O que é o dízimo? Cristãos devem dar o dízimo?
O que é o dízimo? Cristãos devem dar o dízimo?

Como e por que o dízimo foi estabelecido na Lei de Moisés?
Deus tinha prometido a Abraão que a sua descendência, após aproximadamente 400 anos sendo escravizada no Egito, seria liberta e possuiria a terra de Canaã (Gênesis 15:18). Então, Deus levantou Moisés para retirar os israelitas, que eram os descendentes de Abraão, da terra do Egito e guia-los até Canaã (Êxodo 3). Com a morte de Moisés, Josué que acabou introduzindo, de fato, os israelitas nessa terra (Deuteronômio 34:7-12).
Deus deu instruções para que, quando os israelitas conquistassem a terra de Canaã, eles decidissem por sorteio a parte da terra que caberia a 11 das 12 tribos de Israel (Josué 13-19). A tribo de Levi ficou de fora porque as ofertas preparadas no fogo ao Senhor seria a herança dos levitas em Canaã (Josué 13:14). Os levitas não precisariam de um espaço grande de terra, pois não se ocupariam com plantações e criação de animais como as outras tribos. Deus escolheu essa tribo para servi-lO no templo. Ora, como os levitas não teriam meios de se sustentar, Deus ordenou que as outras 11 tribos armazenassem 10% das suas plantações e levasse ao local estipulado pelo Senhor a cada três anos para dar aos levitas; e esse dízimo deveria ser dividido também com os demais necessitados, como as viúvas, os órfãos e os estrangeiros, pois os israelitas também haviam sido estrangeiros no Egito e com os tais deveriam ser solidários (Deuteronômio 14:22-29; 26:12-13).
Portanto, o dízimo (= décima parte, 10%) na Lei de Moisés deveria ser dado somente pelas 11 tribos de Israel aos levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas a cada três anos e na forma de alimentos (Deuteronômio 14:22-29; 26:12-13; f. Hebreus 7:5).
O dízimo de Abraão e de José antes da Lei Mosaica
O dízimo foi dado em duas ocasiões excepcionais e de forma totalmente voluntaria antes de ser ordenado na Lei:
1) Depois do resgate de pessoas e de bens que tinham sido tomados de Sodoma numa guerra, Abraão deu um dízimo a Melquisedeque, o sacerdote de Deus (Gênesis 14:18-20). Esse dízimo foi dado apenas uma vez.
2) Também Jacó, o neto de Abraão, prometeu devolver a Deus 10% de sua prosperidade (Gênesis 28:22).
Estes dízimos foram voluntários.
Dizimar para alcançar bênçãos matérias?
Falsos mestres ensinam que se os crentes fizerem gordas contribuições, prosperarão financeiramente, e, inclusive, citam o exemplo de Abraão. Mas Abraão nunca recebeu riquezas por ofertar. E vale lembrar que ele só dizimou depois de ter posses (Gênesis 14:1-20). Ou seja, ele nunca dizimou para receber posses.
De qualquer forma, Abraão não prosperou materialmente por ser fiel a Deus; a Bíblia nunca afirmou isso. O que a Bíblia diz é que ele foi abençoado com bênçãos espirituais por crer nas promessas de Deus (Gênesis 22:15-18; Hebreus 6:13-15; 11:17-19). Se fosse verdade que só é rico quem crê em Deus, e os demais são pobres, por que existem descrentes ricos e crentes pobres?
O apóstolo Paulo disse em sua carta aos romanos que Abraão foi declarado justo por sua fé, e não por obras da Lei, e o dízimo era uma obra da Lei (cf. Romanos 4:1-5), apesar de que Abraão o deu antes da Lei. Ademais, o dízimo de Abraão foi concedido uma única vez, e não mensalmente, como cobram os falsos mestres.
Dízimo e benção
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.” (Malaquias 3:10-11, ACF)
Por causa desse versículo, falsos mestres ensinam que quem não der o dízimo hoje não receberá as bênçãos do Senhor e será atacado pelo diabo ou devorador. Se essa interpretação não fosse trágica, seria cômica!
Aqui precisam ser pontuadas algumas coisas:
- Nesse texto, Deus está falando com os sacerdotes israelitas, e não com os cristãos na Nova Aliança.
- Deus está acusando os pecados deles, que estavam se negando a obedecer a Lei de Moisés, incluindo a ordem de dar o dízimo, prejudicando assim, os necessitados que dele dependiam (versículos 5 e 8).
- Isso foi dito séculos antes de Jesus estabelecer a Nova Aliança.
A expressão “abrir as janelas do céu” e derramar “bênção” nada mais é do que fazer chover. Compare essa expressão com o que diz em Gênesis 7:11-12 quando Deus mandou o dilúvio: “… as janelas dos céus se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites”. Em Malaquias 3:10-11, Deus estava prometendo simplesmente que se as 11 tribos de Israel não se negassem a dar a décima parte das suas plantações aos necessitados, Ele iria abençoar a plantação deles com a chuva tão necessária para as plantas crescerem, e a terra produziria tanto que não haveria espaço para armazenar todos os seus frutos nos celeiros. Além disso, Deus protegeria a terra contra o “devorador”, que nada mais era do que uma praga que assolava a plantação, o que fica evidente quando Deus diz que o devorador “não destruirá os frutos da vossa terra”.
O Comentário Bíblico Moody diz: “Repreenderei o devorador. O Deus soberano efetuará uma colheita superabundante em parte pela destruição das locustas e outras pestes que poderiam prejudicar a lavoura. A vossa vide no campo não será estéril. Deus também protegeria as videiras para que não fossem atacadas pelo bolor e pelo crestamento”.
O sentido do texto fica mais claro nesta outra tradução:
“‘Tragam o dízimo todo ao depósito do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponham-me à prova’, diz o Senhor dos Exércitos, ‘e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las. Impedirei que pragas devorem suas colheitas, e as videiras nos campos não perderão o seu fruto”, diz o Senhor dos Exércitos.’” (Malaquias 3:10-11, NVI)
Desse modo, falsos pastores que querem obrigar os cristãos a pagar o dízimo ameaçando-os com um tal “demônio devorador” nada mais fazem do que deturpar esse texto bíblico dado aos judeus na época da Antiga Aliança.
Cristãos devem dar o dízimo?
Não. Como o dízimo era uma exigência da Lei de Moisés, e os cristãos não estão submetidos a ela, mas sim à Graça de Jesus (João 1:17; Romanos 7:4), eles não precisar dar o dízimo.
Todas as pessoas agora vivem sob a autoridade de Cristo, como foi revelado no Novo Testamento (Mateus 28:18-20; João 12:48; Atos 17:30- 31). Sua vontade entrou em vigor depois de Sua morte (Hebreus 9:16-28). Não vivemos sob a lei de Moisés hoje em dia. Jesus aboliu essa lei por Sua morte (João 1:17; Efésios 2:14-15). Estamos mortos para essa lei a fim de que possamos estar vivos para Cristo (Romanos 7:4-7). A lei gravada nas pedras, no Monte Sinai, extinguiu-se e a nova aliança permanece (2 Coríntios 3:6-11). A lei funcionou como um tutor para trazer o povo a Cristo, mas não estamos mais sob esse tutor (Gálatas 3:22-25). Aqueles que desejam estar sob a lei estão abandonando a liberdade em Cristo e retornando à escravidão (Gálatas 4:21-31). As pessoas que voltam a essa lei estão decaindo da graça e se separando de Cristo (Gálatas 5:1-6).
Na Nova Aliança, Jesus, através de Paulo, ensina que as igrejas devem fazer coletas nas quais os cristãos darão de acordo com sua prosperidade (1 Coríntios 16:1-2). Temos que dar com amor, generosidade e alegria, conforme tencionamos em nossos corações (2 Coríntios 8:1-12; 9:1-9). Essas ofertas voluntárias devem ser destinadas a atender as necessidades da comunidade cristã (Igreja).
Portanto, na Nova Aliança não existe a lei do dízimo, mas apenas ofertas voluntárias. Ou seja, podemos dar mais do que 10% ou menos do que 10%: “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria” (2 Coríntios 9:7). O Senhor não nos ordenou a dar uma porcentagem exata.
Jesus e o dízimo
Para “provar” que os cristãos devem dar o dízimo, falsos pastores citam o texto neotestamentário em que Jesus diz aos mestres da lei e fariseus que eles deveriam dar o dízimo sem se esquecer de cumprir os demais preceitos da Lei (Mateus 23:23). Mas Jesus falou isso quando a Lei mosaica ainda estava em vigor. Jesus cumpriu plenamente a Lei até a morte de cruz (João 19:28-30). Depois que Ele morreu, a Nova Aliança, que não inclui dízimo, entrou em vigor, como disse o autor de Hebreus (Hebreus 7:18-19; 8:6-13).
Desse modo, usar Mateus 23:23 para ordenar o dízimo, que desde a Lei foi ordenado somente para 11 tribos de Israel e não para o mundo todo, é absurdo e herético, pois contraria os ensinos da carta aos Hebreus, bem como de outras cartas do Novo Testamento, como as cartas aos Gálatas e Romanos, que claramente também ensinam a substituição da Antiga Aliança pela Nova.
Conclusão:
O dízimo na Antiga Aliança era:
- Dado apenas por 11 tribos de Israel;
- Somente a cada três anos (e não mensalmente);
- Em alimento (e não em dinheiro);
- Aos levitas, órfãos, viúvas e estrangeiros;
- Para receber a chuva sobre a plantação e para que as pragas não devorassem as suas colheitas.
Não há ordem para dar o dízimo na Nova Aliança. Os cristãos são instruídos a ofertar voluntariamente, de acordo com suas condições.
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