Paracletologia aprofundada: A Existência e a Pessoa do Espírito Santo

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A Existência e a Pessoa do Espírito Santo

O sucesso da Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, aqui neste mundo, tem sido a presença do Espírito Santo entre os cristãos; ainda que muitos procurem (sem suces­so) negar esta realidade. Algumas pessoas têm ignorado a existência do Espírito Santo, levadas por um ceticismo mais teórico que prático. O ceticismo, segundo Sócrates, prejudica a busca pelo conhecimento e enfraquece a moralidade. O Espírito Santo é um Ser real que age e vive entre nós
Severino Pedro da Silva
 
Digitalização: SusanaCap
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Capa: Jayme de Paula Prado
231.3 – Deus o Espírito Santo Silva, Severino Pedro
A Existência e a Pessoa do Espírito Santo…/Severino Pedro da Silva
1ª ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléi­as de Deus, 1996
p. 152. cm. 14×21
ISBN 85-263-0073-3
1. Deus o Espírito Santo 2. Teologia
Deus o Espírito Santo
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
1ª Edição/1996
Índice
Apresentação.
Prefácio.
Introdução.
1. A Existência do Espírito Santo.
2. Nomes e Títulos do Espírito Santo.
3. Figuras e Símbolos do Espírito Santo.
4. O Batismo com o Espírito Santo.
5. Os Dons Espirituais.
6. Os Dons de Revelação.
7. Os Dons de Poder.
8. Os Dons de Expressão.
9. A Blasfêmia contra o Espírito Santo.
10. O Fruto e os Frutos do Espírito.
Contracapa
Seria o Espírito Santo uma influência, ao invés de um Ser dotado de personalidade e atributos divinos? Muitas seitas lhe têm negado a condição de Pessoa divina; outras até questionam sua existência.
Mas o pastor Severino Pedro, pela Bíblia, faz desmoronar estes dois posicionamentos: o Espírito Santo existe, e é uma Pessoa – a terceira da Santíssima Trindade.
Passo a passo, e através das Sagradas Escrituras, com abundantes referências que revelam nomes, títulos, figuras e a obra do Consolador, você será conduzido a esta realidade.
O autor discorre ainda sobre outros temas relacionados a este Ser sublime:
O batismo com o Espírito Santo
Os dons espirituais
O fruto do Espírito
A blasfêmia contra o Espírito Santo
Autor
Ministro do Evangelho, é autor dos livros Daniel, Versículo por Versículo; Apocalipse, Versículo por Versículo; Os Anjos, Sua Natureza e Ofício, entre outros.

Apresentação

A pessoa do Espírito Santo é contestada por muitas seitas. Algumas até defendem sua existência, mas rejei­tam a idéia de que Ele seja uma Pessoa distinta na Santís­sima Trindade.
No entanto, as Sagradas Escrituras apontam claramente para um Ser dotado de personalidade – o Consolador, que vive e age no seio da Igreja de Cristo. Portanto, nós, evangé­licos, cremos no Espírito Santo como Pessoa, conforme demonstra o pastor Severino Pedro da Silva nesta obra.
O autor, pelas Sagradas Escrituras, relaciona nomes, títulos, figuras, símbolos e até pronomes usados para descrever o Espírito Santo, tornando bem visíveis os contornos de sua sublime personalidade.
A descrição da Pessoa, segue-se-lhe a obra: sua mis­são junto à Igreja, os dons espirituais e o fruto na vida daqueles que lhe servem de templo.
Portanto, A Existência e a Pessoa do Espírito Santo lhe servirá não somente de estímulo à fé como irá ajudá-lo a conhecer melhor este divino Ser e a aproximar-se ainda mais de Deus.
Ronaldo Rodrigues de Souza
Diretor Executivo da CPAD

Prefácio

O sucesso da Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, aqui neste mundo, tem sido a presença do Espírito Santo entre os cristãos; ainda que muitos procurem (sem suces­so) negar esta realidade. Algumas pessoas têm ignorado a existência do Espírito Santo, levadas por um ceticismo mais teórico que prático. O ceticismo, segundo Sócrates, prejudica a busca pelo conhecimento e enfraquece a moralidade.
Mais tarde, Agostinho descreve o ceticismo como uma escuridão espiritual que destrói a fé e não deixa os homens encontrarem a verdade. A fé, contrariamente, prepara o solo para o cultivo da verdade. Neste livro, o autor mostra a importância de crermos firmemente no princípio básico da existência do Espírito de Deus, de sua atuação na Igreja como Substituto legal de Jesus Cristo. Revela também não haver limites para o que o Espírito Santo possa fazer na vida do crente, dependendo das circunstâncias e da obediência pessoal de quem Ele inspira.
Paulo encontrou em Éfeso “alguns discípulos” que lhe disseram: “Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo…” (At 19.2), e em Corinto, pessoas que eram “ig­norantes acerca dos dons espirituais” (1 Co 12.1). Por­tanto, não é de admirar que haja também em nossos dias pessoas que, por falta de informações objetivas, “desco­nheçam” certas manifestações do Espírito Santo na igreja e em suas próprias vidas. Por esta razão, e por outras, recomendamos a leitura deste livro – com meditação e amor.
Pr. José Wellington Bezerra da Costa
Presidente da Convenção Geral das Assembléias de
Deus no Brasil

Introdução

Pneumatologia é a ciência que estuda a existência do Espírito Santo, sua natureza divina, seus atributos e manifestações, seu relacionamento com Deus e com Cristo, bem como sua atuação em relação ao universo físico e espiritual, os seres e as coisas. Apesar dos esforços que muitos têm empreendido para negar sua existência e poder, o Espírito Santo é um ser dotado de personalidade. Um ser moral, pessoal e divino.
A revelação plenária das Escrituras mostra claramente seus atributos naturais e morais; e, de igual modo, sua presença e manifestação em ambos os Testamentos. As luzes da fé e da razão natural inferem que o aceitemos como um Ser supremo, divino, que faz parte da Santíssima Trindade. Negar esta realidade, baseado apenas em conceitos humanos, implica em rejeitar também a existência de Deus Pai e de Deus Filho, que é Jesus Cristo, nosso Senhor (1 Jo 5.6-8).

1. A Existência do Espírito Santo

I – Quem É o Espírito Santo

O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele aparece pela primeira vez nas Escrituras em Gênesis 1.2, e daí em diante sua presença é proemi­nente em ambos os Testamentos. O vocábulo que dá sentido ao seu nome é o grego pneuma, vindo da raiz hebraica ruach. Ambos os termos, quando aplicados para dar significação divina e sem igual, denotam o infinito Espírito de Deus.
A atuação deste supremo Ser é marcante nas Escritu­ras como o Substituto legal do Filho de Deus, desde o Pentecoste até o arrebatamento da Igreja (Jo 16.7), e continuando depois com ela para sempre (Jo 14.16). Ele veio ao mundo como o “Agente da Comunicação Divi­na”. Sua origem não se encontra nas tábuas genealógicas, pois, sendo Ele um dos membros da Divindade, é a ori­gem de si mesmo e a causa de sua própria substância.

II – Sua Preexistência

A natureza e os atributos do Espírito Santo caracteri­zam-no como o “Espírito eterno”, não conhecendo princípio de dias nem fim de existência (Hb 9.14). Ele apare­ce ao lado de Deus, quando havia unicamente o Deus trino e uno. O tempo, que marca extensão, é percebido através da relação entre “antes” e “depois”. Uma vez que o Espírito Santo tem a mesma natureza de Deus, o tempo não se aplica a Ele – já que existe pela própria necessida­de de sua existência. Ele é um Ser vivo, dotado de perso­nalidade, não sendo meramente uma influência ou ema­nação de Deus. Antes, é uma Pessoa claramente divina, que faz parte da Trindade.
Não um ser criado, como nós ou as demais criaturas que, por um ato de Deus, passamos a existir num certo tempo e lugar.

1. No Antigo Testamento

O período do Antigo Testamento foi de preparação e espera a este Ser eterno, cuja ação plena concretizou-se no Novo. Mas antes, como sabemos, o Eterno Espírito de Deus já operava.
Em suas várias manifestações e demonstrações de po­der, tanto no universo físico como no espiritual, sua presença é sentida e revelada (Gn 1.2; 6.3; Êx 8.19; Jo 33.4 etc.) Entretanto, eram apenas manifestações objeti­vas e tópicas, pois até então o Espírito Santo não havia sido “derramado” e sim “manifestado” (cf. Jl 2.28; Jo 7.39). O Espírito Santo se revelava de três maneiras, visto no contexto geral.
a. Como Espírito criador do cosmo. Por cujo poder o Universo e todos os seres foram criados.
b. Como Espírito dinâmico ou doador de poder. Re­velado como o Agente de Deus em relação aos homens; entretanto, não era outorgado como dádiva permanente. Em sentido tópico, tal sucedia até mesmo no caso dos profetas, embora seja seguro pensar que homens mais profundamente espirituais possuíam o dom do Espírito por tempo mais dilatado que o comum (cf. Sl 51.11- Ml 2.15).
c. Como Espírito regenerador. Pelo qual a natureza humana é transformada “de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18). Encontramos sua presença no Antigo Testamento, em várias manifestações de poder, num total de 88 vezes: 13 no Pentateuco; sete em Juizes; sete em 1 Samuel; cinco nos Salmos; 14 em Isaías; 12 em Ezequiel; e trinta ou­tras, por inferência.
Dos 39 livros do Antigo testamento, apenas 16 não fazem referência específica a Ele – mas em essência. ([1])
Algumas referências marcam sua presença nesse perí­odo, descrevendo-o como membro ativo da Divindade e participante de decisões somente a ela inerentes. Veja­mos algumas:
  • Na criação do Universo: “E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2).
  • Na criação do homem: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhan­ça…” (Gn 1.26).
  • No juízo sobre o pecado: “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós…” (Gn 3.22).
  • No julgamento sobre o dilúvio: “Então disse o Se­nhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem…” (Gn 6.3).
  • Sobre a construção da torre de Babel: “Eia, desça­mos, e confundamos ali a sua língua…” (Gn 11.7).
O Espírito Santo é também retratado, em relação aos ho­mens, como aquEle que ilumina (Jo 33.8), dá forças especiais (Jz 14.6,19), concede sabedoria (Êx 31.1-6; Dt 34.8), outorga revelações (Nm 11.25; 2 Sm 23.2), instrui sobre a vontade de
Deus (Is 11.2), administra graça (Zc 12.10) e, finalmente, enche as vidas com sua presença (Ef 5.18).

2. No Novo Testamento

O Espírito Santo entra em cena logo nas primeiras páginas do Novo Testamento. O anjo Gabriel informa a Zacarias, um velho sacerdote da ordem de Abias, que seu futuro filho, João Batista, seria cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc 1.15). O mesmo mensageiro celestial diz a Maria que o Espírito Santo desceria sobre ela (Lc 1.35). Mais adiante encontramos o justo Simeão, e “o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2.25). Durante a vida terrena de nosso Senhor Jesus, a atuação do Espírito Santo acompanhava seus passos, palavras e obras. Ou seja, Jesus era “cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1). E podia exclamar: “O Espírito do Senhor é sobre mim” (Lc 4.18).

III – Sua Existência Pós-pentecostal

Vinte e cinco livros dos 27 que compõem o Novo Testamento descrevem o Espírito Santo como um Ser real. Apenas dois, Filemom e 3 João, falam dEle apenas em essência.
Há duas citações sobre a existência do Pai e do Filho que não mencionam sua existência:
“E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem envias-te” (Jo 17.3).
“E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro…” (Ap22.1).
No entanto, a ausência do Espírito Santo nestas duas citações não lhe nega a existência como Pessoa real! Pelo contrário, prova sua humildade e grandeza.
De acordo com a Lei mosaica, o testemunho de dois homens era verdadeiro para se firmar qualquer palavra ou sentença.
Dois grandes personagens, João Batista e Jesus Cris­to, afirmaram ter visto o Espírito Santo em forma corpórea.
“E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.32,33).
“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele” (Mt 3.16).

IV – Sua Natureza

A terceira Pessoa da Trindade é Espírito por natureza! Ou seja, tal qual Ele é, tanto o seu Ser como o seu caráter, assim são também o Pai e o Filho: iguais em aspecto, poder e glória. O fato de o Espírito Santo ser Deus fica provado não somente por sua identificação com o Pai e o Filho, nas fórmulas do batismo e da bênção apostólica, mas também pelos atributos divinos que pos­sui. Em outros aspectos, o Espírito Santo é co-participante dos atos de Deus, especialmente pela sua maneira tríplice de agir, como por exemplo:
  1. 1.     Na bênção das tribos
“O Senhor Deus te abençoe e te guarde: o Senhor [Jesus] faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor [Espírito Santo] sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz” (Nm 6.24-26).
  1. 2.     Na bênção apostólica
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos” (2 Co 13.13).
  1. 3.     No perdão
“Ó Senhor [Deus], ouve; ó Senhor [Jesus], perdoa: Ó Senhor [Espírito Santo], atende-nos e opera sem tardar” (Dn 9.19).
  1. 4.     No louvor
“E clamavam uns para com os outros, dizendo: Santo [Deus], Santo [Jesus], Santo [Espírito Santo] é o Senhor dos Exércitos: toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).
  1. 5.     No batismo
“Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo…” (Mt 28.19).
  1. 6.     Nos dons
“Ora há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Se­nhor [Jesus] é o mesmo. E há diversidade de opera­ções, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Co 12.4-6).
  1. 7.     Na unidade da fé
“Há um só… Espírito… um só Senhor [Jesus]… um só Deus e Pai de todos…” (Ef 4.4,6).
  1. 8.     No testemunho
“Porque três são os que testificam no céu: o Pai, Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um” (1 Jo 5.7).
Evidentemente, a presença do Espírito Santo é vista por toda a extensão das Escrituras, sempre agindo de comum acordo com o Pai e o Filho.
De Deus se declara: “Desde a antigüidade fundaste a terra: e os céus são obra das tuas mãos” (Sl 102.25).
De Cristo se declara: “Porque nele foram criadas to­das as coisas, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16).
Do Espírito Santo se declara: “Pelo seu Espírito ornou os céus” (Jo 26.13). Os atos da criação – em separado, ainda que completos – da parte de cada Pessoa reúnem-se na afirmação do nome de Deus [Eloim], e daí por diante. ([2])
Ele é, portanto, o Espírito eterno (Hb 9.14). É onipresente (Sl 139.7-10), onipotente (Lc 1.37) e onisci­ente (1 Co 2.10). A Ele se atribuem obras divinas: tomou parte na criação (Gn 1.2); produz novas criaturas para Jesus (Jo 3.5); ressuscitou a Jesus Cristo dentre os mor­tos (Rm 1.4; 8.11).
O sentido que lhe dá a palavra grega – herdada do original hebraico – é sem igual. Pneuma, como termo psicológico, representa a sede da percepção, do sentido, da vontade, do estado da mente, ou pode ser equivalente ao ego da pessoa humana (Mc 2.8; Lc 1.47; Jo 11.33; 13.21 etc). Porém, o termo pneuma, ou vocábulo grego correspondente, aparece 220 vezes no Novo Testamento. Nada menos de 91 dessas ocorrências, em essência espe­cial, com ou sem qualificativo quanto ao caráter ou a origem, indicam o Espírito Santo.
São usados pronomes masculinos, como na indicação do Pai e do Filho, dominando, portanto, toda construção gramatical neste sentido. Isto é importante!

V – Seu Relacionamento

A atuação do Espírito Santo pode ser vista tanto em relação ao universo físico como ao espiritual. Sua ação pode ser presenciada em ambos os Testamentos. Entretanto, com maior impacto, o Espírito foi prome­tido para uma dispensação futura, a tal ponto que, nos tempos do Messias, Ele seria “derramado sobre toda a carne”. ([3])
1. Com o Universo
“E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2).
Observe-se que a palavra “Deus” está no plural, e o verbo, no singular (no hebraico, há três números: singular, dual e plural). Assim, a natureza de Deus é revelada na primeiras palavras de Gênesis, como de igual modo o Filho e o Espírito Santo: uma Trindade, porém um só Deus.
O Filho aparece na “segunda” palavra da Bíblia – Ele é o princípio (Ap 3.14).
O Pai aparece na “quarta” palavra.
O Espírito Santo aparece na “trigésima-terceira” pala­vra, e daí por diante sua presença contínua e suas mani­festações tópicas nas obras de Deus são presenciadas em cada acontecimento. Dessa maneira, podemos aceitar que, na criação do Universo, o Pai a propôs e o Filho agiu pela energia do Espírito Santo. Subentende-se, portanto, que o Espírito Santo, como Divindade inseparável em toda a criação, manifesta sua presença em todos os elementos da natureza criada. Todas as forças da natureza são ape­nas evidências da presença e operação do Espírito de Deus. Toda a criação, e todo ser criado, deve sua existên­cia e continuação às “mãos de Deus”: Cristo (“Nele fo­ram criadas todas as coisas”, Cl 1.16) e ao Espírito Santo (“Ele criou e ornamentou a todas as coisas”; cf. Jo 26.13; 33.4; Sl 104.30).
2. Com Cristo
O Espírito Santo desceu sobre Maria, produzindo a concepção virginal do Filho de Deus (Mt 1.20; Lc 1.23), e é visto como aquEle que “ungiu” Jesus de Nazaré, capacitando-o para sua missão evangelizadora (Lc 4.18,19) e seu ministério miraculoso. Pedro afirma que Deus “ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38). Ele veio substituir o Filho na missão de conduzir os homens a Deus, como sua Testemunha pode­rosa (Jo 15.26). É a força restauradora por meio da qual Cristo opera (Rm 8.11). Finalmente, Ele é o “Amigo Fiel” de Cristo, glorificando-o por ter realizado tão subli­me redenção em favor de quem não a merecia (Jo 16.14).
3. Com a Igreja
O Espírito Santo é o único que pode regenerar a alma, mediante seu toque transformador. Sua presença entre os salvos deve ser contínua e perpétua, pois assim produz no crente fruto semelhante a natureza moral positiva de Deus (Gl 5.22,23).
O objetivo principal do fruto do Espírito no crente, bem como de todas as suas operações na alma, é transformá-lo segundo a imagem de Cristo, nos termos mais literais possíveis (2 Co 3.18). A promessa de Jesus a seus discípulos foi a presença constante do Espírito em suas vidas. Ele disse: “… para que [o Espírito Santo] fique convosco para sempre… porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14.16,17).
a. Após a ressurreição de CristoDepois de ressurreto, Jesus entrou numa casa para participar com seus discípu­los da primeira reunião de seu ministério celestial. As portas daquele santuário improvisado estavam “cerradas… onde os discípulos, com medo dos judeus, se ti­nham ajuntado”.
Após tê-los saudado (“Paz seja convosco!”), o segun­do ato do Senhor foi “soprar” sobre eles, dizendo: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.19,22).
Todo salvo, segundo as Escrituras, tem o Espírito Santo como selo da ressurreição de Cristo. Porque “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9). E esta é a confirmação divina: “Se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós”, então, sem nenhuma dúvida, “somos filhos de Deus” (Rm 8.11,16).
Ora, o grande sucesso, tanto da igreja como do crente em particular, tem sido a presença gloriosa do Espírito Santo.
Paulo revela aos crentes de Corinto: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16).
b. A habitação do EspíritoDepois do processo de regeneração no pecador, o Espírito Santo passa a habitar nele, e aí permanece como Agente divino da comunica­ção com o Pai e o Filho. A habitação do Espírito é uma fase posterior à obra da conversão, e possibilita o cresci­mento da nova vida iniciada naquele que foi chamado das trevas para viver na luz.
“Precisamos reconhecer sua presença permanente no templo de nossos corpos. Esse reconhecimento deve tor­nar-se sagrado e levar-nos, sem interrupção alguma, a uma vida imaculada, livre de pecado. É o segredo da experiência de seu poder, que permanentemente atua na­quele que é fiel e obediente a Cristo”.([4])
A comunhão com o Espírito Santo leva o crente a aspirar pela sua presença, no dizer de Paulo: “Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).
c. A companhia do Espírito. R. M. Riggs observa que desde o seu advento, no dia de Pentecoste, em Jerusa­lém, e através de outras visitações nas congregações de Samaria (At 8), Cesaréia (At 10), Antioquia da Síria (At 13.2,4), Antioquia da Pisídia (At 13.14), Éfeso (At 19.1-7), Corinto (1 Co 12.13) e Galácia (Gl 3.2), o Espírito Santo continua habitando pessoalmente nos crentes em Jesus – algo que Cristo não poderia fazer quando andava visivelmente na terra em carne humana, isto é, de habitar o corpo dos outros, mas o Espírito Santo o faz agora.
d. Dirigindo nossos passosA partir do Pentecoste, o Espírito Santo passou a dirigir os passos da Igreja. A nova dispensação, inaugurada pela glorificação de Cris­to, é chamada tanto de era do Espírito Santo como era da Igreja.
O Espírito e a Igreja em tudo agem de comum acordo. A Igreja sem o Espírito seria um corpo sem vida; e o Espírito sem a Igreja, uma força sem meio de ação. Por esta razão o Espírito e a Igreja são inseparáveis e sempre dirigidos um para o outro.
Ambos são anunciados e prometidos por Jesus durante o seu ministério terreno (Mt 16.18; Jo 7.39). Depois da ressurrei­ção de nosso Senhor, os dois aparecem juntos no plano da salvação. Finalmente, o Espírito e a Igreja estão unidos na mesma espera: o advento de Jesus Cristo (Ap 22.17).
e. No livro de Atos dos ApóstolosO Espírito Santo rouba a cena neste livro que é padrão para a Igreja, tanto no sentido evangelístico como no administrativo e soci­al. Assim como nos evangelhos a presença do Filho de Deus revelando e exaltando o Pai é o fato principal, também a presença do Espírito Santo, exaltando e revêlando o Filho de Deus, preenche o campo inteiro de nossa visão em Atos – até nossos dias.
Cumprem-se assim as palavras de Jesus aos discípu­los: “Ele [o Espírito Santo] habita convosco, e estará em vós” (Jo 14.17).
4. Com o Mundo
Nosso Senhor sintetizou a missão do Espírito: “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da jus­tiça, e do juízo” (Jo 16.8).
a. “Do pecado, porque não crêem em mim” (Jo 16.9). Existem várias interpretações sobre o poder de convenci­mento do Espírito Santo, sendo que as opiniões seguem mais ou menos assim: “As palavras de Jesus no versículo 9 apontam principalmente o tremendo pecado da rejei­ção ao Messias, do qual é antes de todos acusada a incrédula comunidade judaica” (At 3.18-20; 7.7,45;15.22).
Está em foco o pecado de rejeição, porquanto a Luz veio ao mundo, mas os homens a rejeitaram. Jesus “veio para o que era seu [os judeus], e os seus não o recebe­ram” (Jo 1.11). Com a vinda gloriosa do Espírito Santo, todos foram convencidos deste pecado “contra” Cristo.
Uma segunda interpretação diz respeito à poderosa atuação do Espírito na conversão do homem. O Espírito Santo opera diretamente no coração do homem, e este se convence de que é um pecador de fato a vagar sem rumo nesta vida. O Espírito, então, mostra-lhe a cruz de Cristo (Ap 22.17).
b. “Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais” (Jo 16.10). Temos aqui um avanço em rela­ção a idéia anterior, pois o Espírito Santo agora não somente revela aos homens de que consiste o pecado, convencendo-os dessa realidade, mas também de que consiste a justiça. Em outras palavras, o Espírito de Deus convence os homens da justiça de Cristo.
c. “E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado” (Jo 16.11). O senso moral correto exige que os homens sejam recompensados ou punidos. Essa prova moral baseia-se na justiça de Deus, que exige recebam a virtude e o vício as sanções que lhes são devidas: recom­pensa ou punição.
Aqui no mundo, as sanções da virtude e do vício são evidentemente insuficientes: muitas vezes o vício triun­fa, enquanto a virtude é humilhada. A justiça deseja que cada um seja tratado segundo as suas obras, e isto não pode ser feito senão por meio de Cristo. O Espírito San­to, portanto, convence o mundo deste juízo por Cristo (At 17.30,31). Em síntese, o Espírito Santo convence o mundo:
  • Do pecado: contra o Cristo – crucificado.
  • Da justiça: de Cristo – glorificado.
  • Do juízo: por Cristo – diante do Trono Branco.
Por três vezes Jesus referiu-se ao Espírito Santo como o “Espírito de verdade” (Jo 14.17; 15.26; 16.13). Signifi­ca que o Espírito Santo é o Agente que conduz os homens a Cristo, que é a Verdade, convence os homens de que tudo o que Cristo falou era verdade, bem como da reali­dade do Juízo Final, diante do Trono Branco, efetuado por Cristo ao lado do Pai.

2. Nomes e Títulos do Espírito Santo

I – Seus Nomes e Títulos

Vários nomes e títulos são dados ao Espírito Santo nas Escrituras, que descrevem a natureza profunda do seu Ser. O nome traduz a natureza do ser que o carrega. O título expressa sua fama e reputação.
Além dos nomes e títulos conferidos ao Espírito Santo são também usados pronomes pessoais, para que a imagi­nação humana possa concebê-lo como realmente é.
Os escritores do Antigo e do Novo Testamento e mi­lhões de outras testemunhas afirmam a existência real do Espírito Santo, como sendo de fato uma Pessoa.
É impossível que milhões de pessoas tenham combi­nado mentir por uma extensão de séculos. Todas elas, desde os mais remotos tempos, têm afirmado a mesma coisa: o Espírito Santo existe, e é uma Pessoa real. Com efeito, fosse Ele uma simples influência, sopro ou vento, os milhões de depoimentos se teriam desfeito em contra­dições.
Ele é, como já vimos, a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Em toda a extensão do Novo Testamento, que marca exatamente a era do Espírito em sua plenitude, faz-se alusão a Ele em termos coloquiais, como “esse” (e não isso) e “aquele” (e não aquilo).
Os pronomes e apelativos são largamente usados para descrever sua existência e personalidade:
EU – “E, pensando Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito Santo: Eis que três varões te buscam. Levanta-te pois, e desce, e vai com ele, não duvidando; porque eu os enviei” (At 10.19,20).
ELE – “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16.8).
AQUELE – “Mas aquele Consolador, o Espírito San­to, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.26).
OUTRO – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (Jo 14.16).
ESSE – “O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas” (Jo 14.26).
Cada nome ou título do Espírito Santo descreve a natureza de sua existência e caráter.
Alguns destes nomes e títulos descrevem a sua nature­za propriamente dita; outros, a sua obra; outros ainda, sua manifestação.
O ESPÍRITO (simplesmente) – “Mas Deus no-las re­velou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus” (1 Co 2.10).
O ESPÍRITO DE DEUS – “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2).
O ESPÍRITO DO DEUS VIVO – “Porque já é mani­festado que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Co 3.3).
O ESPÍRITO DO SENHOR DEUS – “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos: enviou-me a restau­rar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos” (Is 61.1).
O ESPÍRITO DO SENHOR – “E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho” (At 8.39).
O ESPÍRITO DE VOSSO PAI – “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós” (Mt 10.20).
O ESPÍRITO DE CRISTO – “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimen­tos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pe 1.11).
O ESPÍRITO DE JESUS CRISTO – “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha intensa expectação e esperança…” (Fl 1.19,20).
O ESPÍRITO DE JESUS – “E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu” (At 16.7).
O ESPÍRITO DE SEU FILHO – “E, porque sois fi­lhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.6).
O ESPÍRITO DE ARDOR – “Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusa­lém do meio dela, com… o Espírito de ardor… e haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia” (Is 4.4,5).
O ESPIRITO DE SÚPLICAS – “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito… de súplicas…” (Zc 12.10).
O ESPÍRITO DE ADOÇÃO – “Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em te­mor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).
O ESPÍRITO DA PROMESSA – “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, foste selado com o Espírito da promessa; o qual é o penhor da vossa herança…” (Ef 1.13,14).
O ESPÍRITO DE VIDA – “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.2).
O ESPÍRITO DE VERDADE – “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim” (Jo 15.26).
O ESPÍRITO DA GRAÇA – “De quanto maior castigo cuidais vos será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamen­to, como foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10.29).
O ESPÍRITO DA GLÓRIA – “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (1 Pe 4.14).
O ESPÍRITO DE REVELAÇÃO – “Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o Espírito… de revelação; tendo ilumi­nados os olhos do vosso entendimento…” (Ef 1.17,18).
O ESPÍRITO ETERNO – “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo” (Hb 9.14).
O ESPÍRITO DE SANTIFICAÇÃO – “Declarado Fi­lho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo Nosso Se­nhor” (Rm 1.4).
O ESPÍRITO SANTO – “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quan­to vos tenho dito” (Jo 14.26).
Em Lucas 11.20, o Espírito Santo é chamado de O DEDO DE DEUS; em Atos 5.4, de DEUS; em Apocalipse 19.10, de ESPÍRITO DE PROFECIA. Em Isaías 11.2, Ele é apresentado em sua plenitude, septiforme:
O ESPÍRITO DO SENHOR
O ESPÍRITO DE SABEDORIA
O ESPÍRITO DE INTELIGÊNCIA
O ESPÍRITO DE CONSELHO
O ESPÍRITO DE FORTALEZA
O ESPÍRITO DE CONHECIMENTO
O ESPÍRITO DE TEMOR DO SENHOR
Se o Espírito Santo não fosse de fato uma pessoa, como se dariam tantos nomes a Ele? A razão natural e as luzes da fé afirmam que Ele existe!

II – Nomes que o Identificam com a Trindade

Já observamos que o nome é dado para denotar a natureza profunda do ser que o carrega. Assim, a criatura somente era conhecida depois que se lhe dava o nome (Gn 2.19). No caso do Espírito Santo, encontramos vári­os nomes, como acabamos de expor. Entretanto, há três nomes principais que o identificam diretamente com a Santíssima Trindade e as dimensões universais da existência:

ESPIRITO DE DEUS ESPÍRITO DE CRISTO ESPÍRITO SANTO

  1. 1.      O Espírito de Deus
Encontramos este nome divino no início da Bíblia, associado diretamente à obra da criação, onde nos é dito que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2). Ele aparece como co-participante, a “pairar” sobre o caos das águas do oceano primevo, quando tudo ainda estava mergulhado em escuridão e total desordem.
Em outras passagens das Escrituras, aparece também este nome, ligado diretamente à criação, à renovação da terra e à regeneração da pessoa humana (Gn 6.3; 41.38; Jo 33.4; Ez 11.24; Rm 8.9; 1 Co 3.16 etc). Em Jo 33.4, Eliú, um sábio oriental, associa-o à criação do homem: “O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-poderoso me deu vida”. Em Salmos 104.30, liga-se à criação inteira: “Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra”. No tocante à regeneração da pessoa humana, Ele é citado em vários elementos doutrinários das Escrituras, sempre produzindo uma “nova criatura” para Cristo e seu Reino (Rm 8.2). A vida do próprio Jesus, no ventre da virgem, foi um ato miraculoso de seu poder (Mt 1.20; Lc 1.35).
  1. 2.      O Espírito de Cristo
Este nome está relacionado à obra da redenção, que Cristo realizou por amor de nós. Desde os tempos mais remotos, o Espírito Santo vinha “testificando os sofri­mentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir” (1 Pe 1.11). Esta é uma das razões por que Ele é chamado O ESPÍRITO DE CRISTO. Ele acom­panhou todos os passos, atos e palavras de Cristo em sua missão divina a favor dos homens.
3. O Espírito Santo
Este nome está diretamente relacionado à santificação das coisas e dos seres. Tudo se santifica ou é santificado pela atuação gloriosa do Espírito Santo. Até a evidência central da ressurreição de Cristo aconteceu “segundo o Espírito de santificação” (Rm 1.4). Esta é, portanto, a natureza do seu Ser e a extensão de sua obra santificadora.
Ao abrirmos o Novo Testamento, encontramos o Es­pírito Santo imediatamente com este nome, e daí por diante em cada seção tópica ou celestial.
a. Como Espírito de DeusRepresentando a onipotên­cia de Deus, que tudo criou e tudo pode fazer.
b. Como Espírito de CristoRepresentando a onisciência de Deus que, com antecedência de séculos, plane­jou toda a obra da redenção.
c. Como Espírito SantoRepresentando a onipresença do Deus Santo, que faz da santidade a condição moral necessária presente em todo o Universo.

III – Títulos do Espírito Santo

Já falamos sobre os nomes do Espírito Santo; agora, veremos alguns de seus títulos associados, evidentemen­te, à sua fama e reputação.
1. O Consolador
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador…” (Jo 14.16). Há um testemunho gramatical que deve ser mencionado aqui: o uso do substantivo masculino “paracleto”, empregado por Cristo ao referir-se ao Espí­rito Santo.
O próprio Jesus, durante sua vida terrena, era o Con­solador dos seus discípulos, e os consolou quando estaca prestes a deixá-los, prometendo-lhes “outro Consolador” (paracleto). Tudo o que Jesus fora para os discípulos, o outro Consolador haveria de ser. Portanto, o Espírito Santo seria uma Pessoa substituindo outra.
A palavra parakletos é antiga, usada no grego clássi­co, como nos escritos de Demóstenes, onde aparece com o sentido de “advogado” – alguém que pleiteia a causa de outrem -, sentido este que passou para o grego helenista, nos escritos de Josefo, historiador judaico do primeiro século de nossa era, e de Filo e igualmente aos papiros dos tempos dos apóstolos.
O termo deriva dos vocábulos gregos para (“para o lado de”) e kaleo (“chamar”, “convocar”), dando o sentido geral de “alguém chamado para ajudar ao lado de outrem”.
Afirma-se que, nos tribunais romanos e gregos, os advogados que assistiam os amigos o faziam não pela recompensa ou remuneração, mas por amor e considera­ção, ajudando com sábios conselhos.
A palavra traduzida por “ajuda” é extremamente signifi­cativa. É formada por três palavras gregas – duas preposi­ções e uma raiz verbal. Uma das preposições significa “com”; a outra, “do outro lado”; e a raiz verbal quer dizer “segurar”. Assim, temos: “segurar do outro lado com”.
“Em alguns momentos de provações, podemos ver alguém ao ‘nosso lado’ e até pensamos, mesmo por uma questão de temor e respeito, que este ‘alguém’ seja o Pai ou o Filho, ou até mesmo um anjo da corte celestial, sem lembrarmos que é o Espírito Santo, ajudando-nos em nossas fraquezas”. ([5])
2. O Guia espiritual
Este título é também conferido a nosso Senhor Jesus Cristo (Mq 5.2; Mt 2.6). Aplicado ao Espírito Santo, porém, está relacionado diretamente com sua missão orientadora em todos os sentidos da vida, especialmente quanto as verdades espirituais, nas quais a alma humana está fundamentada.
As pessoas, precisam de pontos de referência para sua orientação. Numa cidade, por exemplo, são pontos de referência praças, igrejas, edifícios, torres de comunica­ções etc. Também são pontos de referência paradas de ônibus, nomes das estações de trem e metrô e de lugares.
Todos esses meios indicam direções seguras e exatas, em qualquer lugar da Terra ou mesmo do Universo, espe­cialmente naquelas dimensões que o homem pode atin­gir. Para isso foram criados os pontos universais de refe­rência – os pontos cardeais, determinados com base no movimento do Sol (Igor).
Para Deus, entretanto, o conceito de orientação é bem mais amplo e valioso. E Ele, em sua infinita sabedoria, entregou esta grande missão a seu Filho, Jesus Cristo. Porém, com seu regresso ao Pai, confiou-se a tarefa ao Espírito Santo. Este título, mesmo sendo uma derivação de “Consolador”, possui algumas significações especi­ais. Está ligado diretamente a uma promessa de Jesus a seus discípulos: “Ele [o Espírito] vos guiará em toda a verdade…”
A promessa foi confirmada logo após a ressurrei­ção de nosso Senhor. O Espírito acompanhava a Igre­ja passo a passo. Paulo diz que os cristãos são guiados pelo Espírito: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rm 8.14); em Gaiatas 5.18, o apóstolo acrescenta: “Se sois guia­dos pelo Espírito, não estais debaixo da lei”. Ora, sem dúvida isto significa que quem é “guiado pelo espírito de Deus” sabe de onde veio, onde se encontra e para onde está caminhando. Porque o Espírito Santo o “gui­ará em toda a verdade”.
  1. 3.      O dedo de Deus
Este título surgiu como uma expressão idiomática dos magos egípcios, talvez Janes e Jambres (2 Tm 3.8). Eles disseram a Faraó, quando fracassaram na reprodução da praga dos piolhos: “Isto é o dedo de Deus…” (Êx 8.19). No entanto, a expressão alcançou significado especial quando o Senhor argumentava com os escribas e fariseus sobre a atuação poderosa do Espírito de Deus em sua vida. Jesus demonstrou claramente a fonte do seu poder: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o reino de Deus”. Na passagem paralela de Lucas 11.20, Jesus diz literalmen­te: “Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus”.
Jesus utiliza-se nesta última passagem de uma expres­são lucana, usada no Antigo Testamento para demonstrar uma intervenção direta e poderosa do Espírito de Deus (cf. Êx 8.19; Dt9.10).
  1. 4.      Outro
Este título, mencionado em João 14.16, significa “ou­tro da mesma espécie”. Segundo Dods, o termo grego aqui traduzido por “outro” é allon, e não heteron, e significa que o Espírito Santo é outro ajudador, separado e distinto de Cristo, embora da mesma “espécie”, e não distinta ou separada de “ajudador”. Ele é a continuidade do Senhor Jesus em nós, igual em poder e glória, embora sob manifestação diferente.
Jesus procura consolar os discípulos, mostrando-lhes que, apesar da separação que ocorreria em breve, Ele haveria de permanecer com eles para todo o sempre, porque o seu Representante legal desceria do Céu para estar no meio deles e com eles.([6])
A palavra “paracleto” indica muito mais do que uma pessoa compassiva. Um verdadeiro paracleto acompanha intimamente em todos os momentos o que consola. Na qualidade de Paracleto, o Espírito Santo está sempre dis­posto infundir poder, coragem, sabedoria e graça ao co­ração de cada salvo.
Alcançamos essa graça através da nossa comunhão com Ele. Razão pela qual o apóstolo Paulo a recomenda a todos os santos: “A comunhão do Espírito Santo seja com vós todos” (2 Co 13.13).

3. Figuras e Símbolos do Espírito Santo

I – Figuras e Símbolos

É importante estarmos familiarizados com a lingua­gem gramatical das Escrituras, tendo em vista a signifi­cação correta das palavras, a forma das frases e as parti­cularidades idiomáticas da língua empregada.
De igual modo devemos conhecer o que cada figura representa, à luz do contexto lógico. A. linguagem figuía-da e certos símbolos empregados na Bíblia, quando bem apresentados, nos dão maior segurança, intensidade e beleza na interpretação.
As figuras de linguagem, também chamadas figuras de estilo, são recursos especiais de que se vale quem fala ou escreve, para comunicar-se com mais força, colorido, evidência e beleza. ([7])
Deus também permitiu que certas figuras e símbolos fossem inseridos no cânon sagrado, para melhor compre­ensão de determinadas verdades espirituais. O Espírito Santo é representado na Bíblia por muitas figuras e sím­bolos, conforme veremos a seguir.

II – Figuras e Símbolos do Espírito Santo

Estas são as figuras e símbolos do Espírito Santo nas Escrituras: ÁGUA CHUVA RIO
ORVALHO VENTO ÓLEO UNÇÃO FOGO COLUNA PENHOR SELO VINHO POMBA
Evidentemente há outras, detectadas por inferência. Entretanto, estas são as mais usadas e conhecidas dos estudiosos da Bíblia.
1. Água
“Porque derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua poste­ridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes” (Is 44.3).
A água encontra-se em três regiões do Universo:
  • na expansão dos céus (Gn 1.6-10);
  • sobre a face da terra (Gn 7.11);
  • debaixo da terra (Jo 38.30).
Esta é uma figura real do Espírito Santo – Ele opera nas três dimensões da constituição humana, produzindo a regeneração do espírito, da alma e do corpo (cf. 1 Ts 5.23). A operação miraculosa do Espírito no homem pro­duz um tipo de “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). Certamente era este o sentido das palavras do apóstolo Paulo, ao ensinar a igreja de Corinto sobre a atuação poderosa do Espírito: “Todos temos bebido de um Espírito” (1 Co 12.13). Uma outra figura, utilizada por Jesus, compara o Espírito Santo a “rios de água viva”. Em seu imortal discurso em Jerusa­lém, no último dia da festa, o Mestre convida: “Se al­guém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse ele do Espírito, que haviam de rece­ber os que nele cressem…” (Jo 7.37-39).
O ato de beber do Espírito Santo fala evidentemente de algo que mata a nossa sede espiritual. Alguns têm fome e sede de justiça (Mt 5.6); outros têm fome e sede de evangelizar os perdidos (Rm 15.19,20); outros ainda têm fome e sede de uma comunhão perfeita e permanente com o Espírito (Gl 5.25). O Espírito, como fonte perene, calma e cristalina, satisfaz toda e qualquer necessidade espiritual ou reverte o estado de sequidão em nossa vida. Ele é realmente a Água da vida, que “refrigera a nossa alma” nos desertos cálidos deste mundo injusto e cruel.
O cálice, neste caso, fala da comunhão entre o Espíri­to Santo e o crente que se dispõe a seguir sua orientação. Pão e água são os dois elementos essenciais à sobrevi­vência humana. No campo espiritual isso é ainda mais evidente: Cristo, o Pão da vida, satisfaz a nossa fome espiritual (Jo 6.35); o Espírito Santo, a Água da vida, satisfaz a nossa sede espiritual (Ap 22.17).
2. Chuva
“E a elas [as ovelhas], e aos lugares ao redor do meu outeiro, eu porei por bênção; e farei descer a chuva a seu tempo: chuvas de bênção serão” (Ez 34.26). Tiago, o irmão do Senhor Jesus e autor da epístola que leva o seu nome, menciona “as primeiras chuvas e últimas chuvas”, como sendo a “chuva têmpora e serôdia”, baseado na metáfora agrícola (Tg 5.7). O apóstolo sabia muito bem dessas chuvas, por experiência pessoal. Os lavradores pa­lestinos esperavam o “precioso fruto da terra”, aguardando as chuvas oportunas, tanto as primeiras (no hebraico, yoreh ou moreh) como as últimas (no hebraico, malhos).
Na Palestina, a estação chuvosa normalmente começa nos primeiros dias de outubro e muitas vezes se prolonga até janeiro, quando se transforma em neve. As primeiras chuvas provêem umidade à semente recém-plantada, para que possa germinar. Portanto, é sinal para a semeadura.
As últimas chuvas ocorrem em abril e maio, e são neces­sárias para que a semente amadureça. Este simbolismo, aplicado ao Espírito Santo, fala da beneficência que Ele traz à Igreja como um todo e ao crente em particular. A chuva sempre foi retratada como sendo uma “bênção de Deus”, que traz alegria aos corações (At 14.17).
Na metáfora de Tiago, o simbolismo é perfeito: o Espírito Santo desceu no dia de Pentecoste, preparando assim a terra para a grande semeadura da Palavra de Deus. Depois, no decorrer dos séculos, as últimas chu­vas, ou seja, suas manifestações contínuas neste mundo, especialmente onde a vontade de Deus é aceita, têm produzido o amadurecimento e garantido uma safra de almas abundante (cf. Jo 4.35-38).
No final, aparece o “precioso fruto da terra” como o resultado satisfatório da chuva, da semeadura e da colheita.
  • O “precioso fruto da terra” é a Igreja;
  • O “lavrador” é Deus. Assim interpretou Jesus: “Eu sou a videira verdadeira, meu Pai é o lavrador” (Jo 15.1);
  • a “chuva têmpora” é a descida do Espírito Santo no dia de Pentecoste (At 2.1-4);
• a “chuva serôdia” refere-se a outras manifestações do Espírito: batizando os crentes e concedendo-lhes dons (At 8.15-17; 9.17; 10.44-46; 19.1-6; 1 Co 1.7; 12.1-11). E, na Igreja que se seguiu, a chuva do Espírito Santo tem continuado e continuará até o dia do arrebatamento da Igreja por Jesus Cristo (Mc 16.17 etc).
3. Rio
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (Jo 7.38).
Logo no versículo seguinte, encontramos o significa­do destas palavras de Jesus: “Isto disse ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem”.
Este deve ser também o sentido de Salmos 46.4: “Há um rio [o Espírito] cujas correntes [os dons espirituais] alegram a cidade [Igreja] de Deus, o santuário [coração] das moradas do Altíssimo”.
Um rio pode surgir de uma fonte, de um lago ou do derramamento de geleiras. O lugar onde ele nasce é cha­mado de nascente ou cabeceira. A partir daí, o rio corre em direção a outro rio, a um lago ou mar, onde lança suas águas. O lugar onde o rio lança suas águas chama-se foz.
Chamamos curso ao caminho percorrido por um rio entre sua cabeceira e sua foz; o terreno sobre o qual as águas correm é denominado leito. As terras de um e outro lado do rio são as margens.
De acordo com historiadores judaicos, o último dia da festa dos Tabernáculos era denominado “Dia do Grande Hosana”, porque se fazia um circuito, por sete vezes, em torno do altar, ao mesmo tempo que todos clamavam: “Hosana!” ([8])
Antes do dia final, um sacerdote trazia, em um vaso de ouro, água tirada do tanque de Siloé, e então, acompa­nhado por um cortejo jubiloso, seguia até o Templo. Despejava a água sobre o altar, juntamente com vinho, cerimônia esta acompanhada pelo cântico do Halel (Sl 113-118). Simbolicamente, segundo os rabinos, esta água mitigava a sede espiritual do povo.
Jesus, entretanto, mostrou àquela gente que sua mis­são era outorgar uma água eterna, que é o “derramar do Espírito Santo em cada coração”. A água anunciada por Cristo não será tirada do Siloé nem levada ao Templo, porque cada crente será um templo do Espírito Santo e uma fonte de vida; não meramente um único rio, mas rios, o que expressa, no pensamento geral da Bíblia, um derramamento do Espírito Santo em sua plenitude (Jl 2.28; At 2.17,18; 10.45; Tt 3.5,6).
4. Orvalho
“Assim pois te dê Deus do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto” (Gn 27.28).
Encontramos, no Antigo Testamento, cerca de 34 re­ferências sobre o orvalho, como sendo um refrigério adi­cional à escassez das chuvas têmpora e serôdia. Era ne­cessário durante o período de estiagem, para revigoramento da erva e da relva (Dt 32.2). Tornou-se assim, um símbolo do Espírito Santo, por cair gradual­mente e, algumas vezes, de maneira imperceptível nos corações humanos. Onde cai o orvalho, ali Deus ordena a bênção e a vida para sempre (Sl 133.3), trazendo prospe­ridade à alma sob a influência do Espírito Santo, como gotas copiosas.
  1. 5.      Vento
“O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito (Jo 3.8). Os ventos sempre trazem consigo as características dos lugares de onde vêm. Assim podemos descobrir, através de nosso sistema sensível, os ventos quentes e os frios, os úmidos e os secos. Para sabermos se estamos caminhando em direção a terra ou em direção ao mar, basta parar um pouco ao cair da noite e analisar a direção do vento.
Os ventos mais importantes para esse tipo de orienta­ção são os alísios. Os ventos alísios são carregados de umidade, pois vêm dos oceanos. Pela madrugada, as bri­sas continentais (ventos que sopram da terra para o mar) tornam-se mais essenciais para orientação. Assim, é fácil saber se as brisas estão soprando para o mar ou para a terra.
A pressão depende da temperatura, e os ventos, dos diferentes níveis de pressão. Assim, de madrugada a terra está mais “fria” que a água, o que significa maior pressão atmosférica sobre a terra. Por isso, o vento sopra do continente para a água. À tarde, ou ao cair da noite, a água está menos quente que a terra, o que quer dizer maior pressão do ar sobre a água.
Assim o diz a ciência, e assim acontece com o soprar do Espírito Santo em nossas vidas.
Se Ele sopra “suave”, está indicando a direção traçada por Deus a favor de seus filhos, numa rota onde a calma e a tranqüilidade nos esperam (cf. Gn 8.1).
Se Ele sopra “veemente e impetuoso”, como no dia de Pentecoste, é sinal evidente de sua presença com mani­festações de poder (At 2.1-4; Hb 2.4).
Se Ele sopra apenas com “gemidos inexprimíveis”, está nos alertando de perigos iminentes (cf. Rm 8.26; Hb 3.7,8).
Esses movimentos do Espírito Santo são completa­mente desconhecidos para o pecador. Por isso Jesus instruiu Nicodemos, um mestre do primeiro século de nossa era, acerca do “movimento” produzido pelo Espírito San­to neste mundo.
Então o Mestre disse: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes [Nicodemos é que não sabia] donde vem, nem para onde vai”. Assim, Nicodemos não sabia também do movimento operado pelo Espírito Santo, que produz a regeneração do homem, porque isso se “discerne espiritualmente” (Jo 3.8; 1 Co 2.14).
6. Óleo
“Amaste a justiça e aborreceste a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros” (Hb 1.9).
Na Bíblia, o azeite da unção era usado somente para consagração de pessoas de grande poder, tais como reis (1 Sm 10.1; 16.13), sacerdotes (Lv 8.30) e profetas (1 Rs 19.16; Is 61.1). Também eram ungidos com óleo os escu­dos dos ilustres guerreiros, numa demonstração de honra (2 Sm 1.21; Is 21.5).
O tabernáculo e seus móveis foram também ungidos (Êx 30.22-33), e os enfermos eram muitas vezes ungidos com azeite, para que sua fé aumentasse e seus pecados fossem perdoados (Mc 6.13; Tg 5.14,15). Mas parece que o óleo usado na unção dos enfermos não era o mes­mo da “santa unção” (cf. Êx 30.31,32). Neste caso, a unção de homens e coisas não podia ser feita com qual­quer tipo de óleo, e sim com um óleo especial chamado “azeite da santa unção” (Êx 30.31).
Metaforicamente, é chamado “óleo fresco” (Sl 92.10), “óleo precioso” (Sl 133.2), “excelente óleo” (Am 6.6), “óleo de alegria” (Sl 45.7). O óleo, portanto, tomado neste sentido simboliza o Espírito Santo como “unção especial” para os salvos em Cristo – que quer dizer também “ungido”. Em Atos 10.38, o Espírito Santo é retrata­do como aquEle que consagrou a Cristo com este tipo de unção especial: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazen­do o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”. E, em 1 Coríntios 1.21, Paulo afirma que quem nos capacitou para o desempenho de nossa missão foi Deus. “O que nos ungiu é Deus”, disse o apóstolo. O Espírito Santo, de fato, é a unção de Deus em nossas vidas, tanto para aprender como para ensinar (Lc 4.18,19; 1 Jo 2.20,27). Sempre que alguém era ungido com óleo, as pessoas ao redor mantinham respeito e reverência. Era expressamente proibido por Deus tocar em alguém que tivesse recebido a unção com óleo (2 Sm 1.21). O Espírito Santo, portanto, torna-se nosso prote­tor, a garantia de que as forças do mal não nos tocarão.
7. Unção
“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo… e a unção que vós recebestes dele, fica em vós…” (1 Jo 2.20,27).
Já tivemos a oportunidade de analisar o óleo como símbolo do Espírito Santo. Agora, estudaremos este ou­tro símbolo, que, evidentemente, alude à operação e in­fluência do Espírito Santo na vida dos crentes, ensinando as verdades mais profundas da Bíblia, ao mesmo tempo que dá a interpretação e significação de cada palavra nela inserida.
A unção desempenha grande papel na vida física das raças orientais, tal como o orvalho faz reviver a verdura das colinas. Assim também a influência curadora e suavizante do Espírito Santo soprada sobre os filhos de Deus, nos “guiando em toda a verdade” e ensinando “todas as coisas” concernentes a Deus e sua Palavra”.
8. Fogo
“E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arre­pendimento; mas aquele que vem após mim é mais pode­roso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). O fogo é sinal da presença de Deus.
As manifestações de Deus algumas vezes faziam-se acompanhar pelo fogo (Êx 3.2; 13.21,22; 19.18; Dt 4.11), que tanto representa sua presença como sua glória (Ez 1.4,13), sua proteção (2 Rs 6.17), sua santidade (Dt4.24), seus juízos (Zc 13.9), sua ira (Is 66.15,16) e, finalmente, o Espírito Santo (Mt 3.11; At 2.3; Ap 4.5).
No Antigo Testamento, a ordem divina era conservar o fogo aceso diuturnamente: “O fogo arderá continua­mente sobre o altar; não se apagará” (Lv 6.13) – sinal evidente da presença de Deus no meio do seu povo.
No Novo Testamento, a ordem divina é a mesma: “Não extingais o Espírito” (1 Ts 5.19). Numa outra tra­dução: “Não apagueis o Espírito”. Em outras palavras, Paulo quer dizer que a chama do Pentecoste “deve arder em nossos corações todos os dias, até a consumação dos séculos”.
  1. 9.     Coluna
“E o Senhor ia diante deles, de dia numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar, para que caminhassem de dia e de noite. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite” (Êx 13.21,22).
A coluna, seja como símbolo religioso, marco ou mo­numento, traz sempre a idéia de firmeza. Paulo, por exem­plo, valeu-se dessa figura para representar a Igreja: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te bem depressa; mas, se tardar, para que saibais como convém andar na casa de Deus, que é a igreja de Deus vivo, a coluna e a firmeza da verdade” (1 Tm 3.14,15).
Como símbolo do Espírito Santo, a coluna fala da for­ça espiritual mediante a qual a alma será eternamente abençoada, e, sendo de natureza divina como aquela que acompanhou o povo de Deus no deserto, serve de prote­ção, iluminação e orientação. O Espírito Santo é tudo isso e muito mais, com relação à Igreja. Ele foi posto por Deus no edifício espiritual de Cristo, que é sua Igreja, para segurança, ornamentação e beleza. A nuvem da gló­ria de Deus, em dado momento, quando Israel estava em extremo perigo, “se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles… e a nuvem era escuridade para aqueles, e para estes esclarecia a noite: de maneira que em toda a noite não chegou um ao outro” (Êx 14.19,20). Podemos obser­var nesta passagem a ação imediata de Deus, mudando de posição a coluna que guiava o seu povo, retirando a nuvem de “diante” deles e pondo-a “atrás” deles.
A manobra divina deu versatilidade à nuvem: “… era escuridade para aqueles [os egípcios], e para estes [os israelitas] esclarecia a noite”. O Espírito Santo também assumiu a posição de “divisor” da santidade que separa a Igreja do mundo, de tal maneira que durante toda a traje­tória da Igreja nesta Terra, “não chegou um ao outro”.
A coluna de nuvem acompanhou Israel através do deserto e um dia desapareceu na fronteira de Canaã, ao atingirem a margem oriental do Jordão. O povo foi, en­tão, orientado a espalhar-se em volta da arca da aliança, num raio de 914 metros, para contemplar mais facilmen­te o símbolo guia da glória de Deus flutuando nos om­bros dos sacerdotes. Agora, o povo não seguia mais a coluna de nuvem (ela havia desaparecido!), e sim a arca da aliança do Senhor. Assim também acontecerá com o Espírito Santo, no dia do arrebatamento da Igreja. Ele terá cumprido sua missão, entregando a Noiva nos braços de Cristo – a Arca divina. Cristo, então, a conduzirá à sala do banquete nupcial (Ct 2.4; Mt 25.6,10).
10. Penhor
“Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito” (2 Co 5.5).
O vocábulo “penhor”, do grego arrabon, significa “pri­meira prestação”, “depósito”, “garantia”. Indica o paga­mento de parte do preço total da compra. Esta “primeira prestação” recebida é a regeneração. O valor total será complementado com os pagamentos intermediários – a santificação – e o pagamento final – a redenção do nosso corpo (cf. Rm 1.4; 8.23; Tt 3.5). O Espírito Santo que, mediante a Palavra de Deus e por todos os meios da graça, nos capacita a atingir a glória eterna, transformando-nos “de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18), é evidentemente a nossa garantia.
11. Selo
“O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações” (2 Co 1.22).
O uso mais comum do selo, na antigüidade, era na autenticação de documentos, cartas, títulos de proprieda­de e recibos de mercadoria ou dinheiro.
Após deixar a mensagem em escrita cuneiforme, o escriba pedia que o remetente e as testemunhas removes­sem de seus pescoços os próprios selos cilíndricos, que eram rolados sobre a argila ainda mole, servindo de assi­natura. As leis romanas, por exemplo, somente aceita­vam um testemunho se estivesse selado com “sete selos” e confirmado por “sete testemunhas”. ([9])
Nas Escrituras, o selo traduz vários significados e aplicações:
GARANTIA (Gn 38.18)
JURAMENTO (Jr 22.24)
CONFIRMAÇÃO (Jo 6.27)
JUSTIÇA E FÉ (Rm 4.11)
AUTENTICIDADE (1 Co 9.2)
FUNDAMENTO (2 Tm 2.19)
SEGURANÇA (Mt 27.66; Ap 20.3)
IRREVOGABILIDADE (Et 8.8; Dn 6.17)
PROMESSA (Ef 1.13)
REDENÇÃO (Ef 4.30)
MISTÉRIO (Ap5.1)
VIDA (Ap 7.2)
PRESERVAÇÃO (Ap 9.4)
O selo, como figura do Espírito, traduz para a Igreja todas as vantagens mencionadas acima e muito mais. O Espírito Santo sela a Igreja (Ct 4.12), a lei do Senhor (Is 8.16), o coração (Ct 8.6), a visão e a profecia (Dn 9.24) e os crentes para o dia da redenção (2 Co 1.22; Ef 1.13; 4.30; 2 Tm 2.19). Fomos selados com o selo da promessa, que nos dá a garantia de pertencermos somente a Deus.
12. Vinho
“E o vinho que alegra o coração do homem, e faz reluzir o seu rosto como o azeite, e pão que fortalece o seu coração” (Sl 104.15).
Esta figura do Espírito Santo é pouco usada pelos escritores. Entretanto, sem dúvida alguma, também se reveste de significação especial.
Para o povo hebreu, o vinho e a vinha são usados para representar a prosperidade e a bênção. Possuir uma vinha próspera era sinal evidente do favor divino. Também era considerada uma dádiva de Deus ao homem: “E lhe darei as suas vinhas dali, e o vale de Açor, por porta de espe­rança: e ali cantará como no dia da mocidade, e como no dia em que subiu da terra do Egito” (Os 2.15).
Jesus afirmou ser “a videira verdadeira”, e comparou o Pai, Senhor dos homens e Deus do Universo, a um proprietário de vinha (Jo 15.1). O fruto da vide, que é o vinho, ilustra a alegria que existe entre os salvos; o cálice fala da comunhão que temos, promovida pelo Espírito Santo “derramado em nossos corações”. Paulo cita-a como “a comunhão do Espírito Santo” (2 Co 13.13).
No dia de Pentecoste, em Jerusalém, as pessoas de fora acharam que os discípulos estavam “cheios de vi­nho” (At 2.13). Pedro, então, explicou-lhes que aquilo era alegria do Espírito Santo. Em outras palavras, eles não estavam embriagados com vinho, mas cheios do Es­pírito Santo!
13. Pomba
“E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se uma voz do céu que dizia: Tu és meu filho amado, em ti me tenho comprazido” (Lc 3.22).
Dificilmente tal simbolismo seria associado a João Batista. Ele era um profeta de grande poder. Sua mensa­gem produzia sempre o choro, e não o riso. Era mesmo uma mensagem de arrependimento. Suas palavras, de fato, faziam doer: víboras, pedras, machado, pá, fogo, deserto, ira, fuga etc.
De outro lado, porém, João Batista era meigo e cheio de compaixão. Era “cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15); entretanto, sobre ele re­pousava a unção divina em sua plenitude.
João Batista viu o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre Jesus (Jo 1.32). Manso, terno, puro e inofensi­vo como uma pomba: assim Ele é. Como pomba, o Espírito Santo pode ser assustado ou entristecido (Ef 4.30). E, como a pomba é o símbolo universal da paz, também o Espírito Santo promove a paz nos corações dos homens.
Dizem os naturalistas que a pomba não tem fel. Assim também o Espírito Santo – nEle não existe amargura!
Alguns intérpretes opinam que o Espírito foi repre­sentado na forma “corpórea” de uma pomba pelos se­guintes motivos:
a. Sua ternura e apego ao homemQue mostra como Deus encaminha pacientemente os homens à realização de sua potencialidade espiritual.
b. Sua gentilezaDeus trata conosco de modo positivo e completo, embora com grande gentileza.
c. Seu vôo gentil e a ternura para com os filhotesO Espírito Santo é benigno – sempre.
d. Pelas virtudes singulares que representaPor exem­plo, a pureza e a inocência. Nos escritos judaicos, quan­ do o Espírito Santo aparece “pairando” sobre a face das águas é expressamente comparado a uma pomba. Simbo­liza a natureza calorosa e revivificadora da terceira Pes­soa da Santíssima Trindade (Gn 1.2).

4. O Batismo com o Espírito Santo

I – O que É o Batismo com o Espírito Santo

“Mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5).
O batismo com o Espírito Santo não é uma bênção exclusiva de grupos pentecostais ou carismáticos, como alguns têm defendido e ensinado, “porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, cha­mar” (At 2.39). A universalidade da promessa do batis­mo com o Espírito Santo é aqui reiterada, enriquecida e aprofundada para outras pessoas que ainda “estavam lon-ge”.
A promessa do Pai, feita a Jesus, cobriria o tempo e o espaço. Ela “diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar”. Estas palavras, proferidas pelo apóstolo Pedro no dia de Pentecoste, mostram a abrangência da promes­sa:
• O batismo com o Espírito Santo seria para a geração dos primórdios da Igreja (“… a vós”).
  • O batismo com o Espírito Santo seria também para a geração de crentes e pregadores que viria depois (“… a vossos filhos”).
  • O batismo com o Espírito Santo seria também outor­gado aos que estavam distantes, geográfica e cronologi­camente (“… a todos os que estão longe”).
  • O batismo com o Espírito Santo poderia ser desfrutado por todos os que cressem e obuscassem (“… a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar”).
Idêntica promessa faz Jesus, em Marcos 16.17, quan­do se despede dos discípulos: “Este sinais seguirão aos que crerem… falarão novas línguas”. Esta gloriosa pro­messa foi imediatamente cumprida no dia de Pentecoste (At 2.1-4) e pelos séculos que se seguiram. Até hoje, homens e mulheres de todas as nacionalidades têm expe­rimentado e testemunhado a mesma coisa.
Jesus continua batizando com o Espírito Santo em todas as partes do mundo onde sua vontade é aceita. Ele “é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8); e, de igual modo, “o Espírito é o mesmo” (1 Co 12.4,8,9,11).

II – A Finalidade do Batismo com o Espírito Santo

O glorioso revestimento de poder pelo batismo com o Espírito Santo tem várias finalidades e aplicações:
  • Traz ao crente um revestimento de poder sobrenatu­ral. Jesus prometeu: “Ficai, porém, na cidade de Jerusa­lém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49).
  • Faz do crente uma testemunha poderosa do Evange­lho: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
  • Traz aos crentes uma espécie de “unção universal” entre os filhos de Deus, unindo-os em um só corpo. Paulo afirma: “Há um só corpo e um só Espírito” (Ef 4.4). A operação miraculosa do Espírito Santo na vida da Igreja derruba todas as barreiras e preconceitos nacionalistas.
Em Romanos 6.2-4, Paulo revela que todos nós fomos batizados na morte de Cristo sepultados com ele pelo batismo na morte, e que através de sua ressurreição anda­mos em “novidade de vida”. E reafirma, em 1 Coríntios 12.13: “Pois todos nós fomos batizados em um mesmo Espírito, formando um corpo…”
Este batismo é uma ação poderosa que produz a união entre todos os homens, formando assim “um só corpo”, quer sejam judeus, gregos, servos ou livres. Antes desta operação gloriosa do Espírito, os homens eram classifi­cados por raças e categorias: bárbaros, pecadores, publicanos, meretrizes, judeus, gregos, romanos, saduceus, fariseus, herodianos, citas, samaritanos, da circuncisão, incircuncisos, escravos, livres etc.
O Espírito Santo, através desta “imersão” purificadora, torna o Cristianismo superior a qualquer filosofia ou religião que separe as pessoas por nacionalismo ou tradi­ção secular.

III – A Promessa do Pai

Promessa é uma espécie de encontro com o futuro, e usualmente envolve um “doador”e um “receptor”. Neste sentido, encontramos promessas por toda a Escritura.
1. Jesus lembra a promessa do Pai
“E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49).
O livro de Atos mostra a vinda do Consolador como “a promessa do Pai”: “Determinou-lhes que não se au­sentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes” (1.4).
A promessa, portanto, seria o derramamento do Espí­rito Santo, no dia de Pentecoste. Mais adiante, no mesmo livro, Pedro revela que a promessa do Espírito Santo seguiria por gerações futuras (2.39).
Certamente o maior desejo de Jesus, ao chegar junto do Pai, nos Céus, era ver a gloriosa manifestação do Espírito na vida de seus seguidores aqui na Terra. Pois Ele prometera: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador” (Jo 14.16).
Cremos que foi esta a primeira oração do Filho ao assentar-se à destra do Pai, depois de cumprida sua mis­são na Terra.
2. O cumprimento da promessa
A promessa do batismo com o Espírito Santo é afir­mada sete vezes no Novo Testamento (Mt 3.11,12; Mc 1.7,8; Lc 3.16,17; Jo 1.33; At 1.5; 11.16; cf. Jo 16.7,8,13). Destas, quatro saíram dos lábios de João Batista, sempre com as palavras: “Ele [Jesus] vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
E eis aqui o seu cumprimento: “Cumprindo-se o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas re­partidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espíri­to Santo lhes concedia que falassem” (At 2.1-4).
Encontramos, no Novo Testamento, quatro vezes os cris­tãos reunidos no domingo (Jo 20.19,26; At 2.1; 20.7). Na terceira vez, cinqüenta dias depois do sábado da Páscoa, deu-se a prometida descida do Espírito Santo. Os discípulos eram já cristãos, mas agora são constituídos em “um corpo” (1 Co 12.13) – a Igreja cristã em sua forma exata.

IV – Três Formas de Batismo

Há pelo menos três maneiras de o Espírito Santo bati­zar os crentes, embora o batismo seja um só e em cada uma dessas manifestações tenha ocorrido a evidência das línguas estranhas.
Encontramos a primeira em Atos 2.2-4, onde o Espíri­to irrompe do Céu “de repente” como “um vento vee­mente e impetuoso”, e, sem nenhuma intervenção huma­na ou dramatização para estimular a fé, batiza a todos os que estão assentados.
A segunda, em Atos 8.15-18; 9.17,18 e 19.6, onde o batismo se dá através da imposição de mãos, em Samaria, Damasco e Éfeso.
A terceira, em Atos 10.44, na casa do centurião Cornélio: “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra”.
No primeiro caso, o batismo aconteceu automatica­mente; no segundo, pela imposição das mãos e no tercei­ro, pelo supremo poder da Palavra.

V – A Aceitação Universal

Todos os cristãos de todas as denominações, especial­mente as verdadeiramente evangélicas, aceitam sem res­trições a doutrina do batismo com o Espírito Santo. Con­cordam também sobre o fato de ser o Espírito Santo uma pessoa real, e não uma simples influência.
As dificuldades surgem no tocante à maneira como Jesus batiza com o Espírito Santo e aos sinais evidentes deste batismo.
Alguns o confundem com a regeneração ou o novo nascimento. Outros, como sendo o “batismo da alma com vista ao mundo dos mortos”. Jesus falou de “um certo batismo” (Lc 12.50), e alguém entende que seja este.
Outros ainda acham que no momento da salvação a pessoa recebe automaticamente o batismo com o Espírito Santo. Talvez baseado nas palavras de Paulo, em 1 Coríntios 12.13: “Todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo”.
Há inúmeras outras explicações que não se coadunam com o argumento principal das Escrituras, razão por que não as mencionamos aqui.
O batismo com o Espírito Santo é um poder especial que vem de Deus e enche todo o nosso ser. A esta ação divina, segue-se o que chamamos “transbordamento”, quando a nossa língua é totalmente dominada pelo poder de Deus e começamos a falar “noutras línguas, conforme o Espírito Santo” autoriza que falemos. Não um idioma nosso – a não ser que Deus, diante de necessidades pre­mentes, assim o queira – mas sim uma língua totalmente espiritual. É glorioso!

VI – Frases Usadas na Bíblia e pelos Crentes

Na Bíblia, especialmente no Novo Testamento, várias frases e expressões descrevem o batismo com o Espírito Santo. Alguns escritores opinam ser a expressão mais exata “batismo no [ou em o] Espírito Santo”, o que daria a idéia de alguém ser “mergulhado” nEle (o Espírito Santo é às vezes representado por um rio, ou rios; cf. Sl 46.4; Jo 7.37-39; 1 Co 12.13).
Porém, entendo ser mais adequada a expressão “batismo com o Espírito Santo”. Somente podemos mergulhar em algo que se encontre abaixo de nós. No batismo com o Espírito Santo, é Ele que vem sobre o crente, e não o contrário. Além do mais, é o que aparece em nossas tradu­ções. Em muitas ocasiões, mesmo no Antigo Testamento, o Espírito de Deus vinha sobre alguém (Jz 3.10; 11.29; 14.6,19; 15.14; 1 Sm 10.10; 16.13 etc). No Novo Testamento, continuou descendo sobre os santos (cf. Lc 1.35ss). Muitas outras expressões descrevem batismo com o Espírito Santo:
  • “… derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 2.28);
  • “… derramarei o Espírito de graça e de súplicas” (Zc 12.10);
  • “… ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11);
  • “… falarão novas línguas” (Mc 16.17);
  • “… revestidos de poder” (Lc 24.49);
  • “… o Consolador… virá a vós” (Jo 16.7);
  • “… a promessa do Pai” (At 1.4);
  • “… recebereis a virtude do Espírito Santo” (At 1.8);
  • “… todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2.4);
  • “… o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (At 5.32);
  • “… era dado o Espírito Santo” (At 8.18);
  • “… caiu o Espírito Santo” (At 10.44);
  • “Recebestes vós já o Espírito Santo…” (At 19.2).
    Outras expressões são usadas pelo povo de Deus:
  • “O Espírito Santo veio sobre ele(a)” (Mt 3.16);
  • “O Espírito Santo repousou sobre ele(a) (Jo 1.33);
  • “Foi selado com o selo da promessa” (Jo 6.27; 2 Co 1.22; Ef 1.13; 4.30);
  • “Foi ungido com o Espírito Santo” (At 10.38; 1 Jo 2.27);
  • “Caiu o Espírito Santo sobre todos” (At 10.44);
  • “Deus lhes deu o mesmo dom que a nós” (At 11.17);
  • “Houve um derramamento” (At 2.33).

VII – Cinco Manifestações Distintas

Alguém já denominou o livro de Atos como “Atos do Espírito Santo”, porque a presença do Espírito é marcante e gloriosa, batizando, operando milagres e orientando pregadores e crentes em geral.
Encontramos nesse livro cinco manifestações do ba­tismo com o Espírito Santo. Ele é citado textualmente nas seguintes passagens: 1.2,5,8,16; 2.2,4,17,18,33,38; 4.8,31; 5.3,9; 6.3,5; 7.51,55; 8.15,17,18,19,29,39; 9.17,31; 10.19,38,44,45,47; 11.12,15,24; 13.2,4,9,52; 15.8; 16.6,7; 19.2,6; 20.23,28; 21.4,11; 28.25. Em 11 capítulos, seu nome está ausente (capítulos 3,12,14,17,18,22,23,24, 25,26,27); entretanto sua presença é sentida em cada um deles, pelos milagres realizados.
Das cinco manifestações de batismo, pelo menos qua­tro aconteceram em cidades consideradas gentias pelos judeus: Samaria, Damasco, Cesaréia e Éfeso.
1. Em Jerusalém
“E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E todos foram cheios do Espíri­to Santo e começaram a falar em outras línguas, confor­me o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.2,4).
2. Em Samaria
“Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João, os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo. (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido, mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus.) Então, lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo” (At 8.14-18).
3. Em Damasco
“E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo” (At 9.17).
4. Em Cesaréia
“E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espíri­to Santo sobre todos os que ouviam a palavra” (At 10.44).
5. Em Éfeso
“Disse-lhes [Paulo]: Recebestes vós já o Espírito San­to quando crestes? E eles disseram-lhes: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam línguas e profetizavam” (At 19.2,6).
Não devemos pensar que depois dessas manifestações o Espírito Santo parou de batizar os cristãos. Pelo contrá­rio, Ele continuou (e continua) batizando.
A bênção do batismo é distinta do novo nascimento (Jo 3.3,5,6,8). Todo crente fiel tem o Espírito Santo, mas nem todos são batizados com o Espírito Santo. Os discí­pulos de Cristo já tinham o Espírito Santo antes do Pentecoste (Jo 20.22). Entretanto, somente depois do Pentecoste é que foram batizados.
Jesus quer batizar a todos! Basta que pecamos e con­fiemos na promessa do Pai: “Porque qualquer que pede recebe. Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo aqueles que lho pedirem?” (Lc 11.10,13). Jamais devemos nos aproximar de Deus pensando que somos merecedores de tão grande bênção. Deus não nos abençoa por aquilo que merecemos, e sim pelo que preci­samos. Todos somos carentes de Deus, que “segundo as suas riquezas, suprirá” as nossas necessidades (Fp 4.19), inclusive a do batismo com o Espírito Santo.
Em cada uma das ocasiões mencionadas acima, houve sinais externos da manifestação do Espírito. Em Jerusalém, ouviu-se um “som como de um vento veemente e impetuoso” e as “línguas repartidas como que de fogo” acompanharam a descida oficial do Espírito Santo.
O fenômeno foi tão intenso que os discípulos ali reu­nidos não somente ouviram e sentiram, mas chegaram a ver as próprias línguas (v. 3).
“O vento e o fogo precederam a plenitude dos discí­pulos; o dom de línguas, entretanto, veio como resultado da plenitude. O vento e o fogo jamais se repartiram em outras ocasiões, mas o dom de línguas sempre estava presente em cada ocasião”.
O segundo episódio marcou a presença de Pedro e João na cidade de Samaria, e a evidência externa foi o dom de línguas. O mago Simão percebeu e até desejou reproduzir os efeitos extraordinários da imposição de mãos dos apóstolos. Schaff declara: “Os dons do Espírito Santo eram claramente visíveis. A imposição das mãos dos apóstolos conferia alguma coisa mais do que a graça espiritual interior; os dons milagrosos externos de uma outra espécie eram claramente concedidos”. ([10])
Os samaritanos haviam sido convertidos a Cristo pela poderosa mensagem de Filipe, o evangelista, mas ainda lhes faltava o dom do Espírito Santo. Agora, porém, com a presença de Pedro e de João, o batismo fez-se acompa­nhar de efeitos externos. Os samaritanos provaram o dom celestial.
Em Damasco, na casa de Judas, após a conversão de Saulo, chega um discípulo chamado Ananias, o qual en­trando na casa disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo”.
A missão deste discípulo até então oculto, mas cheio de poder, era realizar três coisas que seriam de extrema importância na vida de Saulo:
  • impor-lhe as mãos para curá-lo;
  • num ato semelhante, fazer com que o Espírito Santo o batizasse;
  • torná-lo membro do corpo visível de Cristo, que é a sua Igreja, pelo batismo nas águas.
No quarto episódio, na cidade de Cesaréia, Pedro se encontrava na casa de “um certo Simão, curtidor” (At 10.6), quando foi divinamente orientado a ir à casa de Cornélio, a fim de que este, através da pregação do após­tolo, fosse salvo. Deus agiu assim para quebrar uma tradição separatista entre judeus e gentios.
Os judeus da circuncisão, mesmo convertidos ao Cris­tianismo, não aceitavam a salvação dos gentios. Há sécu­los os judeus repetem um provérbio: “O Espírito Santo jamais repousa sobre um pagão”. Era tal a discordância entre os judeus a respeito deste ponto, que foi necessário um concilio, em Jerusalém, para resolver a questão (At 11.1-3; 15.1-29).
Quantos, em nossos dias, incorrem no mesmo equívo­co daqueles irmãos primitivos que recusavam ou punham ressalvas à admissão dos gentios na igreja! Entre aqueles estava Pedro.
Os saduceus entraram em choque com Cristo por­que sua doutrina contrariava em muito os ensinos deles, que eram céticos quanto ao mundo superior. Não aceitavam as personalidades do mundo espiritu­al. Para eles, “não há ressurreição, nem anjo, nem espírito” (At 23.8). Jesus discerniu muito bem a situ­ação do grupo: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
Em nossos dias, vemos pessoas bem intencionadas contestando certas operações do Espírito Santo. Interpre­tam a Bíblia unicamente pela lógica, deixando de lado a operação divina mediante a fé consumada por nosso Se­nhor Jesus Cristo.
A lógica sempre questiona; a fé sempre aceita. Não estamos negando o valor da lógica. Nossa vontade orien­ta-se por si mesma, em virtude de uma espécie de lógica imanente, na direção do Bem absoluto e do Ser necessá­rio. Em outras palavras, em direção a Deus, fim último, no qual nosso coração pode encontrar a paz desejada e a alegria perfeita. Entretanto, pelo caminho da lógica o processo é lento, enquanto que os passos da fé são rápi­dos. Num momento, através de uma operação sobrenatu­ral do Espírito, pode-se atingir o mais elevado grau de santidade e aquela perfeição ensinada por Cristo e aspira­da por nossas almas.
Cremos que essa repentina manifestação do Espírito Santo sobre os gentios incircuncisos era necessária, para convencer a Pedro e aos seus irmãos da circuncisão de que Deus abriria largamente a porta para os gentios. Serviu como prova da chegada de um Pentecoste gentílico, e Pedro se utilizou eficazmente do fato, em sua defesa, em Jerusalém. ([11])
Gentios, convertidos da casa de Cornélio, adquiriram novos corações e novas línguas; e, tendo crido de todo o coração na justiça de Deus, suas línguas confessavam a salvação; e Deus foi glorificado na misericórdia que de­monstrou.
No quinto e último episódio, o Espírito Santo batizou discípulos de Cristo na cidade de Éfeso. O apóstolo Pau­lo, após uma longa caminhada pelas “regiões superiores”, chegou à capital da província romana da Ásia Me­nor (hoje parte da Turquia Asiática), uma das três maio­res cidades do litoral leste do mar Mediterrâneo (as ou­tras eram Antioquia da Síria e Alexandria). Após o gran­de mestre ter orado ali com um grupo de 12 homens, eles “falavam línguas e profetizavam” (At 19.6).
O Dr. D. D. Whedom declara: “Temos em Samaria, como em Cesaréia e em Éfeso, um Pentecoste em minia­tura, no qual parece ter lugar uma nova inauguração, pela repetição da mesma efusão carismática”. Para nós, po­rém, isso não somente significa uma “nova inaugura­ção”, mas uma “continuação” da promessa de Deus a seu Filho.
Em cinco casos de batismo com o Espírito Santo, quatro (isto é, em Jerusalém, Samaria, Cesaréia e Éfeso) tiveram como resultado imediato e evidência externa o falar em línguas (At 2.3,4; 8.17,18; 10.44-46; 19.6).
Alguém escreveu: “A despeito de frenéticos esforços de alguns para provar o contrário, a declaração clara e evidente da palavra é que todos receberam o dom de línguas do Espírito Santo”. E: “O registro do recebimen­to do batismo com o Espírito Santo pelos samaritanos indica fortemente a presença das línguas, que todo estu­dioso da Bíblia sem preconceito está certo de que elas foram manifestadas lá também”.
O sinal evidente do batismo com o Espírito Santo é o falar em línguas. Quando assim não acontece, passa a existir a dúvida – o que não é bom.

5. Os Dons Espirituais

I – Os Dons do Espírito Santo

A discussão acerca dos dons espirituais, na igreja em Corinto, girava em torno de pelo menos quatro questões, para aqueles crentes ainda desconhecidas – pelo menos em parte:
  • o que eram os dons espirituais;
  • os nomes dos dons – tecnicamente relacionados;
  • a finalidade dos dons na igreja;
  • o uso correto dos dons, para que a igreja fosse edificada.
Parece que não faltava aos coríntios “dons ministeri­ais” e “dons auxiliares”. O grande apóstolo faz uma li­geira introdução, lembrando aos coríntios que eles eram gentios levados aos ídolos mudos. E, no versículo se­guinte, mostra-lhes a Trindade (1 Co 12.2,3).
Em seguida, descreve os dons espirituais, mostrando sua finalidade e uso correto. Os coríntios haviam atingi­do um elevado grau de saber. Era o tempo em que se falava: “Os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1.22). Entretanto, Paulo os adverte de sua ignorância no tocante às manifestações espirituais: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (1 Co 12.1).
Em Roma, por exemplo, havia profunda carência de dons, a ponto de o apóstolo expressar preocupação: “Por­que desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espi­ritual a fim de que sejais confortados” (Rm 1.11).
O apóstolo explica que os dons são “faculdades divi­nas operando na pessoa humana”, capacitando homens e mulheres a servirem melhor a Deus no crescimento e edificação da igreja: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil” (1 Co 12.7).

II – Classificação dos Dons

De acordo com o ensino geral da Bíblia, os dons podem ser classificados em três grupos distintos:
  1. 1.      Dons ministeriais
APÓSTOLOS
PROFETAS
EVANGELISTAS
PASTORES
MESTRES
  1. 2.      Dons auxiliares
GOVERNOS
EXORTAÇÃO
REPARTIR
PRESIDIR
EXERCITAR MISERICÓRDIA SOCORROS
  1. 3.      Dons espirituais
    DOM DE SABEDORIA
    DOM DA CIÊNCIA
DOM DA FÉ
DONS DE CURAR
DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS
DOM DE PROFECIA
DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
DOM DE LÍNGUAS
DOM DE INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS
Esta é uma lista técnica, conforme os dons encontram-se relacionados. Estudaremos cada um deles mais à fren­te (com exceção dos dons ministeriais), por sua ordem e em cada grupo.
Alguns desses dons são citados em outros textos rela­cionados ao mesmo assunto:
  • ministério (ou governos), relacionado aos apóstolos e pastores (Rm 12.7; 1 Co 12.28; Ef 4.11);
  • presidência, relacionado ao ministério pastoral e administrativo da igreja (Rm 12.8; Ef 4.11; 1 Tm 5.17);
  • ensino, relacionado aos mestres (Rm 12.7; 1 Co 12.28; Ef 4.11; 1 Tm 3.2);
  • exortação, relacionado ao ministério profético e ao dom da profecia (Rm 12.8; 1 Co 12.10,28; Ef 4.11);
  • dom de repartir, relacionado à profecia e à interpre­tação de línguas, no sentido espiritual, e ao exercício da misericórdia e socorros no seio da comunidade, no senti­do social (Rm 12.8; 1 Co 12.10,11; 2 Co 9.11-13);
  • misericórdia, relacionado aos socorros (Rm 12.8; 1 Co 12.28);
  • milagres, relacionado à operação de maravilhas (1 Co 12.10,28).
Os dons ministeriais e os auxiliares, ainda que um pouco diferentes dos dons espirituais, são, contudo, ma­nifestações diversificadas do Espírito Santo.
Em Romanos 12.6-8, os dons ministeriais e auxiliares encontram-se interligados com os dons espirituais.
Em 1 Coríntios 12.1-10, os dons espirituais são distin­tos, mas a partir do versículo 28 são novamente relacio­nados aos dons ministeriais e auxiliares.
Em Efésios 4.7-11, os dons ministeriais são distintos dos dons espirituais.
Na relação de Paulo em Romanos 12.6-8, o dom da profecia aparece em primeiro lugar, depois fé, ministério e os dons de ensinar, exortar, repartir e presidir.
Na relação de 1 Coríntios 12.8-10, o dom da palavra da sabedoria vem em primeiro lugar; depois são citados mais oito dons. Nos versículos 28-31, são mencionados os dons ministeriais e auxiliares, vindo em primeiro lu­gar “apóstolos”. Em seguida são relacionados também oito dons.
Efésios 4.11 cita “apóstolos” em primeiro lugar, se­guido de mais quatro dons.

III – Os Dons São Faculdades da Trindade Divina

Os dons, quer ministeriais, auxiliares ou espirituais, são distribuídos diretamente pela Trindade Divina.
Diz Paulo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo ope­ram conjuntamente no exercício desses dons.
  • O Espírito Santo – “Ora há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1 Co 12.4);
  • Jesus Cristo – “E há diversidade de ministérios, mas o Senhor [Jesus] é o mesmo” (1 Co 12.5);
  • Deus, o Pai – “E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Co 12.6).
Devemos observar a vital importância do Espírito San­to no exercício dos dons espirituais. Ele recebeu de Deus plena liberdade para exercer seu ministério divino! Somente no capítulo referido nesta seção, o Espírito é mencionado 11 vezes (vv. 3,4,7,8,9,11,13).

IV – Os Coríntios Desconheciam Algumas Manifestações

O Dr. F. W. Grant opina que havia na igreja em Corinto manifestações que não eram do Espírito Santo, embora semelhantes. Alguns dos crentes coríntios provi­nham de diversas ramificações idolatras, em cujos cultos havia manifestações de espíritos maus. Agora, com as manifestações do Espírito de Deus no meio deles, era necessária a distinção. Paulo explica, no versículo 3, que qualquer manifestação espiritual que não exalte Jesus como Senhor não é do Espírito Santo.
A expressão do apóstolo, no versículo 1 (“Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignoran­tes”), subentende que, na Igreja Primitiva, os dons espiri­tuais eram bastante freqüentes. Cinco passagens do Novo Testamento ensinam claramente que todo crente fiel está capacitado a receber algum dom espiritual (Rm 12.6; 1 Co 7.7; 12.4-7; Ef 4.7; 1 Pe 4.10). Em alguns cristãos, este dom encontra-se adormecido! Entretanto, a reco­mendação divina é que “despertes o dom de Deus, que existe em ti” (2 Tm 1.6).

V – Os Dons Espirituais Propriamente Ditos

Os dons mencionados em 1 Coríntios 12.8-10 são tecni­camente chamados “os nove dons espirituais”, como costumeiramente usamos as expressões “os doze patriarcas dos filhos de Israel” e “os doze apóstolos do Cordeiro”.
No entanto, as listas de dons apresentadas perfazem um número mais elevado. Os patriarcas, filhos de Jacó, são “doze” (At 7.8). Foram adicionados, entretanto, ou­tros dois a este número: Manasses e Efraim, embora não
ostentassem o título (Gn 48.5). Abraão e Davi também são chamados literalmente de patriarcas (At 2.29; Hb 7.4). No caso dos “doze” apóstolos, o mesmo título foi conferido também a Barnabé e a Paulo (At 14.4,14) e depois, num sentido distante, a Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19).
O texto menciona “dons” de curar, no plural. No en­tanto, para facilitar o estudo, manteremos nos capítulos seguintes (6, 7 e 8) “os nove dons espirituais”, como é geralmente aceito pelo povo de Deus.
Pela ordem de citação, os dons espirituais estão assim relacionados:
DOM DA PALAVRA DA SABEDORIA
DOM DA PALAVRA DA CIÊNCIA
DOM DA FÉ
DONS DE CURAR
DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS
DOM DE PROFECIA
DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
DOM DE VARIEDADES DE LÍNGUAS
DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS
Estes dons são classificados de acordo com a sua natureza.
  1. 1.      Dons de saber
Também chamados “dons de revelação”.
DOM DA PALAVRA DA SABEDORIA
DOM DA PALAVRA DA CIÊNCIA
DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
  1. 2.      Dons de poder
Também chamados “dons de operação sobrenatural”.
DOM DA FÉ
DONS DE CURAR
DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS
3. Dons de expressão
Também chamados “dons orais”.
DOM DE PROFECIA
DOM DE VARIEDADES DE LÍNGUAS
DOM DE INTERPRETAÇÃO DAS LÍNGUAS

VI – “Dom” e “Dons”

O “dom” (singular) deve ser diferenciado de “dons” (plural). O dom propriamente dito é o batismo com o Espírito Santo, conforme defende Pedro no dia de Pente-coste e em outras ocasiões, quando se referia ao derrama­mento do Espírito: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado era nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). E, mais adiante, na cidade de Samaria, ao mago Simão: “O teu dinheiro seja contigo para perdi­ção, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro” (At 8.20). Finalmente, na casa de Cornélio, o centurião romano: “E os fiéis que eram da circuncisão… maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se der­ramasse também sobre os gentios” (At 10.45). Claro está que o termo “dom” usado nestes textos refere-se ao batis­mo com o Espírito Santo, que os 120 discípulos recebe­ram no cenáculo, evidenciado pelo falar em outras lín­guas.
No episódio de Atos 8.14-20, novamente o termo “dom” é repetido pelo apóstolo Pedro, como sendo o batismo com o Espírito Santo. Assim também na casa do centurião (At 10.44-47) e no concilio realizado em Jeru­salém, onde Pedro se defende por ter entrado na casa de um gentio (At 15.8).
As passagens de 2 Coríntios 9.15, Hebreus 6.4 e Tiago 1.17 podem indicar a mesma coisa. É importante obser­var que a palavra grega charismata, traduzida em portu­guês por “carismático”, aparece por 17 vezes no Novo Testamento (Rm 1.11; 5.15,16; 6.23; 11.29; 12.6; 1 Co 1.7; 7.7; 12.4,9,28,30,31; 2 Co 1.11; 1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6; 1 Pe 4.10). Relaciona-se com o verbo charizomai, que significa “eu dou como um favor”.([12]) O A expressão se completa com o substantivo charismata, que quer dizer “dons gratuitos de Deus”.
Aplica-se no Novo Testamento em três sentidos dife­rentes:
  • a salvação do pecado (Rm 5.15-17);
  • a libertação de perigo físico (2 Co 1.10,11);
  • a capacidade de Deus na pessoa humana, para o bem-estar e o crescimento da comunidade cristã (Rm 12.3-8; 1 Co 12.14; Ef 4.7; 1 Pe 4.10,11).

VII – Um Dom Específico em cada Grupo

Note-se que em cada grupo de dons espirituais há um dom de maior magnitude.
No primeiro grupo – dons de saber – destaca-se o dom da palavra da sabedoria.
No segundo grupo – dons de poder – destaca-se o dom da fé. No terceiro grupo – dons de expressão – destaca-se o dom de profecia.
Com efeito, a sabedoria é retratada na Bíblia como sendo o próprio Cristo: “Ele foi feito por Deus sabedo­ria” (1 Co 1.30). E também é o primeiro dom relacionado entre os nove (cf. Pv 4.7; 1 Co 12.8).
No caso da fé especial, torna-se evidente que ela é necessária para que alguém cure e opere maravilhas. Sem fé é impossível operar tais milagres (Mt 21.21; Hb 11.6).
Finalmente, a profecia é autônoma no grupo de ex­pressão, pois não depende de interpretação, como no caso da variedade de línguas. A profecia também repre­senta, na atual dispensação, “o testemunho de Jesus Cris­to” (Ap 19.10).
Os charismata, por conseguinte, podem ser chamados com exatidão de “dons graciosos”. A forma singular é encontrada em passagens como: Romanos 1.11; 5.15,16; 6.23; 1 Coríntios 1.7; 7.7; 2 Coríntios 1.11; 1 Timóteo 4.14; 2 Timóteo 1.6; 1 Pedro 4.10.
Temos a forma plural em Romanos 11.29 e 12.6; 1 Coríntios 12.4,9,28,31 etc.
Há outros textos que mencionam a pluralidade dos dons, em sentido geral (cf. Sl 68.18; 1 Co 14.1; Ef 4.8; Hb 2.4 etc).

VIII – A Difusão dos Dons

Os dons do Espírito Santo assinalam uma nova dis­pensação, a da Graça, e foram preditos com antecedência de séculos pelos profetas do Senhor (cf. Jl 2.28; Ag 2.9; Zc 12.10).
São confirmados pelas promessas de Cristo aos seus discípulos no Novo Testamento (Mc 16.17; Jo 14.12; At 1.8). Observemos no entanto que Pedro, no dia de Pente-coste, salienta que a profecia de Joel não expirava ali: “Isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (At 2.16). Pedro não diz: “Cumpriu-se o que foi dito”. O cumprimento desta grande profecia tem acompanhado a Igreja através dos séculos, e mesmo numa outra dispensação, a do Mi­lênio, continuará.
Posteriormente, numerosos dons espirituais são men­cionados por Lucas, em Atos dos Apóstolos (3.6ss; 5.12ss; 8.13,18; 9.33ss; 12.6-8; cf. 1 Co 12-14), e por Pedro (1 Pe4.10).
Paulo, além de usar expressões técnicas para descre­ver os dons espirituais, chama-os também de “estas coi­sas”, “coisas espirituais” e “as coisas do Espírito de Deus” (1 Co 2.13,14; 12.11). Expressões de idêntico significa­do são encontradas em outras passagens, tais como:
DOM DO ESPÍRITO SANTO (At 2.38) O DOM DE DEUS (At 8.20) DOM INEFÁVEL (2 Co 9.15) O DOM CELESTIAL (Hb 6.4)
Todas estas expressões, direta ou indiretamente, apon­tam operações do Espírito Santo. ([13])

IX – A Diversidade de Dons

Além dos dons mencionados em 1 Coríntios 12.8-10, há outros distribuídos pelo Espírito Santo. Paulo afirma: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo” (1 Co 12.4). Em passagens como Romanos 12.7,8 e 1 Coríntios 12.28, além dos dons propriamente ministeri­ais, aparecem outros: governos (ministérios), exortação, repartir, presidir, exercitar misericórdia, socorros.
1. Governos
Este dom é chamado “ministério” em Romanos 12.7, e “governos”, em 1 Coríntios 12.28. Está relacionado diretamente com os “dons eclesiásticos”, especialmente com os apóstolos e pastores – e, por extensão, aos anciãos da igreja. Nos dias da Igreja Primitiva, havia, pois, ne­cessidade de pessoas dotadas de habilidades especiais para a administração e a ordem social.
Na dispensação da Lei, já havia um ministério assim denominado. Os levitas eram consagrados aos trinta anos para esta função, e nela permaneciam até aos cinqüenta: “Da idade de trinta anos para cima, até aos cinqüenta, todo aquele que entrava a executar o ministério da admi­nistração…” (Nm 4.47). Era dividido em duas funções distintas: uma espiritual e uma social.
Paulo informa aos romanos que iria a Jerusalém “para ministrar” aos santos, numa passagem que fala de bens materiais e espirituais, respectivamente (Rm 15.25-27). Ele até orou neste sentido: “Para que… esta minha admi­nistração, que em Jerusalém faço, seja bem aceita pelos santos” (Rm 15.31).
Há, em nossos dias, um grande número de pessoas com extraordinária capacidade administrativa. Mas trata-se apenas de habilidade humana, técnica. A administra­ção bíblica, porém, é uma aptidão concedida ao homem ou à mulher pelo Espírito Santo, para que administrem os bens terrenos e espirituais pertencentes à igreja ou à comunidade.
2. Exortação
Encontramos este dom em Romanos 12.8 e 1 Coríntios 14.3, sendo nesta última passagem ligado ao dom de profe­cia, mas deve também estar relacionado a “mestres”. Não é de duvidar que profetas e mestres, o primeiro através da profecia e o segundo pelo ministério da palavra, exercessem esse dom. O propósito da exortação é levar os crentes a uma vida cristã mais elevada, a uma íntima transformação se­gundo a imagem de Cristo. Trata-se de uma conclamação do Espírito de Deus ao arrependimento e à santidade. As palavras de exortação são ensinadas pelo Espírito Santo (Rml2.8; 1 Co 2.13; 14.1-3).
  1. 3.      Repartir
O dom de repartir é citado em Romanos 12.8. Do ponto de vista divino, este dom do Espírito está ligado diretamente aos dons de profecia e interpretação; e, no sentido social, à misericórdia e socorros. Jesus ensinou seus discípulos a “repartir o pão” (Jo 6.11). E, de igual modo, “o pão da ceia do Senhor”, que representa seu corpo, e o “cálice”, que simboliza o seu sangue (Lc 22.17-20).
O primeiro ato do Senhor – o repartir o pão – fala da multiplicação que sucedeu a este gesto.
O segundo ato fala da comunhão, que é representada pela ceia do Senhor. O verdadeiro cristão tanto reparte com os demais os bens temporários quanto os espirituais.
A Igreja Primitiva era sem dúvida possuidora deste dom maravilhoso, pois “não havia pois entre eles neces­sitado algum” (At 4.34). O segredo deste sucesso era que “repartia-se por cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”. Do ponto de vista divino, a Igreja cum­priu sua missão, enchendo Jerusalém e depois o mundo inteiro com a palavra de Deus.
  1. 4.      Presidir
Este dom também é citado em Romanos 12.8. Asso­cia-se com o ministério pastoral. No original, o termo “presidir” fala de funções administrativas na igreja, en­volvendo os responsáveis pelo bom funcionamento de alguns de seus segmentos e do ministério.
No entanto, trata-se primeiramente de um dom, e so­mente depois envolve o ofício. Está presente nas “sete colunas de sabedoria”, que são: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres, presbíteros diáconos.
  1. 5.      Misericórdia
Também citado em Romanos 12.8, este dom envolve tanto ajuda material quanto espiritual. Paulo lembra aos anciãos da igreja de Efeso que não esqueçam da miseri­córdia: “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventura­da coisa é dar do que receber” (At 20.35).
Em 1 Coríntios, falando expressamente dos dons espi­rituais, o apóstolo menciona um dom “maior” que os demais – o amor (13.13). E é o amor o pai da misericór­dia!
Deus é amor, e também se chama “Pai das misericór­dias” (2 Co 1.3). O dom da misericórdia é uma “compai­xão demonstrada” àqueles que sofrem! É a tristeza de não fazer e a alegria de realizar! O Filho de Deus, em seus dias na Terra, ensinou a todos o valor deste dom: “Misericórdia quero, e não sacrifício” (Mt 9.13). E, a respeito dos que possuem este dom tão maravilhoso, disse: “Bem-aventurados os mise­ricordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
Há quem exercite a misericórdia do dever, a primeira milha. Entretanto, só poderá caminhar a segunda milha quem possuir a misericórdia como dom.
6. Socorros
Este dom é citado em 1 Coríntios 12.28. A exemplo do exercício de misericórdia, tem abrangência material e espiritual. É citado no plural em função das inúmeras necessidades no seio da igreja, que são de ordem espiri­tual, moral e social.
Nas horas difíceis, pessoas capacitadas pelo Espírito Santo com o dom de socorros estão prontas para ajudar. São impelidas pelo Espírito Santo a um interesse especial e intuitivo pelos necessitados, e descobrem meios para resolver essas necessidades. Mesmo quando todas as vo­zes se calam em defesa da igreja ou do cristão individual­mente, “socorro e livramento doutra parte virá” (Et 4.14); porque “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1). Em qualquer tempo ou lugar, contamos sempre com o “socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1.19).

X – Deus É quem Opera Tudo em Todos

Deus está em foco na operação miraculosa de cada dom. Ele é e sempre será o operador: cada dom é confe­rido e posto em funcionamento por Ele.
Apesar de haver “diversidade de dons., de ministéri­os… de operações… é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (1 Co 12.4-6). Isto faz com que haja unidade na diversidade.
“Assim é que temos o Pai, a primeira fonte e a origem de toda a influência espiritual em todos; temos também Deus Filho, aquEle que põe em ordem, em sua Igreja, todos os ministérios, mediante o quê essa influência pode ser legitimamente trazida para edificação de seu corpo; e temos Deus Espírito Santo, que habita e opera no seio da Igreja, efetuando em cada indivíduo a medida de seus dons que Ele assim quiser fazer”.
Toda e qualquer manifestação espiritual deve estar de acordo e em perfeita harmonia com o ensinamento geral da Bíblia. Se há manifestação ou operação diferente, seja rejeitada como fonte espúria. Jamais o Espírito Santo operará em desacordo com o Pai e o Filho.

6. Os Dons de Revelação

I – O Dom da Palavra da Sabedoria

“E a um pelo mesmo Espírito é dada a palavra da sabedoria” (1 Co 12.8).
De acordo com Riggs, é fácil determinar a ordem dos dons neste grupo, já que a sabedoria pressupõe a ciência e é uma aplicação discreta do conhecimento. A sabedoria é maior que a ciência, embora sejam sempre citadas em conexão nas Escrituras (Pv 4.7; 8.12; 9.10 etc).
O discernimento de espíritos é apenas parte do conhe­cimento e, portanto, uma extensão da sabedoria e ciência divinas.
Examinemos em detalhes os dons de revelação:
DOM DA PALAVRA DA SABEDORIA DOM DA PALAVRA DA CIÊNCIA DOM DE DISCERNIR OS ESPÍRITOS
Estes dons se manifestam na esfera mental. Por meio da palavra da sabedoria, Deus capacita a mente humana para entender todos os fatos e circunstâncias, leis e princípios, tendências, influências e possibili­dades.
A sabedoria encerra tudo: matéria-prima (celestial, humana e natural), poder e perícia.([14])
A sabedoria como dom é completamente sobrenatu­ral: uma operação divina – através do Espírito Santo -que dilata a mente e o coração do homem (cf. Êx 31.1-6; Dt 34.9; 1 Rs 4.29; Dn 1.17-20; At 6.10). É, portanto, uma operação desvinculada de qualquer técnica ou méto­do humano, que se manifesta conforme a circunstância ou para atender a uma necessidade premente (Lc 12.11,12; 21.15; Tg 1.5).
1. No Antigo Testamento
Encontramos no Antigo Testamento pessoas capacita­das por Deus com o dom da palavra da sabedoria.
José. “E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de Deus? Depois disse Faraó a José: Pois que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão entendido e sábio como tu” (Gn 41.38,39).
Moisés e Arão. “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar… e eu serei com a tua boca e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer” (Êx 4.12,15).
Bezalel e Aoliabe. “Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do espírito de Deus, de sabedoria… E eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todo aquele que é sábio de coração…” (Êx 31.2,3,6).
Josué. “E Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria…” (Dt 34.9).
Salomão. “E todo o Israel ouviu a sentença que dera o rei e temeu ao rei, porque viram que havia nele a sabedo­ria de Deus… E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitís­simo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios” (1 Rs 3.28; 4.29,30).
Eliú. “Se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria” (Jo 33.33).
Isaías. “O Senhor Jeová me deu uma língua erudita, para que saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado” (Is 50.4).
Jeremias. “E estendeu o Senhor a sua mão, tocou-me na boca e disse-me o Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” (Jr 1.9).
Daniel e seus companheiros. “Ora, a esses quatro mancebos Deus deu o conhecimento e a inteligência em todas as letras, e sabedoria…” (Dn 1.17).
Cristo, mesmo antes de se humanizar, foi retratado no Antigo Testamento como sendo a própria sabedoria (Pv 8.22-36). E no Novo Testamento “foi feito por Deus sabedoria” (1 Co 1.30). O Espírito Santo ungiu a Jesus Cristo para ser a sua sabedoria. Isto é detalhado em Isaías 11.2, onde “repousará sobre ele o Espírito do Senhor”:
Espírito de sabedoria. Habilidade para compreender a essência e o propósito das coisas e descobrir os meios certos de realizar o propósito de Deus em cada vida.
Espírito de inteligência. Habilidade para discernir cir­cunstâncias, relacionamentos e pessoas.
Espírito de conselho. Habilidade de tomar decisões acertadas, informar e guiar outras pessoas.
Espírito de conhecimento. Habilidade para ajudar a descobrir a “boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”, e também quem é Ele, e o que Ele faz. ([15])
2. No Novo Testamento
A sabedoria divina é retratada no Novo Testamento como algo sublime e especial. Durante seu ministério terreno, Jesus antecipou aos seus seguidores que iriam enfrentar momentos difíceis diante de homens poderosos e de saber elevado e que, sem uma intervenção miraculosa do Espírito Santo, através do dom da palavra da sabedo­ria, eles jamais seriam vitoriosos.
Vaticinando a perseguição que sobre eles viria, pro­meteu-lhes: “E, quando vos conduzirem às sinagogas, aos magistrados e potestades, não estejais solícitos de como ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer. Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (Lc 12.11,12). Numa outra ocasião quando ensinava a seus discípulos, o Mes­tre reafirmou a promessa: “Proponde, pois, em vossos corações não premeditar como haveis de responder, por­que eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21.14,15).
O dom da palavra da sabedoria foi concedido aos discípulos no dia de Pentecoste. Pedro era até então um discípulo ousado, mas sem poder de persuasão (Mt 16.22,23; Jo 18.17,25,26,27). Entretanto, após o Pente­coste, este quadro reverteu! Pedro tornou-se um homem “eloqüente e poderoso” e, em apenas uns oito minutos, convenceu a multidão do extraordinário acontecimento ali presenciado (At 2.14-40).
Depois desse dia, o dom da palavra de sabedoria acom­panhou passo a passo a Igreja Primitiva. Logo no capítu­lo 4 de Atos, podemos ver novamente Pedro e João dei­xando atônitos as autoridades eclesiásticas de Israel: “En­tão, eles, vendo a ousadia de Pedro e de João e informa­dos de que eram homens sem letras e indoutos, se mara­vilharam; e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus” (At 4.13).
Logo depois, encontramos Estevão, um dos sete esco­lhidos para “servir às mesas”, sendo usado poderosamen­te com este dom, conforme lemos em Atos 6.9,10: “E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estevão. E não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava”.
O apóstolo Paulo, quando pregava ou ensinava, valia-se sempre deste dom maravilhoso, conforme ele mesmo descreve em 1 Coríntios 2.13: “As quais também fala­mos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espiri­tuais com as espirituais”.
Devemos ter era mente que o dom da palavra da sabe­doria não é restrito à expressão vocal. É usado por Deus para outros fins e funções especiais, tais como:
  • governo (Gn 41.33-39);
  • criatividade e invenção (Êx 31.1-6);
  • comando (Dt 34.9);
  • julgamento (1 Rs 3.16-28);
  • esclarecimento de dúvidas (Jo 33.33);
  • conquista de almas para Deus (Pv 11.30);
  • elucidação de enigmas difíceis (Dn 1.17);
  • edificação da igreja (1 Co 14.12).
Este dom maravilhoso faz brilhar o rosto do salvo! (Pv 17.24; Ec 8.1; Dn 1.15-20; 12.3; At 6.15).

II. O Dom da Palavra da Ciência

“E a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência” (1 Co 12.8).
O dom da palavra da ciência é a revelação sobrenatu­ral de algum fato que existe na mente de Deus, mas que o homem, devido às suas limitações, não pode conhecer, a não ser pela poderosa intervenção do Espírito Santo. Este dom é o segundo mencionado, pela ordem do grupo.
Encontramos a palavra da sabedoria e a palavra da ciência associadas em várias passagens das Escrituras (Êx31.3; 1 Rs 7.14; Pv 1.7; 9.10; Dn 1.4; 1 Co 12.8 etc).
Em 1 Coríntios 12, os dons são relacionados em or­dem, embora fazendo parte de uma “diversidade” (no grego, diairesis). “Diversidade” vem de uma raiz hebrai­ca que expressa a idéia de divisão. O substantivo poderia, então, significar “distribuição”, “partilha”.
Deus não nos concede a faculdade da onisciência, que é exclusivamente divina, mas por meio do Espírito Santo nos concede a palavra do conhecimento, sempre visando a um fim proveitoso e glorioso na edificação espiritual de seus filhos. ([16])
Há uma distinção entre a sabedoria e a ciência. A sabedoria é a ciência sabiamente aplicada. A ciência é um requisito para a sabedoria e para o ensino. O ensino é a comunicação do conhecimento. Ninguém pode ensinar sem primeiro saber, mas nem todos os que sabem podem ensinar.
A ciência como algo sobrenatural é um dom, e não meramente conhecimento adquirido através de estudos e pesquisas dirigidas ou sistematizadas. Relaciona-se com algo “prescrutador”: ao invés de discorrer, como a sabe­doria, investiga.
Nesta sua ação primitiva, a ciência divina, com base em seu infinito conhecimento de determinadas causas e efeitos e dos meios de produzir determinados fins na edificação do corpo de Cristo, que é a Igreja, inicia certos processos ao mesmo tempo que impede outros.
A sabedoria dedica-se mais à dissertação, ao ensino e à comunicação; a ciência, por sua vez, se ocupa com a pesquisa e a descoberta. Como dom, ocupa-se com os segredos mais profundos da vida espiritual. Foi o que Paulo descobriu quando Deus o usou com este dom. Ele exclamou: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabe­doria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos” (Rm 11.33).
Já que o Espírito Santo é Deus, e Deus sabe todas as coisas, o que Ele transmite a seus filhos através do dom da palavra da ciência é um reflexo da mente divina.
A Bíblia recomenda que busquemos este dom através da oração. Foi o que Paulo escreveu aos crentes de Éfeso: “Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1.16,17).
O dom da palavra da ciência é muito importante na vida do salvo, especialmente para quem trabalha na obra do Mestre. Ele ajuda a encontrar novos métodos para a obra de Deus. Paulo falou desta atuação gloriosa do Espí­rito Santo em sua vida: “O Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela…” (At 20.23).
Existem os “tesouros das escuridades e as riquezas encobertas” (Is 45.3). De igual modo, habitam em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3). E, dia a dia, através da operação gloriosa do Espírito Santo em nossas vidas, vamos descobrindo as riquezas insondáveis do mundo superior – espiritual. Isto é glorioso!

III – O Dom de Discernir os Espíritos

“E a outro, o dom de discernir os espíritos” (1 Co 12.10).
Em algumas passagens da Bíblia, especialmente no Antigo Testamento, o dom de discernir os espíritos está associado aos dons da palavra da sabedoria e da palavra da ciência, como por exemplo:
“E o enchi do espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência…” (Êx 31.3).
“E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo en­tendimento, e largueza de coração…” (1 Rs 4.29).
“Ora, a estes quatro mancebos Deus deu o conheci­mento e a inteligência em todas as letras e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em toda a visão e sonhos” (Dn 1.17).
O dom de discernir os espíritos não é técnica, perícia ou psicologia humana, mas sim uma atuação direta do Espírito Santo na mente do homem, capacitando-o com uma espécie de “psicologia divina” que lhe permite dis­tinguir as manifestações vindas de Deus das procedentes de espíritos demoníacos.
Há muitos indivíduos dotados de poderes espirituais e psíquicos que não pertencem ao Reino de Deus. Manifes­tações estranhas foram presenciadas pelo povo de Deus em toda a Bíblia. De igual modo, do lado do bem, sempre houve homens capacitados por Deus com o dom de dis­cernimento, para advertir e combater tais heresias. O dom de discernir os espíritos é realmente o poder de distinguir as operações do Espírito Santo das de espíritos malignos e enganadores. Podemos observar que Deus, através dos tempos, dis­tribuiu este dom a muitos de seus servos, tanto na antiga quanto na atual dispensação. O inimigo de Deus e dos homens muitas vezes “se transfigura em anjo de luz”, e passa a enviar seus espíritos enganadores para introduzir “encobertamente heresias de perdição”. Alguns desses espíritos até operam maravilhas semelhantes às de Deus. Torna-se necessária, então a intervenção do Espírito de Deus, capacitando homens e mulheres para discernir cer­tas manifestações duvidosas e estranhas.
Por toda a Escritura encontramos pessoas atuando pelo espírito do erro. Entretanto, do lado do bem, encon­tramos um número mais elevado de instrumentos defen­sores da verdade, pureza e santidade de Deus e de tudo que a Ele se relaciona.
1. No Antigo Testamento
Aqui, encontramos várias pessoas capacitadas em dis­cernir:
José. “E disse-lhes José: Que é isto que fizestes? Não sabeis vós que tal homem como eu bem adivinha?” (Gn 44.15).
Moisés. “E, ouvindo Josué a voz do povo que jubilava, disse a Moisés: Alarido de guerra há no arraial. Po­rém ele disse: não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam eu ouço” (Êx 32.17,18).
Samuel. “Então disse Samuel: Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos, e o mugido de vacas que ouço?” (1 Sm 15.14).
Aías. “Naquele tempo adoeceu Abias, filhos de Jeroboão. E disse Jeroboão à sua mulher: Levanta-te agora, e disfarça-te, para que não conheçam que és mu­lher de Jeroboão, e vai a Silo. Eis que lá está o profeta Aías o qual falou de mim, que eu seria rei sobre este povo… E a mulher de Jeroboão assim fez, e se levantou, e foi a Silo, e entrou na casa de Aías: e já Aías não podia ver, porque os seus olhos estavam já escurecidos por causa da sua velhice… E sucedeu que, ouvindo Aías o ruído de seus pés, entrando ela pela porta, disse ele: Entra, mulher de Jeroboão! Por que te disfarças assim?” (1 Rs 14.1,2,4,6).
Josafá. “Então o rei de Israel ajuntou os profetas até quase quatrocentos homens e disse-lhes: Irei à peleja contra Ramote-Gileade ou deixarei de ir? E eles disse­ram: Sobe, porque o Senhor a entregará na mão do rei. Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda algum profeta do Senhor, ao qual possamos consultar?” (1 Rs 22.6,7).
Eliseu. “Porém ele lhe disse: Porventura, não foi con­tigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre seu carro, a encontrar-te?… E disse um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir” (2 Rs 5.26; 6.12).
Neemias. “E conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas essa profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram” (Ne 6.12).
2. No Novo Testamento
O Senhor Jesus exemplifica de maneira plena a pes­soa capacitada com o dom de discernir os espíritos.
Encontramos nos evangelhos o Mestre discernindo os espíritos enganadores que atuavam nos escribas, fariseus, saduceus e herodianos. Certa vez, os fariseus enviaram uma comissão composta de seus seguidores e alguns herodianos, para o surpreenderem “nalguma palavra”. Eles então disseram a Jesus: “Mestre, bem sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas à aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece: é lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?” (Mt 22.16-18).
Em uma outra oportunidade, os escribas e fariseus começaram a murmurar de Jesus em seus corações. Jesus acabara de perdoar os pecados de um homem paralítico; e eles disseram em seus corações: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respon­deu e disse-lhes: Que arrazoais em vosso coração?” (Lc 5.21,22).
No evangelho de João, encontramos novamente o Mestre discernindo pensamentos contrários, até mesmo de alguns que tinham crido no seu nome: “Muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia e não necessitava de que alguém testificasse do homem, por­que ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2.23-25).
Cremos que todos os apóstolos de Cristo eram capa­zes de discernir os espíritos malignos. Mesmo vivendo no primeiro século de nossa era, já se defrontavam com um mundo infestado de espíritos enganadores e de “ho­mens maus e enganadores… enganando e sendo engana­dos” (2 Tra 3.13). Então, fazia-se necessária uma atuação direta e poderosa do Espírito de Deus neste sentido, para preservar a Igreja ainda tenra.
Na ocasião em que Ananias e Safira mentiram, quan­do podiam ter falado a verdade, houve discernimento do Espírito Santo, por parte de Pedro, e o casal morreu aos pés do apóstolo (At 5.1-10).
Quando Paulo e Barnabé ministravam o Evangelho na ilha de Chipre, opôs-se a eles um mágico chamado Elimas. Paulo, naquele momento, foi capacitado pelo Espírito Santo, discernindo que o mágico era filho do diabo, e, com uma palavra de autoridade, invoca contra ele o jul­gamento de Deus sob forma de cegueira temporária (At 13.6-12). Em Filipos, uma jovem possessa de espírito adivinhador seguia a Paulo e a Silas, dizendo: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo”.
Paulo, porém, discerniu que aquilo não era elogio, e sim uma denúncia. E, voltando-se, “disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” (At 16.17,18). Paulo exortou os cren­tes de Corinto, dizendo: “Segui a caridade, e procurai com zelo os dons espirituais” (1 Co 14.1). Se o Espírito Santo nos anima a procurar com zelo os dons espirituais, devemos, especialmente os obreiros, pedir a Deus o dom de discernir os espíritos.
Vivemos dias perigosos em que o diabo tem feito do engano uma arma sombria, para usá-la no campo da destruição. Há uma nuvem negra de espíritos enganado­res que procuram destruir a obra do Senhor. Os escritores sagrados, especialmente os do Novo Testamento, adver­tem contra os espíritos deste mundo tenebroso.
O próprio Jesus Cristo, nos evangelhos sinóticos, ad­verte-nos quanto a este perigo.
Mateus. “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos” (Mt 24.4,5).
Marcos. “E Jesus, respondendo-lhes, começou a di­zer: Olhai que ninguém vos engane” (Mt 13.5).
Lucas. “Disse, então, ele: Vede não vos enganem, porque virão muitos em meu nome, dizendo: Sou eu, e o tempo está próximo; não vades, portanto, após eles” (Lc 21.8).
Paulo também observa: “Mas o Espírito expressamen­te diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm4.1). Pedro acrescenta: “E também houve entre o povo fal­sos profetas, como entre vós haverá também falsos dou­tores, que introduzirão encobertamente heresias de perdi­ção” (2 Pe 2.1).
João também adverte contra esses espíritos enganado­res: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus” (1 Jo 4.1).
E Judas contribui, dizendo: “Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus” (Jd 4).
O dom de discernir os espíritos deve ser desenvolvido no seio da igreja – mas especialmente na esfera ministeri­al. Ele funciona como uma espécie de “olhos espiritu­ais”, vigiando o rebanho de Jesus Cristo, o Bom Pastor, contra estes espíritos maus.
Para alguns estudiosos da Bíblia, este maravilhoso dom está ligado também à interpretação de sonhos. Os sonhos que trazem em si instruções espirituais precisam, sem dúvida, de um discernimento comparativo, isto é, uma distinção entre a ficção e o verdadeiro. Isto somente é possível através de uma operação do Espírito na mente do intérprete. Neste caso, aumenta a lista de pessoas agraciadas por Deus com este dom:
  • Abimeleque (Gn 20.1-3);
  • Jacó (Gn 31.10-12; 37.9,10);
  • Labão (Gn 31.24);
  • José (Gn 40.5-22; 41.1-39);
  • Gideão (Jz 7.13-15);
  • Daniel (Dn 1.17);
  • José, marido de Maria (Mt 1.20,24; 2.13,19,22);
  • os magos do Oriente (Mt 2.12);
  • a mulher de Pilatos (Mt 27.19 etc).
José, por exemplo falou aos oficiais de Faraó e tam­bém ao monarca que “as interpretações” de sonhos são de Deus (Gn 40.8; 41.16,25,28,39).
O mesmo aconteceu com Daniel, na corte babilônica (Dn 2.19-23).
A nós não é concedido o atributo divino da onisciência, por ser exclusivo de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Entretanto, Deus pode, quando se fizer necessário, conceder-nos uma gotinha do imenso oceano da onisciência divina e capacitar-nos para discernir entre o bem e o mal – o que vem de Deus e o que vem de uma fonte estranha.

7. Os Dons de Poder

I – O Dom da Fé

“E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé” (1 Co 12.9).
Os dons de poder, conforme já vimos em outras notas expositivas, são:
DOM DA FÉ
DONS DE CURAR
DOM DE OPERAR MARAVILHAS
Os dons da palavra da sabedoria, da palavra da ciência e de discernir os espíritos atuam na mente. Já os dons de poder, que estudaremos nesta seção, atuam na área física. E os do terceiro grupo – profecia, variedade de línguas e interpretação das línguas – atuam na esfera espiritual.
Em cada grupo de dons espirituais existe um de maior magnitude, como já ficou demonstrado. No grupo que ora estudamos, por exemplo, o dom da fé é proeminente.
1. Definição
Biblicamente, define-se a fé da seguinte forma: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem” (Hb 11.1). Teologicamente, há vários conceitos.
Com efeito, no seu uso mais amplo, a palavra “fé”, do substantivo grego pistis e o verbo pisteuo, ocorre por 244 vezes, enquanto que o adjetivo pistos ocorre 77 vezes, trazendo algumas definições:
a. Fé salvadora. Atitude mediante a qual o homem abandona toda confiança em seus próprios esforços para obter a salvação e passa a confiar inteiramente em Cristo, a respeito de tudo que envolve a salvação.
Este conceito de fé vem a ser a confiança insuflada nas promessas e provisões de Deus, no tocante ao Salva­dor e a todo o plano da redenção. Não é propriamente “o dom da fé” relacionado em 1 Coríntios 12.9, mas trata-se também de um “dom de Deus” (Ef 2.8).
b. Fé servidora. Contempla como autêntico o fato dos dons divinamente conferidos e todos os detalhes concernentes às determinações divinas para o serviço. A fé vista por este prisma é especial, e também um dos dons de poder.
c. Fé santificadora. Ou sustentadora, apega-se ao po­der de Deus na vida diária. Trata-se da vida vivida na dependência de Deus, operando um novo princípio de vida (Rm 6.4; 2 Co 5.7; Hb 10.38).
d. Fé intelectual. Pode vir ao homem através do teste­munho do universo visível e do estudo das Escrituras (cf. At 17.28; Tg 2.19). Ela afirma a existência de Deus, mas em si mesma não descobre o plano da redenção (cf. Sl 19.1-4; At 17.11; Rm 10.17).
2. A fé como dom de poder
Esta é a fé mencionada em 1 Coríntios 12.9, uma operação completamente sobrenatural do Espírito Santo, capacitando a mente humana para uma confiança sem igual no poder de Deus, a de que Ele pode realizar qualquer coisa que lhe apraz. O Espírito Santo opera no mais profundo do coração humano, produzindo uma reação imediata da alma e levando-a à certeza e à evidência. A certeza é o estado do espírito que consiste na firme ade­são a uma verdade conhecida, sem o temor do engano. A evidência é o que fundamenta a certeza.
Definimo-la como a clareza plena com que adere ao poder de Deus. Diante de tal operação do Espírito Santo, toda e qualquer dúvida é aniquilada!
A fé especial, mesmo sendo um dom do Espírito San­to, pode ser dividida em graus menores e maiores, da seguinte maneira:
  • “Ainda não tendes fé?” (Mc 4.40);
  • “… pouca fé” (Mt 17.20);
  • “… tanta fé” (Mt 8.10);
  • “… grande fé” (Mt 15.28);
  • “… toda a fé” (1 Co 13.2).
Para que haja um desempenho amplo da fé, torna-se necessário aniquilar toda dúvida produzida no coração. Jesus disse: “Se tiverdes fé e não duvidardes…” (Mt 21.21).
Foi este o poder, a fé especial, pelo qual Jesus trans­formou água em vinho, multiplicou os pães e os peixes, acalmou a tempestade, expulsou demônios, curou enfer­mos e ressuscitou mortos.

II – Os Dons de Curar

“E a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar” (1 Co 12.9).
No conceito de alguns expositores, são dons ativos que produzem sinais e maravilhas. De fato, isso fica bem demonstrado em algumas passagens das Escrituras. A cura de qualquer enfermidade é sempre um milagre, e um milagre é sempre uma maravilha, e uma maravilha é sempre um prodígio: “Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do teu santo Filho Jesus” (At 4.30).
Na Epístola aos Hebreus, o escritor sagrado confirma este argumento: “Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas, e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade” (Hb 2.4).
1. Pluralidade
O leitor deve observar que o versículo chave desta seção menciona “dons de curar”, no plural, expressão que se repete no versículo 28 do mesmo capítulo. Entre­tanto, no versículo 30, encontramos a forma singular. “Têm todos o dom de curar?” pergunta o apóstolo Paulo. A pluralidade deste dom provavelmente indica que cada diferente cura deve ser considerada uma atuação de um dom específico ou uma diversificada operação do Espíri­to. Isto significa que os dons de curar operam de maneira multiforme.
Curas miraculosas, efetuadas por intervenção divina no Antigo Testamento, mostram esta realidade. Também aquelas realizadas por Jesus e seus discípulos, no Novo Testamento, a confirmam. Qualquer operação do Espíri­to Santo, até mesmo as realizadas ainda no período da Lei, trazia em si instruções didáticas e métodos pedagó­gicos. Jesus curava através:
  • da “orla” de seu vestido (Mc 5.30);
  • da “saliva” (Mc 8.23);
  • do “lodo” (Jo 9.6,7);
  • de “suas mãos” (Mc 6.5);
  • do supremo “poder” da palavra (Mt 8.8; Jo 4.50-53).
Isso acontecia freqüentemente, porque sobre Ele re­pousava algo especial, isto é, “a virtude do Senhor estava com ele para curar” (Lc 5.17).
2. Curas específicas operadas por Jesus
Durante seu ministério terreno, nosso Senhor efetuou diferentes maravilhas no campo da cura. Entretanto, 18 delas se encontram relacionadas nos evangelhos, com significação especial (Mt 8.2-4; 9.2-8; 14-17; 27-31; Mc 5.25-34; 7.31-37; 8.22-26; Lc 6.6-11; 7.1-10; 13.10-19; 14.1-6; 17.11-19; Jo 4.45-54; 5.1-19; 9.1-41; 18.1-11).
Parece que Jesus curou um homem cego na entrada de Jericó (Lc 18.35-43) e, ao sair da cidade, curou Bartimeu (Mc 10.46-52).
Evidentemente Jesus curou milhares de outras pesso­as, pois por onde passava Ele ia “curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38).
3. A promessa de Jesus com respeito a cura
Antes de ser assunto aos Céus, Jesus prometeu a seus discípulos poder sobre toda enfermidade e moléstia. A ordem do divino Mestre foi esta: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios…” (Mt 10.8). E, após sua ressurreição, nosso Senhor reafirmou, em Marcos 16.17,18, a promessa feita no início de seu ministério: “E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome… imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão”.
No ministério de Pedro e Paulo, os dons de curar eram tão presentes que, em alguns casos, se dispensa­va até a presença física desses dois obreiros do Se­nhor.
a. Pedro. “De sorte que transportavam os enfermos para as ruas e os punham em leitos e em camilhas, para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse alguns deles… os quais todos eram curados” (At 5.15,16).
b. Paulo. “E Deus pelas mãos de Paulo faziam mara­vilhas extraordinárias, de sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermi­dades fugiam deles” (At 19.11,12). Isto é maravilhoso!

III – O Dom de Operar Maravilhas

“E a outro, a operação de maravilhas” (1 Co 12.10).
No grego, encontramos a palavra dynameis (“pode­res”), para indicar a operação realizada pelo Espírito Santo, tem acompanhado toda a história do povo de Deus em ambos os Pactos. As dez pragas enviadas ao Egito foram reputadas como sendo maravilhas da parte de Deus (Êx 3.2Oss). Maravilha é um milagre, portanto. Milagre é uma intervenção ordenada na operação regular da nature­za: uma suspensão sobrenatural de lei natural. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, as maravilhas eram sempre operadas em resposta às necessidades mais pre­mentes da vida. Vejamos essas maravilhas operadas por Deus no Antigo Testamento. Depois, veremos as mani­festações deste dom em Jesus e seus discípulos, no Novo Testamento. Apresentaremos apenas um esboço com a respectiva citação bíblica.
1. Antigo Testamento
  • Trasladação de Enoque (Gn 5.24);
  • o dilúvio (Gn 6-8);
  • confusão das línguas (Gn 11.9);
  • espalham-se as famílias (Gn 11.9);
  • sodomitas são feridos de cegueira (Gn 19.11);
  • destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 19,24);
  • a mulher de Ló convertida numa estátua de sal (Gn 19.26);
  • curada a esterilidade de Sara (Gn 11.30; 21.1,2);
  • curada a esterilidade de Rebeca (Gn 25.21);
  • curada a esterilidade de Raquel (Gn 29.31; 30.22);
  • a sarça ardente (Êx 3.2);
  • a mão de Moisés feita leprosa (Êx 4.6);
  • a vara de Arão torna-se em serpente (Êx 7.10);
  • as águas tornam-se em sangue (Êx 7.20);
  • rãs (Êx 8.6);
  • piolhos (Êx 8.17);
  • moscas (Êx 8.24);
  • peste nos animais (Êx 9.26);
  • úlceras (Êx 9.10);
  • saraiva (Êx 9.23);
  • gafanhotos (Êx 10.13);
  • trevas (Êx 10.22);
  • morte dos primogênitos (Êx 12.29);
  • coluna de nuvem de dia, e de fogo durante a noite (Êx 13.21);
  • o mar Vermelho se divide e retorna ao seu leito (Êx 14.21);
  • as águas de Mara se tornam doces (Êx 15.15);
  • envio de codornizes e maná (Êx 16.13,14);
  • água tirada da rocha (Êx 17.6);
  • vitória sobre os amalequitas, pelo levantar das mãos de Moisés (Êx 17.11-13);
  • holocausto consumido por fogo do céu (Lv 9.24);
  • dois sacerdotes são consumidos pelo fogo (Nm 10.1,2);
  • fogo arde entre os israelitas (Nm 11.1);
  • Miriã é ferida e curada da lepra (Nm 12.10, 13-15);
  • destruição de Coré e seu grupo (Nm 16.32);
  • praga mata 14.700 pessoas (Nm 16.47-49);
  • a vara de Arão brota, floresce e produz amêndoas (Nm 17.8);
  • água sai da rocha em Meribá (Nm 20.11);
  • serpentes abrasadoras (Nm 21.6);
  • a jumenta de Balaão fala com voz humana (Nm 22.28,30);
  • a roupa dos israelitas não envelhece (Dt 8.4);
  • os pés dos israelitas não incham (Nm 9.21);
  • os israelitas caminham sem tropeçar (Is 63.13);
  • as muralhas de Jericó demolidas (Js 6.20);
  • o Sol e a Lua se detêm (Js 10.13);
  • o velo de lã de Gideão (Jz 6.37-40);
  • fogo consome o sacrifício de Gideão (Jz 6.21);
  • curada a esterilidade da mulher de Manoá (Jz 13.2,5,24);
  • o sacrifício de Manoá é consumido (Jz 13.19);
  • as proezas de Sansão (Jz 13-16);
• curada a esterilidade de Ana (1 Sm 1.2,20);
  • filisteus feridos e queda de Dagom (1 Sm 5.3-12);
  • feridos os bete-semitas (1 Sm 6.19);
  • trovões e chuvas no tempo da colheita (1 Sm 12.6);
  • morte de Uzá diante da Arca de Deus (2 Sm 6.7);
  • seca-se a mão de Jeroboão; o altar se fende; derra­ma-se a cinza e novamente é restituída a saúde da mão do rei (1 Rs 13.6);
  • corvos alimentam Elias (1 Rs 17.6);
  • a farinha e o azeite da viúva se multiplicam (1 Rs 17.16);
  • a comida especial de Elias (1 Rs 19.8);
  • cessam as chuvas por três anos e meio (Tg 5.17);
  • Elias ressuscita o filho da viúva (1 Rs 17.22);
  • Elias faz descer fogo do céu no monte Carmelo (1 Rs 18.38);
  • Elias faz chover novamente (1 Rs 18.45);
  • a carreira sobrenatural de Elias (1 Rs 18.46);
  • Elias faz descer fogo do céu sobre dois capitães e cem soldados (2 Rs 1.9-14);
  • Elias divide as águas do Jordão (2 Rs 2.8);
  • carro e cavalos de fogo separam Elias de Eliseu, e Elias é levado ao Céu num redemoinho (2 Rs 2.11);
  • Eliseu divide as águas do Jordão (2 Rs 2.14);
  • as águas de Jericó são saradas (2 Rs 2.22);
  • duas ursas despedaçam 42 rapazes (2 Rs 2.24);
  • Eliseu supre de água um exército (2 Rs 3.20);
  • multiplica-se o azeite da viúva (2 Rs 4.6);
  • curada a esterilidade da sunamita (2 Rs 4.16,17);
  • Eliseu ressuscita o filho da sunamita (2 Rs 4.35);
  • cozido venenoso é purificado (2 Rs 4.41);
  • cem homens são alimentados (2 Rs 4.43);
  • Naamã é curado da lepra (2 Rs 5.10-14);
  • Geazi fica leproso (2 Rs 5.24-27);
  • um machado flutua (2 Rs 6.6);
  • tropas sírias feridas de cegueira (2 Rs 6.18);
  • exército sírio é posto em fuga (2 Rs 7.6,7);
  • homem ressuscita ao tocar os ossos de Eliseu (2 Rs 13.21);
  • destruição do exército de Senaqueribe (2 Rs 19.35);
  • o Sol retrocede dez graus (2 Rs 20.11);
  • holocausto de Davi é consumido por fogo (1 Cr 21.26);
  • holocausto de Salomão é consumido (2 Cr 7.1);
  • Uzias é atacado da lepra (2 Cr 26.20);
  • morte da mulher de Ezequiel (Ez 24.16-18);
  • três hebreus na fornalha são conservados vivos (Dn 3.26);
  • Daniel é livre das garras dos leões (Dn 6.22);
  • Jonas no ventre do peixe (Jn 2.10).
2. Novo Testamento
 
  1. a.      Ressurreição de mortos
  • O filho da viúva de Naim (Lc 7.11-16);
  • a filha de Jairo (Mc 5.21-43);
  • Lázaro de Betânia (Jo 11.32-44);
  • mortos ressuscitam por ocasião da morte de Jesus
(Mt 27.52,53);
  • a ressurreição de Jesus (Jo 2.19-21);
  • Tabita (At 9.36-41);
• Êutico (At 20.9-12).
  1. b.      Expulsão de demônios
  • Um homem com um espírito imundo (Mc 1.23-26);
  • um endemoninhado, cego e mudo (Mt 12.22);
  • dois homens possuídos de legião (Mt 8.28-34);
  • um mudo endemoninhado (Mt 9.32-35);
  • a filha da siro-fenícia (Mc 7.24-30);
  • um jovem lunático (Mt 17.14-21);
  • um jovem possesso de um espírito mudo (Mc 9.14-26);
  • os espíritos imundos de alguns samaritanos (At 8.7);
  • cura de uma jovem adivinhadora (At 16.18).
  1. c.      Curas físicas
  • A febre do filho de um oficial do rei (Jo 4.46-54);
  • a sogra de Pedro (Mc 1.29,30);
  • um leproso (Mt 8.2-4);
  • um paralítico (Mc 2.3-12);
  • o paralítico do tanque de Betesda (Jo 5.1-16);
  • o homem da mão mirrada (Lc 6.6-10);
  • o servo de um centurião (Mt 8.5-13);
  • a mulher do fluxo de sangue (Mc 5.25-34);
  • dois cegos (Mt 9.27-31);
  • um surdo e gago (Mc 7.32-37);
  • um homem cego (Mc 8.22-26);
  • um cego de nascença (Jo 9.1-41);
  • uma mulher encurvada (Lc 13.11-17);
  • um hidrópico (Lc 14.1-6);
  • dez homens leprosos (Lc 17.11-19);
  • um mendigo cego (Lc 18.35-43);
  • Bartimeu (Mc 10.46-52);
  • a orelha de Malco (Jo 18.10);
  • o coxo da porta formosa (At 3.1-8);
  • Enéias (At 9.34);
  • um coxo, em Listra (At 14.10);
  • a disenteria do pai de Públio, em Malta (At 28.8);
  • os demais enfermos da Ilha de Malta (At 28.9).
d. Sobre as forças da natureza
  • Água transformada em vinho (Jo 2.1-11);
  • a rede de Pedro se enche de peixes (Lc 5.1-11);
  • alimentação de cinco mil homens, fora mulheres e crianças (Mt 14.15-21);
  • alimentação de quatro mil homens, fora mulheres e crianças (Mt 15.32-39);
  • um peixe traz dinheiro na boca (Mt 17.27);
  • uma grande pesca (Jo 21.6-14);
  • Jesus passa invisível por entre os inimigos (Lc 4.30);
  • sinais durante a festa da Páscoa (Jo 2.23);
  • seca-se a figueira sem fruto (Mt 21.19);
  • porcos afogam-se no mar (Mt 8.32);
  • Jesus acalma uma tempestade (Mt 8.26);
  • Jesus acalma outra tempestade (Mc 6.45-51);
  • Jesus anda sobre águas (Mt 14.25);
  • Pedro também anda sobre as águas (Mt 14.28-31);
  • a pedra do túmulo de Jesus é removida (Mt 28.2);
  • abrem-se as portas da prisão para os apóstolos (At 5.19);
  • Pedro é livre da prisão (At 12.7-10);
  • as portas do cárcere se abrem em Filipos (At 16.26).
e. Outras maravilhas
  • Uma estrela guia os magos a Belém (Mt 2.1-12);
  • curada a esterilidade de Isabel (Lc 1.7,13);
  • Zacarias fica mudo e depois é curado (Lc 1.22,64);
  • sinais no momento do batismo de Jesus (Mt 3.16,17);
  • sinais na transfiguração de Jesus (Mt 17.1-14);
  • resposta através de uma voz sobrenatural (Jo 12.28-30);
  • por ocasião da prisão de Cristo (Jo 18.4-6);
  • por ocasião da morte de Cristo (Mt 27.45-53);
  • por ocasião da ressurreição de Cristo (Mt 28.2);
  • por ocasião da ascensão de Cristo (Mc 16.19; Lc 24.50,51; At 1.6-12);
  • palavra confirmada por sinais (Mc 16.20);
  • sinais no dia de Pentecoste (At 2.1-8);
  • muitas maravilhas e sinais pelos apóstolos (At 2.43);
  • morte de Ananias e Safira (At 5.1-10);
  • sinais e prodígios entre o povo (At 5.12);
  • Estêvão (At 6.8);
  • Filipe (At 8.6);
  • Elimas é ferido de cegueira (At 13.11);
  • Sinais e prodígios em Icônio (At 14.3);
  • Barnabé e Paulo (At 15.12);
  • maravilhas extraordinárias pelas mãos de Paulo (At19.11);
  • o Evangelho acompanhado por grandes milagres e maravilhas operados pelo poder de Deus (Rm 15.19; 1 Co 12.10,28; 2 Co 12.12; Gl 3.5; Hb 2.4; Ap 11.3-6 etc);
  • e outras maravilhas que ficaram ocultas aos olhos humanos.([17])
O termo grego semeon era a palavra comumente usa­da para descrever “sinal” ou “maravilha”. Trazia algu­mas vezes o sentido de “marca distintiva” ou seu equiva­lente na raiz hebraica õth, ou mõpheth, que significa “algo espantoso” ou “marca distintiva”. ([18])
Nos evangelhos e em Atos dos Apóstolos, é freqüente o uso do termo semeon para indicar um “milagre didático em forma expressiva” ou “uma maravilha”, cuja finalida­de é convencer os homens acerca de uma intervenção divina. A expressão ocorre 77 vezes no Novo Testa­mento, sendo que aparece 48 vezes nos evangelhos, 13 em Atos, oito nas epístolas de Paulo, sete no Apocalipse de João e uma em Hebreus. No Evangelho de João, apa­rece com o significado de “sinal milagroso” (Jo 2.11,18,23). ([19])
Mas o sentido geral é de uma operação completamen­te divina, cujo teor compõe-se não somente de um “si­nal” ou “marca distintiva”, mas de algo que causa espanto e admiração aos circunstantes. As grandes maravilhas relacionadas neste capítulo são apenas uma demonstra­ção técnica do grande poder de Deus.
Em todos os acontecimentos, e em todas as guerras de que participou o povo de Deus, tanto a nação de Israel como a Igreja de Jesus Cristo, houve participação divina em cada detalhe, até a vitória.
Em alguns casos, Deus intervinha diretamente com manifestações do seu poder. Ou usava homens e mulhe­res dotados de dons espirituais, especialmente o de ope­rar maravilhas (Hb 2.4 etc).
Deus é sempre lembrado por suas maravilhas! Jo de­clara que Ele faz “maravilhas tais que se não podem contar” (Jo 9.10).
Os Salmos exortam-nos a louvá-lo por suas maravi­lhas: “Para publicar com voz de louvor e contar todas as tuas maravilhas” (26.7); “Anunciai entre as nações a sua glória; entre os povos as suas maravilhas” (Sl 96.3); “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele fez mara­vilhas…” (Sl 98.1). O profeta Joel fala do “derramamento do Espírito Santo”, e a voz de Deus conclui: “Mostrarei maravilhas no céu e na terra” (Jl 2.30).
Cremos que o dom de operar maravilhas não cessou. Ele continua em evidência na Igreja através dos séculos e na atualidade.
O segredo para vermos maravilhas em nós e nos ou­tros começa com a santificação: “Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós” (Js 3.5). Foi o que fez Moisés quando “levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus”. Ele “santificou o povo… E disse ao povo: Estai prontos ao terceiro dia… E aconte­ceu ao terceiro dia, ao amanhecer, que houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial… E o sonido da buzina ia crescendo em grande maneira; Moisés falava, e Deus respondia em voz alta” (Êx 19.14-19).
Um acontecimento de primeira magnitude! Agora, com a presença de Deus na montanha, tudo muda de aspecto. A montanha inteira parece pulsar de vida. Deus, então, levanta suas mãos até a altura das estrelas. Ele responde a Moisés em voz alta, e as regiões do firmamento ecoam com timbres poderosos assim como ressoa o rugir do leão no deserto à meia-noite. A artilharia do céu é descarregada como sinal; um troar de trovões seguidos de raios que partem de lugares ocultos espalham o alarme por todo o monte, preparando o povo para receber suas ordens.
Deus, então, começa a operar maravilhas aos olhos do povo: “E todo o povo viu os trovões, e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando” (Êx 20.18).
Assim são as maravilhas de Deus, e o Espírito Santo, hoje, deseja capacitar cada um dos filhos de Deus que estão a servir a vontade divina e as necessidades huma­nas, para honra e glória do nome do Senhor. Busquemos, pois, tão maravilhoso dom!

8. Os Dons de Expressão

I – O Dom de Profecia

“E a outro, a profecia” (1 Co 12.10).
O substantivo grego propheteia (“profecia”) aparece 19 vezes no Novo Testamento (Mt 13.14; Rm 12.6; 1 Co 12.10; 13.2,8; 14.6,22; 1 Ts 5.20; 1 Tm 1.18; 4.14; 2 Pe 1.20,21; Ap 1.3; 11.6; 19.10; 22.7,10,18,19). Deriva-se do grego pro (“antes”, “em favor de”) e de phemi (“fa­lar”). Ou seja, “alguém que fala por outrem” e, por exten­são, “intérprete”, especialmente da vontade de Deus. ([20])
Em sentido geral, a palavra “profecia”, quando deri­vada de pro (“aquilo que jaz adiante”), traz a idéia de vaticínio divino de primeira grandeza.
No presente texto, a palavra “profecia” tem um senti­do especial. Trata-se de “um dos dons do Espírito San­to”, significando “uma predição momentânea e sobrena­tural”. Neste terceiro grupo de dons espirituais, a profecia assume o primeiro lugar em magnitude. São dons que operam na esfera espiritual.
Os dons de revelação expressam os pensamentos de Deus.
Os dons de poder manifestam sua onipotência e gran­deza, preenchendo o campo inteiro de nossa visão.
Os dons de expressão comunicam os sentimentos do coração de Deus.
  1. 1.      A origem da profecia
Há pelo menos três fontes, das quais podem surgir uma mensagem profética:
a. Divina. Isto é, a inspiração que parte diretamente do coração de Deus, fonte de todo bem (Jr 23.28,29; Tg 1.17; 1 Pe4.11).
b. Humana. Neste caso a mensagem parte do coração do próprio profeta, que fala sem autorização do Senhor (2 Sm 7.2-17; Jr 23.16).
c. Demoníaca. A falsa profecia parte diretamente de “um espírito enganador”, ou mesmo de “um demônio” (1 Tm 4.1-3; Ap 16.13,14).
2. O valor da profecia
A palavra de Deus ou “palavra profética”, foi sempre de “muita valia” para o povo de Deus em geral (1 Sm 3.1). Talvez por isso Moisés tenha exclamado: “Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu espírito!” (Nm 11.29).
O profeta Joel, ao vaticinar o grande derramamento do Espírito sobre toda a carne, fala de uma efusão profé­tica: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão” (Jl 2.28).
Finalmente, Paulo manifesta o mesmo sentimento, aconselhando os coríntios a procurar “com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1). Nos versículos seguintes, o apóstolo reafirma sua admoestação em outros termos, como por exemplo:
“E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas” (v. 5); “Por­tanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar” (v. 39).
Segundo alguns escritores neotestamentários, parece que na igreja de Corinto ensinadores usavam “palavras persuasivas de sabedoria humana”, tornando-se quase impossível aos “indoutos” alcançar o pensamento desses requintados pregadores (cf. 1 Co 2.1-13). Diante de tal circunstância o Espírito de Deus supria esta lacuna, usando alguém com o dom de profecia. Daí o comentário do apóstolo: “Mas se todos profetizarem, e algum indouto ou infiel entrar [no templo], de todos é convencido, de todos é julgado. Os segredos [as dúvidas] do seu coração ficarão manifestos [respondidos], e assim, lançando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, publicando que Deus está verdadeiramente entre vós” (1 Co 14.24,25).
3. A finalidade da profecia
O dom de profecia tornara-se o mais desejado da igreja em Corinto, provavelmente, como observa Faucett, pelas seguintes razões:
  • A profecia visa a edificação da igreja, tema quase que central do capítulo 14 de 1 Coríntios, e não apenas a edificação do crente individual, como é o caso das lín­guas quando não interpretadas.
  • A profecia serve para exortação.
  • A profecia serve também para consolar.
  • A profecia é um meio de transmitir revelações e doutrinas, quando vazadas na revelação plenária.
  • A profecia faz soar o “toque” da mensagem cristã que leva o crente preparar-se para a batalha espiritual.
  • A profecia é uma voz clara num mundo de vozes confusas e desassociadas.
  • A profecia é um canal de bênção, principalmente de ação de graças, do qual a comunidade inteira pode parti­cipar. Por conseguinte, assemelha-se às línguas e até lhes é superior, porque beneficia a todos, e não somente ao que fala.
• A profecia é um dom espiritual que abençoa os crentes em qualquer lugar onde Deus assim o queira.
  • A profecia é uma maneira de ensinar os sentimentos espirituais à alma sincera e anelante pela presença de Deus.
  • A profecia deve ser ministrada segundo a medida da fé. Em outras palavras, deve ser transmitida de acordo com as regras e padrões estabelecidos na Palavra de Deus.
  • A profecia deve ser transmitida sob os cuidados da direção ministerial (1 Cr 25.2).
  • A profecia é um alerta contra o pecado: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pv 29.18).
Note que a profecia citada neste capítulo não é o ministério profético que o mesmo Paulo menciona em Efésios 4.11, evidentemente também chamado “dom”. Mas é um “dom de governo”, ligado diretamente à área ministerial. Enquanto que a profecia, ainda que ligada também ao ministério profético, é um “dom do Espírito Santo” outorgado à igreja para “edificação, exortação e consolação”. Os profetas mencionados no Antigo Testa­mento eram pessoas revestidas do “ministério profético”, e geralmente iniciavam a mensagem profética, dizendo: “Assim diz o Senhor” ou: “Veio a mim a palavra do Senhor”.
No caso do dom de profecia, a mensagem parte sem­pre diretamente de Deus e é transmitida como se o pró­prio Deus estivesse falando. No exercício do ministério profético propriamente dito, dificilmente profetizavam dois ou mais profetas ao mesmo tempo e em um só lugar, como acontece com o dom de profecia. Paulo orienta: “Falem dois ou três pessoas, e os outros julguem. Mas se a outro [profeta], que estiver assentado, for revelado al­guma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros… E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Co 14.29-32).
O ministério profético e o dom de profecia encon­tram-se associados em ambos os Testamentos. Em Nú­meros 11.25,26, o Espírito de Deus repousou sobre se­tenta anciãos de Israel, concedendo-lhes uma espécie de dom de profecia. Eles profetizaram ali, e depois, nunca mais. Entretanto, “no arraial ficaram dois homens; o nome de um era Eldade, e o nome do outro, Medade; e repou­sou sobre eles o Espírito (porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não saíram à tenda), e profetizavam”. Eldade e Medade receberam o ministério profético, en­quanto os setenta anciãos receberam apenas uma porção deste ministério, ou seja, o dom de profecia. A palavra hebraica para “profeta” é nabil, e foi usada pela primeira vez em Gênesis 20.7; depois, aparece mais de trezentas vezes no Antigo Testamento. No Novo Testamento, a palavra prophetes aparece 149 vezes. Sete dessas ocor­rências, nas Escrituras, são aplicadas a figuras femininas, ou “profetisas”: Miriã, Débora, Hulda, Noadias, a mulher do profeta Isaías, Ana e Jezabel (Êx 15.20; Jz 4.4; 2 Rs 22.12; Ne 6.14; Is 8.3; Lc 2.36; Ap 2.20).
Atos 20.8,9 também revela que Filipe, o evangelista, era pai de “quatro filhas donzelas que profetizavam”.
Toda e qualquer profecia, seja plenária (2 Pe 1.19-21) ou uma revelação momentânea operada através do dom, diante de qualquer necessidade da igreja deve trazer em seu conteúdo “o testemunho de Jesus”, que é o “espírito de profecia” (Ap 19.10).

II – O Dom de Variedade de Línguas

“E a outro, a variedade de línguas” (1 Co 12.10).
Este dom é até certo ponto menor que o de profecia, conforme declara Paulo ao discorrer sobre os dons espiri­tuais na igreja em Corinto: “E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala lín­guas…” (1 Co 14.5). Entretanto, o apóstolo ressalva: “… a não ser que também interprete”.
Devemos ter em mente que está em foco a variedade, e não meramente o dom de línguas, comumente desfruta­do pelos cristãos batizados com o Espírito Santo.
1. No dia de Pentecoste
Alguns estudiosos explicam as línguas faladas no dia de Pentecoste como o resultado da memória sobrenatural vivificada, reproduzindo nos judeus e prosélitos frases e orações ouvidas por eles e guardadas no inconsciente, as quais precisavam usar sob circunstâncias normais. ([21])
O escritor sagrado diz que o fenômeno sobrenatural deixou todos pasmados, a ponto de dizerem: “Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascido?” (At 2.7,8).
O fenômeno contribuiu para destacar a universalidade da mensagem cristã, em contraste com a expressão naci­onal do judaísmo. Além disso, o Espírito Santo dava cumprimento a mais um vaticínio das Escrituras, que dizia: “Pelo que por lábios estranhos e por outra língua, falará a este povo” (Is 28.11). Qualquer pessoa ficaria impressionada ao ouvir de um estrangeiro algo em sua língua nativa, sem erros gramaticais e sem sotaque, e de modo eloqüente. Uma vez assim impressionada, passaria a dar maior atenção à mensagem. Depois veio o resulta­do: “Naquele dia, agregaram-se quase três mil almas”.
2. Depois do dia de Pentecoste
O dom de variedades de línguas ocorre em pelo me­nos três lugares, no Novo Testamento. Apesar de não estarem essas ocorrências vinculadas a grandes concen­trações de visitantes de outras terras, o Espírito Santo operou eficazmente, com demonstração de poder. Estes lugares foram:
a. Cesaréia. “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a pala­vra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus” (At 10.44-46).
b. Éfeso. “E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam” (At 19.6).
c. Corinto. “E a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas…” (1 Co 12.10).
É possível que Paulo, ao falar sobre “línguas dos homens e dos anjos”, em 1 Coríntios 13.1, estivesse aludindo ao dom de variedade de línguas – exatamente como aconteceu no dia de Pentecoste, onde “foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo”.
O dom de variedade de línguas possibilita a expres­são, por meios sobrenaturais, de línguas estrangeiras, naturais e humanas, e também de algum idioma celestial. Depende da necessidade e vontade do Espírito Santo (At 2.4).
O dom de variedade de línguas tem sido comumente chamado pelos teólogos de “glossolalia”, e particular­mente de “línguas estranhas” pelos cristãos em geral. Inúmeras vezes Deus, através deste dom e de sua inter­pretação, tem edificado, exortado e consolado milhares de pessoas na igreja e até fora dela.
A igreja em Corinto foi agraciada por Deus com todos os dons já manifestos pelo Espírito Santo, a ponto de o apóstolo Paulo comentar: “Porque em tudo fostes enri­quecidos nele, em toda a palavra e em todo o conheci­mento (como foi mesmo o testemunho de Cristo confir­mado entre vós). De maneira que nenhum dom vos fal­ta…” (1 Co 1.5-7).
Deus se manifestava e falava de diversas maneiras. Falava por “meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina”. Em outras ocasiões, Deus tam­bém falava por meio de “salmos… de línguas e sua inter­pretação”. Outros dons do Espírito Santo eram também manifestos para exaltar o nome de Jesus como Senhor.
O apóstolo mostra a harmoniosa sintonia entre os dons, cooperando cada um em determinada área da igre­ja, de acordo com a distribuição feita pelo Espírito Santo: como o corpo, sendo um mas composto de muitos mem­bros com funções diferentes (1 Co 12.12-27). Nenhum membro deve ser desprezado ou considerado “mais fra­co” ou “menos honroso” – todos são necessários.
3. Diferença entre variedade de línguas e línguas estranhas
Lendo 1 Coríntios 14.27,28, à primeira vista achamos que o apóstolo Paulo está proibindo os crentes de falar em línguas estranhas durante o culto. Mas não é este, com certeza, o pensamento do grande mestre da Palavra de Deus. No mesmo capítulo, ele afirma:
  • “O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo” (v. 4);
  • “E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas…” (v. 5);
  • “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos” (v. 18);
  • “Não proibais falar línguas” (v. 39).
Entendo que Paulo esteja aqui instruindo sobre o uso correto do dom de variedade de línguas, pois ex­plica que precisa de interpretação: “E, se alguém falar línguas estranhas [variedade de línguas], faça-se isso por dois ou, quando muito, três, 6 por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja cala­do na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.27,28).
Procurava o apóstolo pôr termo a uma dificuldade: se todos os crentes batizados com o Espírito Santo presentes numa reunião falassem várias línguas aos mesmo tempo, seria humanamente impossível o traba­lho dos intérpretes. Mesmo usados por Deus, precisa­vam interpretar cada língua por sua vez.
Talvez por isso Paulo tenha prescrito: “E, se al­guém falar língua estranha, faça-se isso por dois ou, quando muito, três…” “Por sua vez” significa um após outro – pois somente assim o intérprete poderia trans­mitir a mensagem divina à igreja. E assim, tudo seria feito “decentemente e com ordem” (1 Co 14.40).
Entendemos que se alguém falar em línguas, mes­mo as entendidas pelos homens, como aconteceu no dia de Pentecoste, esta pessoa está sendo usada pelo Espírito Santo em variedade de línguas. E se de algu­ma maneira não as entendermos, neste caso o que fala “não fala aos homens, senão a Deus” (1 Co 14.2).
Podemos, portanto, chamar as línguas estranhas não interpretadas de “mistério” ou “sinal”; enquanto que as que as interpretadas compreendem a “variedade de línguas” (1 Co 12.10; 13.1; 14.2,26,27,28).

III – O Dom de Interpretação das Línguas

“E a outro, a interpretação das línguas” (1 Co 12.10).
A palavra “interpretação” nada tem a ver com a “tra­dução”, no sentido em que a conhecemos. Não se refere ao processo intelectual pelo qual se dá o sentido prosaico e literal de palavras faladas ou escritas. A “interpreta­ção” em foco é totalmente milagrosa. Trata-se de um dom do Espírito Santo que capacita a pessoa a traduzir simultaneamente o que está sendo falado através do dom de variedade de línguas.
Assim, o que fala em línguas não deve procurar decifrá-las, mas pode receber a interpretação da mesma fonte divina de onde surgiram. A não ser que Deus queira fazer como no dia de Pentecoste, quando o Espírito Santo desceu repentinamente, conforme descrito em Atos 2.2-4: “E, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas re­partidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.
Nessa operação miraculosa do Espírito de Deus, as “línguas” foram repartidas conforme em cerca de 15 re­giões diferentes, a saber: “Partos e medas, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia, e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), e cretenses, e árabes…” (At 2.9-11). A lista do escritor sagrado não é propriamente lingüística, e sim geográfica, cujo propósito é ilustrar a grande variedade de povos, isto é, pessoas de “todas as nações que estão debaixo dos céus”.
Besser salienta que a “linguagem dos judeus era por demais débil para descrever ao mesmo tempo e para o mundo inteiro essas maravilhosas ‘grandezas de Deus’; seriam necessários todos os idiomas do mundo para pu­blicar e glorificar as obras do Senhor do Universo”. En­tretanto, com um único toque do Espírito Santo tudo ficou resolvido.
O mesmo acontecerá na continuidade da pregação do Evangelho do Reino, principiada por João Batista e Cris­to mas interrompido pela rejeição do Rei. Porém este voltará em glória, no final da Grande Tribulação, prepa­rando assim as nações para o reino milenial do Filho de Deus. O que não pode ser visto com nitidez, por causa da sombra humana, será revelado por um anjo em apenas um instante: “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habi­tam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14.6). ([22])
Esta mensagem é universal, como o foi, sem dúvida, a mensagem dada pelo Espírito Santo através do dom de variedade de línguas, no dia de Pentecoste! O resultado certamente foi o descrito por Paulo em 1 Coríntios 14.22: “De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis”.
No dia de Pentecoste, duas coisas importantes com relação a interpretação da variedade de línguas podem ter acontecido:
  • as línguas faladas eram o idioma materno de cada pessoa ali presente (At 2.8);
  • a linguagem era espiritual, e Deus capacitou cada um dos presentes a compreender o significado das pala­vras (1 Co 14.21).
Seja como for, o resultado foi glorioso: Deus falou através do seu Espírito, e falou muito bem! (Hb 1.1; 2.4).

9. A Blasfêmia contra o Espírito Santo

I – O que é Blasfêmia contra o Espírito Santo

No conceito de Platão, blasfêmia, do grego blasphemo, quer dizer “falar para danificar”.
Nas Escrituras, porém, o conceito de blasfêmia tem um alcance mais vasto e tenebroso. No Antigo Testa­mento, especialmente no grego da Septuaginta, palavras como blasphemia blasfemeos trazem, com poucas ex­ceções, o sentido de atos contrários à majestade de Deus. Quando ligadas ao mundo religioso, considera-se “blas­fêmia” várias atitudes contra Deus e o que é santo.
  • Fazer uso do nome santo de Deus em vão em algo contrário a sua vontade. Por exemplo, o terceiro manda­mento traz em si este princípio, embora não seja estabelecida a pena, como em outros casos registrados na Bíblia. Entretanto, existe a proibição: “Não tomaras o nome do Senhor, teu Deus, em vão: porque o Senhor não
    terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx20.7).
  • Falar contra o nome santo de Deus, amaldiçoando-o (Lv 24.10-11).
  • Julgar-se igual a Deus. Por causa desta concepção os judeus acusaram Jesus: “Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10.33).
  • Falar contra o Templo e contra a Lei também era considerado blasfêmia pelos judeus (At 8.13).
  • Falar contra o Céu e contra aqueles que nele habitam (Ap 13.6).
Outros atos abusivos eram considerados blasfemos, tais como:
  • falar contra Moisés (At 8.11);
  • contradizer a verdade de Deus (At 13.45);
  • falar contra a palavra de Deus (Tt 2.5);
  • proferir mentiras blasfemas (Ap 2.9).
Jesus mostrou que a blasfêmia contra o Espírito Santo ultrapassa os limites da redenção: “Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt 12.31,32).
O texto não alude a um pecado em particular, mas a um ato ou atos definidos que determinam um estado pecaminoso, uma oposição determinada e voluntária con­tra a força e obra do Espírito Santo. Neste caso, o pecado consiste de duas maneiras:
  • resistir deliberadamente toda e qualquer operação do Espírito Santo;
  • atribuir às forças do mal aquilo que está sendo reali­zado pelo Espírito de Deus.

II – Duas Maneiras de Cometer este Pecado

De acordo com os ensinamentos de Jesus e de seus discípulos, há duas maneiras de os homens resistirem ao Espírito Santo. O perigo de se chegar a tal atitude reside, segundo J. Cranne, no exercício do livre-arbítrio. Muitos se aproveitam desse direito e optam por um caminho comple­tamente errado e irreversível, como fizeram – ou estavam a ponto de fazer – as autoridades religiosas nos dias de Jesus.
1. Resistir ao Espírito Santo
Estevão, cheio do Espírito Santo, acusa os que se lhe opunham: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais” (At 7.51).
O pecado mais comum que uma pessoa sem Deus pode cometer contra o Espírito Santo é resisti-lo. Trata-se, portanto, de um pecado praticado apenas pelo não-convertido. Pode assumir a forma de desdém (At 26.28); de adiamento (At 17.32; 24.25); de ridicularização (At 17.32); ou de oposição agressiva (At 5.33-40).
Essa conduta pecaminosa não reconhece a atuação do Espírito Santo. Jesus havia demonstrado a seus opositores que tanto a razão quanto a instrução religiosa que haviam recebido não deixavam dúvidas de que o Espírito Santo operava através dEle. Mas, em seu ódio contra Jesus, os fariseus optaram por não aceitar a evidência dada por Deus. Abriram a boca contra o Senhor e contra seu Ungi­do, dizendo: “Este não expulsa demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12.24).
Claro está que a aceitação ou rejeição da pessoa de Jesus Cristo contribuiu para determinar a atitude dos fariseus. Mas é a rejeição a base para o pecado imperdoável, que consiste em atribuir a Satanás a obra do Espírito Santo. ([23])
2. A blasfêmia
No grego, “blasfêmia” significa “dizer coisas abusivas”, e indica algo declarado contra o que pertence a Deus. Às vezes significa “difamação” e “calúnia”.
No presente texto, “blasfêmia” reveste-se de um sen­tido sombrio, tenebroso. Isto é, atribuir ao príncipe dos demônios as operações miraculosas que Jesus realizava pelo poder do Espírito Santo.

III – Um Pecado que Ultrapassa os Limites da Redenção

Quem disser coisas abusivas contra o Supremo Ser “nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo” (Mc 3.29).
Em Hebreus 10.29, encontramos um exemplo deste pecado imperdoável. O escritor sagrado adverte sobre os que vivem pecando “voluntariamente”: “De quanto mai­or castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do testamento, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?”
A passagem subentende que a impossibilidade do per­dão pela blasfêmia contra o Espírito Santo pode esten­der-se à vida além-túmulo. O Dr. F. W. Grant observa que esta blasfêmia representa mais que um fruto da igno­rância, sendo uma aberta oposição a Deus e a tudo que é divino. Uma palavra falada contra o Filho do Homem podia ser perdoada: a condição humilde que Ele assumira ocultava a sua glória aos olhos carnais. Mas havia o que precisava ser reconhecido e não era possível ocultar.
O ódio manifesto por pessoas esclarecidas não podia ser perdoado. O pecado eterno é a atitude de quem, pro­positadamente e em desafio à luz e ao conhecimento, rejeita e persevera em rejeitar os esforços do Espírito Santo e a graça oferecida pelo Evangelho. Tal estado, para quem nele persevera sem arrependimento, exclui o perdão, porque é o pecado para a morte referido em 1 João 5.16: “Há pecado para morte, por esse não digo que ore”. Persistir nesse erro é perecer sem misericórdia, ainda que o Deus de toda a graça faça tudo para evitar tal desenlace. ([24])

IV – Pecado contra o Espírito Santo: a Criatura sem Intercessor

Vários aspectos, e todos eles com justificativas con­vincentes, demonstram ser a blasfêmia contra o Espírito Santo um pecado imperdoável:
  • Pecando o homem contra Deus, Jesus intercederá por ele junto ao Pai: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.2). Na posição de Sumo Sacer­dote, Jesus intercede perante Deus pelos “transgressores” e pelos “santos” (Is 53.12; Hb 7.25).
  • Pecando o homem contra Jesus, o Espírito Santo intercederá por ele junto ao Filho de Deus (cf. Jo 16.8; Rm 8.26).
  • Pecando o homem contra o Espírito Santo, quem intercederá por ele? Ninguém! Eis aí a razão por que tal criatura se torna ré de juízo eterno .
Era esta, sem dúvida, a advertência de Jesus a seus inimigos. Entretanto, aquelas autoridades religiosas não entenderam. O “deus deste século” cegara os entendi­mentos daquela gente, e eles não puderam ver “a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Cr 4.4).
Parece que tal conduta resulta de um processo de rebeldia contra Deus. Não se pode imaginar alguém agir assim sem conhecer os princípios que mostram se algo procede de Deus ou do príncipe das trevas: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.19,20).

V – Pode um Cristão Blasfemar contra o Espírito Santo?

De acordo com o ensinamento geral da Bíblia, enten­demos que jamais uma pessoa cristã cometeu tal pecado, especialmente aqueles que pensam que o fizeram. Quem blasfema contra o Espírito Santo jamais terá consciência de que o fez.
O Dr. Geo Goodman oferece uma explicação anima­dora para aqueles cristãos que imaginam ter cometido tal pecado. Como muitos cristãos têm sido perturbados e mesmo alarmados com esta possibilidade, pensemos a respeito:
  • Não é ela para perturbar a consciência impressionável, pois ter uma consciência sensível é estar na condição espiritual diametralmente oposta. O blasfemo aqui referi­do é uma pessoa cuja consciência está cauterizada como que por um ferro em brasa.
  • Não se refere a alguém cair em tentação, a um pecado ou pecados; é mais uma atitude de espírito do que mesmo um ato.
  • Não significa uma simples palavra irrefletida ou descuidada, embora blasfema, porque blasfêmias e peca­dos semelhantes podem ser perdoados.
• Não significa meramente atribuir a obra de Cristo ao poder das trevas, como no caso citado – embora isso já seja um sintoma muito perigoso. Contudo, ainda não é o próprio crime. Foi por terem os fariseus e escribas feito isso que Cristo apontou o perigo em que estavam caindo.
O Senhor Jesus advertiu os escribas e fariseus sobre o tenebroso perigo da rejeição de suas almas com vistas ao mundo vindouro. Eles, em suas interpretações, atribuí­ram ao reino das trevas a redenção que Jesus trouxe.
A expulsão dos demônios pelo poder divino era sinal de que o Reino de Deus havia chegado no mundo com todo o seu peso de poder e glória.
Do outro lado, as acusações que os mestres judaicos dirigiram contra Jesus importam em negação do poder e da grandeza do Espírito Santo de Deus como Ser Supre­mo.
E, ao atribuírem origem demoníaca à atuação do Se­nhor, revelaram perversidade de espírito que, desafiando a verdade, prefere chamar de trevas a própria Luz. Nesse contexto, a blasfêmia contra o Espírito Santo denota re­jeição consciente e deliberada do poder e da graça salvadora de Deus, demonstrados e concretizados medi­ante as palavras e atos de Jesus. No pensamento de W. L. Lanne, a blasfêmia é, portanto, algo muito mais sério do que tomar em vão o nome divino.

VI – A Blasfêmia Perdoada

Jesus afirma, em Mateus 12.31, que “todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens”; e, em Marcos 3.28, acrescenta: “… toda sorte de blasfêmias, com que blasfe­marem” – inclusive a blasfêmia contra o Filho do ho­mem!
Imperdoável, aqui e na eternidade, somente a blasfê­mia contra o Espírito Santo. Quanto a blasfêmia contra Deus, o Pai, não se diz explicitamente que pode ser perdoada. Alguns acreditam que sim. Outros opinam que não.
No Antigo Testamento, era punido com a morte quem blasfemasse contra o nome santo de Deus. Antes mesmo de Israel ter entrado na Terra Prometida, o filho de uma mulher israelita com um egípcio foi preso e depois ape­drejado por ter praticado tal ato: “E disse Moisés aos filhos de Israel que levassem o que tinha blasfemado para fora do arraial e o apedrejassem com pedras; e fizeram os filhos de Israel como o Senhor ordenara a Moisés” (Lv 24.23).
A blasfêmia dirigida contra Jesus podia ser perdoada, em razão de sua encarnação, pois Ele “aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhan­te aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.7,8). Não é o caso de Deus Pai. Assim, cabe bendizer o seu nome santo, e glorificá-lo!
Não sabemos, porque isto ultrapassa a compreensão humana, se alguém que tenha blasfemado contra o Espí­rito Santo pode ser perdoado por Deus, mediante um pedido de clemência do próprio Espírito Santo em favor de tal criatura. “Para Deus nada é impossível” (Lc 1.37).
Com efeito, este é um campo que pertence somente a Deus! Não nos cabe especular.

VII – Blasfêmia no Sentido Escatológico

Apocalipse 13.6 diz que a Besta que “subiu do mar… abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu”. Esta figura sombria blasfemará dos “poderes do mundo superior”, ridicularizando sua própria existência. Quando Antíoco Epifânio IV conquistou o poder, seu alvo principal foi blasfemar o tabernáculo de Jerusalém.
Durante sua vida terrena, o Senhor Jesus foi alvo cons­tante das grandes blasfêmias dos obstinados fariseus.
O Espírito Santo também será objeto das blasfêmias do Anticristo. Seu objetivo será vilipendiar o nome santo de Deus e de seu Filho, Jesus Cristo – o que atinge, conseqüentemente, a dignidade do Espírito Santo, con­forme implícito na frase “… e dos que habitam no céu”.
A palavra “igreja” – ou “igrejas” – aparece 19 vezes nos três primeiros capítulos de Apocalipse, mas depois só reaparece em Apocalipse 22.16. As duas últimas cita­ções, em 3.22 e 22.16 (cf. v. 17), estão associadas ao Espírito Santo.
Este vínculo indica que o Espírito Santo subirá com a Igreja, por ocasião do arrebatamento. Diz Apocalipse 14.13 que uma “voz” partiu “do céu”, anunciando a se­gunda bem-aventurança das sete que o livro contém, identificada como a do Espírito Santo. Isto prova que, no período da “angústia de Jacó”, o Espírito Santo fará parte daqueles “que habitam no céu”. O dragão, que ora incita os homens a dirigir palavras blasfemas contra o Espírito de Deus, o fará novamente naquele tempo, por meio da “besta que subiu do mar”.
O destino final da Besta e de seu consorte, o falso profeta, será o “lago de fogo” (Ap 19.20; 20.10).
Assim Deus punirá “todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele” (Jd 15), “principalmente aqueles que segundo a carne andam em concupiscências de imundícia, e desprezam as dominações… não receiam blasfemar das autoridades” (2 Pe 2.10).
Apesar de tudo, Deus ama essas pessoas. Porque Deus ama a todos! E, “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3.9), conclama “a todos os homens, em todo o lugar, que se arrependam” (At 17.30).

10. O Fruto e os Frutos do Espírito

I – O Fruto do Espírito Santo

“Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, tempe­rança” (Gl 5.22).
O “fruto” e os “frutos” mencionados nas Escrituras, especialmente no Novo Testamento, são qualidades mo­rais e espirituais cultivadas pelo Espírito de Deus na personalidade cristã.
O primeiro vem citado no singular, embora composto de “nove qualidades” diferentes, formando uma diversi­dade de operações. Contudo, é o “mesmo Espírito” que “opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (cf. 1 Co 12.11). Significa que o fruto, mesmo sendo composto de nove qualidades, con­tém um só sabor que abre caminho para a perfeição até transformar o cristão “de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.18).
O fruto do Espírito é o resultado na vida dos que participam da natureza divina, ou seja, dos que estão ligados a Cristo, a “videira verdadeira” (Jo 15.1-5). Assim, passamos a obter uma nova natureza, porque fomos “gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permane­ce para sempre” (1 Pe 1.23).
Os frutos do Espírito Santo mencionados em outras passagens das Escrituras referem-se a outras operações do Espírito de Deus na vida do cristão, produzindo outras virtudes na alma, que depois examinaremos à luz do contexto.
1. Amor (caridade)
Este atributo do Espírito de Deus é evidentemente o mais sublime de todos. Ele é o fundamento sobre o qual os demais dons e virtudes do Espírito Santo estão edificados.
O amor é o solo onde são cultivadas as demais virtu­des da existência, seja terrena ou celestial.
O amor é a base onde todos os dons espirituais são implantados.
O amor é a fonte de onde fluirão as demais fontes de tudo que é divino: “A caridade [amor] nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior destas é a caridade” (1 Co 13.8,13).
O Filho de Deus nos ensinou a caminhar as “duas milhas” (Mt 5.41): a primeira é a “milha do dever”, a segunda, a “milha do amor”.
Quem trabalha para Deus apenas para cumprir seu dever cristão, reconhece-o apenas como Senhor. Mas quem trabalha por amor e gratidão pelo que Ele fez e continua fazendo em sua vida reconhece-o como Pai.
A observância dos mandamentos de Deus e dos ensina­mentos de Cristo requer amor no coração. Jesus disse: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15); “de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10), “porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14).
Há alguns anos, circulou nos Estados Unidos um in­forme mostrando “três maneiras de amar”: por causa de, por causa de si mesmo e apesar de.
a. Amor por causa de. O amor desenvolvido nesta esfera aponta para um tipo interesseiro, que visa recompensa imediata para si e para aquele que é amado. Em outras palavras, ama-se porque existe um motivo que leva a amar.
b. Amor por causa de si mesmo. Esta maneira de amar indica alguém que estabelece determinadas normas para ser amado. É um amor subjetivo, que ama mas ameaça. É como ouvimos dizer: “Eu te amo! Mas se fizeres isto ou aquilo, não te amo mais!” Esse gênero de amor é condici­onal, e não voluntário.
c. Amor apesar de. Este amor é descrito como sendo o amor de Deus. Sua dimensão é infinita, e seu alcance, muito vasto!
O termo agapao aparece 142 vezes no Novo Testa­mento; e agape, 116 vezes. Ambos vêm da raiz hebraica aheb, que passou para o grego da Septuaginta com o sentido de “supremo sacrifício”.
João 3.16, o “texto áureo” da Bíblia, mostra-nos a natureza deste amor, que induziu Deus a entregar o seu próprio Filho unigênito a morrer pelo mundo. Tal amor não pode jamais ser descrito. Isto só foi possível porque “Deus é amor” (1 Jo 4.8).
Em Romanos 5.8, lemos: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. Não nos foi revelado, por certo em razão de nossa mente limitada, o que motivou Deus a nos amar assim. Mas esse é o amor que ama sem ser amado e não visa nada em troca. Neste sentido, o amor pode ser traduzido por “caridade” e até por “ardente caridade”, que é o amor aplicado (2 Pe 1.7).
2. Gozo (alegria)
Algumas versões da Bíblia traduzem “gozo” por “ale­gria”, sendo esta a felicidade que o crente desfruta no Espírito Santo.
O termo grego aqui é chara. O termo charis, traduzi­do em português por “graça”, vem da mesma raiz. Charis, a partir de Homero, passou a significar “aquilo que pro­move bem-estar entre os homens”.
a. Definição. O substantivo charma traz a idéia de “encanto”, de onde provém “charme” – aquilo que é for­moso ou atraente. Como atributo do Espírito Santo, a alegria é uma qualidade implantada na alma que teve um encontro com o “Deus de toda graça”, e visa uma vida de rogozijo e de agradecimento no Senhor. Paulo recomen­da aos cristãos filipenses que sejam agradecidos e cheios de regozijo: “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos” (Fp 4.4).
b. Alegria, fruto do louvor. “Está alguém contente? Cante louvores” (Tg 5.13). “A alegria envolve pensa­ mentos suaves sobre Cristo, hinos e salmos melodiosos, louvores e ação de graças, com que os cristãos se instru­em, inspiram e refrigeram a si mesmos. Deus não aprecia a dúvida e o desânimo. Também abomina as palavras que ferem, ou pensamentos melancólicos e tristonhos”.([25])
O desejo de Deus é ver seus filhos cantando “com graça no coração” (cf. Cl 3.16). Nas Escrituras, a alegria trazia força e até saúde ao povo de Deus: “Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consa­grado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.10); “O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos” (Pv 17.22).
O anjo do Senhor bradou dos céus: “Não temais, por­que eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2.10). A alegria cristã, portanto, não é uma emoção artificial. Antes, é uma ação do Espí­rito Santo no coração humano, para que este venha a conhecer que o Senhor Deus está no seu trono, e que tudo neste mundo submete-se ao seu controle, até mesmo onde a experiência pessoal está envolvida.
Esta ação poderosa do Espírito Santo em nossas vidas é inspiradora, dando-nos esperança e confiança e enchendo-nos de coragem para avançar na direção em que formos enviados. Este foi, sem dúvida, o grande sucesso da Igreja Primitiva. Os cristãos estavam cheios de ale­gria, e por este motivo “em todos eles havia abundante graça” (At 2.46; 4.33).
c. Alegria, fruto da glorificaçãoA alegria faz parte da esfera central do Reino de Deus que “não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens” (Rm 14.17,18). A tristeza somente é benéfica quando vem de Deus para produzir arrependimento e, depois, edificação: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende…” (2 Co 7.10).
Portanto o gozo, como fruto do Espírito, é a alegria implantada pelo Senhor Jesus no coração e na expres­são de nossa vida para com nós mesmos e nossos semelhantes. Ele disse: “A vossa alegria, ninguém vo-la tirará” (Jo 16.22).
3. Paz
Várias passagens das Escrituras apresentam o Senhor como “varão de guerra” (cf. Êx 15.3; Sl 24.8), mas Ele é também chamado “o Deus de paz” (Rm 15.33; 2 Co 13.11).
A guerra tira a paz. No campo espiritual, entretanto, esta é função do pecado. Ele tira a paz do coração – para com Deus, os outros homens, o próprio ser e a própria consciência. Porém, com o perdão dos pecados, esta vir­tude é implantada no coração.
O fruto “paz” foi criado por Cristo, e é implantado no salvo pelo Espírito Santo.
  • Cristo é a nossa paz (Ef 2.14).
  • Cristo evangelizou a paz (Ef 2.17).
  • Em Cristo, Deus e o homem se encontram em paz (Ef 2.15).
  • Em Cristo, o crente desfruta a paz (Jo 14.17; 16.33).
A paz envolve muito mais do que a tranqüilidade íntima que prevalece a despeito das tempestades exter­nas. Trata-se de uma qualidade produzida em nosso espí­rito. A verdadeira paz tende à tranqüilidade de consciên­cia. A paz opõe-se ao ódio, à desavença, à contenda, à inveja, à chantagem psicológica, aos excessos e coisas semelhantes.
Este fruto do Espírito guarda a alma do desespero, a aflição e da desconfiança, conforme escreve Paulo: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4.7). Cristo, é, portanto, o Rei de Salém – que é rei de paz, à semelhança de Melquisedeque, que “pri­meiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz” (Hb 7.2).
  1. 4.      Longanimidade
O termo grego para “longanimidade” é makrothumia, que traz a idéia de “paciência” em sua forma adjetiva, o que indica a qualidade de alguém que é tolerante por natureza.
No conceito rabínico, muitas vezes a palavra “longanimidade” era tomada para indicar “extensão” – especial­mente quando se referia à misericórdia de Deus para com o seu povo: “Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verda­de” (Êx 34.6).
Para Adam Clarke, a longanimidade consiste em “su­portar as fragilidades e provocações alheias, com base na consideração de que Deus se tem mostrado extremamen­te paciente conosco; pois, se Deus não tivesse agido assim, teríamos sido imediatamente consumidos: supor­tando igualmente todas as tribulações e rebeldias; submetendo-nos alegremente a cada dispensão da providên­cia de Deus, e assim derivando benefícios de cada ocor­rência”. ([26])
Deus é o exemplo supremo que devemos seguir. Sua misericórdia abarca a todos os seres humanos, e ninguém é tido por merecedor dela. Assim “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22).
A misericórdia sempre mitiga e condiciona a justiça, assim como a caridade abranda o furor do direito legal. Não existe tal coisa como a justiça crua, despida de misericórdia. Esta a razão de Cristo ter declarado: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
5. Benignidade
O termo “benignidade” (no grego, chrestotes) traz a idéia de “gentileza”, “bondade” etc.
Sobre este fruto do Espírito escreve Martinho Lutero: “Os seguidores do Evangelho não devem ser inflexíveis e amargos, mas antes, gentis, suaves, corteses e de fala mansa, ainda que com poder e autoridade, o que deveria encorajar outros a buscarem sua. companhia… A gentile­za pode dar-se bem até mesmo com pessoas ousadas e difíceis… Nosso Salvador Jesus Cristo, era uma pessoa imensamente gentil… Acerca de Pedro, ficou registrado que ele chorava sempre que se lembrava da suave genti­leza de Cristo em seus contatos diários com as pessoas… e depois, quando apenas “olhou para ele”… concedendo-lhe o perdão por ter negado seu Mestre três vezes”.
Deus é o exemplo originário da benignidade, e Cristo, o exemplo iéesl, passando a ser o nosso modelo (2 Co 10.1).
Salmos 119.64 exalta a benignidade de Deus: “A ter­ra, ó Senhor, está cheia da tua benignidade…” Esta quali­dade faz do crente uma pessoa compassiva, cheia de ternura e, sobretudo, contemplativa para com os menos privilegiados.
6. Bondade
Quando Jesus falou para o jovem rico: “Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus” (Lc 18.19), Ele queria dizer, ern outras palavras: “Nin­guém é infalivelmente bom, a não ser Deus”. Os homens podem ser bons; entretanto, isto não significa bondade, pois são limitados para exercer tal atributo.
Nas Escrituras, o homem bom é retratado como sendo acompanhado por Deus: “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e ele deleita-se no seu caminho” (Sl 37.23).
Lutero assim defendia esta qualidade: “Uma pessoa é bondosa quando se dispõe a ajudar aqueles que estão em necessidade”.
Somente pela bondade teremos graça no coração para cumprir certos mandamentos de Cristo. Por exemplo, nosso Senhor nos ensinou a amar nossos inimigos e até bendizê-los: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próxi­mo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos mal­tratam e vos perseguem” (Mt 5.43,44).
Paulo relembra as palavras do Senhor, em Romanos 12.14,17-21: “Abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira [de Deus], porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.
Com efeito, vivemos dias difíceis em que existe desa­mor até para com os bons (2 Tm 3.3), e somente através do fruto da bondade os homens poderão voltar à base de todas as qualidades espirituais: “a primeira caridade” (Ap 2.4).
7. Fé
Em 1 Coríntios 12.9, a palavra “fé” aparece como um dos dons de poder. No texto de Gaiatas, descreve uma qualidade do fruto do Espírito.
Em algumas traduções, o grego pistis (“fé”) é traduzi­do por “fidelidade”, a despeito do fato de que nenhuma fidelidade é possível sem o concurso da fé. Como dom de poder, significa aquela capacidade especial que vem so­bre o cristão diante de uma necessidade.
A fé, permanente em si mesma, opera no ser humano ocasional e momentaneamente. Porém, como fruto do Espírito, opera permanentemente na vida do salvo. Em outras palavras, a fé produz no crente o fruto da fidelida­de. A fidelidade é caracterizada pela firmeza de propósi­to, por uma atitude e uma conduta justa, pela devoção de alguém ser “fiel até a morte” (Ap 2.10).
A fidelidade assim demonstrada denota a certeza de que tudo quanto Deus declarou ser sua intenção fazer terá pleno cumprimento.
Todas as promessas de Deus ao homem são confirma­das com o selo da sua fidelidade. Isso dá ao cristão a ousadia e a confiança “para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé… retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hb 10.19-23).
Deus é imutável! Por conseguinte, entende-se que Ele nunca muda em seus propósitos, atributos, conselhos e natureza. Deus é sempre o mesmo, em qualquer dimen­são.
A fidelidade visa também produzir esta mesma natu­reza, pois somente assim o crente irá “proceder fielmente em tudo que faz” (3 Jo 5).
8. Mansidão
Jesus Cristo foi o exemplo da mansidão: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11.29). Outras passagens das Escrituras falam da “mansidão” de nosso Senhor, tanto no Antigo quanto no Novo Testa­mento (Sl 23.2; Is 40.11; Zc 9.9; Mt 11.29; 21.5; 2 Co 10.1 etc).
Três palavras hebraicas são usadas nas Escrituras para descrever o sentido de “manso”, “mansidão”: anaw –“estar inclinado” (Sl 22.26; 25.9; 37.11; 76.9; 147.6; Is 11.4; 29.19; Am 2.7; Sf 2.3); anavah – “gentileza”, “hu­mildade”, “mansidão” (Pv 15.33; 18.12; 22.4; Sf 2.3); anvah – “mansidão”, “suavidade”, “brandura” (Sl 18.35; 45.4).
A mansidão deve estar presente em cada detalhe da vida espiritual, nas obras e no viver. É preciso culti­var:
  • um espírito manso (1 Co 4.21; 1 Pe 3.4);
  • as obras de mansidão (Tg 3.13);
  • “a mansidão para com todos os homens” (Tt 3.2).
Muitas pessoas confundem este atributo com lentidão, timidez e até mesmo com covardia. Jesus era “manso e humilde de coração”, mas é também descrito em outras passagens das Escrituras como “um guerreiro vingador” (Sl 45.3,4; Is 63.1-6; Ap 19.11-21).
No Novo Testamento, encontramos em diversas pas­sagens a palavra grega praus (“manso”) e seu substanti­vo, prautes (Mt 5.5; 11.29; 21.5; 1 Co 4.21; 2 Co 10.1; Gl 5.22; 6.1; Ef 4.2; Cl 3.12; 2 Tm 2.25; Tt 3.2; Tg 1.21; 3.13; 1 Pe 3.4,15). Significa que esta virtude é considera­da uma grande qualidade espiritual, algo a ser desejado e buscado pelos santos.
9. Temperança
No grego, esta palavra, egkrateis, significa: “autocontrole”, “domínio próprio”, “ponto de equilíbrio entre um extremo e outro”, “estado ou qualidade de ser controlado” ou “moderação habitual”.
Define-se a “temperança” como a virtude que, tanto no agir como no julgar, evita extremos. Na vida espiritu­al, por exemplo, ser extremamente metódico ou formal, não é bom; ser fanático, é perigoso; e estes extremos podem levar o cristão a considerar sua igreja ou sua religião apenas como um meio de refúgio.
O fanatismo pode levar as pessoas a cometer excessos ou loucuras, com prejuízo para elas próprias e a outrem. A sobriedade é muito importante, tanto na vida social quanto na espiritual.
As Escrituras mostram-nos o verdadeiro caminho do domínio próprio: “Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal… Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente” (Dt 30.15,19).
O caminho da vida é realmente o que devemos trilhar, conforme Isaías 30.21: “Este é o caminho; andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquer­da”.
Pessoas há que crescem desordenamente na vida espi­ritual, tornando-se um problema para a igreja e para a família. Outras procuram ordenar seus passos de acordo com a orientação bíblica de crescer na graça e no conhe­cimento (2 Pe 3.18).
O sal em excesso pode matar.
A luz demasiado forte pode cegar.
O fogo fora de controle pode destruir.
A temperança aparece como uma das quatro virtudes cardeais da filosofia moral de Platão. As outras três são: sabedoria, coragem e justiça.
Outros filósofos gregos adotaram a idéia, e teólogos cristãos acrescentaram a tríade paulina fé-caridade-esperança, perfazendo assim as chamadas “sete virtudes car­deais” em que a mente humana estaria apoiada. ([27])
Quando o Espírito do Senhor implanta em nosso ser esta virtude espiritual, nossas ações e palavras passam a ser diretamente controladas por Ele. Existem várias reco­mendações bíblicas, para que “andemos no Espírito” (Gl 5.16) e “vivamos no Espírito” (Gl 5.25). Se permitirmos ao Espírito encher nossa vida, seremos também por Ele controlado.
A sobriedade é fundamental para o controle de nossas palavras e ações. O cristão deve ser dócil e amável; entretanto, deve saber dizer “não” quando for necessário (cf. Mt 5.37): “Domina-te a ti mesmo; enquanto não tiveres conseguido isso, serás apenas um escravo, porque será quase a mesma coisa que estar sujeito ao apetite alheio, ou às tuas próprias paixões”.
O Novo Testamento recomenda que o cristão seja sóbrio:
  • “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios…” (1 Ts 5.8);
  • “Mas tu sê sóbrio em tudo…” (2 Tm 4.5);
  • “Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente sé­culo sóbria, justa e piamente” (Tt 2.12);
  • “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendi­mento, sede sóbrios…” (1 Pe 1.13);
  • “E já que está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios…” (1 Pe 4.7);
  • “Sede sóbrios…” (1 Pe 5.8).
O grande comentador Matthew Henry diz sobre a “tem­perança”, ou o equilíbrio mental chamado “sobriedade”: “Sede sóbrios, sede vigilantes contra todos os perigos e inimigos espirituais e sede equilibrados e modestos no co­mer, no beber, nas vestes, nas recreações, nos negócios e em toda a vossa conduta; sede dotados de mente sóbria até mesmo em vossas opiniões, e também humildes no julga­mento sobre vós mesmos”.

II – Os Frutos do Espírito

Assim como há o “fruto do Espírito”, existem também os “frutos”.
As nove bem-aventuranças, ensinadas por Jesus em Mateus 5.3-11, e os nove dons espirituais, mencionados em 1 Coríntios 12.8-10, podem ser considerados “frutos do Espírito Santo”.
Através desta operação divina na vida do cristão, pas­samos a estar ligados diretamente a Jesus; e assim come­çamos a dar “fruto”, “mais fruto” e “muito fruto” (Jo 15.2,5). O primeiro fruto produzido pelo Espírito é o do arrependimento: “Produzi, pois, frutos dignos de arre­pendimento” (Mt 3.8). Outros frutos são relacionados:
  • o fruto das boas obras (Mt 7.16-20);
  • o fruto da comunhão (Mt 26.29);
  • o fruto da oração (1 Co 14.14);
  • o fruto da justiça (2 Co 9.10);
  • o fruto da luz (Ef 5.9);
  • o fruto pacífico (Hb 12.11);
  • o fruto dos lábios (Hb 13.15);
  • o fruto precioso (Tg 5.7);
  • o fruto da vida eterna (Ap 22.2).
O clima diversificado na terra produz grande varieda­de de frutos. Assim também na esfera espiritual, onde o Espírito de Deus atua em diversas áreas da vida humana.
Alguns destes frutos são talvez produzidos uma vez apenas pelo Espírito Santo: o do arrependimento, o da oração etc. Outros, pelo contrário, são produzidos e reno­vados cada dia, como o da santificação (Rm 6.22; Ap 22.11). Ainda são mencionados outros que de contínuo estão sendo renovados pelo Espírito de Deus:
• o fruto da oração (1 Co 14.14);
  • o fruto do louvor (Hb 13.15);
  • o fruto da justiça (Ap 22.11).
Encontramos nas Escrituras muitas palavras hebraicas e gregas para descrever “fruto” e “frutos”, e sua natureza.
Peri (“fruto”) – palavra hebraica usada cerca de 115 vezes (Gn 1.11,12; 3.2; Êx 10.15; Lv 19.23-25; Nm 13.20; Dt 1.25; 2 Rs 19.19,30; Ne 9.36; Sl 1.3; Pv 1.31; Ec 2.5; Ct 2.3; Is 3.10; Jr 2.7; Lm 2.20; Ez 17.8,9; Os 9.16; Jl 2.22; Am 2.9; Mq 6.7; Zc 8.12; Ml 3.11).
Eb (“fruto”) – palavra hebraica e aramaica, quatro vezes (Ct6.ll; Dn 4.12,14,21).
Yebul (“aumento”) – palavra hebraica, três vezes (Dt 11.17; He 3.17; Ag 1.10).
Lechem (“pão”, “fruto”) – uma vez (Jr 11.19).
Meleah (“plenitude”, “fruto”) – palavra hebraica, duas vezes (Nm 18.27; Dt 22.9).
Nib (“declaração”) – palavra usada no sentido metafó­rico de “fruto dos lábios”, uma vez (Ml 1.12).
Tebuah (“renda”, “fruto”) – palavra hebraica, 42 ve­zes (Êx 23.10; 25.3,15,16,21,22; Dt 22.9; 33.14; Js 5.12; 2 Rs 8.6; Pv 10.16).
Tenubah (“aumento”, “fruto”) – palavra hebraica, três vezes (Jz 9.11; Is 27.6; Lm 4.9).
Karpós (“fruto”) – palavra grega, 64 vezes (Mt 3.8,10; 7.16-20; 12.33; 13.8,26; 21.19,34,41,43; Mc 4.7,8,29; 11.14; 12.2; Lc 1.42; 3.8,9; 6.43,44; 8.8; 12.17; 13.6,7,9; 20.10; Jo 4.36; 12.24; 15.2,4,5,8,16; At 2.30; Rm 1.13; 6.21,22; 15.28; 1 Co 9.7; Gl 5.22; Ef 5.9; Fp 1.11,22; 4.17; 2 Tm 2.6; Hb 12.11; 13.15; Tg 3.17,18; 5.7,18; Ap 22.2).
Génnema (“produção”, “fruto”) – palavra grega, qua­tro vezes (Mt 3.7; 12.34; 23.33; Lc 3.7).
Qayits (“fruto de verão”, “primícias”) – vinte vezes (Gn 8.22; 2 Sm 16.1,2; Sl 32.4; Pv 6.8; Is 16.9; Jr 8.20; 48.32; Am 3.15; 8.1,2; Mq 7.1; Zc 14.8).
Dagan (“trigo”, e outros produtos agrícolas) – 39 ve­zes (Gn 27.28,37; Nm 18.27; Dt 7.13; 11.14; 2 Rs 18.32; 2 Cr 31.5; Ne 5.2,3,10,11; Sl 4.7; Is 36.17; Lm 2.12; Ez 36.29; Os 2.8,9,22; Jl 1.10,17; 2.19; Ag 1.11; Zc 9.17).
Tirosh (“fruto da vinha”) – 38 vezes (Gn 27.28,37; Nm 18.12; Dt 7.13; 11.14; 12.17; Jz 9.13; 2 Rs 18.32; 2 Cr 31.5; Ne 5.11; 10.37,39; Sl 4.7; Pv 3.10; Is 24.7; 36.17; Jr 31.12; Os 2.8,9,22; 4.11; Jl 1.10; Mq 6.15; Ag 1.11; Zc 9.17).
Yitshar (“azeite”) – palavra hebraica que indicava “fru­tos produzidos em pomar” e que também significa “bri­lhante”, “resplandente”, 22 vezes (Nm 18.12; Dt 7.13; 11.14; 12.17; 14.23; 18.4; 28.51; 2 Rs 18.32; 2 Rs 31.5; 32.28; Ne 5.11; 10.37,39; 13.5,12; Jr 31.12; Os 2.8,22; Jl 1.10; 2.19,24; Ag 1.11).
Algumas dessas palavras, descrevem frutos de nature­za terrena; outras, os frutos de natureza espiritual.
A vontade do divino Mestre, nosso Senhor Jesus Cris­to, é que cada crente seja como árvore frutífera, produ­zindo “o seu fruto na estação própria” (Sl 1.3). Ele disse: “Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16). Só poderemos ter uma vida abundante se descobrirmos o valor de “Cristo em nós” e a atuação de seu Santo Espíri­to em nosso viver.
Sua natureza divina será evidentemente implantada em nossos corações “pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). Então passaremos a compreender o va­lor imensurável da “graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo” em nosso ser.
“O Espírito ajuda as nossas fraquezas… o mesmo Es­pírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26): através da operação miraculosa do Espírito, o pro­blema da fraqueza humana é solucionado. Ele não so­mente ajuda, mas ainda intercede. Ele é, portanto, “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória” (Ef 1.14).
Amém!

[1] BANCROFT, E. H. Teologia Elementar. São Paulo, IBR, 1975.
[2] SILVA, S. P. da. Quem É Deus. Rio de Janeiro, CPAD, 1991.
[3] RIGGS, R. M. O Espírito Santo, São Paulo, Vida, 1981.
[4] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[5] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[6] Idem.
[7] CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1977.
[8] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado, Milenium, 1982.
[9] Silva, S. P. da. Apocalipse Versículo por Versículo. Rio de Janeiro, CPAD, 1995.
[10] RIGGS, R. M. O Espírito Santo. São Paulo, Vida. 1981.
[11] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[12] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[13] Idem.
[14] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[15] DUEWELL, W. L. Deixe Deus Guiá-lo Diariamente. São Paulo, Candeia, 1993.
[16] GEE, D. A Respeito do Dons Espirituais. São Paulo, Vida, 1977.
[17] BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição contemporânea. São Paulo, Vida, 1994.
[18] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[19] SILVA, S. P. da. Apocalipse Versículo por Versículo. Rio de Janeiro, CPAD, 1995.
[20] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[21] Idem.
[22] SILVA, S. P. da. Apocalipse Versículo por Versículo. Rio de Janeiro, CPAD, 1995.
[23] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[24] McNAIR, S. E. A Bíblia Explicada. Rio de Janeiro, CPAD, 1994.
[25] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Milenium, 1982.
[26] CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia da Bíblia, teologia e Filosofia. São Paulo, Candeias, 1982.

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