realiza em sua divina glória e atributos
divinos imanentes, inerentes” (Muller 78 79). Warfield observou que a “forma de
Deus” se refere a “todas aquelas qualidades características de Deus que fazem
dele Deus, a presença das quais constitui Deus, e na ausência das quais Deus
não existe. Aquele que está na forma de Deus é Deus” (567). Isto também seria
verdadeiro quanto à “forma de um servo.” Jesus assumiu todas as qualidades
características de servidão. Dizer, então, que Jesus “existiu na forma de Deus”
é dizer que Jesus tem sido sempre Deus, com todas as qualidades que pertencem a
Deus.
A seguir, Paulo diz
que Jesus não “considerou a igualdade com Deus uma coisa a ser agarrada”. Isto,
também, tem dado alguma dificuldade à interpretação abrangente do texto. Alguns
tomam isto para significar que Jesus não considerava sua divindade como algo a
ser segurado e, portanto, ele a abandonou ao vir à terra. Isto, contudo,
contradiz o que Paulo tinha dito a respeito da natureza divina inalterável de
Jesus. Primeiro, ele afirma que Jesus de fato tem “igualdade com Deus”. Isto, somente,
é evidência do ensinamento bíblico da divindade de Jesus. Nada menos do que o
próprio Deus pode ter “igualdade com Deus”. Mesmo enquanto estava na terra,
Jesus declarou igualdade com o Pai (João 5:17-23). Esta igualdade é em
natureza, não necessariamente no papel desempenhado. Neste papel, Jesus tomou
uma posição subordinada (1 Coríntios 11:3). Em natureza, ele é igual ao Pai.
Teria Jesus
considerado esta igualdade com Deus como algo a ser “agarrado”, ou como algo a
ser “segurado”? Ambos os significados são possíveis com a palavra grega
(harpogmos). Qual significado faz mais sentido no contexto? “Como quer que
tomemos isto, ele mais uma vez ressalta a divindade essencial de Jesus”
(Barclay 36). Como foi afirmado antes, não parece provável pelo contexto que
isto signifique que Jesus gozou de igualdade com Deus mas dispensou-a ao se
tornar um homem. Muitas outras passagens mostram que Jesus foi muito mais do
que um homem. Parece mais provável que o significado seja que Jesus não se
agarrou à igualdade com Deus através de algum exercício de sua própria vontade,
separado do Pai. Diversos comentaristas vêem nesta afirmação um paralelo com o
relato, em Gênesis, da queda de Adão e Eva. Baseado na afirmação da serpente,
“serás igual a Deus”, o pecado de Adão e Eva foi, em essência, uma tentativa de
agarrar a divindade. Através do exercício de sua própria vontade, separados de
Deus, eles tentaram se tornar seus próprios deuses. Jesus não fez isto. Antes,
ele voluntariamente submeteu-se à vontade do Pai, ainda que ele pudesse ter
sido tentado a fazer sua própria vontade (cf. João 5:30; Mateus 26:39). Reymond
argumenta que esta afirmação deveria ser interpretada contra o cenário de sua
tentação em Mateus 4 (262). Ele escreve, “este ‘pensamento’ de ‘apreensão de
igualdade’, isto é, a tentação de não mais caminhar na trilha do servo mas
antes conseguir ‘o senhorio’ sobre ‘todos os reinos deste mundo’ (Mateus 4:8)
por uma rota (um ato ‘rebelde’ de exaltação’) não mapeada para o servo no plano
da salvação. Cristo Jesus resistiu firmemente” (263). Eu creio que este é o
ponto de vista correto porque se ajusta melhor ao contexto anterior. Cristo não
fez nada por egoísmo ou vã presunção mas, com humildade, estimou os outros como
melhores do que ele mesmo. Nenhum ato mostrou esta atitude mais do que sua
disposição a morrer.
Ao contrário de
buscar igualdade com o Pai através do exercício de sua própria vontade, Jesus
“esvaziou-se”. Isto está no ponto crucial da discussão a respeito da natureza
de Jesus nesta terra. Umas poucas observações podem ser feitas sobre isto à luz
dos comentários anteriores e do contexto inteiro:
1. Qualquer posição
que destrói efetivamente a divindade de Jesus é errada, porque ela contradiria
não somente a passagem, mas também um grande número de outras passagens que
afirmam sua divindade. Este é o efeito de uma posição que ensina que Jesus deixou
seus atributos e características divinas. A natureza de uma coisa é os
atributos e características que fazem-na o que ela é. Se Jesus não tivesse a
natureza de Deus, ele não seria Deus (cf. Gálatas 4:8).
2. O texto não diz
que Jesus se esvaziou “de” alguma coisa. Acrescentando “de” à frase, e então
enumerando tudo o que ele supostamente deixou para vir à terra não é ser fiel
ao texto. Isto é ler no texto o que ele não diz. Ele “esvaziou-se”. Ele não se
esvaziou “de” um punhado de coisas.
3. Insistir que
“esvaziou-se” deverá ser tomado literalmente para significar que Jesus teve que
despejar alguma coisa fora de si antes que pudesse tomar qualquer outra coisa é
um abuso do texto. Diz o texto: “ele esvaziou-se tomando a forma de um servo
cativo.” Isto se explica por si mesmo. A aceitação por ele da servidão foi um
ato de auto-esvaziamento.
4. Uma boa comparação
pode ser feita com Isaías 53, um texto que descreve o servo sofredor. Note no
versículo 12 a frase: “Ele se derramou na morte”. Não tem isto uma tocante
semelhança com “esvaziou-se”, e “humilhou-se, tornando-se obediente até a
morte” (Filipenses 2:7-8)? Como o servo sofredor, ele esvaziou-se, derramou-se
até a morte.
5. Novamente, o
próprio contexto de Filipenses 2 mostra o que quer dizer com a frase
“esvaziou-se.” O ponto de Paulo no texto é insistir com os irmãos para que
sejam de um só sentimento, que sejam unidos e decididos por um único propósito
(vers. 2). Para cumprir isto ele instrui: “Não façam nada por egoísmo ou vã
presunção, mas com humildade de pensamento que cada um considere o outro como
mais importante do que si mesmo; não olhe meramente para seus próprios
interesses pessoais, mas também para os interesses dos outros” (vers. 3-4).
Para atingir o ponto de desprendimento, precisa-se olhar para Jesus. Por quê?
Porque ele é o exemplo perfeito destas instruções. Ainda que ele mesmo seja
Deus, enquanto esteve na terra ele não se agarrou a sua divindade tentando,
separado do Pai, exercer sua própria vontade independente. Antes, ele “esvaziou-se”,
que é a frase perfeita para descrever a atitude dos versículos 3-4. Assim, o
que significa que Jesus “esvaziou-se”? Jesus Cristo, em seu papel do servo,
nada fez por egoísmo ou vã pretensão, mas em humildade de pensamento ele
considerava os outros como mais importantes do que ele mesmo. Ele se
interessava pelos interesses pessoais dos outros. Como ele fez isto? Em última
instância, morrendo na cruz. Assim, o ponto de Paulo é que, como Jesus se
esvaziou, assim todos temos que nos esvaziar. É simplesmente outro modo de
dizer que precisamos negar a nós mesmos (Lucas 9:23), pois isto é o que Jesus
fez quando cumpriu sua missão para o mundo perdido. Ele se pôs de parte para
que tudo o que ele fez fosse desprendido. Marcos diz isso deste modo: “Pois o
próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45). Estas passagens dizem a mesma
coisa.
6. A idéia de que
Jesus se esvaziou de atributos e características é completamente estranha ao
argumento de Paulo. Ele aponta Jesus como nosso exemplo de auto-humilhação. Se
Jesus esvaziou de si uma quantidade de atributos, então como podemos seguir seu
exemplo? Não podemos despir-nos de nossa natureza humana. A linha de raciocínio
que Paulo usa para dizer que deveremos ser altruístas se torna sem significado
através de uma tal interpretação.
7. Muito
simplesmente, então, o texto nos diz que deveremos esvaziar-nos. Deveremos
negar a nós mesmos, não fazendo nada por egoísmo. Fazemos isto tomando a
atitude de Jesus, o supremo exemplo de abnegação. Ele esvaziou-se. Como um
servo, ele se submeteu completamente ao Pai e derramou-se na morte. Depois
disso, ele foi exaltado. Se nós, também, nos humilharmos do mesmo modo, Deus
promete que seremos exaltados (Tiago 4:10). Este é o ponto de toda esta
passagem.
O texto ensina a
divindade essencial de Jesus Cristo. Ensina que Jesus nada fez por egoísmo, e
que ele é o exemplo supremo de abnegação. Ensina, ainda, uma Cristologia
extremamente alta; não ensina que ele jamais fosse menos do que tinha sempre
sido: Deus.
Outras considerações
É impossível sermos
neutros sobre Jesus Cristo. De fato, aceitamos ou não aceitamos Jesus como o
Filho de Deus. As implicações da posição que tomamos sobre Jesus alteram nossa
vida. Se alguém aceita Jesus como o Filho de Deus, então precisa tomar a
decisão de seguir ou não Jesus. Se alguém não aceita Jesus como o Filho de
Deus, então a Bíblia é relegada como mito e fábula. Em conseqüência, esta
pessoa não sentirá a necessidade de submeter-se aos ensinamentos da Bíblia.
Nossa filosofia a respeito de Jesus determinará o curso da vida.
Há quem argumente que
Jesus foi um bom homem, porém não foi o Filho de Deus. O problema com isto é
que, se Jesus não era o Filho de Deus, então ele era um mentiroso. Se fosse um
mentiroso, então como pode alguém argumentar que ele era um bom homem? Não se
tem simplesmente a opção de chamar Jesus um bom homem. Teria de rejeitá-lo como
uma fraude, porém não se pode ser neutro sobre ele. C. S. Lewis, um
ex-agnóstico, expôs este problema com as seguintes palavras:
“Estou tentando aqui
evitar que alguém diga a coisa realmente tola que pessoas freqüentemente dizem
sobre ele: “Estou pronto a aceitar Jesus como um grande mestre moral, porém não
aceito sua declaração de ser Deus.” Esta é a coisa que temos que não dizer. Um
homem que era meramente um homem e disse o tipo de coisas que Jesus disse não
seria um grande mestre moral. Ele seria ou um lunático – no nível do homem que
se diz ser um ovo frito – ou então seria o Diabo do Inferno. Temos que fazer
nossa escolha. Ou este homem era, e é, o Filho de Deus, ou então é um louco ou
algo pior. Podemos calá-lo como tolo, podemos cuspir nele e matá-lo como a um
demônio; ou podemos cair-lhe aos pés e chamá-lo Senhor e Deus. Mas não venhamos
com qualquer tolice como ‘panos quentes’ sobre ele ser um grande mestre humano.
Ele não deixou isso aberto para nós. Ele não pretendeu deixar” (55-56).
Há quem objete contra
o conceito que Jesus não poderia ser tanto Deus como homem. Qualquer atribuição
de divindade a Jesus jamais foi levianamente considerada. Tem havido sempre
tensões teológicas sobre a natureza de Jesus. O problema, eu creio, é que temos
dificuldade em conciliar o Cristo de dupla natureza devido às nossas próprias
limitações. Eu serei o primeiro a confessar que não entendo como isto poderia
acontecer de outro modo que não por meio da aceitação do poder e conhecimento
de um Criador. Se permitirmos que os documentos bíblicos apóiem-se em suas
próprias evidências, eles parecem sólidos e bastante confiáveis. O problema
aparece quando nossa fé é desafiada a aceitar algumas coisas que não são
normais, nem ocorrências de todo dia nesta era científica moderna. Eu não creio
que se possa dizer honestamente que é impossível para Deus vir na carne. Tal
afirmação é equivalente a jactar-se de ter todo o conhecimento. Como podemos
saber que Deus não poderia fazer isto a menos que, primeiro, assumamos que Deus
não existe e, em segundo lugar, que Deus não pode “interferir” com sua própria
criação? Obviamente, a fé desempenha um papel maior neste assunto; mas esta não
é uma fé cega, como muitos alegam. Se podemos aceitar Deus pelo número de
evidências que ele mesmo deixou, então podemos aceitar o que Deus tem feito por
nós. Aceitação e pleno entendimento são dois assuntos diferentes.
Alguns que aceitam a
existência de Deus negam a divindade de Jesus baseados em que há um único Deus.
Eles rejeitam qualquer conceito de uma “Trindade.” Eu creio que nós todos temos
um entendimento básico da possibilidade de haver “uma” de alguma coisa, e
contudo essa alguma coisa pode ter elementos plurais. Por exemplo, uma equipe
pode consistir de cinco, nove, ou onze jogadores num campo esportivo,
dependendo do esporte. Um único casamento consiste de duas pessoas, e uma
família pode ter muitos membros. Biblicamente, o conceito é confirmado. A
Bíblia diz, a respeito do casamento, que dois “se tornarão uma só carne”
(Gênesis 2:24). Dois se tornam um, contudo permanecem personalidades distintas.
Ninguém argumentaria que eles formam dois casamentos. Qualquer comparação deste
conceito com Deus é inadequada, mas pelo menos a idéia é compreensível. Há um
Deus, um estado de divindade; mas há três personalidades distintas às quais a
divindade é atribuída. Isto não faz três deuses; antes, há um Deus composto de
três personalidades. Tire qualquer personalidade do quadro e a unidade de Deus
é destruída.
Na maioria dos casos,
parece que a rejeição de Jesus como o Filho de Deus é mais em bases filosóficas
do que em bases históricas. É virtualmente impossível refutar a Bíblia em bases
históricas. Rejeitar sua historicidade por causa de eventos ou mensagens que
ela contém em bases filosóficas não é histórico. Francamente, ultimamente não
tenho visto uma rejeição de Jesus em qualquer outra base.
Conclusão
O propósito deste
estudo tem sido mostrar que a Bíblia, de fato, ensina que Jesus é Deus. Isto
tem sido demonstrado por meio de numerosas passagens bíblicas. O Velho
Testamento apóia o ensinamento da divindade de Jesus, e o Novo Testamento
irresistivelmente ensina que Jesus é Deus. As Escrituras também confirmam que o
entendimento de si próprio por Jesus é consistente com este ensinamento. Ainda
que ele não tenha promovido sua própria identidade, ele fez declarações que são
equivalentes a declarações de divindade. E, mais ainda, suas obras demonstraram
sua identidade, e sua aceitação de adoração mostrou seu próprio entendimento.
Em última análise, a ressurreição é a testemunha mais significativa da
divindade de Jesus. Ela declara poderosamente que Jesus é o Filho de Deus
(Romanos 1:4).
O resto do Novo
Testamento retrata Jesus como divino. Ainda que a Bíblia ensine que Jesus era
um ser humano, ela ensina que ele era muito mais do que isso. Ela atribui a ele
a natureza essencial e caráter de divindade. Ela não ensina que ele deixou sua
divindade quando veio à terra. Antes, ela ensina que Jesus tomou a natureza
essencial de servidão; seu maior ato de serviço foi a dádiva de sua vida.
A questão sobre a
identidade de Jesus não terminará tão cedo. Questões recentes sobre Jesus têm
renovado muito da discussão. Seja qual for a posição com que se termine, ela
será aceita através de algum processo de “fé”. Isto é inevitável. A questão
permanece, contudo, sobre qual “é” a mais razoável. Baseado em considerações
bíblicas, históricas e outras, eu escolhi crer que Jesus foi, e ainda é, Deus.
Ele nunca pode ser menos do que isso.
–por Doy Moyer
A font está muito pequena, fica complicado ler assim e cansativo. Seria bom aumentar o espaçamento entre as linhas também.\paz.
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