Spurgeon e Sua Conversão

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Spurgeon e Sua Conversão


Apesar de ter ouvido desde criança o plano da salvação pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário, e de ter lido muitos livros de excelentes escritores puritanos, Spurgeon ainda não tinha nascido de novo. A luz do evangelho estava lá em seu coração, mas permanecia tão cego que não podia vê-la.

Sem dúvida alguma, os familiares de Spurgeon foram os primeiros a lançar a boa semente em seu coração, em especial sua querida mãe, pois além de instruir seus filhos no caminho do Senhor, ela orava pela salvação dos mesmos. Uma destas muitas orações que fazia pelos seus filhos, o próprio Charles Spurgeon lembra em particular de uma, que lhe penetrou a consciência e moveu seu coração, e da qual, segundo ele, nunca esqueceria até mesmo quando os cabelos se tornassem brancos. Sua oração foi assim: “Ah, Senhor, se os meus filhos permanecerem em seus pecados, não será por falta de conhecimento que perecerão; e se eles não se entregarem a Ti, minha alma de pronto testificará contra eles no dia do julgamento”.[1]
Seguramente, foi necessário que o Senhor mesmo interviesse e desvendasse a mensagem do Evangelho para ele. E foi exatamente isso que o Senhor Jesus fez, quando Charles tinha 15 anos e meio, no dia 6 de janeiro de 1850, enquanto fazia uma visita em Colchester. Ele testifica como isto aconteceu em sua vida:

Quando estava preocupado com minha alma, resolvi que iria a todos os lugares de adoração na cidade onde vivia, para que pudesse encontrar o caminho da salvação. Estava disposto a fazer qualquer coisa, e ser qualquer coisa, se Deus tão somente perdoasse meu pecado. Fui a todas as capelas, e a todo lugar de adoração; mas por um longo tempo foi tudo em vão. Não culpo, no entanto, os pastores [...]. Posso honestamente dizer que não houve uma só vez que fui sem orar a Deus, e tenho certeza que não havia um ouvinte mais atento em todos aqueles lugares que eu, pois almejava e desejava saber como poderia ser salvo. Às vezes fico pensando que poderia estar nas trevas e no desespero até agora, se não tivesse sido a bondade de Deus ao enviar uma nevasca, no domingo de manhã, enquanto estava indo a certo lugar de oração. Quando não pude mais ir adiante, desci a rua ao lado e cheguei a uma pequena capela Metodista primitiva. Naquela capela deveria haver uma dúzia ou quinze pessoas […]. O pastor não tinha vindo àquela manhã; suponho tenha sido a nevasca. Porém, um homem de aparência muito magra, um sapateiro, ou alfaiate, ou qualquer coisa desse tipo, subiu ao púlpito a fim de pregar. Tá certo que os pregadores devem ser instruídos, mas este homem realmente não o era [...]. O texto era: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.” 
[2] [...] Depois que tinha pregado pouco mais de dez minutos, já estava no fim da sua pregação, quando olhou para mim sob a galeria [...], fixou seus olhos em mim como se conhecesse todo o meu coração, e disse: “Jovem, você parece tão miserável!”. Bem, eu parecia; mas não estava acostumado a ouvir estas declarações de púlpito sobre minha aparência pessoal antes. No entanto, foi um bom sopro que derrubou a casa. Ele continuou: “e você sempre será miserável – miserável na vida, e miserável na morte, se você não obedecer a meu texto; mas se você obedecer-lhe agora, neste momento, você será salvo”. Então, erguendo as mãos, bradou como só um metodista primitivo pode fazer: “Jovem, olhe para Jesus Cristo! Olhe! Olhe! Olhe! Você não tem nada a fazer senão olhar e viver!”. Eu vi de uma vez o caminho da salvação. Não recordo de mais nada que aquele homem simples disse, pois fiquei tomado com aquele pensamento. Como quando a serpente de bronze foi levantada, e o povo somente olhava e ficava curado, assim foi comigo. Eu estava esperando fazer cinqüenta coisas, mas quando eu ouvi aquela palavra “Olhe!”, que palavra fascinante ela pareceu a mim. Oh! Eu olhei até quase não poder tirar os olhos! Então a nuvem se foi, as trevas foram retiradas, e naquele momento eu vi o Sol.[3]

Anos mais tarde Spurgeon expressaria sua gratidão a Deus, não somente pelos bons livros que havia lido, mas principalmente por aquele homem que nunca tinha recebido qualquer treinamento para o ministério, que estava nos seus afazeres durante a semana, mas que não se intimidou ante aquele desafio de substituir o seu pastor naquela manhã de domingo. Ele declarou: “Os livros foram bons, mas o homem foi melhor”.
[4]

Em carta, escrita de Newmarket ao seu querido pai, em 30 de janeiro de 1850, pouco depois de sua conversão, Spurgeon fala da alegria de ser salvo pelo Senhor Jesus, da comunhão que gozava com Ele através da oração e da leitura de Sua palavra e da certeza de que aquilo que foi implantado em seu ser, não viera de si mesmo, mas do Espírito Santo.

Ele abriu os meus olhos! Agora O vejo, posso firmemente crer nEle para minha salvação eterna.[...] Quão doce é a oração! Ficaria sempre engajado nela. Quão maravilhosa é a Bíblia! Nunca a amei tanto antes; ela é para mim como alimento indispensável. Sinto que não tenho qualquer partícula de vida espiritual em mim, salvo a que foi posta pelo Espírito. Sinto que não posso viver se Ele partir. Tremo e temo em entristecê-Lo. Temo que a indolência ou o orgulho me vençam, e assim, desonre o evangelho pela negligência da oração, da leitura das Escrituras, ou em pecar contra Deus.
[5]

[1] C.H. Spurgeon’s Autobiography, vol 1, p. 71.[2] Isaías 45:22[3] C.H. Spurgeon’s Autobiography, vol 1, pp. 112-114.[4] Ibid., p. 113.[5] Ibid., p. 123.
Postado por Elias Lima

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