Cultura e Geografia do Mundo Bíblico

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Cultura e Geografia do Mundo Bíblico

2. 1. A Mesopotâmia e o Egito
Por volta do ano 3.000 a.C. o Oriente Médio conheceu dois grandes centros de civilizações, cada qual com sua cultura própria. O primeiro encontrava-se na Mesopotâmia, terra dos rios Tigre e Eufrates (o Crescente Fértil). O segundo era o Egito, uma das civilizações mais avançadas do mundo antigo.
Gênesis nos revela a história que tem origem no Éden, cujo local seria em algum lugar da Mesopotâmia. É aí, dessa região que surge Abraão, o pai dos hebreus.
O relato de Gênesis 12 coloca-o, partindo de Ur dos Caldeus, após Deus ordená-lo para sair daquela terra, do meio dos seus parentes em busca de uma terra especial.
A época de Abraão o mundo bíblico era muito próspero, situado nos vales fluviais do Egito e Mesopotâmia, região onde havia cidades e pequenos reinos. A vida nômade era comum. Essas tribos mudavam-se constantemente em busca de pastagens para seus rebanhos.
Em Canaã, Abraão passou a conviver com seus habitantes. Mas nesse primeiro momento, Abraão não pode estabelecer sua descendência ali.
Numa ocasião, os bisnetos de Abraão foram ao Egito para comprarem cereais. Nessa época, José, um dos filhos de Jacó, que tinha sido vendido como escravo por seus irmãos era governador no Egito. Assim toda família de Jacó, neto de Abraão, ali se estabeleceu.
Daí seguiu-se com a escravidão dos seus descendentes, e posteriormente o livramento de Deus através de Moisés, a fim de que os israelitas conquistassem a Terra Prometida.    
2. 2. Considerações sobre a terra de Israel
O cenário principal da história bíblica é Israel, ou Canaã. O nome Israel provém do patriarca Jacó, de quem Deus teria mudado o nome para Israel (que significa “o que luta com Deus”). Mas este povo recebeu vários nomes em sua história e é significativo conhecê-los.
a. Canaã. É seu nome mais antigo, e significa “Terra de Púrpura”. Alguns estudiosos dizem que este nome está ligado a um dos filhos de Noé – Canaã. Daí aquela faixa de terra ser conhecida como o “território dos cananeus”, sendo habitada também por outros povos.
b. Terra dos Amorreus. Os amorreus eram descendentes dos cananeus, e habitavam Canaã. Daí a região também ser conhecida como Terra dos Amorreus.
c. Judéia. Nome comum após a volta do cativeiro babilônico, visto que os exilados eram do reino de Judá. Daí o nome “judeu”, usado na Babilônia, para todos os israelitas.
d. Terra Prometida. O nome “Terra Prometida” liga-se à promessa feita a Abraão de que ele seria pai de uma grande nação e herdaria a terra de Canaã (Gn 12. 1-4).
e. Palestina. Depois da morte de Jesus, no ano 135, após os judeus serem derrotados pela segunda vez por Roma, Israel recebeu o nome de Palestina. Foi o imperador romano Adriano que assim chamou o país. O termo ‘Palestina’ significa “Terra dos Filisteus” – um nome que não lembraria que os habitantes daquela região eram os israelitas.
f. Terra Santa. O profeta Zacarias foi o primeiro a designar Israel como sendo a “Terra Santa” (Zc. 2: 12). Muitos séculos depois, os cristãos da Idade Média começaram a chamar Israel por esse nome. Talvez por ter sido o cenário do nascimento e a vida de Jesus Cristo
2. 3. Principais cidades de Israel nos tempos bíblicos
Algumas cidades de Israel se destacam na história bíblica. Observe as principais delas, com destaque para Jerusalém, relevante, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
2. 3. 1.  Jerusalém. Significa “cidade de paz”. Cercada de muros desde os tempos mais antigos, daí ser identificada também como “habitação segura”. Mas o privilégio que Jerusalém tem não se deve à revelação de Deus. Na mentalidade judaica e cristã, Jerusalém tornou-se o modelo da cidade celestial (Ap 21). Ela também recebeu vários nomes em sua história:
a. Urusalim. É talvez o mais antigo nome de Jerusalém. Algumas inscrições encontradas pelos arqueólogos, datam esta cidade, de mais de 1400 anos antes de Cristo.
b. Salém. Na Bíblia, é o nome mais antigo de Jerusalém (conforme Gênesis 14. 18) e pode indicar que a cidade foi devotada a uma divindade semítica de nome Shalém.
c. Jebus. Era conhecida na época dos Juízes como “Jebus”, isto é, o ‘território dos jebuseus’ (Jz 19. 10). Os jebuseus permaneceram em seu território, após a conquista de Canaã, por cerca de 200 anos. Davi a tomou e passou a chamá-la Jerusalém, tornando-a capital do reino.
d. Sião. Também é uma indicação para Jerusalém, embora seja o nome de um dos montes da cidade onde o Templo foi construído. Jerusalém era chamada Sião, cidade de Deus.
e. Cidade de Davi. É um dos nomes simbólicos na sua história. Davi foi o mais famoso rei da história judaica, e emprestou seu nome à cidade, por ter sido ele o conquistador do território. Fez isso com seus próprios soldados e pagando-os do seu próprio bolso.
f. Aélia Capitolina. Foi o imperador ,Adriano (135 d.C.), que deu esse nome a Jerusalém, após reconstruí-la nos moldes romanos. Tal nome, ele deu em honra a si mesmo (seu primeiro nome era Aelius) e ao deus Júpiter Capitolino (divindade maior dos romanos).
g. El-Kuds. É o nome árabe que identifica Jerusalém. Quando os árabes a conquistaram, na Idade Média assim a chamaram, isto é, “A Santa”.
2. 3. 2. Jericó é a cidade mais antiga de Israel, e uma das mais antigas do mundo. Nos trabalhos de escavações realizados em Jericó, os arqueólogos encontraram vestígios de vida humana que datam da Idade da Pedra. No tempo do rei Acabe (I Rs 16. 34) a cidade foi reedificada, e tornou-se muito importante. A moderna cidade está a uma distância de 1600 mts. da antiga Jericó.
2. 3. 3. Belém. A cidade de Belém fica próxima a Jerusalém, nas montanhas de Judá. Belém significa “casa de pão”. Nela nasceu o rei Davi, e o seu descendente, Jesus Cristo.
2. 3. 4. Samaria.  Fundada por volta de 920 a.C. por Onri, rei de Israel, ela tornou-se uma das cidades mais importantes do país. Serviu como capital do Reino do Norte (quando Israel se dividiu em dois reinos) por 200 anos, sendo destruída pelos assírios no ano de 722 a.C..
No segundo século antes de Cristo, Samaria teve o seu resplendor restaurado, mas em seguida foi arrasada novamente. Herodes, o Grande, a reconstruiu algum tempo antes de Jesus nascer, dando-lhe o nome grego de “Sebaste” em honra ao imperador César que acabara de receber o título de “augusto” (em grego, sebastós, de onde se deriva o nome Sebastião).
2. 3. 5. Nazaré. Jesus e sua família viveram nesta cidade. Daí ele ser conhecido como “Jesus de Nazaré”. Seus habitantes eram desprezados pelos judeus da capital Jerusalém (Jo 1. 46). A moderna Nazaré é uma das cidades de Israel que possui o maior número de cristãos.
2. 3. 6. Cafarnaum. Cidade às margens do Mar da Galiléia que funcionava como posto militar na época do Novo Testamento (Mt 5. 13), e centro de recolhimento de impostos (Mt 9. 9-13). Ao iniciar Seu ministério após mudar-se de Nazaré, Jesus foi morar nesta cidade (Mt 4. 12-13).
2. 4. A vida social e religiosa hebraica
A vida social e religiosa hebraica está relacionada diretamente a cultura e ao meio ambiente oriental. Veremos um resumo de alguns aspectos da vida judaica, envolvendo tanto a época do Antigo quanto do Novo Testamento.
2. 4. 1. O levirato. Os judeus tinham em alto valor a geração de um herdeiro masculino com vistas à preservação da descendência (Êx 15. 17). Por essa razão a Lei do Levirato, instituída por Moisés (Dt 25. 5-10) consistia no casamento de uma viúva com o irmão ou parente mais próximo do falecido marido, a fim de suscitar descendente, caso não tivesse nascido um homem no primeiro casamento. Se o irmão do falecido ou parente mais próximo se recusasse casar, era alvo de críticas do povo. Para entender melhor a Lei do Levirato veja a história de Rute (cf Rt. 4. 7). Da união de Rute e Boaz, nasceu Obede, pai de Jessé e avô de Davi, cujo descendente é Jesus.
 
2. 4. 2. O casamento. O casamento para os hebreus tinha origem divina e era de importância básica para a vida individual, social e nacional (Gn 1. 28; 2. 18). Mas, a poligamia era normal no Antigo Testamento, embora não haja evidência de que os líderes religiosos a incentivassem.
a. A supremacia masculina sempre esteve presente no mundo cultural do Oriente. Já no Novo Testamento, a situação normal era a monogamia, porém, alguns ricos eram polígamos; outros também a praticavam, quando a mulher era estéril ou só tivesse gerado filhas.
b. O pai era responsável em encontrar uma esposa ideal para o filho. Tendo encontrado, era feito um contrato de casamento, geralmente por ele mesmo ou por alguém responsável.
c. O contrato estava voltado para o destino dos bens e dos acertos quanto ao dote que o rapaz pagaria ao pai da noiva (em algumas épocas 30 a 50 siclos de prata).
d. O noivado era semelhante ao casamento, pois só poderia ser dissolvido com o divórcio ou por infidelidade. Mas não havia contato sexual antes do casamento.
2. 4. 3. O divórcio. No Antigo Testamento, o divórcio era permitido (Dt 25), os profetas, porém repudiavam essa prática. Contudo, somente o homem possuía o direito ao divórcio. E quase sempre a mulher repudiada voltava a viver na casa do seu pai.
 
No Novo Testamento, o tema aparece com uma polêmica levantada por líderes religiosos, indagando a Jesus sobre a legalidade ou não do divórcio. Ao ler-se Mateus 19. 3-9 vê-se que Jesus proibiu aquela prática, permitindo-o apenas em caso de infidelidade.
2. 4. 4. Os filhos. Os filhos (em especial, os homens) eram considerados dádivas de Deus. A herança era dividida somente com os homens, exceto na falta destes. O primogênito recebia porção dobrada dos bens do pai. Na morte do pai, o primogênito recebia a direção da casa.
 
Cinco responsabilidades básicas o pai tinha para com seu filho, na sociedade judaica:
a. Ensinar-lhe a Lei de Deus;
b. circundá-lo;
c. redimi-lo de Deus (ou pagar um resgate), caso fosse primogênito;
d. achar-lhe uma boa esposa,
e. e ensinar-lhe uma profissão.
As filhas, todavia, aprendiam com a mãe e eram educadas para obedecer, primeiro a seu pai depois a seu marido.
2. 4. 5. A mulher na sociedade. Em princípio, a mulher não participava da vida social. Na cidade e entre pessoas importantes, a mulher só podia aparecer usando um véu. No campo religioso, as mulheres estavam sujeitas a todas as proibições da Lei. Elas não podiam impor as mãos sobre os animais sacrificados; seu testemunho também quase nunca tinha valor.
 
Alguns mestres em Israel entendiam que era preferível queimar a Torá (a Lei de Deus) do que ensiná-la a uma mulher. Assim, no horizonte bíblico, as mulheres eram menos importantes do que os homens. Os meninos cresciam e aprendiam a tomar decisões. As meninas eram educadas para casar e ter filhos. Se fosse estéril, era considerada geralmente amaldiçoada. Enfim, a principal ocupação da mulher era lavar-lhe as mãos, os pés e o rosto (do marido).

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