Como lutar com dúvidas, incredulidades e cansaço na vida! Josemar Bessa
Era outono, o ano era
1782, e um homem caminhava nas docas de Deptford. Ele tinha 57 anos. As docas
de Deptford estão no sul de Londres sobre o rio Tâmisa. Muitos quilômetros no
rio, um pouco distante do mar, esse porto foi a casa da Marinha Real, e este
homem olhou para os navios de guerra, e os navios mercantes ali, e começou a
lembrar do seu passado como marinheiro... ele tinha tanto para lembrar. Ele
havia navegado em navios da Marinha, em navios mercantes, e tinha navegado
tantas vezes em navios de comércio de escravos africanos. Que vida brutal ele
havia vivido.
Seu nome é John Newton
( 1725-1807 – autor de hinos como “Amazing Grace” e um dos maiores pregadores
que o mundo viu), ele agora é um pastor, mas como era improvável há alguns anos
atrás que ele se tornasse o que é hoje. A vida no mar havia durado tantos anos,
mas numa noite, uma grande tempestade no mar quase reivindicou sua vida... isso
foi há mais de 30 anos atrás... ele quase se perdeu para sempre com seu navio,
o Greyhound. Mas aqui, em Deptford, tudo estava em paz, calmo e seguro – um bom
porto para os navios... onde alguns eram reformados, pintados de novo, alguns
eram novos... todos com seu brilho e lindos.
Neste dia em particular,
John Newton assistiu a celebração no estaleiro por um grande navio que havia
sido maravilhosamente reformado e remodelado e estava sendo lançado de novo no
rio Tâmisa, para breve estar em alto mar. O navio foi lançado a água, pessoas
dentro e fora do navio gritavam e celebravam. O navio estava como devia ser,
lindo, limpo, cores vibrando de pura beleza.
John Newton descreve
isso numa carta para sua filha adotiva de 13 anos de idade, Betsy... “O navio
estava lindo” – ele disse – “mas eu olhei para ele com uma espécie de pena e
pesar no coração. Pobre navio, eu pensei, agora você está num porto com toda
segurança; mas muito em breve você estará em alto mar. Quem pode saber? Quem
pode dizer quantas tempestades não te encontrarão? Quem pode saber quantos
riscos irás correr no vasto oceano... será que um dia retornarás ao porto
novamente? E se voltar, estará tão castigado pelo tempo, pelas ondas, pelas
tempestades...”
A filha adolescente de
John Newton, Betsy, estava em um internato estudando... ela estava como aquele
navio – ele pensa – Ela estava nas docas calmas e seguras da vida, mas estava
sendo preparada, como aquele navio, para o mar aberto da vida adulta e sem as
proteções que agora a cercavam. Ao pensar na filha, John Newton pensou naquele
navio, pensou sobre a vida de modo geral... Ele diz: “Você está num porto
seguro agora; mas, em muito pouco tempo, você será lançada no mundo, que pode
sem sombra de dúvida, ser comparada ao oceano tempestuoso. Eu poderia até mesmo
chorar agora, pela semelhança do mundo que te espera com o mar tumultuoso que
espera este navio tão novo e lindo; mas eu me encho de coragem, porque minhas
esperanças são muito maiores que todos os meus medos.”
Muitos pais que amam o
Senhor já expressaram esta mesma sensação com lágrimas e oração... e mesmo nós ao olharmos para nossas
vidas em relação ao futuro desconhecido sentimos o mesmo. O grande oceano da
vida já reivindicou muitas vidas e navios... olhe para um adolescente, jovem,
adulto... navios ao mar. Não importa quão grande, belo, celebrado, cheio de
cores... Naufrágios são a dura realidade em um mundo caído. A dura realidade
para navios que parecem grandes e belos, mas que não são nada perto das forças
violentas do oceano.
Mas John Newton
continua sua carta para Betsy – “Eu sei filha, eu sei que há um piloto infalível
que tem os ventos e as ondas sob seu comando. Não há um dia sequer que eu não
suplique a Ele para tomar conta de você, neste mares onde eu mesmo não estarei
contigo, e que mesmo se tivesse, não poderia controlar. Sob os cuidados dele,
eu sei que você estará segura, Ele pode te guiar, ele pode te levar ilesa em
meio às tempestades, e rochas mortais, e perigos inimagináveis que você irá
sofrer quando sair das docas seguras onde você está agora... em meio a tudo que
poderás sofrer... e Ele pode te trazer, finalmente para o refúgio e descanso
eterno.”
Uma das frases
favoritas de John Newton – talvez por ter vivido no mar tanto tempo – como marinheiro,
capitão... era “Comandante infalível das almas” – e ele gostava de usar esta
frase para incentivar muitos e muitos amigos cristãos que lutaram com dúvidas,
incredulidade e cansaço na vida.
Tempestades são
inevitáveis. As tempestade na vida são reais. Isso fazia Newton sentir certa
tristeza ao olhar aquele lindo navio que enfrentaria o mar e que partia seu
coração ao fazê-lo lembrar de sua filha tão nova, mas que em breve deixaria as
docas protegidas. Mas havia uma esperança arrebatadora no “Comandante infalível”
para sua amada e preciosa filha. Betsy, apesar de tão nova, já tinha
experimentado o mar aberto de certa forma, quando seus pais morreram, mas agora
ela era sua filha e estava segura. Mas
mais aflições iriam chegar, pois o mar é o mar... jamais fica calmo por muito
tempo. Tempos depois, em sua vida adulta, Betsy iria enfrentar uma tempestade
de depressão que a levaria ao
Hospital Bedlam...
Naquela tarde nas
docas, John Newton, viu nuvens de tempestade a distância, enquanto aquele belo
navio se preparava para partir... e pensou como estaria sua filha nas docas do
internato onde estudava. Ele diz – “A nossa viagem através da vida, filha,
muitas vezes serão alcançadas por grandes tempestades, mas o Senhor Jesus é um
comandante todo poderoso e infalível. Os ventos e os mares O obedecem. Nada
nunca naufragou sob seus cuidados; e Ele se encarrega pessoalmente de todos os
que nEle confiam.
Não há segurança em
alto mar, exceto se você está sob o comando daquele que comanda também o alto mar.
Só Ele divide o mar (Ex 15.8, Ne 9.11, Sl 77.19). Só Ele agita o mar (Is 51.15,
Jr 31.35). Só Ele acalma o mar (Jn 1.15,16; Sl 65.7; 89.9, Jó 26.12). Só Ele!
Ao acalmar
completamente a tempestade e fazer aquietar o vento, acalmar as ondas... (Mc
4.35-41) - Jesus revela que Ele era o Senhor eterno... só Ele é qualificado
para pilotar, guiar o seu povo exercendo um domínio soberano sobre todas as
circunstâncias de sua vida no vasto oceano.
Sem Ele, que chance
qualquer navio teria no Oceano? John Newton como um capitão que não perdeu a
vida no mar por um milagre, sabia em primeira mão, em como o vasto oceano amplifica enormemente a impotência humana.
John Newton conta que
quando o governo de Veneza enviava seus navios ao mar, o comandante do navio
era obrigado a fazer um juramento que ele iria trazer o navio de volta em
segurança, sob qualquer tempo, vento ou tempestade... “Mortais vãos!” – Ele diz.
“Vãos e meros mortais
não podem desafiar o vento ou o tempo no grande oceano e garantir a segurança
de ninguém e nada sobre o mar. Cristo, o Deus-Homem, pode... mais nada, mais
ninguém. Porque não só o navio está sob a mão e o comando de Jesus, mas também
os ventos, e as ondas, e todo o vasto oceano. Ele usa todas essas coisas –
vento, mar, tempestade... como uma orquestra para realizar o Seu propósito
final em nossa viagem da fé. Por isso, para aqueles que amam a Deus, “todas as coisas cooperam para o bem!” (
Rm 8.28) – Mas é mais fácil citar esta promessa quando você está nas docas protegidas
com seu navio intacto, limpo e lindo. Mas é bem mais difícil quando ondas
gigantes te agitam, rochas perigosas se aproximam... Para os verdadeiros
cristãos, a vida no mar aberto é um teste diário da fé” – Por isso John Newton
diz que tantas vezes neste momento sua oração era: “Senhor, dá-me fé!”
Naquela tarde nas docas
ele sabia que a batalha pela fé estava chegando para Betsy. Ela é uma realidade
para todos nós. O nosso comandante infalível vai manter nosso navio flutuando e
em curso enquanto as ondas gigantes da tempestade irão maltratar nosso casco já
não tão limpo, novo e lindo como quando estava nas docas seguras. Essas
tempestades vão nos fazer cair de joelhos, e isso fortalecerá nossa capacidade
para outras tempestades que ainda chegarão. Apegar-se a dinheiro, títulos
acadêmicos, realizações no mundo... nos levará ao naufrágio certo... não há
segurança aí – mas quando estamos nas docas ainda, somos tentados a achar que
tudo isso pode ser nossa segurança. Nossa verdadeira batalha está em confiar no
Comandante infalível que guia e orienta este navio sobre o azul profundo do mar
no lindo dia, e na mais escura noite de tempestade... que comanda também o
próprio oceano e as tempestades, e sempre leva os seus para o porto seguro do
descanso eterno.
Josemar Bessa
Acesse: josemarbessa.com
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